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01 setembro 2006

ÁREAS SUCETÍVEIS A INCÊNDIOS FLORESTAIS NO LESTE DO ACRE

Nota do Blog: a seguir apresentaremos o texto completo do relatório sobre as áreas florestais do leste do Acre que queimaram e ficaram sucetíveis a incêndios florestais no futuro. Estas áreas merecem, desde já, um monitoramento especial tendo em vista que (em razão de sua condição atual), poderão catalizar incêndios florestais por todo o leste do Acre.
Tendo em vista a extensão do artigo, o mesmo deverá ser dividido em 6 partes.

Parte 1

Relatório preliminar do mapeamento de áreas de risco para incêndios no leste do Estado do Acre: Primeira aproximação. Agosto de 2006

Irving Foster Brown(1,2), Emerson Magno Nantes P. Moulard(3), Joventina Nakamura(3), Wilfrid Schroeder(4), Mónica De Los Rios Maldonado(1), Sumaia S. Vasconcelos(1) e Diogo Selhorst(5)


Apresentação

A seca e as queimadas do ano passado marcaram a história recente do Acre. A seca foi a mais severa dos últimos 34 anos e colocou a prova à capacidade da sociedade em reagir a desastres ambientais. O volume de água do rio Acre, que abastece as regiões do Baixo e Alto Acre, teve uma drástica redução. Em Rio Branco, a cota do rio chegou a 1,64 metros, foi o nível mais baixo já registrado. Associado a isso, a baixa umidade relativa do ar (aproximadamente 30%), os ventos fortes, a alta temperatura e a ausência de chuvas, contribuíram para que ocorressem milhares de incêndios florestais no Estado do Acre.

Na época, medidas enérgicas foram tomadas pelo governo do Estado para conter o avanço da destruição da floresta pelo fogo. Entre elas, o decreto do Estado de Situação de Emergência pelo governador Jorge Viana, a intensificação das atividades de fiscalização e monitoramento, além da implantação da Sala de Situação no quartel do Corpo de Bombeiros (Brown et al. 2006). Os incêndios resultaram na destruição de mais de 250 mil hectares de floresta, um prejuízo ambiental estimado em torno de R$ 250 milhões.

Passado o período crítico, o governo do Estado iniciou as discussões em torno do ocorrido e de como seria possível se preparar para novos problemas climáticos e suas conseqüências. A primeira medida foi à composição de um grupo de trabalho que incluiu técnicos da Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC) e Instituto do Meio Ambiente do Acre (IMAC), pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) e de fora do Acre para estimar florestas e áreas abertas afetadas pelos incêndios e consequentemente, verificar a extensão do impacto provocado pelo fogo no ano passado.

Outra medida tomada foi à realização, nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro de 2006, no auditório da Federação da Indústria do Estado do Acre (FIEAC), do seminário “As queimadas no Acre: Avaliação, Combate, Alternativas e Propostas Futuras”, com a participação de representante dos 12 municípios atingidos pelos incêndios, órgãos governamentais, organizações não govertamentais (ONGs), sociedade civil organizada, universidades, institutos de pesquisa, entre outros. Neste seminário, o Laboratório de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto da FUNTAC, disponibiluizou para o público, cartas imagem das florestas afetadas por cada um dos municípios afetados como informações preliminares.

No seminário foram avaliadas as conseqüências das queimadas no ano anterior e traçados os rumos para um plano de ação de combate, monitoramento e alternativas, com o objetivo de minimizar os impactos sócio-ambientais decorrentes do uso do fogo para o ano de 2006.

Dentre as diversas ações propostas no evento, destacou-se a necessidade de disseminar informações junto à sociedade sobre o prejuízo do uso do fogo, capacitar técnicos e lideranças comunitárias para a prevenção e o combate ao uso do fogo, entre outras.

Após o seminário, as discussões em torno da destruição das florestas pelos incêndios em 2005 e das propostas apresentadas pelos atores do processo continuaram sendo debatidas dentro do Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais – Comitê do Fogo, resultando, posteriormente, no Plano de Prevenção a Incêndios Florestais, que prevê entre outras coisas a formação de brigadas de incêndio formada por produtores e a distribuição de
kit’s de combate ao fogo a comunidades rurais. Este trabalho vem sendo coordenado pelo IMAC, FUNTAC, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Corpo de Bombeiros, Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Rural (SEATER) e UFAC e já capacitou aproximadamente 1.800 pessoas nas regionais do Baixo e Alto Acre mais o município de Sena Madureira, com ênfase na reativação e potencialização
das defesas civis municipais.

Outra ação permanente realizada pelo governo do Estado diz respeito ao monitoramento e fiscalização ambiental das queimadas. O controle das atividades de queima está sendo feito via interpretação de imagens de satélite e sobrevôos em áreas de risco. Diariamente, focos de calor (que são indicadores de queimadas), precipitação pluviométrica e vazão dos principais rios do Acre são avaliadas via interpretação dos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Defesa Civil do Acre .

Este ano o governo estadual em colaboração com as doze prefeituras do leste do Acre desenvolveu um programa de prevenção e controle de queimadas que inclui planos municipal e estadual para reagir a emergências, uma sala de situação baseada no IMAC e capacitação de associações rurais no combate a incêndios.

Recentemente, por solicitação do governador Jorge Viana com apoio do Ministério Público Estadual (MPE), o grupo de trabalho produziu um relatório das áreas afetadas pelas queimadas no leste do Acre, durante a seca de 2005, estimando que mais de 250.000 hectares de florestas e mais de 200.000 ha de áreas abertas foram afetadas na região leste do Estado por incêndios.
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1. Universidade Federal do Acre, Parque Zoobotânico, Setor de Estudos do Uso da Terra e Mudanças Globais
(SETEM) fbrown@uol.com.br
2. Centro de Pesquisa de Woods Hole, Woods Hole, MA, EUA
3. Laboratório de Geoprocessamento, Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC)
4. Departamento de Geografia, Universidade de Maryland, EUA.
5. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Prevfogo, Rio Branco, Acre