DIVERSIDADE E POTENCIAL ECONÔMICO DE PALMEIRAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
As palmeiras ainda são uma das
famílias botânicas mais importantes da Amazônia em razão de sua ampla
distribuição, abundância nos mais diversos ecossistemas existentes na região e,
principalmente, da diversidade de usos e importância sociocultural e econômica
que um grande número de espécies nativas.
Esta condição, entretanto, deverá
se modificar na medida em que a as transformações sociais, econômicas e
ambientais em curso na Amazônia se consolidem. Entre estas transformações,
destacam-se a destruição da floresta para a implantação de cultivos agrícolas e
criações de animais, a intensificação da exploração seletiva de espécies
madeireiras, as migrações das populações rurais para as áreas urbanas e a perda
de identidade cultural das populações tradicionais remanescentes nas áreas
florestais são os principais fatores que contribuirão para a perda gradual da
diversidade natural das palmeiras e a diminuição de sua importância como fonte
de alimentos, materiais de construção e outras utilidades para a população da
região.
A Amazônia abriga a maior
diversidade de palmeiras do território brasileiro. Nela são encontrados 35 dos
42 gêneros e cerca de 150 das 193-208 espécies reconhecidas para o Brasil. O
Acre abriga 24 gêneros e 75 espécies de palmeiras nativas. Dos 35 gêneros encontrados
na Amazônia, 22 tem sua distribuição restrita à região. Proporcionalmente à sua
área, que corresponde à cerca de 60 % do território nacional, a diversidade de
palmeiras na região amazônica é relativamente baixa: na América Central podem
ser encontrados 25 gêneros e cerca de 150 espécies.
Os gêneros mais diversificados na
Amazônia brasileira são Bactris e Geonoma, respectivamente, que juntos incluem
cerca de 43% das espécies amazônicas. Os gêneros Astrocaryum, Attalea, Oenocarpus, Syagrus, Desmoncus, Euterpe e Leopoldinia são outros gêneros importantes que representam cerca de
30% da diversidade de palmeiras da região. Os nove gêneros citados acima (cerca
de 1/4 do total) representam mais de 70% da diversidade de palmeiras
encontradas na região.
A maior riqueza de palmeiras está
localizada na Amazônia ocidental e uma possível explicação para essa condição
talvez seja a proximidade com os Andes: algumas espécies dessa região
montanhosa eventualmente se distribuem nas florestas de terras baixas adjacentes.
Dos gêneros de palmeiras amazônicas, Aiphanes,
Aphandra, Chamaedorea, Chelyocarpus,
Dictyocaryum, Iriartea, Itaya, Pholidostachys, Phytelephas, Wendlandiella
e Wettinia estão restritos à Amazônia
ocidental. Os gêneros Barcella, Elaeis e Leopoldinia se restringem à Amazônia central, Raphia só é encontrado na Amazônia oriental, e os gêneros Attalea, Bactris, Geonoma, Hyospathe, Lepidocaryum, Oenocarpus
e Socratea estão amplamente
distribuídos por toda a região.
Muitas palmeiras Amazônicas
possuem algum tipo de utilidade para os habitantes locais, pois apresentam
frutos comestíveis, estipes, raízes, folhas e outras partes passíveis de algum
tipo de aproveitamento. Além disso, elas estão amplamente distribuídas e
geralmente são muito abundantes, chegando a formar extensas florestas
oligárquicas, como no caso dos buritizais. Elas também são muito eficientes na
colonização e sobrevivência em ambientes alterados pelo homem, como as
pastagens para a criação de gado, onde é comum observar espécies como o babaçu (Attalea speciosa), jaci (Attalea butyracea) e uricuri (Attalea phalerata).
Apesar da grande diversidade de
espécies e diversidade de usos, poucas palmeiras Amazônicas podem ser
consideradas importantes economicamente. Das 550 espécies de palmeiras nativas das
Américas do Norte, Central e do Sul, somente uma foi domesticada e tem sido
cultivada: a pupunha (Bactris gasipaes).
Desta espécie podem ser obtidos frutos comestíveis e o palmito industrial.
Outras palmeiras nativas da Amazônia têm sido exploradas em seu ambiente
natural ou, mesmo não domesticadas, cultivadas:
a) Açaí-de-touceira (Euterpe oleracea), nativa do Pará e da
Amazônia central, tem sido explorada de forma extrativista pelos seus frutos,
usados para a extração da polpa usada na elaboração de “vinho” e sorvetes,
sementes para a confecção de artesanatos e a extração do palmito. Nos últimos
anos, apesar de não domesticada, ela tem sido cultivada para fins comerciais,
inclusive no Acre;
b) Açaí solteiro (Euterpe precatoria), nativo da Amazônia
ocidental e Amazônia central é explorada por seus frutos, sementes e palmito de
forma similar ao açaí-de-touceira;
c) Babaçu (Attalea speciosa): encontrada com mais densidade no Maranhão, suas
sementes são comercializadas para a produção de óleo;
d) Bacaba (Oenocarpus bacaba e O. mapora):
frutos comercializados no Pará e Amazonas para a extração da polpa usada no
preparo do “vinho de bacaba”;
e) Buriti (Mauritia flexuosa): os frutos são comercializados para a extração
da polpa usada na elaboração de “vinho”, doce e sorvetes; o pecíolo das folhas
é usado na confecção de móveis e as fibras foliares na confecção de
artesanatos;
f) Jarina (Phytelephas macrocarpa): nativa do oeste da Amazônia, no Acre as
sementes são comercializadas para a confecção de biojoias.
g) Murmuru (Astrocaryum murumuru e A.
ulei): a primeira espécie é nativa da Amazônia oriental e a segunda da
Amazônia ocidental. Em ambas as regiões suas sementes são comercializadas para
a extração de gordura vegetal visando a produção de cosméticos;
h) Piassava do Amazonas (Leopoldinia piassaba): ocorre nas cercanias
da cidade de Barcelos-AM e tem sido intensivamente explorada para a produção de
fibras usadas na confecção de vassouras;
i) Tucumã (Astrocaryum aculeatum) e o tucumã-do-Pará (Astrocaryum vulgare), tem os frutos comercializados para consumo in
natura e elaboração de sorvetes no Amazonas e Pará;
Pela oportunidade econômica que
as palmeiras representam é importante investir no desenvolvimento de técnicas
de exploração sustentável de seus recursos, no desenvolvimento de sistemas de
cultivos de algumas delas e, principalmente, na criação de mercado para os
produtos que elas geram. Afinal, não podemos duvidar que o desenvolvimento
social e econômico da Amazônia seja incompatível com a preservação de suas
extensas florestas, que, por um capricho da natureza, são riquíssimas em
palmeiras.
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