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17 novembro 2016

PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E SEDENTARISMO NAS CAPITAIS DA REGIÃO NORTE DO BRASIL

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Além de proporcionar benefícios para a saúde fisiológica, funcional e mental, além de garantir um envelhecimento saudável, a prática regular de atividades físicas contribui para reduzir o risco do aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Essas doenças tem origem multifatorial, se desenvolvem ao longo do tempo e incluem, entre outras, a diabetes, obesidade, cirrose hepática, câncer, doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares.

Atualmente as DCNT são consideradas um sério problema de saúde pública e segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde são responsáveis por 63% das mortes no mundo. Em 2012 elas causaram cerca de 74% das mortes registradas no Brasil. Em geral, o surgimento das DCNT está relacionado a fatores de caráter hereditário, ambientais e socioeconômicos, e comportamentais. Destes, os fatores comportamentais – sedentarismo, dieta inadequada, fumo e álcool – tem recebido atenção especial porque são preveníveis.

Por esta razão, em 2006 o Ministério da Saúde implantou o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (VIGITEL) para monitorar os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DCNT. Anualmente são colhidas, por amostragem via entrevistas telefônicas em todo o país, informações para subsidiar ações e programas para reduzir a ocorrência e gravidade das DCNT.

Utilizando dados do VIGITEL, um grupo de pesquisadores liderados por Grégore Mielke, do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, publicou o artigo “Tendência temporal de indicadores da prática de atividade física e comportamento sedentário nas capitais da Região Norte do Brasil: 2006-2013”. Os dados utilizados cobriram o período entre 2006 e 2013 e incluíram entrevistas com 2 mil adultos/ano residentes nas capitais dos estados da região Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins).

As informações utilizadas incluíram indicadores sobre a prática de atividade física, tempo assistindo televisão e deslocamentos ativos para o trabalho (caminhadas de 30 minutos diários no percurso ida e volta). Foram considerados fisicamente inativos quem não realizava esforço físico intenso no trabalho ou em casa, não se deslocava para o trabalho/escola caminhando ou em bicicleta (10 minutos/trajeto/dia) e não praticou atividade física no tempo livre nos últimos três meses.

Embora o artigo seja voltado para a situação na região Norte, ele também oferece um breve panorama da situação nacional, com destaque para a informação do aumento, entre 2006 e 2012, de 12,8% para 14,9% na proporção de adultos que relataram praticar atividade física por pelo menos 30 minutos/dia em cinco ou mais dias na semana. Também em nível nacional foi evidenciada uma redução na proporção de adultos que assistiam televisão por mais de três horas por dia.

Na região Norte a proporção dos que praticavam atividades físicas no tempo livre permaneceu estável no período analisado, sendo mais frequente em homens mais jovens de maior escolaridade. Considerando apenas o ano de 2013, a prevalência de ativos no tempo livre variou de 40,2% em Boa Vista e Palmas a 31,6% em Porto Velho. Em Rio Branco esse índice foi de 36,2%, um empate na terceira posição juntamente com Belém e Macapá. Entretanto, a evolução em nossa capital foi significativa considerando que em 2009 o índice era de apenas 27,6%.

Entre 2009 e 2013 foi observada na região uma redução de 19,1% para 11,8% na proporção de adultos que relataram se deslocar a pé ou em bicicleta para o trabalho/escola. O declínio foi mais acentuado (-2,7%) entre os entrevistados com até 8 anos de escolaridade e de apenas 0,8% entre os que declararam ter estudado 12 ou mais anos. Rio Branco se destacou com o maior percentual de pessoas que abandou o hábito de caminhar ou pedalar para a escola/trabalho: -2,5%. Apesar dessa queda, considerando apenas os dados de 2013, Rio Branco está em terceiro lugar entre as capitais do Norte em número de pessoas que caminham ou utilizam bicicletas para ir à escola ou trabalho. A campeã nesse quesito é Belém, com 13,7%.

A redução no deslocamento ativo dos moradores das capitais da região Norte pode ser creditada ao aumento no poder aquisitivo, facilidade no acesso a veículos automotores – especialmente entre aqueles de menor poder aquisitivo –, aliado ao pouco investimento no planejamento urbano (falta de ciclovias) e às precárias condições das vias (falta de calçadas e pavimento irregular), que desestimulam caminhadas e o uso de bicicletas.

A proporção dos que assistiam televisão por três horas ou mais por dia permaneceu estável no período analisado, reduzindo-se apenas entre os entrevistados com 18-24 anos (-1,5%). Palmas foi a única cidade com tendência de diminuição (-0,7%). Embora estatisticamente insignificante, os dados relativos a Rio Branco mostraram que nossa cidade foi a única a registrar aumento (+0,2%) no número de pessoas assistindo televisão, passando de 27,2% em 2009 para 27,9% em 2013. Entretanto, a cidade recordista neste aspecto foi Macapá, com 34,1%.

Os autores do estudo concluíram que nas capitais da região Norte foi observada uma estabilidade na prática de atividades físicas, na inatividade física e na proporção daqueles que assistiam televisão por mais de três horas diárias. Neste último quesito, em nível nacional foi verificada uma queda de 5% entre os anos de 2006 e 2009, e estabilidade a partir de 2010. Houve uma tendência de diminuição apenas da proporção de adultos se deslocando para o trabalho/escola de forma ativa, mas essa é uma tendência observada em todo o país visto que este indicador é um dos mais influenciados pelas mudanças socioeconômicas ocorridas nos últimos anos.

Para modificar a situação na região, os autores recomendam uma revisão do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis e da Política Nacional de Promoção da Saúde considerando as especificidades da região e a estruturação de sistemas de transporte que favoreçam o deslocamento ativo da população pelas cidades.

Para saber mais: Mielke, G.I.; Costa, D.J.S.; Stopa, S.R.; Campos, M.O.; Pureza, D.Y.; Silva, M.M.A. 2015. Tendência temporal de indicadores da práticade atividade física e comportamento sedentário nas capitais da Região Norte doBrasil: 2006-2013. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 20(2): 130-140.