BUSCAR SOLUÇÕES PARA O CLIMA É UMA NECESSIDADE QUE TRAZ BENEFÍCIOS (Primeira parte)*
Foster Brown** e Evandro Ferreira***
Enfrentamos
tantos problemas e de toda ordem que é fácil esquecer um deles quando não
acontecem secas severas, ondas de calor ou inundações: a influência humana no
clima. Cientistas renomados das Academias de Ciências de países como o Brasil,
China, Índia, México, África do Sul e de outros países já se manifestaram sobre
a importância de cuidarmos desse problema. Associações de cientistas
especializados em estudos atmosféricos já detalharam a influencia humana em
mudanças de clima. O problema é tão alarmante que até o Papa Francisco entrou
no debate com a sua encíclica Ladato Si
na qual reconhece que atividades humanas causam mudanças no clima.
Mas
como qualquer assunto, há divergências. Uma das poucas associações de
cientistas que não subscrevem a importância da contribuição humana para as
mudanças no clima é a Associação Americana de Geólogos de Petróleo que demanda
a realização de mais pesquisas para poder concordar com as evidências até aqui
colocadas. Companhias petrolíferas, como Exxon Mobil, estão sendo investigadas
nos EUA por terem ajudado a disseminar dúvidas sobre a influência humana nas
mudanças climáticas ao mesmo tempo em que seus próprios cientistas afirmavam
que as mudanças tinham sim influência humana.
Donald
Trump, o candidato Republicano à presidência dos EUA, acha que os chineses
criaram o conceito de mudanças climáticas derivadas das atividades humanas para
prejudicar a indústria norte-americana. Para ele e vários republicanos, essa
coisa de atribuir ao próprio homem as mudanças que estão acontecendo com o
clima é um complô dos comunistas. Aqui no Brasil, os que afirmam que essa
história de atribuir ao homem as mudanças que estão acontecendo no clima também
‘acham’ que tudo não passa de um complô.
Diferentemente
de Trump, entretanto, os céticos brasileiros acreditam que não são os chineses
que estão por trás de toda a história. Para eles, os responsáveis são os
americanos e europeus que querem continuar a desfrutar de seu estilo de vida e
manter em atividade suas indústrias altamente poluidoras.
Seria
até bom que tudo não passasse de um complô comunista ou capitalista, não
importa. Mas a verdade é que as evidências indicam o contrário e que estamos
trilhando num caminho onde a perturbação do clima vai aumentar drasticamente
nas próximas décadas. Atualmente, os sinais dessas perturbações se encontram na
frequência crescente de ondas de calor, a intensidade crescente das chuvas e a
redução do gelo marítimo no oceano Ártico e das calotas polares na Groenlândia
e Antártida.
E uma
das principais causas destas perturbações é o aumento da concentração de gás
carbônico (CO2) na atmosfera. Em 1986, quando o primeiro autor deste artigo
visitou Rio Branco pela primeira vez, a concentração média global do CO2
atmosférico era de cerca de 350 partes por milhão (ppm). Atualmente ela subiu e
alcança 400 ppm, indicando um acúmulo de cerca de 100 bilhões de toneladas de
CO2 na atmosfera nesse intervalo de 30 anos.
O CO2
provoca a retenção de calor no planeta, principalmente nos oceanos. Apesar de
grandes e profundos, os oceanos não são infinitos e é esse calor que eles
absorvem que tem influenciado a circulação de ar no planeta. Os sinais de
perturbações, especialmente nas regiões polares do hemisfério norte, já estão
causando impactos econômicos crescentes.
Atividades
humanas estão liberando via a queima de petróleo e das florestas cerca de 10
bilhões de toneladas de carbono por ano para a atmosfera. Uma parte se dissolve
nos oceanos, acidificando-os, outra parte é absorvida pela vegetação e o solo e
uma parte – equivalente a menos da metade – se acumula na atmosfera, elevando a
concentração de CO2 em uma taxa aproximada de 2 ppm por ano.
Mesmo
que parássemos as emissões agora, o clima continuaria a mudar em razão da
quantidade de CO2 já acumulada na atmosfera. Por isso, nas condições atuais, a
continuação da queima de combustíveis fósseis e de florestas equivale a jogar
gasolina no fogo. A escolha é nossa. Ou buscamos com urgência mudar para um
estilo de vida e economia que cause pouco impacto no clima ou teremos que
aprender a viver em um planeta com um clima cada vez mais alterado e ameaçador
para nós.
Neste
ponto da discussão ficamos um pouco depressivos por que as soluções para o
problema parecem distantes. Precisamos de energia e a população mundial
continua a crescer. Os grandes vilões das emissões de carbono no mundo são os
Estados Unidos e a China, responsáveis por cerca de 30% das emissões globais de
CO2 – via queima de combustíveis fosseis – em 2013. Como eles concorrem pela
hegemonia econômica mundial é de se supor que a China não vai fazer mais do que
os EUA, deixando este último país como modelo mundial de controle de emissões e
que poderá ter, como possível presidente, Donald Trump.
Mais
recentemente, porém, encontramos informações que nos deram mais ânimo.
Pesquisadores das Universidades Americanas de Stanford e Berkeley publicaram um
artigo em 2015 que indica que os EUA poderiam deixar de ser 100% livres de
combustíveis fósseis até 2050. Antes disso, em 2030 eles estimam que seria 80%
livres se houver uma vontade social efetiva. As fontes energéticas substitutas
seriam a eólica (cerca de 50%) e a solar (45%). Segundo o estudo, a economia
que isso representaria para o americano médio em 2050 seria de cerca de 830
reais/ano em custos de energia. As despesas com os impactos na saúde e de clima
seriam reduzidas em 4.800 e 26.600 reais/ano – per capita, respectivamente.
Em
outras palavras, existe pelo menos uma proposta de como sair desta armadilha
que o uso de combustíveis fósseis representa e garantir alguma possibilidade de
estancar a mudança do clima. Entretanto, tudo tem que ser analisado
criticamente e devemos admitir que atrasos possam complicar a execução das
ações. Então por que não construir uma proposta para esta parte da Amazônia e
implementá-la logo? Nossos filhos e netos
agradecerão.
Artigo
citado: Jacobson, M. Z. et al. 2015. 100%clean and renewable wind, water, and sunlight (WWS) all-sector energy roadmapsfor the 50 United States. Energy Environ.
Sci. 8: 2093–2117.
*Artigo originalmente publicado no jornal A Gazeta, Rio Branco, Acre, em 01/11/2016;
**Foster Brown, pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente dos Cursos de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais e em Ciências Florestais da Universidade Federal do Acre (UFAC); cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia, do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico da UFAC; Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre.
**Foster Brown, pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente dos Cursos de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais e em Ciências Florestais da Universidade Federal do Acre (UFAC); cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia, do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico da UFAC; Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre.
***Evandro Ferreira é
engenheiro agrônomo, pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico da UFAC e Docente
do Curso de Mestrado em Ciências Florestais da UFAC.
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