BOLÍVIA: MORALES FAZ 5 ANOS EM BAIXA
Pesquisas indicam que presidente tem apenas 36% de aprovação, o índice mais baixo dos cinco anos de governo. Segundo especulações, o líder indígena perdeu prestígio entre sindicatos e movimentos sociais, sua tradicional base de apoio
Amaro Grassi
Folha de S. Paulo 22/01/2001
O presidente da Bolívia, Evo Morales, completa hoje cinco anos de governo com a popularidade em um dos níveis mais baixos desde que assumiu, devido à crise causada por tentativa de cortar subsídio aos combustíveis.
Pesquisas divulgadas nesta sexta-feira por veículos locais indicam 36% de aprovação ao presidente, recuperação de seis pontos percentuais em relação aos 30% apurados no final de dezembro passado.
O índice registrado há um mês pelo instituto Captura Consulting foi o mais baixo dos cinco anos de governo Morales e gerou especulações sobre perda de prestígio do presidente mesmo entre sindicatos e movimentos sociais, sua tradicional base.
A onda de manifestações foi motivada pela decisão do governo de cortar subsídios aos combustíveis, causando aumento de até 82% nos preços e afetando setores de alimentos e serviços públicos.
Durante os intensos protestos em cidades como El Alto, um bastião governista vizinho a La Paz, prédios públicos foram atacados, manifestantes entraram em confronto com a polícia e até a renúncia de Morales foi pedida.
Acuado, o governo recuou da medida, mas não aplacou a insatisfação popular ante a tentativa de adoção de medida associada a impopulares antecessores do presidente.
La Paz alega não ter condições de manter o subsídio ante o aumento dos preços internacionais. Situações similares motivaram protesto que bloqueou cem brasileiros no sul do Chile há uma semana.
"Obrigaram Morales a retroceder como nunca haviam feito desde que ele chegou ao governo", afirmou à agência Efe o analista Jorge Lazarte. "[O presidente] já não pode governar como até agora, fazendo o que quer", disse.
PERSPECTIVAS
O descontentamento na base governista, que há pouco mais de um ano reelegia Morales com 64% dos votos --após um primeiro mandato marcado por conflitos com a oposição--, coloca ainda dúvidas sobre a agenda de La Paz para os próximos anos.
"[O episódio] marca uma "camisa de força" para o governo, porque os movimentos sociais tomaram consciência de sua força", afirma Javier Aliaga, da Universidade Católica Boliviana.
"Este sexto ano [de governo] se apresenta como importante divisor de águas, no sentido de que vem aí uma agenda mais econômica do que política", disse à Folha.
No primeiro mandato, Morales promoveu a nacionalização do setor de hidrocarbonetos --abrindo crise com o Brasil em 2006-- e uma nova Constituição, promulgada há dois anos, além de lidar com os sucessivos conflitos com opositores da região leste do país, a chamada "meia-lua".
Há um ano, assumia seu segundo mandato --agora de cinco anos-- prometendo focar na industrialização. "No primeiro governo, ele privilegiou as reformas políticas, o foco agora será geração de empregos e redução de pobreza", completa Aliaga.
Amaro Grassi
Folha de S. Paulo 22/01/2001
O presidente da Bolívia, Evo Morales, completa hoje cinco anos de governo com a popularidade em um dos níveis mais baixos desde que assumiu, devido à crise causada por tentativa de cortar subsídio aos combustíveis.
Pesquisas divulgadas nesta sexta-feira por veículos locais indicam 36% de aprovação ao presidente, recuperação de seis pontos percentuais em relação aos 30% apurados no final de dezembro passado.
O índice registrado há um mês pelo instituto Captura Consulting foi o mais baixo dos cinco anos de governo Morales e gerou especulações sobre perda de prestígio do presidente mesmo entre sindicatos e movimentos sociais, sua tradicional base.
A onda de manifestações foi motivada pela decisão do governo de cortar subsídios aos combustíveis, causando aumento de até 82% nos preços e afetando setores de alimentos e serviços públicos.
Durante os intensos protestos em cidades como El Alto, um bastião governista vizinho a La Paz, prédios públicos foram atacados, manifestantes entraram em confronto com a polícia e até a renúncia de Morales foi pedida.
Acuado, o governo recuou da medida, mas não aplacou a insatisfação popular ante a tentativa de adoção de medida associada a impopulares antecessores do presidente.
La Paz alega não ter condições de manter o subsídio ante o aumento dos preços internacionais. Situações similares motivaram protesto que bloqueou cem brasileiros no sul do Chile há uma semana.
"Obrigaram Morales a retroceder como nunca haviam feito desde que ele chegou ao governo", afirmou à agência Efe o analista Jorge Lazarte. "[O presidente] já não pode governar como até agora, fazendo o que quer", disse.
PERSPECTIVAS
O descontentamento na base governista, que há pouco mais de um ano reelegia Morales com 64% dos votos --após um primeiro mandato marcado por conflitos com a oposição--, coloca ainda dúvidas sobre a agenda de La Paz para os próximos anos.
"[O episódio] marca uma "camisa de força" para o governo, porque os movimentos sociais tomaram consciência de sua força", afirma Javier Aliaga, da Universidade Católica Boliviana.
"Este sexto ano [de governo] se apresenta como importante divisor de águas, no sentido de que vem aí uma agenda mais econômica do que política", disse à Folha.
No primeiro mandato, Morales promoveu a nacionalização do setor de hidrocarbonetos --abrindo crise com o Brasil em 2006-- e uma nova Constituição, promulgada há dois anos, além de lidar com os sucessivos conflitos com opositores da região leste do país, a chamada "meia-lua".
Há um ano, assumia seu segundo mandato --agora de cinco anos-- prometendo focar na industrialização. "No primeiro governo, ele privilegiou as reformas políticas, o foco agora será geração de empregos e redução de pobreza", completa Aliaga.
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