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13 março 2009

AÇAI NOS EUA: VENDIDO COMO ALIMENTO MILAGROSO!

New York Times: Céticos pressionam por provas dos benefícios do açaí
Abby Ellin, The New York Times

É difícil ignorar a badalação em torno do açaí, a fruta roxa que dá em árvores de 18 metros na floresta tropical brasileira e passou a ser ingrediente em bebidas “desintoxicantes” e cremes antienvelhecimento. Basta verificar suas mensagens de e-mail ou as propagandas no Facebook para se ter uma idéia das alegações: “Perca peso com o segredo de dieta favorito de Oprah!” “Coma a fruta que o dr. Oz chama de ’superalimento Nº 1!”

Cinquenta e três novos alimentos e bebidas contendo açaí foram lançados nos Estados Unidos em 2008, em comparação a quatro em 2004. As vendas de produtos tendo o açaí como ingrediente principal ultrapassaram US$ 106 milhões no ano encerrado em 24 de janeiro, segundo a Spin, uma empresa de pesquisa de mercado especializada em produtos naturais.

A Naked (que é de propriedade da Pepsi) e a 180 Blue (Anheuser-Busch) oferecem bebidas com açaí. O dr. Nicholas Perricone, famoso dermatologista, vende o suplemento de açaí, e a fabricante de cosméticos Fresh tem um Sugar Açai Age-Delay Body Cream por US$ 65.

As virtudes de uma bebida de açaí de uma empresa chamada MonaVie foram exaltadas pelo magnata da mídia Sumner Redstone, que disse à revista “Fortune” em 2007 que esperava que o suco, a cerca de US$ 40 a garrafa, o ajudaria a viver mais 50 anos. (Ele atualmente tem 85.)

Apesar da atenção, há pouco apoio às alegações extravagantes feitas em prol do açaí. Apesar de a fruta conter antioxidantes - moléculas que podem desacelerar os danos causados pela oxidação de outras substâncias no corpo - não há estudos de longo prazo provando que o açaí remova rugas ou, como alegam vários produtos de desintoxicação, limpe o corpo das toxinas. Também não há evidência que apoie as esperanças de uma fruta mágica daqueles que fazem dieta.

“Atualmente não há pesquisa científica que apoie a alegação de que o açaí contribua para perda de peso”, disse Stephen T. Talcott, professor associado de química alimentar da Texas A&M University, que publicou vários estudos sobre a fruta. “Algumas empresas estão explorando o fato do açaí ser amplamente desconhecido do público em geral, sendo vendido como fruta de curas milagrosas vinda das profundezas da floresta Amazônica. Se trata apenas de uma exploração da ignorância do consumidor.”

Apesar da maioria das empresas ser cuidadosa com a forma como anunciam seus produtos, algumas empregam métodos questionáveis. Oprah Winfrey, que tem informação no seu site a respeito do açaí atribuída aos doutores Perricone e Mehmet Oz, está tão preocupada com o uso indevido de seu nome para promover produtos pela Internet a ponto de acrescentar um alerta em seu site no mês passado: “Os consumidores devem estar cientes de que Oprah Winfrey não está associada e nem endossa qualquer produto de açaí ou oferta online desses produtos”.

Consumidores aparentemente enganados pelo uso do nome de Winfrey se queixaram junto aos representantes dela, que os encaminharam à procuradora-geral de Illinois, Lisa Madigan. Uma porta-voz de Madigan disse que seu gabinete está investigando se empresas estão empregando marketing fraudulento.

O site de Rachael Ray, cujo nome também aparece em propagandas de Internet, inclui este aviso: “O uso do nome ou foto dela associado a estas ofertas não é autorizado”.

E Perricone disse que seu advogado está investigando as afirmações feitas pelas empresas usando sua imagem, visando vender produtos que ele não endossa. “Eu certamente acho que o açaí, a fruta, traz grandes benefícios à saúde”, ele disse em uma entrevista. “Eu a chamaria de superalimento, mas sempre falei de forma genérica.”

