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05 novembro 2016

DIVERSIDADE E POTENCIAL ECONÔMICO DE PALMEIRAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

As palmeiras ainda são uma das famílias botânicas mais importantes da Amazônia em razão de sua ampla distribuição, abundância nos mais diversos ecossistemas existentes na região e, principalmente, da diversidade de usos e importância sociocultural e econômica que um grande número de espécies nativas.

Esta condição, entretanto, deverá se modificar na medida em que a as transformações sociais, econômicas e ambientais em curso na Amazônia se consolidem. Entre estas transformações, destacam-se a destruição da floresta para a implantação de cultivos agrícolas e criações de animais, a intensificação da exploração seletiva de espécies madeireiras, as migrações das populações rurais para as áreas urbanas e a perda de identidade cultural das populações tradicionais remanescentes nas áreas florestais são os principais fatores que contribuirão para a perda gradual da diversidade natural das palmeiras e a diminuição de sua importância como fonte de alimentos, materiais de construção e outras utilidades para a população da região.

A Amazônia abriga a maior diversidade de palmeiras do território brasileiro. Nela são encontrados 35 dos 42 gêneros e cerca de 150 das 193-208 espécies reconhecidas para o Brasil. O Acre abriga 24 gêneros e 75 espécies de palmeiras nativas. Dos 35 gêneros encontrados na Amazônia, 22 tem sua distribuição restrita à região. Proporcionalmente à sua área, que corresponde à cerca de 60 % do território nacional, a diversidade de palmeiras na região amazônica é relativamente baixa: na América Central podem ser encontrados 25 gêneros e cerca de 150 espécies.

Os gêneros mais diversificados na Amazônia brasileira são Bactris e Geonoma, respectivamente, que juntos incluem cerca de 43% das espécies amazônicas. Os gêneros Astrocaryum, Attalea, Oenocarpus, Syagrus, Desmoncus, Euterpe e Leopoldinia são outros gêneros importantes que representam cerca de 30% da diversidade de palmeiras da região. Os nove gêneros citados acima (cerca de 1/4 do total) representam mais de 70% da diversidade de palmeiras encontradas na região.

A maior riqueza de palmeiras está localizada na Amazônia ocidental e uma possível explicação para essa condição talvez seja a proximidade com os Andes: algumas espécies dessa região montanhosa eventualmente se distribuem nas florestas de terras baixas adjacentes. Dos gêneros de palmeiras amazônicas, Aiphanes, Aphandra, Chamaedorea, Chelyocarpus, Dictyocaryum, Iriartea, Itaya, Pholidostachys, Phytelephas, Wendlandiella e Wettinia estão restritos à Amazônia ocidental. Os gêneros Barcella, Elaeis e Leopoldinia se restringem à Amazônia central, Raphia só é encontrado na Amazônia oriental, e os gêneros Attalea, Bactris, Geonoma, Hyospathe, Lepidocaryum, Oenocarpus e Socratea estão amplamente distribuídos por toda a região.

Muitas palmeiras Amazônicas possuem algum tipo de utilidade para os habitantes locais, pois apresentam frutos comestíveis, estipes, raízes, folhas e outras partes passíveis de algum tipo de aproveitamento. Além disso, elas estão amplamente distribuídas e geralmente são muito abundantes, chegando a formar extensas florestas oligárquicas, como no caso dos buritizais. Elas também são muito eficientes na colonização e sobrevivência em ambientes alterados pelo homem, como as pastagens para a criação de gado, onde é comum observar espécies como o babaçu (Attalea speciosa), jaci (Attalea butyracea) e uricuri (Attalea phalerata).

Apesar da grande diversidade de espécies e diversidade de usos, poucas palmeiras Amazônicas podem ser consideradas importantes economicamente. Das 550 espécies de palmeiras nativas das Américas do Norte, Central e do Sul, somente uma foi domesticada e tem sido cultivada: a pupunha (Bactris gasipaes). Desta espécie podem ser obtidos frutos comestíveis e o palmito industrial. Outras palmeiras nativas da Amazônia têm sido exploradas em seu ambiente natural ou, mesmo não domesticadas, cultivadas:

a) Açaí-de-touceira (Euterpe oleracea), nativa do Pará e da Amazônia central, tem sido explorada de forma extrativista pelos seus frutos, usados para a extração da polpa usada na elaboração de “vinho” e sorvetes, sementes para a confecção de artesanatos e a extração do palmito. Nos últimos anos, apesar de não domesticada, ela tem sido cultivada para fins comerciais, inclusive no Acre;

b) Açaí solteiro (Euterpe precatoria), nativo da Amazônia ocidental e Amazônia central é explorada por seus frutos, sementes e palmito de forma similar ao açaí-de-touceira;

c) Babaçu (Attalea speciosa): encontrada com mais densidade no Maranhão, suas sementes são comercializadas para a produção de óleo;

d) Bacaba (Oenocarpus bacaba e O. mapora): frutos comercializados no Pará e Amazonas para a extração da polpa usada no preparo do “vinho de bacaba”;

e) Buriti (Mauritia flexuosa): os frutos são comercializados para a extração da polpa usada na elaboração de “vinho”, doce e sorvetes; o pecíolo das folhas é usado na confecção de móveis e as fibras foliares na confecção de artesanatos;

f) Jarina (Phytelephas macrocarpa): nativa do oeste da Amazônia, no Acre as sementes são comercializadas para a confecção de biojoias.

g) Murmuru (Astrocaryum murumuru e A. ulei): a primeira espécie é nativa da Amazônia oriental e a segunda da Amazônia ocidental. Em ambas as regiões suas sementes são comercializadas para a extração de gordura vegetal visando a produção de cosméticos;

h) Piassava do Amazonas (Leopoldinia piassaba): ocorre nas cercanias da cidade de Barcelos-AM e tem sido intensivamente explorada para a produção de fibras usadas na confecção de vassouras;

i) Tucumã (Astrocaryum aculeatum) e o tucumã-do-Pará (Astrocaryum vulgare), tem os frutos comercializados para consumo in natura e elaboração de sorvetes no Amazonas e Pará;


Pela oportunidade econômica que as palmeiras representam é importante investir no desenvolvimento de técnicas de exploração sustentável de seus recursos, no desenvolvimento de sistemas de cultivos de algumas delas e, principalmente, na criação de mercado para os produtos que elas geram. Afinal, não podemos duvidar que o desenvolvimento social e econômico da Amazônia seja incompatível com a preservação de suas extensas florestas, que, por um capricho da natureza, são riquíssimas em palmeiras.