PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E SEDENTARISMO NAS CAPITAIS DA REGIÃO NORTE DO BRASIL
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
Além
de proporcionar benefícios para a saúde fisiológica, funcional e mental, e
garantir um envelhecimento saudável, a prática regular de atividades físicas
contribui para reduzir o risco do aparecimento de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), enfermidades de origem multifatorial que se desenvolvem
ao longo do tempo e incluem, entre outras, a diabetes, obesidade, cirrose
hepática, câncer, doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares.
Atualmente
as DCNT são consideradas um sério problema de saúde pública e segundo
estimativas da Organização Mundial de Saúde são responsáveis por 63% das mortes
no mundo. Em 2012 elas causaram cerca de 74% das mortes registradas no Brasil. O
surgimento das DCNT está relacionado a fatores de caráter hereditário,
ambientais e socioeconômicos, e comportamentais. Destes, os fatores
comportamentais – sedentarismo, dieta inadequada, fumo e álcool – tem recebido
atenção especial porque podem ser prevenidos.
Diante
dessa situação, em 2006 o Ministério da Saúde implantou o Sistema de Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (VIGITEL) para monitorar
os principais fatores de risco para o desenvolvimento das DCNT. Anualmente são
colhidas, por amostragem via entrevistas telefônicas em todo o país,
informações para subsidiar ações e programas para reduzir a ocorrência e
gravidade das DCNT.
Utilizando
dados do VIGITEL, um grupo de pesquisadores liderados por Grégore Mielke, do
Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas,
publicou o artigo “Tendência temporal de indicadores da prática de atividade
física e comportamento sedentário nas capitais da Região Norte do Brasil:
2006-2013”. Os dados abrangeram período entre 2006 e 2013 e incluíram
entrevistas com 2 mil adultos/ano residentes nas capitais dos estados da região
Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins).
As
informações utilizadas incluíram indicadores sobre a prática de atividade física,
tempo assistindo televisão e deslocamentos ativos para o trabalho (caminhadas
de 30 minutos diários no percurso ida e volta). Foram considerados fisicamente
inativos quem não realizava esforço físico intenso no trabalho ou em casa, não
se deslocava para o trabalho/escola caminhando ou em bicicleta (10
minutos/trajeto/dia) e não praticou atividade física no tempo livre nos últimos
três meses.
Embora
o artigo seja voltado para a situação na região Norte, ele também oferece um
breve panorama da situação nacional, com destaque para a informação do aumento,
entre 2006 e 2012, de 12,8% para 14,9% na proporção de adultos que relataram
praticar atividade física por pelo menos 30 minutos/dia em cinco ou mais dias
na semana. Também em nível nacional foi evidenciada uma redução na proporção de
adultos que assistiam televisão por mais de três horas por dia.
Na
região Norte a proporção dos que praticavam atividades físicas no tempo livre
permaneceu estável no período analisado, sendo mais frequente em homens mais
jovens de maior escolaridade. Considerando apenas o ano de 2013, a prevalência
de ativos no tempo livre variou de 40,2% em Boa Vista e Palmas a 31,6% em Porto
Velho. Em Rio Branco esse índice foi de 36,2%, um empate na terceira posição
juntamente com Belém e Macapá. Entretanto, a evolução em nossa capital foi
significativa considerando que em 2009 o índice era de apenas 27,6%.
Entre
2009 e 2013 foi observada na região uma redução de 19,1% para 11,8% na
proporção de adultos que relataram se deslocar a pé ou em bicicleta para o
trabalho/escola. O declínio foi mais acentuado (-2,7%) entre os entrevistados
com até 8 anos de escolaridade e de apenas 0,8% entre os que declararam ter
estudado 12 ou mais anos. Rio Branco se destacou com o maior percentual de pessoas
que abandou o hábito de caminhar ou pedalar para a escola/trabalho: -2,5%.
Apesar dessa queda, considerando apenas os dados de 2013, Rio Branco está em
terceiro lugar entre as capitais do Norte em número de pessoas que caminham ou
utilizam bicicletas para ir à escola ou trabalho. A campeã nesse quesito é
Belém, com 13,7%.
A
redução no deslocamento ativo dos moradores das capitais da região Norte pode
ser creditada ao aumento no poder aquisitivo, facilidade no acesso a veículos
automotores – especialmente entre aqueles de menor poder aquisitivo –, aliado
ao pouco investimento no planejamento urbano (falta de ciclovias) e às
precárias condições das vias (falta de calçadas e pavimento irregular), que
desestimulam caminhadas e o uso de bicicletas.
A
proporção dos que assistiam televisão por três horas ou mais por dia permaneceu
estável no período analisado, reduzindo-se apenas entre os entrevistados com
18-24 anos (-1,5%). Palmas foi a única cidade com tendência de diminuição
(-0,7%). Embora estatisticamente insignificante, os dados relativos a Rio
Branco mostraram que nossa cidade foi a única a registrar aumento (+0,2%) no
número de pessoas assistindo televisão, passando de 27,2% em 2009 para 27,9% em
2013. Entretanto, a cidade recordista neste aspecto foi Macapá, com 34,1%.
Os
autores do estudo concluíram que nas capitais da região Norte foi observada uma
estabilidade na prática de atividades físicas, na inatividade física e na
proporção daqueles que assistiam televisão por mais de três horas diárias.
Neste último quesito, em nível nacional foi verificada uma queda de 5% entre os
anos de 2006 e 2009, e estabilidade a partir de 2010. Houve uma tendência de
diminuição apenas da proporção de adultos se deslocando para o trabalho/escola
de forma ativa, mas essa é uma tendência observada em todo o país visto que
este indicador é um dos mais influenciados pelas mudanças socioeconômicas
ocorridas nos últimos anos.
Para
modificar a situação na região, os autores recomendam uma revisão do Plano de
Ações Estratégicas para o Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis
e da Política Nacional de Promoção da Saúde considerando as especificidades da
região e a estruturação de sistemas de transporte que favoreçam o deslocamento
ativo da população pelas cidades.
Para
saber mais: Mielke, G.I.; Costa, D.J.S.; Stopa, S.R.; Campos, M.O.; Pureza,
D.Y.; Silva, M.M.A. 2015. Tendência
temporal de indicadores da prática de atividade física e comportamento
sedentário nas capitais da Região Norte do Brasil: 2006-2013. Revista Brasileira
de Atividade Física e Saúde, 20(2): 130-140.
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