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13 julho 2008

ALÇÕES PRÓ-ALEITAMENTO GERAM RESULTADOS POSITIVOS

Para os autores do artigo, é necessário repensar a promoção do aleitamento materno quanto à abordagem das gestantes, despertando nelas o desejo de amamentar por pelo menos dois anos

Pesquisa revela impactos positivos das ações pró-aleitamento materno

Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) investigaram o impacto das ações de promoção do aleitamento materno em uma comunidade da periferia de Belo Horizonte.

Publicado em junho na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz, o estudo foi realizado no bairro São Marcos, na região nordeste da capital, com dados coletados em 1980, 1986, 1992, 1998 e 2004. Os resultados mostram que a mediana da duração do aleitamento materno aumentou de 5 para 11 meses entre o primeiro e o último ano analisados. Embora ainda inferior à metade da recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a duração do aleitamento alcançada em 2004 entre as usuárias do Centro de Saúde São Marcos representa um avanço importante. Para efeito de comparação, no conjunto das mães do Brasil, da Região Sudeste e de Belo Horizonte, as medianas são de 10, 8 e 7 meses, respectivamente, segundo pesquisa nacional de prevalência de aleitamento materno de 1999.

No Centro de Saúde São Marcos, a pesquisa da UFMG também revela que, enquanto mais de 20% das crianças menores de 1 mês de idade já não recebiam leite materno em 1980, este percentual caiu para menos de 5% em 2004. “Há mais de 30 anos, a ciência vem dando sua contribuição para o resgate do aleitamento materno como prática indispensável à vida de mulheres e crianças”, dizem a médica Claudia Regina Lindgren Alves e co-autores no artigo. “Passado todo esse tempo, não cabe mais discutir a propósito dos benefícios do aleitamento materno na prevenção de doenças, nos aspectos emocionais e financeiros. Muitas páginas poderiam ser preenchidas com evidências das qualidades nutricionais e imunológicas do leite materno, da importância da amamentação para o fortalecimento do vínculo afetivo mãe-filho e de outros incontáveis benefícios do aleitamento materno”.

Em 1980, 1986, 1992 e 1998, a coleta dos dados foi feita por um professor da UFMG e seus alunos, e cerca de 140 mulheres participaram da pesquisa em cada ano. Em 2004, a coleta foi realizada por agentes comunitários de saúde e pouco menos de 220 mulheres participaram. Foram incluídas no estudo mães que utilizavam os serviços do Centro de Saúde São Marcos e tinham filhos com idade inferior a 2 anos. Cada mulher respondeu a questões relativas a seu filho mais novo. Mães adotivas e aquelas com alguma contra-indicação para amamentar não foram incluídas no estudo.

Ao compararem os resultados ao longo do tempo, os pesquisadores constataram um crescimento progressivo do percentual de mães que realizaram o pré-natal até que, em 2004, chegou-se a 100%. No entanto, o percentual de mães que, durante o pré-natal, foram orientadas sobre a amamentação não aumentou muito no período estudado, mantendo-se abaixo de 70%. Por outro lado, se a orientação sobre o aleitamento não aumentou no pré-natal, ela se tornou mais freqüente, pelo menos, na maternidade. Em 2004, 88,1% das mães receberam orientação para amamentar na maternidade, contra apenas 47,5% em 1980.

“Houve aumento importante do percentual de recém-nascidos que iniciaram o aleitamento materno (exclusivo ou não) ainda na maternidade e diminuição do percentual de crianças que ficaram separadas de suas mães por seis horas ou mais após o parto”, relatam os pesquisadores no artigo. Neste sentido, outro avanço nas maternidades diz respeito ao alojamento conjunto de mães e filhos após o parto – prática que, em 1980, não foi relatada por nenhuma mulher e que, em 2004, beneficiou oito em cada dez entrevistadas.

Além disso, “entre 1980 e 2004, houve aumento do percentual de mães que consideram o leite materno melhor que os outros tipos de leite, que acham ideal amamentar por seis meses ou mais, que conseguiram amamentar seus filhos anteriores por pelo menos quatro meses e que identificam vantagens do leite materno para a criança”, afirmam os autores do trabalho. Os pesquisadores também investigaram condições associadas ao risco de uma menor duração do aleitamento materno no período investigado. Entre elas, destacam-se: ser mãe de primeira viagem; ter dificuldade para amamentar nos primeiros dias após o parto; imaginar que o tempo ideal de aleitamento é menor que seis meses; só começar a amamentar após a alta da maternidade; não reconhecer as vantagens da amamentação para a criança; e não contar com o apoio do pai do bebê para a prática do aleitamento.

“O percentual de mães que informaram ter tido dificuldades para amamentar nos primeiros dias após o parto foi elevado em todos os anos”, ressaltam Claudia Regina e co-autores. “A dificuldade para amamentar no pós-parto representa o resultado de um conjunto de deficiências na orientação da mãe para aspectos práticos da amamentação, apontando falhas desde o preparo das mamas na gravidez até a intervenção precoce no pós-parto”, explicam. Na conclusão do artigo, recomendam que “é necessário repensar a promoção do aleitamento materno quanto à abordagem das gestantes, despertando nelas o desejo de amamentar por pelo menos dois anos. As intervenções devem ainda propiciar às mães oportunidades de adquirir habilidades práticas para o aleitamento, minimizando as dificuldades iniciais”.