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01 outubro 2007

PLANTAS NATIVAS ACREANAS COM POTENCIAL ANTIBACTERIANO

Extratos brutos obtidos das espécies Faramea retinerva, Kutchubaea sp., Palicourea longiflora e Psychotria sp., todas nativas do Acre, produzem substâncias capazes de inibir o crescimento de bactérias patogênicas, principalmente as Gram-negativas, isoladas de pacientes internados em hospitais de Rio Branco-AC.

Pesquisa sobre o potencial anti-bacteriano de plantas nativas do acre desenvolvida pelo estudante Mário Olimpio Pereira Neto e pela professora Sheyla Mara de Almeida Ribeiro, do Departamento de Ciências da Saúde da UFAC, concluiu que de quatro espécies estudadas, três produzem substâncias capazes de inibir o crescimento de bactérias patogênicas, principalmente as Gram-negativas.

A pesquisa por novas substâncias capazes de inibir microrganismos, que se tornam rapidamente resistentes às drogas disponíveis comercialmente, é um dos grandes desafios da terapêutica antimicrobiana e o estudo de espécies vegetais para fins medicinais é uma alternativa para aumentar o arsenal terapêutico disponível como medicamento.

Estudo de plantas da família Rubiaceae

A pesquisa realizada pela equipe da UFAC teve como objetivo principal avaliar o potencial anti-bacteriano de espécies da família Rubiaceae, a mesma do Café, frente a bactérias multi-resistentes isoladas de pacientes internados em hospitais de Rio Branco-AC. Para isso, extratos brutos de Faramea retinerva, Kutchubaea sp, Palicourea longiflora e Psychotria sp foram obtidos por esgotamento a frio e a quente, seguindo a série eluotrópica dos solventes hexano, acetona e etanol.

A atividade anti-bacteriana dos extratos foi avaliada através do método de difusão em meio sólido, frente a 17 cepas de bactérias multi-resistentes: Staphylococcus aureus (5 cepas), Pseudomonas aeruginosa (6 cepas), Klebsiella sp (4 cepas) e Enterobacter sp (2 cepas). Suspensões de microrganismos na concentração de 107 UFC/mL foram inoculadas em placas de Petri contendo o meio ágar Mueller-Hinton. Discos de papel estéril com 6mm de diâmetro foram impregnados com 25µL de cada extrato bruto, na concentração de 4mg/mL, e depositados sobre o meio previamente inoculado.

As placas foram incubadas a 37ºC e avaliadas após 24 horas de crescimento bacteriano, mediante formação e dimensão dos halos de inibição em volta dos discos. Os extratos foram submetidos a testes cromatográficos em placas de sílica gel, utilizando como fase móvel o sistema de solventes Toluol / Dioxano / Ácido acético (180:45:5 v/v/v).

As cromatoplacas foram visualizadas sob luz ultravioleta (UV) e reveladas com iodo ressublimado. As bandas foram comparadas através de reação de coloração e valores de Rf.

Extratos mais eficazes contra as Bactérias Gram-negativas

O resultado da pesquisa indicou que as bactérias Gram-negativas apresentaram maior sensibilidade, uma vez que aproximadamente 47% dos extratos vegetais testados inibiram seu crescimento, ao passo que apenas 5,8% desses extratos apresentaram ação inibitória contra bactérias Gram-positivas.

Dentre os microrganismos avaliados, a bactéria Pseudomonas aeruginosa foi a que apresentou maior sensibilidade, verificando-se halos de inibição de até 24 mm de diâmetro.

Das espécies vegetais estudadas, três apresentaram atividade antibacteriana: Faramea retinervea, Kutchubaea sp e Palicourea longiflora. Os extratos acetônico e etanólico foram os que apresentaram maior potencial inibitório, sendo que os de Faramea e Palicourea, obtidos tanto por esgotamento a frio como a quente, mostraram-se ativos, enquanto os de Kutchubaea, mostraram atividade apenas quando obtidos por esgotamento a quente.

Faramea retinervea tem maior espectro de ação

A análise do perfil cromatográfico das espécies indica que os extratos a frio de Faramea apresentaram maior número de substâncias, o que pode justificar o maior espectro de ação desses extratos, uma vez que inibiram um maior número de microrganismos em relação aos extratos a quente.

No caso de Kutchubaea, a presença de substâncias com Rf 0.39 e 0.45, nos extratos acetônico e etanólico obtidos das folhas por esgotamento a quente, pode estar relacionada à atividade antimicrobiana da espécie, uma vez que não estão presentes nos demais extratos desta parte da planta.

Em relação a Palicourea, observou-se que embora os extratos a frio tenham apresentado um maior número de substâncias e inibido um maior número de microrganismos, os extratos a quente apresentaram considerável inibição contra uma das cepas de Klebsiella, bactéria que se mostrou resistente à maioria dos extratos testados.

A continuidade dos estudos com as espécies de potencial reconhecido pretende agora identificar os princípios ativos eficazes no tratamento de doenças infecciosas causadas por microrganismos multi-resistentes.