A IMPORTÂNCIA DO HERBÁRIO DO PARQUE ZOOBOTÂNICO DA UFAC PARA CONHECER A DIVERSIDADE E O POTENCIAL DE USO DAS PLANTAS ACREANAS
Evandro José Linhares Ferreira* e José Jairo Lino da Silva**
Herbário é uma coleção de amostras de plantas prensadas e secas, geralmente montadas em cartolinas com uma pequena etiqueta contendo dados sobre a localização e as características das plantas amostradas. As coleções depositadas nos herbários representam uma importante fonte de informações sobre a distribuição, abundância e diversidade vegetal, com aplicações nas áreas de conservação e recuperação da vegetação, ecologia, melhoramento de plantas alimentares, uso farmacêutico das plantas, entre outras.
O maior herbário do mundo é o do Museu Nacional de História Natural, localizado em Paris, que com um acervo de 7,5 milhões de exemplares, contém mais amostras que as estimadas 4,5 milhões de coleções de plantas colhidas até hoje no Brasil. O maior herbário brasileiro está localizado no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e conta com um acervo estimado em 500 mil amostras.
No Acre, estima-se que cerca de 30 mil amostras botânicas já tenham sido coletadas desde a excursão pioneira do botânico alemão Ernst Ule aos rios Juruá e rio Juruá Mirim em 1902. Pouco mais de 18 mil dessas amostras estão incorporadas à coleção do Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC. Outras 7,5 mil estão sendo processadas para futura incorporação e 4,5 mil amostras encontram-se depositadas em herbários fora do Acre, tendo sido coletadas antes da criação do herbário na UFAC por várias instituições brasileiras e estrangeiras, com destaque para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, Museu Goeldi e Instituto Agronômico do Norte (atual Embrapa), em Belém, e o Jardim Botânico de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Dados de 2009 indicam que pouco mais de 4 mil espécies de plantas com flores (angiospermas) já foram identificadas para a flora acreana. No mundo, o Royal Botanic Garden e o Missouri Botanical Garden estimam em 352 mil as espécies de angiospermas.
Apesar do avanço no conhecimento da diversidade de espécies de plantas nativas acreanas, os aspectos relacionados com a etnobotânica da flora acreana, ou seja, os conhecimentos derivados das interações entre o homem e as plantas, ainda são muito limitados e apenas três estudos abrangentes foram realizados no Estado: o da estudante americana Karen Kainer, da Universidade da Flórida (1989-1991), na Reserva Extrativista Cachoeira, da estudante alemã Christiane Ehringhaus, da Florida International University (1996-1997), com os índios Kaxinawá do rio Tarauacá, e de Marina Campos e Christiane Ehringhaus, da Yale University (2002-2003), com seringueiros, ribeirinhos e índios Yawanawá e Kaxinawá, no vale do Juruá.
Tendo como ponto de partida esta situação, e considerando que o Herbário do Parque Zoobotânico é o único do Acre e que abriga uma coleção onde aproximadamente 90% das amostras são oriundas de plantas nativas do Estado, decidiu-se realizar um levantamento para identificar o potencial de uso de espécies nativas depositadas no seu acervo. Como a coleção ainda não está informatizada, foi necessário consultar cada uma das 18.383 amostras registradas para segregar aquelas cujas etiquetas de identificação contivessem informações sobre o uso das plantas.
O resultado do levantamento mostrou que há registro de utilidade de plantas em 808 amostras depositadas no herbário do Parque Zoobotânico, o que corresponde a 4,39% do acervo. Essas amostras representam 95 famílias botânicas e 654 espécies diferentes de plantas, indicando que 16,35% das espécies identificadas como nativas do Acre tem alguma indicação de uso pelos habitantes locais.
Foram catalogadas 54 categorias de uso, sendo que as mais reportadas estão relacionadas ao uso alimentar, medicinal, para construção civil, movelaria e utensílios domésticos. Dentre as categorias de uso pouco comum vale destacar a existência de plantas utilizadas como 'espera' para caça, como a ucuúba (Otoba parvifolia), para fins mitológico-culturais, o corimbó (Tanaecium nocturnum), como perfume, a palmeirinha (Chamaedorea angustisecta), coagulante, a seringuinha (Mabea anadema) e para a higiene bucal, o café-bravo (Casearia sp.). As famílias botânicas com a maior quantidade de citações de usos foram Annonaceae, com 107, Apocynaceae, com 61, e Anacardiaceae com 55. Os municípios com maior número de amostras com indicação de uso foram Xapuri, com 169, Tarauacá, com 151, e Rio Branco, com 89 citações.
É importante ressaltar que a baixa proporção de amostras com indicação de usos no acervo do herbário do Parque Zoobotânico reflete a baixa quantidade de estudos etnobotânicos realizados no Acre. A escassez de nomes populares nas amostras pesquisadas, por sua vez, pode ser conseqüência da falta de interesse dos coletores em incluir essa informação ou da ausência de guias locais por ocasião das coletas no campo.
Apesar dessas deficiências, a elaboração de um banco de dados de plantas úteis do Acre, derivado do estudo realizado, é um resultado extremamente positivo, pois auxiliará o público usuário do herbário a identificar de forma rápida a utilidade e a localização das plantas nativas de interesse. Por outro lado, a necessidade de consultar individualmente cada uma das 18 mil amostras da coleção para investigar o potencial de uso das plantas do acervo indica a urgente necessidade de se investir na informatização da mesma.
