ALIOMAR: UM MADEIREIRO RONDONIENSE NO ACRE

Dos cerca de 20 participantes um me chamou especial atenção. Ele estava lá em razão de sua extensa trajetória no ramo de exploração madeireira, era talvez o que tinha mais "bagagem". Era também o único participante vindo da área urbana e, mais importante, tinha acabado de chegar de Rondônia. Seu nome é Aliomar e veio para o Acre em busca de oportunidades no ramo madeireiro. Em Rondônia ele já fez de tudo um pouco: foi empregado de serraria, dirigiu caminhão toreiro, foi dono de serraria.

- Madeira que compense hoje em Rondônia só se for retirada das áreas de Reservas, ou seja, os Parques Federais e Estaduais, e as Reservas Extrativistas e outros projetos de exploração do gênero. Na maioria das vezes a lei não permite tirar madeira destes lugares...
Segundo ele, a tendência do setor madeireiro em Rondônia é desaparecer no médio prazo.
- A coisa só está andando porque o pessoal dá um jeito de pegar madeira das reservas, ou os donos das terras nestas reservas as vendem de forma ilegal, diz Aliomar. A perseguição do IBAMA é muito forte. Além deles, ainda tem a polícia civil, a militar, a rodoviária federal, haja dinheiro para fazer a coisa andar...

- Lá a coisa não é fácil. Quanto tem árvore de madeira assim na beira da estrada dá muito conflito e o dono da área se vê obrigado a abater ele mesmo a árvore antes que venha outro e "leve".
Perguntei sobre a ação do IBAMA. Ele diz que realmente eles são um "saco", pois fazem muitas exigências. Entretanto, alertou que quando alguem consegue uma ATPF, dá para passar várias cargas de madeira. É só ter a sorte do IBAMA não pegar o caminhão nas primeiras viagens:
- Dá para levar várias cargas de espécies madeireiras com características similares pois os fiscais do IBAMA não conseguem distinguir as toras de espécies mais raras.

A opinião dele sobre os tais planos de manejo:
- Não vão fazer diferença, mas é um mal necessário porque tá na lei. Ninguem vai comprar terra e tirar apenas as árvores uma única vez. Vão tirar tudo, limpar mesmo! Senão como vão pagar as despesas? De uma forma ou de outra, a madeira que for deixada para trás por planos de exploração madeireira vai ser retirada, legal ou ilegalmente. Foi assim em Rondônia e vai ser assim no Acre!
Aliomar é, provavelmente, mais um dos muitos madeireiros rondonienses que resolveram tentar a sorte no Acre. Aqui eles não vão encontrar as mesmas facilidades que tinham por lá. Abrir uma serraria por aqui é muito complicado, aliás, está proibido. Neste aspecto dá para ficar tranquilo pois não vai acontecer uma corrida à madeira acreana. Pelo menos enquanto o comando político do Estado continuar nas mãos do atual grupo que governa o estado.

Alias, foi interessante ver Aliomar entrar na floresta e ouvir os mateiros acreanos dar nomes para espécies madeireiras que ele conhecia por outros nomes: segundo ele era como estar em um outro país. Aliomar conhece muito os "tipos" de madeira, suas principais utilidades, dificuldades para cortar a madeira na motosserra e na serraria. Apesar de tudo isso, como mateiro, seu conhecimento de nomes populares das espécies madeireiras existentes nas florestas acreanas é praticamente inútil. É que os compradores locais não iriam reconhecer os nomes dados por Aliomar.
Para quem cresceu em Santa Catarina, prosperou e foi a falência em Rondônia, a aposta no Acre, a última fronteira madeireira da amazônia, parece ser um pouco arriscada. Parece que ele não tem outra opção.
Seja bem vindo Aliomar! E boa sorte!
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