O FUSO HORÁRIO DO ACRE VAI MUDAR
"...mas a sua aprovação se fez quebrando uma regra básica do que chamam democracia, que é dar voz aos interessados no assunto. Estes esquecidos são os que formam a população de eleitores do Acre. "
Mário José de Lima
Economista, Professor da PUC-SP
Passando os olhos pelos jornais de hoje, no jornal Página 20, deparei-me com a notícia sobre a assinatura pelo presidente Lula da lei que muda o fuso horário da Amazônia. Diz a notícia:
“A nova lei, o Acre passa, finalmente, a ter o mesmo horário que os outros Estados da Amazônia Ocidental, como Amazonas, Rondônia e Roraima, além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do país. Com isso, corrige-se um erro histórico cometido em 1913, quando a legislação transformou o Acre numa espécie de” ilha “do fuso horário amazônico, quando o meridiano que estabelece o fuso da Amazônia passa exatamente em cima de Rio Branco, capital do Estado.”
O primeiro aspecto a chamar a atenção é a referência ao que denomina a notícia de um “erro histórico”. Parei, examinei mapas e circunstâncias históricas no período da fixação dos horários no Brasil, procurei reexaminar os fundamentos técnicos que cercam a criação do que entendemos como fuso horário.
Confesso que não consigo entender de onde saiu tal afirmação de “erro histórico”. Sabemos, pelo menos eu acreditava que todos sabiam, afinal é assunto das disciplinas de geografia desde o que denominam hoje de primeiro grau, como se formou uma base que permite que possamos usar os relógios de forma relacionada, através do mundo.
A idéia básica da criação de um sistema de medição horária está apoiada no ciclo natural gerado pela rotação da terra em torno do seu eixo. Este ciclo que divide o tempo na terra entre noite e dia.
A possibilidade de criação do sistema horário está na determinação de um ponto de partida o que foi conseguido através da marcação de uma linha ligando os dois pólos da terra e denominada de meridiano.
O ponto de partida foi o meridiano passado sobre o Royal Observatory, na cidade de Greenwich, nas cercanias de Londres. A partir desse ponto seria formado o horário a medida em que a luz do sol avançasse sobre as regiões à oeste do ponto inicial.
Vale lembrar, das lições de trigonometria que tivemos no antigo ginásio e nas aulas do segundo grau, na medida em que a medição envolve a consideração de graus, como é próprio para entendermos e medirmos superfícies em arco.
No caso do sistema horário, trata-se de medir a longitude, é dizer, medir a distância entre os diversos meridianos a partir de Greenwich, o que equivale a medir o arco entre os meridianos.
O Meridiano de Greenwich que foi estabelecido por Sir George Airy, em 1851, constitui a marca entre a duas partes da terra, ou seja, demarca a separação entre Ocidente e Oriente.
A oeste, horários atrasados em relação a Greenwich, na medida em que, em função do sentido da rotação da terra, é para este lado que a luz do sol avança; a leste, áreas onde o horário é mais avançado, região onde a luz do sol vai sumindo em função da rotação da terra. A partir desse ponto forma-se as faixas de horários, ou fusos que corresponde a faixas de quinze graus de largura. Esse recurso reduz o número de fusos oficiais e permite deixar quase intocável a base que é o ciclo noite-dia. A adoção da hora de Greenwich (GMT) é resultado de acordo internacional de 1881
O que é certo é que em todos os pontos interessava o nascer e o por do sol. Estamos diante de uma decisão que explora aspectos ligados ao metabolismo dos seres vivos, na medida em que, uma grande variedade deles, entre os quais os humanos, usam a noite para recomposição das forças do corpo.
Vale aqui, uma curiosidade: os colibris, um ser que despende quantidades incríveis de energia para realizar seus vôos, chegam, mesmo, a alcançar estados letárgicos durante a noite. Evidentemente, que há, aí, forças sociais indicando este caminho, afinal, trata-se de uma fase adiantada do desenvolvimento do regime capitalista de produção.