Muitos consumidores também estão incomodados. Segundo Alison Southwick, uma porta-voz do Council of Better Business Bureaus (um órgão de defesa do consumidor) em Arlington, Virgínia, disse que recebeu mais de 2 mil queixas de consumidores que acharam estar se inscrevendo em um teste gratuito de produtos de açaí para perda de peso; no final, o teste gratuito acabou sendo cobrado um mês após o outro. Em janeiro, o birô emitiu um alerta dizendo aos consumidores para terem cuidado com as propagandas online empregando endosso de celebridades a produtos de perda de peso associados ao açaí. A FX Supplements.com, uma empresa de Arlington, Texas, que vende coisas como o Açaí Berry Maxx, e a Central Coast Nutraceuticals, que é de Phoenix, são duas dessas empresas. Ambas oferecem o que chamam de testes sem risco de seus produtos. Mas se os consumidores não cancelarem dentro do período de teste, eles recebem frascos adicionais a cada mês e são cobrados em até US$ 85,90. Esta repórter tentou três vezes entrar em contato com as empresas, sem sucesso.

Em dezembro, Jamie Nelson, de Wylie, Texas, impetrou um processo juntamente com o Better Business Bureau de Utah contra uma empresa local, que estava promovendo online o que chamava de teste gratuito de produtos de açaí para perda de peso. Nelson disse que o suplemento não a ajudou a perder peso e que ela recebeu uma cobrança após ter cancelado seu pedido.

“Eles possuem uma empresa terceirizada que lida com o ‘atendimento ao cliente’, de forma que não precisam responder a ninguém”, ela disse. Após a intervenção do Better Business Bureau, a empresa acabou reembolsando US$ 78, metade do que ela disse que lhe deviam.

O açaí era pouco conhecido nos Estados Unidos até 2001. Dois americanos, Ryan Black e Ed Nichols, souberam da fruta quando viajaram ao Brasil. Eles recrutaram o irmão de Ryan, Jeremy, misturaram a polpa do açaí com xarope de guaraná em um suco, o engarrafaram e batizaram sua nova empresa de Sambazon. Atualmente ela oferece 20 produtos, incluindo sucos, bebidas energéticas e suplementos que são vendidos em cerca de 15 mil lojas pelos Estados Unidos.

A MonaVie, outra empresa de açaí bem-sucedida, vende um suco por meio de distribuidores que contém açaí e “18 outras frutas benéficas ao corpo”.

“Quatro onças de MonaVie contêm uma capacidade antioxidante equivalente a 13 porções de frutas e vegetais comuns”, alega o material de marketing.

Mas ele não menciona que a empresa já recebeu mais de três dúzias de queixas, a maioria de clientes e distribuidores exigindo reembolso, disse Jane Driggs, presidente da Better Business Bureau em Salt Lake City, onde a MonaVie fica localizada. O birô pediu para que a MonaVie comprove as alegações de que seus produtos são ricos em “antioxidantes, aminoácidos, vitaminas, fitonutrientes e minerais” e de que contêm “glucosamina para ajudar a manter as juntas saudáveis”.

Julie Jenkins, uma porta-voz da MonaVie, disse: “Nós estamos trabalhando com a Better Business Bureau para fornecer a comprovação requisitada”. (Driggs reconheceu que a MonaVie é “boa” no reembolso do dinheiro e disse que a empresa respondeu a todas as queixas.)

Até o momento, entretanto, há apenas poucos estudos sobre os efeitos da fruta em seres humanos, dois deles publicados na edição de setembro de 2008 do “Journal of Agricultural and Food Chemistry”. O primeiro envolveu 12 voluntários que consumiram uma única porção de suco ou polpa de açaí. O estudo mostrou um aumento de curto prazo na capacidade antioxidante do sangue dos voluntários.

“Ela possui bons antioxidantes”, disse Talcott, um dos pesquisadores do estudo. “Nós sabemos que os antioxidantes provavelmente são bons para nós. Mas precisamos de mais estudos.”

