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21 julho 2006

QUEIMADAS: UM FENOMENO RECORRENTE NO BIOMA AMAZONIA

APARTIR DE 2000 A AMAZÔNIA PASSOU A SER O BIOMA BRASILEIRO MAIS AFETADO POR QUEIMADAS ANUAIS

EM 2002 OS FOCOS DE CALOR REGISTRADOS NA AMAZÔNIA REPRESENTARAM ~51% DO TOTAL CONTABILIZADO PARA O BRASIL

A prática cultural da queimada está relacionada com o método tradicional de limpeza da terra para introdução e/ou manutenção de pastagem e campos agrícolas. Este método consiste em derrubar a floresta, esperar que a massa vegetal seque, e em seguida por fogo, para que os resíduos grosseiros como troncos e galhos sejam eliminados e as cinzas resultantes enriqueçam temporariamente o solo.

O desmatamento como prática cultural, remonta aos povos pré-colombianos e tem se perpetuado entre as populações tradicionais amazônicas.. As práticas tradicionais buscavam atender a necessidades familiares e de pequenos grupos, limitavam-se a converter periodicamente superfícies florestais da ordem de 1-2 hectares em espaços agrícolas. Ainda que de baixo impacto e restrita a periferia da Mata Atlântica, esta prática já despertava preocupações ambientais no século XVIII .

Todos os anos milhares de incêndios ocorrem por todo o Brasil em taxas tão elevadas que se torna difícil estimar com precisão a área total atingida pelo fogo. Analisando os dados de focos de calor do PROARCO, numa serie temporal de 1992 até outubro de 2005 para todo o território brasileiro foi observado um elevado número de focos de calor nos anos 1992 e 1993 (243.876), a partir daí os focos de calor diminuíram até 1996. Nos últimos nove anos foram registrados aumentos expressivos na quantidade de focos de calor, indicando uma tendência crescente. No ano de 2002 o número de focos de calor atingiu a marca de 234.360, sendo que 58% ocorreram apenas na Amazônia Legal.

Observa-se claramente que a Amazônia Legal controla as tendências do total anual de focos de calor ocorrendo no Brasil. Analisando os focos de calor por estado observar-se que assim como a Amazônia controla o padrão dos focos no Brasil, alguns estados exercem o mesmo papel dentro da Amazônia, como é o caso de Mato Grosso, Para e Rondônia. Isto se deve ao fato de estarem situados na fronteira de colonização e expansão agrícola, onde o fogo é usado como
ferramenta de limpeza do terreno.

Na Amazônia as queimadas concentram-se principalmente no chamado arco de desflorestamento, que corresponde à área de expansão da fronteira agrícola. Os principais tipos de incêndio que ocorrem na região amazônica do arco do desflorestamento são: incêndios de desmatamento que objetivam limpar áreas recém desflorestadas e prepará-las para campos agrícolas e pastagens, incêndios em áreas desmatadas e incêndios florestais acidentais.

Estudos indicam que a área total de floresta Amazônica afetada por fogo de superfície pode ter a mesma magnitude da área afetada pelo desflorestamento.
Parte destas queimadas acaba fugindo do controle e penetra na floresta sob a forma de incêndio florestal. Todos os anos milhares de km2 da floresta Amazônica são queimados por incêndios acidentais independente da ocorrência de fenômenos climáticos como o El Niño, que entre final de 1997 e início de 1998 criou condições para que uma área estimada entre 38.144 e 40.678 Km2 de diversas fito-fisionomias queimasse no estado de Roraima.

Os efeitos ecológicos dos incêndios na Amazônia atingem uma escala global, pois influenciam a composição química da atmosfera, a refletância da superfície da terra e fenômenos que estão fortemente ligados ao clima. Um dos impactos ecológicos mais importantes dos fogos na floresta talvez seja o aumento da probabilidade do fogo tornar-se uma característica permanente da paisagem, também aumenta o fluxo de carbono para a atmosfera. A estrutura da floresta é modificada, havendo um aumento da população de espécies tolerantes ao fogo. O ciclo hidrológico é alterado, afetando o clima que está ligado com a floresta principalmente por o intercambio de vapor de água.

Historicamente as queimadas no Brasil sempre estiveram concentradas nos biomas de fito-fisionomia aberta, como é o caso dos cerrados, caatingas, pantanal e campos sulinos. Com o avanço sobre os cerrados a partir dos anos 70 e posteriormente sobre a Amazônia o problema do fogo passou a ser uma questão amazônica também. A sobreposição desta prática aos fenômenos ocasionais de fortes secas vem chamando a atenção dos grupos envolvidos com a gestão ambiental.

A partir do ano 2000 o Cerrado, até então o bioma mais afetado pela presença de fogos anuais, cedeu o lugar para a Amazônia, que tendo 17% da sua área já desmatada que somadas aos 12-14% de enclaves de cerrados, já possui área suficiente para que os fogos enquanto prática cultural já sejam deveras mportante. Se tomarmos o ano de 2002, um dos mais importantes em termos de focos de calor dos últimos 15 anos, com seus 236.049 focos observados, teremos que somente o bioma Amazônia foi responsável por ~51% do total.

Se os padrões de ocupação da Amazônia continuarem da mesma forma, onde o uso indiscriminado do fogo como ferramenta do processo de desmatamento esta amplamente difundido, e poucas iniciativas governamentais forem tomadas para reverter este processo, estimase um aumento significativo na freqüência e área afetada pelo fogo.

Fonte: SIGLAB, INPA, Junho de 2006