De um lado, o sistema adequa-se à organização dos sistemas produtivos, permite uma forma adequada ao aproveitamento da força de trabalho a custos mais baixos (cabe lembrar, os custos com iluminação, possibilidades de quebras de equipamentos, uma vez que há comprovação na redução do desempenho dos operadores, etc). Por outro lado, é uma determinação de horários que se afirma pelo próprio crescimento da força política da classe trabalhadora, dado que garante o período de descanso na fase mais adequado a isso. Ou seja, o aproveitamento do período noturno para o descanso é resultado da própria evolução dos seres vivos.
Quando ocorre a fixação de um horário para o Brasil, foi preservada, em alguma medida, a base do sistema. No caso, o Acre foi uma das regiões brasileiras a ter seu horário apoiado integralmente no sistema, ou seja, teve sua hora fixada em função da sua localização na faixa que determina a hora Greenwich menos cinco. Também, Brasília se localiza praticamente no meio do fuso horário 3, e obedece ao horário Greenwich menos três. A determinação de uma diferença entre Brasília e Acre é, portanto, absolutamente compatível com o Greenwich Mean Times – GMT.
Afinal, de que erro histórico fala, então a notícia?
A notícia,também, faz referência de um “fuso horário amazônico”. Fiz uma pesquisa, afinal, não sendo geógrafo não estou tão atualizado com esse assunto, e não existe, em nada do que pesquisei qualquer referência a este fuso horário.
Segundo a notícia procura fazer entender, o Acre deveria integra-se a tal fuso horário. Quando faz referência ao fato de um meridiano passando por sobre Rio Branco, o que realmente faz é abandonar o critério de faixas – fuso horário - que apóia o sistema de Greenwich.
A meu juízo, frente ao que conseguimos expor sobre o assunto, a notícia esquece o papel social da imprensa que é de dotar o cidadão com informações fidedignas.
Não chego ao limite – normal – de cobrar isenção em posições onde a sociedade mostre-se dividida entre posições diferentes. Mas que não se distorça fatos e teorias, não se distorça informações, para atender suas filiações políticas e/ou de negócios.
Não custa reafirmar: entre outros aspectos importantes essa nova lei retira da população a possibilidade de uma hora de sono reparador e a sua aprovação se fez quebrando uma regra básica do que chamam democracia que é dar voz aos interessados no assunto. Estes esquecidos são os que formam a população de eleitores do Acre.
Mário José de Lima
Economista, Professor da PUC-SP
Passando os olhos pelos jornais de hoje, no jornal Página 20, deparei-me com a notícia sobre a assinatura pelo presidente Lula da lei que muda o fuso horário da Amazônia. Diz a notícia:
“A nova lei, o Acre passa, finalmente, a ter o mesmo horário que os outros Estados da Amazônia Ocidental, como Amazonas, Rondônia e Roraima, além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste do país. Com isso, corrige-se um erro histórico cometido em 1913, quando a legislação transformou o Acre numa espécie de” ilha “do fuso horário amazônico, quando o meridiano que estabelece o fuso da Amazônia passa exatamente em cima de Rio Branco, capital do Estado.”
O primeiro aspecto a chamar a atenção é a referência ao que denomina a notícia de um “erro histórico”. Parei, examinei mapas e circunstâncias históricas no período da fixação dos horários no Brasil, procurei reexaminar os fundamentos técnicos que cercam a criação do que entendemos como fuso horário.
Confesso que não consigo entender de onde saiu tal afirmação de “erro histórico”. Sabemos, pelo menos eu acreditava que todos sabiam, afinal é assunto das disciplinas de geografia desde o que denominam hoje de primeiro grau, como se formou uma base que permite que possamos usar os relógios de forma relacionada, através do mundo.
A idéia básica da criação de um sistema de medição horária está apoiada no ciclo natural gerado pela rotação da terra em torno do seu eixo. Este ciclo que divide o tempo na terra entre noite e dia.
A possibilidade de criação do sistema horário está na determinação de um ponto de partida o que foi conseguido através da marcação de uma linha ligando os dois pólos da terra e denominada de meridiano.
O ponto de partida foi o meridiano passado sobre o Royal Observatory, na cidade de Greenwich, nas cercanias de Londres. A partir desse ponto seria formado o horário a medida em que a luz do sol avançasse sobre as regiões à oeste do ponto inicial.
