MOTORISTAS ABORDADOS NA MADRUGADA: MAIORIA BEBE COM FREQUÊNCIA
Pesquisa revela que, entre motoristas abordados durante a madrugada em Belo Horizonte (MG), 60% bebem com freqüência e 36% já se envolveram em acidentes. Dos submetidos a teste, 38% tinham algum nível de álcool no sangue
Risco ao volante
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP (24/04/2008) – Uma pesquisa realizada em Belo Horizonte (MG) apresenta um diagnóstico preocupante na relação entre álcool e direção. Os resultados apontaram que 36,6% dos entrevistados já se envolveram em acidentes como motoristas. Mais da metade deles (55,4%) é jovem, entre 18 e 30 anos. Mais de 60% deles têm um padrão de consumo de álcool de dois dias por semana.
Os entrevistados, mais de 900 condutores de veículos abordados em vias públicas com grandes concentrações de bares, restaurantes e casas noturnas, têm perfil socioeconômico elevado. Cerca de 76,8% deles têm nível superior completo ou incompleto e apresentam renda familiar superior a oito salários mínimos (73,7%). O artigo foi publicado na revista Cadernos de Saúde Pública.
Do total de participantes, 63% aceitaram ser submetidos ao teste de bafômetro. Os resultados apontaram que 19,6% dirigiam com níveis de álcool iguais ou superiores aos limites legais e 18,4% apresentavam algum índice de álcool no ar expirado, ou seja, 38% dos condutores dirigiam com algum nível de álcool no sangue.
Participaram da pesquisa os professores Sérgio Duailibi e Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e os pesquisadores Rogério Salgado e Mariela Rocha, da Secretaria de Desenvolvimento Social de Belo Horizonte. O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, que atua na secretaria e cursa mestrado na Uniad, coordenou o estudo.
Segundo Campos, a pesquisa teve um duplo objetivo: fazer um levantamento de dados sobre a relação entre beber e dirigir numa grande cidade no país e testar a aplicabilidade e aceitação do bafômetro como instrumento de coleta de dados.
“O propósito era educar e conscientizar a população na relação entre o beber e dirigir, utilizar o bafômetro como instrumento na coleta de dados e auxiliar na orientação de políticas públicas que permitam intervenções e que reduzam os problemas relacionados ao consumo de álcool”, disse Campos à Agência FAPESP.
O levantamento dos dados ocorreu no mês de dezembro, nos anos de 2005 e 2006, durante as noites de sexta e sábado, entre 22 e 3 horas da madrugada. As pesquisas sobre acidentes de trânsito em todo o mundo, segundo o autor, têm apontado que a maioria dos acidentes fatais ocorre na faixa etária dos 21 aos 24 anos e 80% deles no período de 20 às 4 horas da manhã dos fins de semana.
Os pontos de checagem se concentraram na região da Savassi, sul da cidade de Belo Horizonte. Foram entrevistados 990 condutores de carros, motocicletas e utilitários. Destes, 913 (92,2%) aceitaram participar em pelo menos uma das etapas da pesquisa (questionário e bafômetro ativo).
Ações necessárias
Como 55,4% dos entrevistados são jovens entre 18 e 30 anos, Campos acredita que as campanhas educativas precisam ser direcionadas, principalmente, para esse público.
“A nossa pesquisa apontou que, entre os jovens nessa faixa etária, um quinto já se envolveu em acidentes de trânsito, tem um padrão de consumo de álcool de duas vezes por semana e ingere de duas a três doses de bebidas. Essa quantidade é suficiente para superar os índices estabelecidos por lei”, afirma o pesquisador.
De acordo com ele, os acidentes de trânsito envolvendo adolescentes que fazem consumo de álcool aumenta após uma dose de bebida, dobra após duas doses e aumenta cinco vezes após cinco doses. O limite estabelecido pelo Código de Trânsito Brasileiro para que uma pessoa seja impedida de dirigir é de 0,6 grama de álcool por litro sangue.
Outro dado importante é que a maioria dos adolescentes (76,8%) tem curso superior completo ou incompleto e renda familiar acima de oito salários mínimos (73,7%). Para confirmar a relação socioeconômica, os testes serão feitos em outras regiões e em várias cidades do estado.
