O CURSO DE MEDICINA NA UFAC AJUDA A FIXAR MÉDICOS NO ACRE?
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Segundo Scheffer et al. (2013), entre 1970 e 2012 a
quantidade de médicos atuando no Brasil cresceu mais de 500%, ao passo que o
crescimento da população em geral foi de pouco mais de 100%. Apesar disso,
ainda são muito grandes as desigualdades na distribuição destes profissionais
entre as diferentes regiões do país, sendo a carência mais evidente nas cidades
do interior. Alguns estudos apontam que duas causas principais contribuem para
essa situação: a falta de condições de trabalho e os baixos salários.
Para tentar diminuir esta distorção, a partir do
início dos anos 2000 o Governo Federal priorizou a abertura de mais escolas
médicas – preferencialmente em cidades do interior ou em capitais onde elas
inexistiam – e a ampliou o número das vagas em cursos de medicina existentes.
Mais recentemente, apelou-se para a importação de médicos estrangeiros e a
facilitação da revalidação de diplomas médicos de profissionais formados em outros
países.
Foi nesse contexto que em 2002 foi autorizado o
funcionamento do curso de medicina no Campus de Rio Branco da Universidade
Federal do Acre (UFAC). A esperança era que com a criação da escola em nossa
cidade fosse possível aumentar a oferta de médicos no Acre e diminuir a
quantidade de acreanos que, sem opção, deslocavam-se para outras regiões do
Brasil, e mesmo o exterior, para buscar formação médica.
Para comprovar se a existência de um curso de medicina no
Acre poderia alterar esse panorama, um estudo liderado pela docente de
Medicina da UFAC, Jene Greyce Souza de Oliveira, investigou o destino
pós-escola de 156 de 165 médicos formados na UFAC até o final de 2011. A pesquisa consistiu na aplicação de um questionário com 48 perguntas que abrangiam variáveis
sociodemográficas, de formação, do trabalho médico e da qualificação profissional.
O estudo apresenta dados interessantes sobre a demografia
dos médicos que atuavam no Acre até 2013, extraído da publicação “Demografia
Médica no Brasil: Cenários e Distribuição” (Scheffer et al. 2013): a população
de médicos ativos no Acre era 819 indivíduos (1,08 médicos/1.000 habitantes),
dos quais 655 (79,9%) atuavam na capital, Rio Branco, e apenas 164 nos
municípios do interior. Em relação ao perfil dos médicos atuantes no Acre,
Andrade et al. (2005) haviam observado a predominância de profissionais do sexo
masculino (72,1%), com menos de 45 anos de idade (68,5%), em sua maioria de
brasileiros (90,6%) oriundos de outros estados (74,3%). Os autores impressionaram-se
com os dados de Scheffer et al. (2013) que mostraram que o Acre concentrava uma grande
população de médicos formados no exterior (12%), equivalente a 10 vezes o
quantitativo para o Brasil e o dobro do verificado na região Norte.
Em relação à naturalidade dos médicos formados pela UFAC, a
maioria (29,2%) era do Acre, seguidos por nativos do Estado de Goiás (12,2%) e
Rondônia (9,7%). Embora os autores do estudo reconheçam que a instalação do
curso de medicina na UFAC tenha contribuído para um crescente acesso de
acreanos no curso de medicina, corroborando a assertiva de Santos et al. (2005)
de que a oferta local de medicina pode representar uma fonte de estímulo estudantes que vivem na região de influência direta do curso, eles relatam nos
resultados e discussão de sua publicação que ainda é grande a procura de
universidades estrangeiras, em Cuba, Peru e Bolívia, por parte de uma parcela considerável estudantes acreanos. Essa afirmação, entretanto, não foi objeto do estudo
publicado e no mesmo não são apresentados dados para mostrar a dimensão exata desta 'grande procura'.
No que se refere às características sociodemográficas, 80%
dos ex-alunos da UFAC participantes da pesquisa eram da faixa etária abaixo dos
30 anos, 61,8% eram em do gênero masculino e 100% de nacionalidade brasileira.
Em relação ao trabalho médico desenvolvido, 87,4% afirmaram estar satisfeitos
com a carreira escolhida, 61,4% atuavam no setor público, 36,4% tinham
atividades simultâneas no setor público e privado, a maioria atuava na área
clínica (68,5%) e uma parcela considerável cumpria jornada de trabalho de 60
horas semanais (41,6%). Em relação à renda mensal, aproximadamente 82% declararam
renda superior a 4 mil reais, e 46% afirmaram receber proventos superiores a 8
mil reais.
Em relação ao destino dos profissionais médicos formados na
UFAC, a pesquisa revelou que dos 87 participantes do estudo que informaram o
local de atuação profissional ao final da graduação, 57,3% deles estavam trabalhando
no Acre. Os demais estavam atuando em São Paulo (5,6%), Minas Gerais (5,6%) e
Paraná (4,5%). A grande maioria (79%) atua em cidades capitais em diversos
estado do Brasil.
O principal fator para a fixação no Acre de profissionais formados na UFAC foram os laços familiares enquanto que melhores propostas de trabalho foram o principal motivo alegado para a migração para outros estados. O fato de existir um programa de residência médica em funcionamento no Acre também é importante fator para a fixação de profissionais no Estado. Os autores do estudo citam dados da secretaria de Comissão de Residência Médica do Acre que indicam que dos 149 médicos residentes formados até o ano de 2011, 57,7% permaneceram no Estado após o término da residência médica.
O principal fator para a fixação no Acre de profissionais formados na UFAC foram os laços familiares enquanto que melhores propostas de trabalho foram o principal motivo alegado para a migração para outros estados. O fato de existir um programa de residência médica em funcionamento no Acre também é importante fator para a fixação de profissionais no Estado. Os autores do estudo citam dados da secretaria de Comissão de Residência Médica do Acre que indicam que dos 149 médicos residentes formados até o ano de 2011, 57,7% permaneceram no Estado após o término da residência médica.
Em suas considerações finais os autores do estudo afirmam
não acreditar que a abertura de mais escolas médicas seja um fator contributivo
para diminuir a desigualdade da distribuição de médicos, principalmente nos
municípios do interior. Afirmação que
reputamos não refletir com exatidão os dados apresentados no estudo. Por outro
lado, eles acertadamente sugerem que a fixação de profissionais médicos,
especialmente em áreas remotas como a Amazônia, requer a melhoria das condições
e da remuneração do trabalho.
Para saber mais:
Andrade, E.O. et al. 2005. O médico e seu trabalho: resultados da região norte e seus estados.Brasília-DF: Conselho Federal de Medicina.
Oliveira, J.G.S.; Paula, G.O.; Araujo, T.S. 2015. A formação, o trabalho e a fixação deegressos médicos na Amazônia Ocidental. Revista Internacional de
Humanidades Médicas, 4(2): 101-114.
Santos, M.I.P. et al. 2005. Perfil do Médico em Montes Claros e sua Atuação no Sistema Único deSaúde - SUS Loco - Regional. Unimonte Científica, 7(1), 41-8.
Scheffer, M.; Cassenote, A.; Biancarelli, A. (Orgs.). 2013. Demografia Médica no Brasil: Cenários eDistribuição. Brasília-DF: Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo/Conselho Federal de Medicina.
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