HÁBITO SEXUAL DOS ESTUDANTES DE 2° GRAU DE RIO BRANCO: MUDOU DEPOIS DE 10 ANOS?
Durante o ano de 1996 o professor Creso Machado Lopes e Luiz Carlos Nascimento, ambos da UFAC, realizaram uma interessante pesquisa acerca dos hábitos sexuais dos estudantes de escolas públicas e privada de 2° grau da cidade de Rio Branco. A pesquisa foi publica no ano de 2000 na Revista Latino-Americana de Enfermagem (Vol 9, N° 1).
A pesquisa foi muito ampla, completa e, principalmente, reveladora dos hábitos sexuais dos estudantes à epoca. De lá para cá desconhecemos se outros estudos similares foram realizados e publicados. Abaixo apresentamos um resumo da pesquisa realizada 10 anos atrás. Depois de 10 anos, tudo continua como era?
Resumo do artigo de Lopes e Nascimento (2000):
ATIVIDADE SEXUAL E DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM ESCOLARES DO 2º GRAU DE RIO BRANCO-ACRE, BRASIL
Luiz Carlos Souza do Nascimento e Creso Machado Lopes (UFAC)
A pesquisa foi realizada junto a 2.684 alunos para verificar aspectos da atividade sexual e a ocorrência de DST/AIDS. Dos alunos pesquisados, 1.314 (48,9%) tiveram relações sexuais. Destes, 31,7% eram do sexo feminino e 69,4% do sexo masculino, representando quase o dobro do sexo feminino. Entre aqueles do sexo masculino, a idade de iniciação sexual mais freqüente foi aos 13 anos, representando 34,3% do universo pesquisado. Para os entrevistados do sexo feminino, a iniciação sexual se deu com mais frequência aos 16 anos (31,6% das alunas pesquisadas).
Primeiro parceiro: namorado(a), vizinho (a) e empregada doméstica
Dos que tiveram relações sexuais, 47,6% tiveram a “primeira vez” com o/a namorado/a, 25,8% com o/a vizinho/a e 10,5% com a empregada doméstica. A pesquisa encontrou que 52,3% dos alunos entrevistados nas escolas particulares, 50% da federal, 45,7% das escolas estaduais e 41,8% da escola municipal, já tinham tido relação sexual.
O despertar para a primeira relação sexual tem suas causas e, ao investigar a motivação para tal, os pesquisadores encontraram os seguintes resultados: 48,4% praticaram por estar namorando, seguido pelo despertar por colegas (20,8%), assistir filme pornográfico (20,3%), por estímulo a revistas eróticas (18,5%), por ficar só com o/a parceiro/a (13,6%) e por permanecer só com a empregada (12,9%).
Maioria dos pais desconheciam vida sexual dos filhos
Dos 1.187 alunos que tiveram relações sexuais, e que responderam a esta questão, 75,0% dos pais não souberam desta prática, 25,0% que sim. Com relação aos pais que souberam (59,0%) diziam respeito ao sexo masculino, contra (41,0%) do feminino. A reação dos pais ao saber da iniciação sexual dos filhos foi: 47,1% de aprovação, sendo este mais acentuado para o sexo masculino, 29,9% criticaram, com maior censura para o sexo feminino, e 23,0% ficaram indiferentes.
Uso de camisinha predominava entre os adolescentes
Uma vez que os alunos haviam tido relação sexual, os pesquisadores quiseram saber sobre a frequência do uso de preservativos. A maioria 61,7% sempre usa, seguido por 32,0% que usam às vezes e 6,3% que nunca usam. O resultado é preocupante porque existe um percentual alto de alunos com sério risco de adquirir uma DST/AIDS, denotando a necessidade de desenvolvimento de programas de educação em saúde junto à clientela estudantil.
Baixa predominância de DST/Aids
Dos alunos que responderam à questão relativa à contaminação por DST/Aids (2.581), apenas 2,1% (89) responderam afirmativamente serem portadores/já tiveram de algum tipo de DST/AIDS, assim distribuídas: 58,4% com Hepatite B, 39,4% com Candidíase (Monilíase) e 2,2% tiveram Gonorréia.
