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15 outubro 2007

MUDANÇAS LINGUÍSTICAS NO VALE DO JURUÁ

Pesquisa constata que a urbanização acelerada de Cruzeiro do Sul e cidades adjacentes está provocando a perda da “linguagem tradicional” daquela região

Um estudo realizado na cidade de Cruzeiro do Sul por pesquisadores da UFAC constatou que de 60 palavras e 10 expressões típicas da população daquela cidade, cerca de 30% já podem ser consideradas arcaísmos lingüísticos, ou seja, deixaram de ser usadas no dia a dia dos habitantes daquela cidade.

Segundo os autores da pesquisa, Jacqueline de Freitas Maciel e Milton Chamarelli Filho, o município de Cruzeiro do Sul assiste a um processo de urbanização cada vez maior, mesmo estando isolado geograficamente da capital, Rio Branco, mas não de outros municípios que, com ele, formam o vale do Juruá.

Esta crescente urbanização trouxe à cidade, mais especificamente ao seu centro urbano, características que começam a diferenciá-lo cultural e lingüisticamente da zona rural e da periferia dos municípios próximos. O convívio com populações de diversas partes do país modificou hábitos, mas também a linguagem da população.

Ao mesmo tempo em que novos valores surgem outros se perdem e a região está diante de um processo de aceleração de mudança lingüística, cuja vertente pode ser observada na perda de palavras comumente usadas pela população local, sendo que a grande maioria dessas palavras é do tipo não-dicionarizada.

Regionalização literária

Para conhecer melhor o regionalismo da língua, os pesquisadores verificaram inicialmente obras literárias produzidas por autores locais e que têm como tema a região do vale do Juruá. Eles constataram que em 99% das obras há um glossário de palavras e expressões desconhecidas pelos dicionários oficiais.

Em um segundo momento da pesquisa foram realizadas entrevistas com pessoas idosas e jovens da zona rural de Cruzeiro do Sul, de Mâncio Lima e de Guajará, município do estado do Amazonas. Nas entrevistas foram registradas um grande número de palavras e expressões que foram transcritas foneticamente e consultadas nos dicionários de Língua Portuguesa Aurélio e Houais. Os pesquisadores observaram que algumas das palavras pesquisadas têm significações diferentes daquelas que são dicionarizadas.

De todo o material registrado, foram selecionadas 60 palavras e 10 expressões locais para uma primeira síntese sobre as palavras que estão em desuso naquela região. Para isso foram entrevistados moradores da zona urbana de Cruzeiro do Sul, nas faixas etárias entre 15 e 35 anos.

Grande número de palavras e expressões deixou de ser usado

De uma amostra de palavras e expressões propostas aos informantes, contatou-se que: 30% delas não são mais reconhecidas por eles, 35% foram reconhecidas mas não são utilizadas (fazendo, por isso, parte da sua competência lingüística passiva), 35% delas foram reconhecidas como sendo de uso quase que exclusivamente familiar, mas raramente de uso entre amigos, no trabalho ou na escola.

A conclusão da pesquisa indica que 30% das palavras e expressões regionais já se tornaram, possivelmente, arcaísmos lingüísticos. 50% dos ouvintes, com faixa etária entre 15 e 20 anos, desconhecem quase totalmente as palavras apresentadas. O restante afirmou ter ouvindo raras vezes em conversas com avós e pessoas idosas.

Os autores afirmam que dentro de poucos anos “o falar” típico do Vale do Juruá irá perde-se devido a não utilização por parte dos moradores da zona urbana, do crescimento das cidades e seu contato com outras regiões do país, dos neologismos procedentes dos meios de comunicação de massa e também devido à escassa presença de registros escritos que cataloguem essa gama de palavras.

Eles concluem afirmando que devido aos escassos registros escritos, grande parte desse “acervo lingüístico” está se perdendo. As palavras e expressões que os jovens ainda ouvem esporadicamente, com seus os pais e os seus avós, seus filhos não mais as ouvirão, nem tão pouco as utilizarão, ficando para trás um importante legado cultural, capaz de esclarecer lacunas lingüísticas e sociais importantes para o desenvolvimento da pesquisa cientifica no Acre.

Dados da pesquisa: "Arcaísmos no vale do Juruá", por Jacqueline de Freitas Maciel, Bolsista PIBIC/CNPq/UFAC e Milton Chamarelli Filho, Centro de Educação, Letras e Artes – UFAC – CZS.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Olá Evandro Fereira!!!
Sou Jacqueline De Freitas, bolsista da UFac que realizei a essa pesquisa junto com o Professor MIlton. Estou feliz ao ver o reconhecimento e difusão de nosso trabalho atravez de um dos meios de comunicação de massa tão influentes e rapidos como a intenet, em especial os blogs.

26/07/2008, 21:33  

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