“Já está em andamento outra pesquisa com a mesma metodologia, que será aplicada em todas as sete regionais da cidade e nos vários municípios do estado, para que possamos ter dados mais consistentes sobre a relação entre o nível socioeconômico e educativo e outros fatores associados ao beber e dirigir”, explica Campos.
De acordo com o pesquisador, há uma certa conivência da sociedade em relação às drogas lícitas, como álcool e tabaco. Cinqüenta por cento dos acidentes automobilísticos fatais que ocorrem no país, diz, estão relacionados ao consumo de álcool.
“A alta prevalência encontrada neste estudo pode ser, provavelmente, atribuída a uma fiscalização ineficiente, ao não cumprimento da lei e à falta de uma política específica voltada para a prevenção de acidentes no trânsito.”
O pesquisador defende que a principal medida a ser tomada é o cumprimento da lei. A bebida proporciona ao motorista um falso senso de confiança, prejudicando habilidades como atenção, coordenação, acuidade visual e o julgamento de velocidade, tempo e distância. Mesmo quantidades pequenas de álcool aumentam as chances do envolvimento em acidentes.
“Pesquisas permanentes podem levar ao estabelecimento de política de tolerância zero ao ato de beber e dirigir, como já ocorre em alguns países. As informações deste estudo podem auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas específicas que permitam intervenções no campo do beber e dirigir, educar e conscientizar a população sobre a relação entre bebida e direção, melhoria da fiscalização no trânsito e o cumprimento mais eficaz da lei”, declarou.
Para ler o artigo Prevalência do beber e dirigir em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, de Valdir Ribeiro Campos, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
NOTA DO BLOG: A pesquisa parece que descobriu o que todo munda já sabe. Mas tem rigor científico e mostra números concretos. Nada de 'eu acho...' Resultados similares podem ser esperados para outras cidades brasileirs, incluindo Rio Branco, onde é clara a escalada da violência no trânsito local em função da bebida alcóolica. A Ciatran deveria, portanto, passar a fazer abordagens durante a madrugada, nas proximidades de clubes e bares. É uma medida muito mais efetiva do que ficar 'atrapalhando' a vida de quem trabalha e tem que ficar parando constantemente durante o dia para mostra habilitação e documentos do veículo.
Risco ao volante
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP (24/04/2008) – Uma pesquisa realizada em Belo Horizonte (MG) apresenta um diagnóstico preocupante na relação entre álcool e direção. Os resultados apontaram que 36,6% dos entrevistados já se envolveram em acidentes como motoristas. Mais da metade deles (55,4%) é jovem, entre 18 e 30 anos. Mais de 60% deles têm um padrão de consumo de álcool de dois dias por semana.
Os entrevistados, mais de 900 condutores de veículos abordados em vias públicas com grandes concentrações de bares, restaurantes e casas noturnas, têm perfil socioeconômico elevado. Cerca de 76,8% deles têm nível superior completo ou incompleto e apresentam renda familiar superior a oito salários mínimos (73,7%). O artigo foi publicado na revista Cadernos de Saúde Pública.
Do total de participantes, 63% aceitaram ser submetidos ao teste de bafômetro. Os resultados apontaram que 19,6% dirigiam com níveis de álcool iguais ou superiores aos limites legais e 18,4% apresentavam algum índice de álcool no ar expirado, ou seja, 38% dos condutores dirigiam com algum nível de álcool no sangue.
Participaram da pesquisa os professores Sérgio Duailibi e Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e os pesquisadores Rogério Salgado e Mariela Rocha, da Secretaria de Desenvolvimento Social de Belo Horizonte. O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, que atua na secretaria e cursa mestrado na Uniad, coordenou o estudo.
Segundo Campos, a pesquisa teve um duplo objetivo: fazer um levantamento de dados sobre a relação entre beber e dirigir numa grande cidade no país e testar a aplicabilidade e aceitação do bafômetro como instrumento de coleta de dados.
“O propósito era educar e conscientizar a população na relação entre o beber e dirigir, utilizar o bafômetro como instrumento na coleta de dados e auxiliar na orientação de políticas públicas que permitam intervenções e que reduzam os problemas relacionados ao consumo de álcool”, disse Campos à Agência FAPESP.
