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08 outubro 2015

DESMATE “A PRESTAÇÃO” EXPLODE NA AMAZÔNIA

Degradação de florestas para atividade agropecuária, que engana satélite, cresce 207% em um ano, diz Imazon. Alertas de corte raso sobem 63% e sugerem alta na taxa oficial, que sai no fim do ano.

Claudio Angelo/Observatório do Clima

O  Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) informou que o número de alertas de desmatamento na Amazônia cresceu 63% em 2014 em comparação com o ano anterior. Entre agosto de 2014 e julho de 2015 a Amazônia perdeu 3.322 km², ou pouco mais de duas vezes a área da cidade de São Paulo. Entre agosto de 2013 e julho de 2014, a perda tinha sido de 2.044 km². O que mais chama atenção nos dados, porém, é a chamada degradação florestal – ou seja, as florestas que foram muito alteradas mas que não sofreram corte raso naquele ano. Esse desmatamento “a prestação”, que se converterá em corte raso no futuro, aumentou 207% em 2014.

Alguns especialistas atribuem este aumento a uma mudança no padrão da devastação: os desmatadores deixam algumas árvores em pé para manter parte do dossel e plantam capim sob a copa das árvores. Na prática, essas florestas estão tão empobrecidas que não preservam mais a biodiversidade, nem retêm carbono. “É o chamado engana-satélite”, afirma Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Imazon. Como os pontos (pixels) de florestas degradadas não aparecem nas imagens de satélite como corte raso, os desmatadores usam esse recurso para driblar a vigilância do Ibama.

“A velha e conhecida grilagem de terras e a expansão das atividades produtivas, em especial a pecuária, estão se adaptando a essa nova situação de monitoramento contínuo”, diz Valmir Ortega, ex-secretário do Meio Ambiente do Pará. “A melhor forma de reduzir o risco de fiscalização e punição é mascarar esses processos, mantendo uma cobertura florestal empobrecida que não se caracteriza como desmatamento. A análise de dados de sensoriamento remoto deveria ter um olhar mais acurado sobre isso”, prossegue.

Segundo Adalberto Veríssimo, a taxa de degradação já viu melhores momentos na Amazônia, mas também já viu piores. Em 2014, porém, a sinalização é preocupante, porque o número de alertas de desmatamento também indica forte alta.

Lentes diferentes

O desmatamento na Amazônia é medido por diversos satélites que olham a floresta de um jeito e conta a mesma história de uma forma diferente. A taxa oficial anual, aferida de agosto de um ano a julho do ano seguinte, é dada pelo sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O Prodes usa imagens de satélites como o sino-brasileiro CBERS e o americano Landsat, de alta resolução, mas observam a floresta com menor frequência.

O desmatamento em tempo (quase) real é medido pelos sensores Modis dos satélites americanos Terra e Aqua, que em compensação são “míopes”: não enxergam desmatamentos pequenos. Suas imagens são usadas no sistemas Deter, do Inpe, que alimenta a fiscalização do Ibama, e no SAD, do Imazon. Nenhum deles é usado para cálcular a área desmatada, mas dão boas pistas se a taxa oficial daquele ano será maior ou menor.

Até recentemente, os pesquisadores do Imazon conseguiam produzir estimativas razoáveis da taxa oficial usando o SAD. Isso mudou no ano passado, quando o sistema de alerta da ONG apontou uma ligeira alta na taxa e o Prodes mostrou uma queda de 15%. Segundo Veríssimo, a discrepância provavelmente se explica pela mudança no padrão de desmate: “O SAD era mais preciso no passado porque havia grandes polígonos de desmatamento”, afirma. Agora, as derrubadas estão mais pulverizadas pela região, em maior número, mas em menor área – mais perto do limite de detecção do Modis.

“Desta vez acho muito pouco provável que o Prodes dê um número que não vá para cima”, diz Veríssimo. O El Niño de 2015, se vier com a força prometida, pode também elevar a taxa de 2015, ao secar a floresta e aumentar o número de incêndios em matas já impactadas pela degradação.


Em 2014, Mato Grosso foi o Estado campeão em alertas de desmatamento, com 152% de aumento em relação ao ano anterior. O Pará ficou em segundo lugar, apesar de uma queda de 14% na velocidade da devastação. O maior aumento proporcional, de 165%, ocorreu em Rondônia, terceiro Estado que mais desmatou. Na contramão de quase todos os outros, Tocantins teve uma queda de 86% na taxa de desmatamento.

Foto: Márcio Silva/A Crítica