No outro estudo, o dr. Alexander Schauss, um diretor da Aibmr Life Sciences, uma firma de pesquisa nutricêutica em Puyallup, Washington, escreveu que o MonaVie demonstrou “proteção antioxidante significativa” em 12 adultos saudáveis.

Schauss reconheceu que o tamanho da amostra no estudo era pequeno, mas disse acreditar ser significativo. Outros estão céticos. Apesar do primeiro estudo mostrar que os antioxidantes no açaí podem ser absorvidos, “ele olhou apenas os efeitos imediatos do consumo da polpa e suco do açaí”, disse Lilian Cheung, uma professora de nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard. “Seus resultados não demonstram que o consumo da polpa do açaí levam a qualquer benefício à saúde, muito menos perda de peso.”

Mas algumas pessoas endossam a alegação. Há cerca de um ano, Sarah Taylor, uma massagista de 32 anos de Portland, Oregon, começou a usar o açaí em pó da Sambazon. Após o primeiro dia, ela disse que notou um aumento de sua energia, e começou a usá-lo desde então. Ela até mesmo sugeriu aos seus clientes mais antigos que o bebessem. “É empolgante ver pessoas reagindo tão bem a algo”, ela disse.

Alegações de alimentos levantam dúvidas

Mirtilo, romã, goji, açaí: ao longo dos últimos anos, empresas, fornecedores e outros as batizaram como superfrutas. Segundo o dr. Nicholas Perricone, as superfrutas contêm quantidades enormes de antioxidantes, vitamina C e fibras. Outros são céticos.

“A superfruta é um termo de marketing; a maioria dos cientistas não o utiliza”, disse Stephen T. Talcott, professor associado de química alimentar da Texas A&M University. Todas as frutas “possuem nutrientes e fotoquímicos que nos dão energia”.

A chamada indústria das superfrutas, ele acrescentou, “é uma indústria muito jovem, em muitos casos com menos de 10 anos no mercado, de forma que não há tempo suficiente ou verbas dedicadas para condução de todos os testes necessários para se fazer qualquer afirmação significativa a respeito dos benefícios à saúde”.

“O mesmo vale para qualquer fruta”, ele disse. “Você conhece alguma benefício à saúde certificado pela FDA (agência americana de controle de alimentos e fármacos) para o mirtilo, vinho tinto ou morango? É claro que não.”

O dr. Alexander Schauss, um diretor do Aibmr Life Sciences, fica igualmente desconcertado com o termo superalimento. “O que tornaria o brócolis mais superalimento do que as couves-de-bruxelas?” ele perguntou.

Mas Perricone tem uma opinião mais direta sobre o termo.

“Alguns alimentos são simplesmente uma melhor opção”, ele disse. “Os vegetais de folhas verdes escuras são muito superiores ao alface americano. A farinha de aveia tradicional ou o trigo-mouro são superiores ao trigo, que provoca resposta alérgica ou sensibilidade em muitas pessoas.”

Tradução: George El Khouri Andolfato

* Matéria [Pressing Açaí for Answers] do jornal The New York Times, 11/03/2009, no UOL Notícias, 12/03/2009 - 01h46

**Tradução reproduzida a partir do site EcoDebate

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Evandro,

Um dos riscos do ‘sucesso’ do açaí está nos produtos que apenas simbolicamente contem açaí.

É o famoso caso do ginseng, cuja produção anual não é suficiente para ser incorporado a 10% dos produtos ‘à base de ginseng’. Mais de 90% dos produtos com ginseng não possuem concentração suficiente para que tenha qualquer efeito. Problema parecido ocorre com o ginkgo biloba, também com insignificante concentração em incontáveis produtos naturais.

A falta de controle e segurança dos suplementos é uma das mais recentes e severas críticas à FDA. Veja em http://www.ecodebate.com.br/2009/03/12/new-york-times-questiona-a-seguranca-dos-suplementos-alimentares/

No Brasil o problema é o mesmo.

A grande indústria sempre acha uma forma de obter o máximo de lucro, mesmo apenas vendendo uma ilusão, um efeito placebo.

Henrique Cortez

14/03/2009, 10:53  

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