O levantamento dos dados ocorreu no mês de dezembro, nos anos de 2005 e 2006, durante as noites de sexta e sábado, entre 22 e 3 horas da madrugada. As pesquisas sobre acidentes de trânsito em todo o mundo, segundo o autor, têm apontado que a maioria dos acidentes fatais ocorre na faixa etária dos 21 aos 24 anos e 80% deles no período de 20 às 4 horas da manhã dos fins de semana.
Os pontos de checagem se concentraram na região da Savassi, sul da cidade de Belo Horizonte. Foram entrevistados 990 condutores de carros, motocicletas e utilitários. Destes, 913 (92,2%) aceitaram participar em pelo menos uma das etapas da pesquisa (questionário e bafômetro ativo).
Ações necessárias
Como 55,4% dos entrevistados são jovens entre 18 e 30 anos, Campos acredita que as campanhas educativas precisam ser direcionadas, principalmente, para esse público.
“A nossa pesquisa apontou que, entre os jovens nessa faixa etária, um quinto já se envolveu em acidentes de trânsito, tem um padrão de consumo de álcool de duas vezes por semana e ingere de duas a três doses de bebidas. Essa quantidade é suficiente para superar os índices estabelecidos por lei”, afirma o pesquisador.
De acordo com ele, os acidentes de trânsito envolvendo adolescentes que fazem consumo de álcool aumenta após uma dose de bebida, dobra após duas doses e aumenta cinco vezes após cinco doses. O limite estabelecido pelo Código de Trânsito Brasileiro para que uma pessoa seja impedida de dirigir é de 0,6 grama de álcool por litro sangue.
Outro dado importante é que a maioria dos adolescentes (76,8%) tem curso superior completo ou incompleto e renda familiar acima de oito salários mínimos (73,7%). Para confirmar a relação socioeconômica, os testes serão feitos em outras regiões e em várias cidades do estado.
“Já está em andamento outra pesquisa com a mesma metodologia, que será aplicada em todas as sete regionais da cidade e nos vários municípios do estado, para que possamos ter dados mais consistentes sobre a relação entre o nível socioeconômico e educativo e outros fatores associados ao beber e dirigir”, explica Campos.
De acordo com o pesquisador, há uma certa conivência da sociedade em relação às drogas lícitas, como álcool e tabaco. Cinqüenta por cento dos acidentes automobilísticos fatais que ocorrem no país, diz, estão relacionados ao consumo de álcool.
“A alta prevalência encontrada neste estudo pode ser, provavelmente, atribuída a uma fiscalização ineficiente, ao não cumprimento da lei e à falta de uma política específica voltada para a prevenção de acidentes no trânsito.”
O pesquisador defende que a principal medida a ser tomada é o cumprimento da lei. A bebida proporciona ao motorista um falso senso de confiança, prejudicando habilidades como atenção, coordenação, acuidade visual e o julgamento de velocidade, tempo e distância. Mesmo quantidades pequenas de álcool aumentam as chances do envolvimento em acidentes.
“Pesquisas permanentes podem levar ao estabelecimento de política de tolerância zero ao ato de beber e dirigir, como já ocorre em alguns países. As informações deste estudo podem auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas específicas que permitam intervenções no campo do beber e dirigir, educar e conscientizar a população sobre a relação entre bebida e direção, melhoria da fiscalização no trânsito e o cumprimento mais eficaz da lei”, declarou.
Para ler o artigo Prevalência do beber e dirigir em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, de Valdir Ribeiro Campos, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
NOTA DO BLOG: A pesquisa parece que descobriu o que todo munda já sabe. Mas tem rigor científico e mostra números concretos. Nada de 'eu acho...' Resultados similares podem ser esperados para outras cidades brasileirs, incluindo Rio Branco, onde é clara a escalada da violência no trânsito local em função da bebida alcóolica. A Ciatran deveria, portanto, passar a fazer abordagens durante a madrugada, nas proximidades de clubes e bares. É uma medida muito mais efetiva do que ficar 'atrapalhando' a vida de quem trabalha e tem que ficar parando constantemente durante o dia para mostra habilitação e documentos do veículo.
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