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03 setembro 2009

BORBOLETAS BRASILEIRAS SE ORIGINARAM NOS ANDES

Diretamente dos Andes - Borboletas das florestas brasileiras teriam se originado nessa cordilheira 18 milhões de anos atrás

[Seis diferentes espécies de borboletas do gênero Napeogenes, conhecidas por suas asas parcialmente transparentes e bastante comuns na Amazônia e na mata atlântica (foto: André V. L. Freitas).]

Algumas das borboletas encontradas atualmente na Amazônia brasileira e na mata atlântica descendem de espécies que viveram na região da cordilheira dos Andes há cerca de 18 milhões de anos. A formação dessa cadeia de montanhas teria potencializado o surgimento de novas espécies, o que pode explicar a incomparável diversidade da fauna e da flora da América do Sul.

A conclusão faz parte de um estudo realizado por pesquisadores de sete países, inclusive do Brasil. A equipe investigou a influência da cordilheira na evolução das borboletas dos gêneros Ithomia e Napeogenes, ambos comuns na região amazônica e na mata atlântica.

Para isso, foram analisadas 48 espécies (24 de cada gênero) coletadas na Colômbia, no Equador, na Venezuela, no Panamá, no Peru, no Brasil e na Bolívia.

“Ninguém tinha estudado o grupo antes com essa amplitude de amostragem”, destaca a bióloga Karina Silva Brandão, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das autoras do estudo, publicado na revista Molecular Ecology.

A partir do DNA das borboletas contemporâneas, os pesquisadores reconstituíram o provável código genético das borboletas ancestrais e traçaram a árvore genealógica dos gêneros Ithomia e Napeogenes. “A gente precisa disso para saber a idade das espécies e o tempo em que ocorreram as grandes diferenciações”, esclarece o biólogo André Victor Lucci Freitas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Diversificação e isolamento

Os cientistas concluíram que essas borboletas, conhecidas por suas asas parcialmente transparentes, começaram a se diversificar há 15 milhões de anos, quando a parte central dos Andes já tinha atingido entre 30% e 50% de sua altura atual – estimada em cerca de 4 mil metros. Mas o crescimento da cordilheira por si só não foi a principal causa da diferenciação.

A altitude e a topografia dos Andes levaram à formação de um leque diverso de condições ecológicas: desde florestas equatoriais quentes até desertos secos e frios. Além disso, o surgimento dessa cadeia de montanhas provocou o isolamento geográfico de diversas populações, incluindo as espécies dos gêneros Ithomia e Napeogenes. Esse cenário criou as condições ideais para que os mecanismos evolutivos entrassem em ação e culminassem com a diversificação das espécies.

Os resultados contradizem a hipótese de que, ao longo dos anos, essas borboletas teriam seguido das planícies rumo a lugares de maior altitude. Segundo os pesquisadores, o estudo prova que o caminho, na verdade, foi o inverso: elas se originaram nos locais mais altos e colonizaram as planícies progressivamente

Para Brandão, outros grupos de seres vivos com pouca tolerância a variações ambientais – e, consequentemente, mais propícios à diversificação – como as plantas e os demais insetos, podem ter sofrido a mesma influência da cordilheira dos Andes ao longo da sua evolução. “Mas ainda é preciso muita investigação sobre o assunto”, ressalta.

Freitas conta que existem dois novos trabalhos em andamento para estudar a evolução das borboletas da América do Sul com base em suas características morfológicas. “Esse tipo de estudo possibilitará entender cada vez melhor o que a América do Sul tem de tão peculiar que a faz o continente com a maior biodiversidade do planeta", acrescenta.

Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line