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22 março 2007

BRASIL TEM MAIS TV EM CORES DO QUE ESGOTO

Por Thalif Deen, Agência Envolverde, 21/3/2007

Em todos os Estados e em todas as faixas de renda, há mais moradores em domicílio com televisão do que com saneamento.

O número de famílias brasileiras com TV em cores é maior do que o das que desfrutam de serviços adequados de saneamento. Essa situação ocorre em todas as faixas de renda e em todos os Estados, embora a diferença seja maior entre os mais pobres. No Brasil, há 162,9 milhões de pessoas que moram em domicílios com televisão colorida — 32,3% a mais do que os 123,2 milhões que estão em domicílio com rede coletora de esgoto ou fossa séptica.

Os dados foram extraídos da PNAD 2005 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que traz os números brasileiros mais recentes na área de saneamento. Não estão computadas formas alternativas de esgoto — como fossas negras, poços e buracos —, em que os dejetos são enviados diretamente para valas, rios, lagos ou mar.

“A TV é considerada mais importante para as pessoas do que a própria saúde. E os governos são os principais responsáveis por isso. Não se fala sobre meio ambiente no sistema educacional, não há uma preocupação em adequar a educação à realidade das pessoas”, comenta Adauto Santos, consultor do Programa de Modernização do Setor de Saneamento no Ministério das Cidades, apoiado pelo PNUD. “Hoje, é possível construir uma fossa [séptica] com R$ 700. Às vezes, a gente chega em lares pobres que não têm sanitários, mas têm uma TV de 29 polegadas”, diz.

Entre as pessoas que moram em casa com rendimento mensal de até um salário mínimo, 7,6 milhões têm acesso a saneamento adequado. O número dos que, nessa faixa de renda, têm TV em cores é 72,3% maior: 14,9 milhões. Conforme se eleva a renda, essa diferença diminui, até chegar aos 5,8% no topo da pirâmide (entre os que ganham mais de 20 salários mínimos).

A situação se repete também com outros aparelhos domésticos, como rádio, fogão e geladeira. Só no Distrito Federal e em Roraima o número de moradores com acesso a esgoto supera o número de pessoas que habitam em domicílio com rádio. No Mato Grosso do Sul, há mais pessoas com freezer e máquina de lavar roupa do que com saneamento adequado.

Os dados indicam o atraso do país na cobertura de esgoto, o que coloca em risco o cumprimento de uma das metas do sétimo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (garantir a sustentabilidade ambiental). Para que a meta seja cumprida, o Brasil precisa levar o saneamento para 85,5% da população até 2015. Atualmente, 75% dos brasileiros contam com o serviço, segundo o RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) 2006, publicado pelo PNUD.

O próprio relatório — que apresenta dados de 177 países — aponta que o déficit brasileiro se deve, principalmente, à falta de cobertura entre as populações de baixa renda. Enquanto os 20% brasileiros mais ricos têm um nível de acesso a esgoto igual ao dos países desenvolvidos, os 20% mais pobres têm uma cobertura inferior à do Vietnã (que ocupa a 109ª posição no ranking mundial de desenvolvimento humano).

“Hoje temos uma cultura nas empresas de saneamento de que saneamento é só obra. Mas saneamento é uma questão ambiental e de inclusão social. A maioria das pessoas que não tem saneamento está marginalizada”, afirma Santos. “O governo não faz o seu papel de investir de forma adequada. É um processo histórico, o saneamento nunca teve prioridade”, lamenta.