*Evandro José Linhares Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico
**José Jairo Lino da Silva é Técnico Agroflorestal, Bacharel em Direito e Assessor da Procuradoria da República no Acre.
Herbário é uma coleção de amostras de plantas prensadas e secas, geralmente montadas em cartolinas com uma pequena etiqueta contendo dados sobre a localização e as características das plantas amostradas. As coleções depositadas nos herbários representam uma importante fonte de informações sobre a distribuição, abundância e diversidade vegetal, com aplicações nas áreas de conservação e recuperação da vegetação, ecologia, melhoramento de plantas alimentares, uso farmacêutico das plantas, entre outras.
O maior herbário do mundo é o do Museu Nacional de História Natural, localizado em Paris, que com um acervo de 7,5 milhões de exemplares, contém mais amostras que as estimadas 4,5 milhões de coleções de plantas colhidas até hoje no Brasil. O maior herbário brasileiro está localizado no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e conta com um acervo estimado em 500 mil amostras.
No Acre, estima-se que cerca de 30 mil amostras botânicas já tenham sido coletadas desde a excursão pioneira do botânico alemão Ernst Ule aos rios Juruá e rio Juruá Mirim em 1902. Pouco mais de 18 mil dessas amostras estão incorporadas à coleção do Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC. Outras 7,5 mil estão sendo processadas para futura incorporação e 4,5 mil amostras encontram-se depositadas em herbários fora do Acre, tendo sido coletadas antes da criação do herbário na UFAC por várias instituições brasileiras e estrangeiras, com destaque para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, Museu Goeldi e Instituto Agronômico do Norte (atual Embrapa), em Belém, e o Jardim Botânico de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Dados de 2009 indicam que pouco mais de 4 mil espécies de plantas com flores (angiospermas) já foram identificadas para a flora acreana. No mundo, o Royal Botanic Garden e o Missouri Botanical Garden estimam em 352 mil as espécies de angiospermas.
Apesar do avanço no conhecimento da diversidade de espécies de plantas nativas acreanas, os aspectos relacionados com a etnobotânica da flora acreana, ou seja, os conhecimentos derivados das interações entre o homem e as plantas, ainda são muito limitados e apenas três estudos abrangentes foram realizados no Estado: o da estudante americana Karen Kainer, da Universidade da Flórida (1989-1991), na Reserva Extrativista Cachoeira, da estudante alemã Christiane Ehringhaus, da Florida International University (1996-1997), com os índios Kaxinawá do rio Tarauacá, e de Marina Campos e Christiane Ehringhaus, da Yale University (2002-2003), com seringueiros, ribeirinhos e índios Yawanawá e Kaxinawá, no vale do Juruá.
Tendo como ponto de partida esta situação, e considerando que o Herbário do Parque Zoobotânico é o único do Acre e que abriga uma coleção onde aproximadamente 90% das amostras são oriundas de plantas nativas do Estado, decidiu-se realizar um levantamento para identificar o potencial de uso de espécies nativas depositadas no seu acervo. Como a coleção ainda não está informatizada, foi necessário consultar cada uma das 18.383 amostras registradas para segregar aquelas cujas etiquetas de identificação contivessem informações sobre o uso das plantas.
O resultado do levantamento mostrou que há registro de utilidade de plantas em 808 amostras depositadas no herbário do Parque Zoobotânico, o que corresponde a 4,39% do acervo. Essas amostras representam 95 famílias botânicas e 654 espécies diferentes de plantas, indicando que 16,35% das espécies identificadas como nativas do Acre tem alguma indicação de uso pelos habitantes locais.
Foram catalogadas 54 categorias de uso, sendo que as mais reportadas estão relacionadas ao uso alimentar, medicinal, para construção civil, movelaria e utensílios domésticos. Dentre as categorias de uso pouco comum vale destacar a existência de plantas utilizadas como 'espera' para caça, como a ucuúba (Otoba parvifolia), para fins mitológico-culturais, o corimbó (Tanaecium nocturnum), como perfume, a palmeirinha (Chamaedorea angustisecta), coagulante, a seringuinha (Mabea anadema) e para a higiene bucal, o café-bravo (Casearia sp.). As famílias botânicas com a maior quantidade de citações de usos foram Annonaceae, com 107, Apocynaceae, com 61, e Anacardiaceae com 55. Os municípios com maior número de amostras com indicação de uso foram Xapuri, com 169, Tarauacá, com 151, e Rio Branco, com 89 citações.
É importante ressaltar que a baixa proporção de amostras com indicação de usos no acervo do herbário do Parque Zoobotânico reflete a baixa quantidade de estudos etnobotânicos realizados no Acre. A escassez de nomes populares nas amostras pesquisadas, por sua vez, pode ser conseqüência da falta de interesse dos coletores em incluir essa informação ou da ausência de guias locais por ocasião das coletas no campo.
Apesar dessas deficiências, a elaboração de um banco de dados de plantas úteis do Acre, derivado do estudo realizado, é um resultado extremamente positivo, pois auxiliará o público usuário do herbário a identificar de forma rápida a utilidade e a localização das plantas nativas de interesse. Por outro lado, a necessidade de consultar individualmente cada uma das 18 mil amostras da coleção para investigar o potencial de uso das plantas do acervo indica a urgente necessidade de se investir na informatização da mesma.
*Evandro José Linhares Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico
**José Jairo Lino da Silva é Técnico Agroflorestal, Bacharel em Direito e Assessor da Procuradoria da República no Acre.
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