Ao levantar o conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis, a maioria dos entrevistados (98,7%) referiram sim, contra apenas 1,3% que responderam negativamente. Quanto a satisfação com as informações sobre DST/AIDS, 75,3% referiram sim e 24,7% não. Vale destacar também o conhecimento das formas de se adquirir DST/AIDS, onde 96,0% responderam afirmativamente contra 4,0% que não.
No que se refere ao conhecimento dos alunos sobre as medidas de prevenção, as respostas mais assinaladas foram: fazer uso de preservativo (93,5%), ter sempre preservativo consigo (88,1%), conferir a data de validade do preservativo (77,2%), verificar se o preservativo tem a marca do INMETRO (76,6%), evitar trocas de parceiros (69,7%) e por último esterilizar material de manicure e pedicure (29,1%).
Professor e imprensa: maiores fontes de informações sobre DST/Aids
Ao levantar as fontes de informações sobre as doenças, as mais relevantes foram: junto ao professor (64,9%), TV, Revistas e Jornais (64,2%), Pais (32,9%), amigos e colegas (28,6%) e médico (18,3%). Ao averiguar se os pais conversam com os filhos sobre as DST/AIDS, os pesquisadores encontraram que 62,7% disseram que sim. Apesar do alto percentual, os pesquisadores também procuraram saber quais são as pessoas com quem os alunos mais conversam sobre DST/AIDS. O resultado foi o seguinte: amigos (69,7%), os pais (35,7%), namorado/a (23,8%), professor (13,0%) e profissionais de saúde (7,1%).
Para saber os motivos pelos quais os pais não conversam com seus filhos sobre as DST/AIDS, foram encontrados os seguintes resultados: não gostam de falar sobre o assunto (34,0%), por falta de oportunidade (31,2%), não tem pais (30,0%), pouco diálogo com os pais (12,6%) e não dominam o assunto 19 (2,0%).
Estes dados obtidos são relevantes porque dão uma clara idéia das dificuldades que os pais têm para conversar com seus filhos, o que de certa forma pode ser prejudicial a sua formação na educação sexual, buscando, por esta razão, o conhecimentos em outras localidades, e não no meio familiar. De qualquer forma, foram levantados os assuntos sobre DST/AIDS que os pais dialogam com os filhos. Destacaram-se: 75,4% versando sobre medidas de prevenção, 60,4% para modo de transmissão das doenças, 55,1% relacionados às doenças venéreas e 49,8% dizem respeito às complicações para a saúde.
Meninas são as mais insatisfeitas com a primeira relação
Considerando a pouca idade dos estudantes entrevistados e o possível despreparo para esta prática, os pesquisadores acreditavam que haveria insatisfações nas relações sexuais praticadas até então. Dos 86 estudantes que responderam a esta questão específica, 60,4% destacaram a falta de amadurecimento bio-psicológico por parte daqueles do sexo feminino e 39,6% para aqueles do sexo masculino. A culpa por relações sexuais escondidas foi bastante semelhante para ambos os sexos. Das 70 respostas obtidas, 48,6% foram para o sexo masculino e 51,4% para o feminino. A ausência de afeto nas relações foi totalmente encontrada no sexo masculino (100%), já a relação em locais impróprios foi totalmente para o sexo feminino (100,0%), enquanto que o desrespeito a/ao parceiro/a e tentar imitar colegas esteve representado pelo sexo masculino (100%).
Alta rotatividade de parceiros: entre 15 e 17 anos chega a 80%
No que diz respeito a troca de parceiros nos últimos seis meses, dos 899 que responderam afirmativamente, 66,6% do sexo masculino o fizeram, contra 33,4% do feminino, percentual este bastante alto. Na faixa etária de 15 a 17 anos foi encontrado que 80,5% dos entrevistados trocaram de parceiros nos últimos 6 meses.
Clique aqui para ler a íntegra do artigo de Lopes e Nascimento.
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