Vale lembrar, das lições de trigonometria que tivemos no antigo ginásio e nas aulas do segundo grau, na medida em que a medição envolve a consideração de graus, como é próprio para entendermos e medirmos superfícies em arco.
No caso do sistema horário, trata-se de medir a longitude, é dizer, medir a distância entre os diversos meridianos a partir de Greenwich, o que equivale a medir o arco entre os meridianos.
O Meridiano de Greenwich que foi estabelecido por Sir George Airy, em 1851, constitui a marca entre a duas partes da terra, ou seja, demarca a separação entre Ocidente e Oriente.
A oeste, horários atrasados em relação a Greenwich, na medida em que, em função do sentido da rotação da terra, é para este lado que a luz do sol avança; a leste, áreas onde o horário é mais avançado, região onde a luz do sol vai sumindo em função da rotação da terra. A partir desse ponto forma-se as faixas de horários, ou fusos que corresponde a faixas de quinze graus de largura. Esse recurso reduz o número de fusos oficiais e permite deixar quase intocável a base que é o ciclo noite-dia. A adoção da hora de Greenwich (GMT) é resultado de acordo internacional de 1881
O que é certo é que em todos os pontos interessava o nascer e o por do sol. Estamos diante de uma decisão que explora aspectos ligados ao metabolismo dos seres vivos, na medida em que, uma grande variedade deles, entre os quais os humanos, usam a noite para recomposição das forças do corpo.
Vale aqui, uma curiosidade: os colibris, um ser que despende quantidades incríveis de energia para realizar seus vôos, chegam, mesmo, a alcançar estados letárgicos durante a noite. Evidentemente, que há, aí, forças sociais indicando este caminho, afinal, trata-se de uma fase adiantada do desenvolvimento do regime capitalista de produção.
De um lado, o sistema adequa-se à organização dos sistemas produtivos, permite uma forma adequada ao aproveitamento da força de trabalho a custos mais baixos (cabe lembrar, os custos com iluminação, possibilidades de quebras de equipamentos, uma vez que há comprovação na redução do desempenho dos operadores, etc). Por outro lado, é uma determinação de horários que se afirma pelo próprio crescimento da força política da classe trabalhadora, dado que garante o período de descanso na fase mais adequado a isso. Ou seja, o aproveitamento do período noturno para o descanso é resultado da própria evolução dos seres vivos.
Quando ocorre a fixação de um horário para o Brasil, foi preservada, em alguma medida, a base do sistema. No caso, o Acre foi uma das regiões brasileiras a ter seu horário apoiado integralmente no sistema, ou seja, teve sua hora fixada em função da sua localização na faixa que determina a hora Greenwich menos cinco. Também, Brasília se localiza praticamente no meio do fuso horário 3, e obedece ao horário Greenwich menos três. A determinação de uma diferença entre Brasília e Acre é, portanto, absolutamente compatível com o Greenwich Mean Times – GMT.
Afinal, de que erro histórico fala, então a notícia?
A notícia,também, faz referência de um “fuso horário amazônico”. Fiz uma pesquisa, afinal, não sendo geógrafo não estou tão atualizado com esse assunto, e não existe, em nada do que pesquisei qualquer referência a este fuso horário.
Segundo a notícia procura fazer entender, o Acre deveria integra-se a tal fuso horário. Quando faz referência ao fato de um meridiano passando por sobre Rio Branco, o que realmente faz é abandonar o critério de faixas – fuso horário - que apóia o sistema de Greenwich.
A meu juízo, frente ao que conseguimos expor sobre o assunto, a notícia esquece o papel social da imprensa que é de dotar o cidadão com informações fidedignas.
Não chego ao limite – normal – de cobrar isenção em posições onde a sociedade mostre-se dividida entre posições diferentes. Mas que não se distorça fatos e teorias, não se distorça informações, para atender suas filiações políticas e/ou de negócios.
Não custa reafirmar: entre outros aspectos importantes essa nova lei retira da população a possibilidade de uma hora de sono reparador e a sua aprovação se fez quebrando uma regra básica do que chamam democracia que é dar voz aos interessados no assunto. Estes esquecidos são os que formam a população de eleitores do Acre.
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