DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA EM 2007: INPE ADMITE ERROS
Taxa superestimada de desmate não altera novos resultados negativos
Após consulta do ‘Estado’, diretor do Inpe reconhece que números divulgados em outubro estavam errados
Herton Escobar
'Estado de São Paulo', 27/01/2007
Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em outubro sobre o desmatamento na Amazônia estavam errados, segundo apurou o Estado. Os dados mostravam que a taxa de derrubada da floresta havia aumentado 8% nos meses de junho a setembro em comparação com o mesmo período de 2006 - incluindo um aumento explosivo de 600% dos índices em Rondônia. A área desmatada de fato, porém, foi bem menor do que o divulgado.
“Erramos”, disse ao Estado o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Segundo ele, houve uma dupla contagem de áreas desmatadas que já tinham sido detectadas pelo sistema Prodes e foram novamente computadas pelo sistema Deter - os dois programas de monitoramento por satélite da floresta. “Erramos e corrigimos. Os números (divulgados em outubro) não têm mais validade.”
Câmara diz que os novos números do Deter, divulgados quarta-feira, estão corretos. O relatório, que traz dados de agosto a dezembro, mostra um crescimento alarmante do desmatamento nos últimos dois meses de 2007. “Os dados foram estritamente checados várias vezes e verificados com todo o cuidado.”
Segundo o novo relatório, o desmatamento em agosto na Amazônia foi de 243 km2, e não 723 km², como divulgado em outubro - uma redução de 66%. Com relação a setembro, a estimativa foi reduzida de 1.383 km² para 611 km² desmatados, queda de 56%. O Maranhão, que aparecia antes com 41 km2 desmatados, zera em setembro com a correção. Os números revisados para junho e julho não foram divulgados pelo Inpe, por isso não foi possível calcular a variação acumulada dos quatro meses.
Em Rondônia, o desmatamento foi bem menor do que o originalmente divulgado. Em agosto, foram derrubados 54 km² de floresta, e não 179 km². Em setembro, o número foi corrigido de 295 km² para 84 km². Todos os outros Estados da Amazônia também tiveram desmatamento menor do que o divulgado em outubro. O novo relatório não faz uma comparação com os meses de 2006. O Estado solicitou ao Inpe os dados históricos de desmatamento, mês a mês, mas foi informado de que a única pessoa autorizada a divulgar as informações era o coordenador do Programa Amazônia do instituto, Dalton Valeriano, que está no Japão.
Os dados do relatório de outubro foram amplamente divulgados na imprensa nacional e internacional, quebrando uma seqüência de dois anos de boas notícias sobre a redução do desmatamento. A notícia caiu como um balde de água fria sobre o Ministério do Meio Ambiente, colocando em xeque a competência do governo em conter a destruição da floresta frente ao reaquecimento dos mercados internacionais de soja e carne.
Segundo Câmara, a revisão dos números não altera o fato de que o desmatamento cresceu de forma alarmante nos últimos meses de 2007 e que medidas urgentes são necessárias para controlar a devastação. Em resposta ao novo relatório, o governo decretou corte de crédito para cidade que desmataram, fiscalização de fazendas, recadastramento de imóveis rurais e reforço da Polícia Federal na região.
Máscara
Segundo Câmara, o erro no relatório anterior foi detectado no final de dezembro, quando a equipe do Inpe fazia a consolidação dos dados do Deter de 2007 e percebeu que os números estavam muito altos. O problema, segundo ele, foi uma falha do software que analisa as imagens dos satélites, seguida de um erro humano por parte dos técnicos, que falharam ao não detectar o erro.
O sistema foi projetado para ignorar clareiras antigas e enxergar apenas novos desmatamentos, de modo que as ações de fiscalização possam ser direcionadas para esses locais. Para isso, a cada novo cálculo, uma “máscara” digital é aplicada automaticamente sobre as áreas já desmatadas. Só que, no relatório anterior, a máscara foi colocada de maneira errada, permitindo que áreas já computadas como desmatadas pelo Prodes ficassem expostas e continuassem a ser contadas como novos desmatamentos pelo Deter. Segundo Câmara, a nota sobre o erro seria divulgada na semana que vem.
A sobrecarga de trabalho no instituto também teria contribuído para o problema, diz Câmara. Até 2005, os dados consolidados do Prodes levavam um ano para serem preparados e divulgados, o que praticamente impedia o governo de reagir às flutuações do desmatamento em tempo hábil. De lá para cá, os dados passaram a ser compilados em poucos meses após o fim do calendário de desmatamento, que vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do seguinte.
O último relatório do Prodes foi divulgado em dezembro, mostrando queda de quase 60% do desmatamento em relação a 2004. “Entre agosto e novembro, a ênfase do Inpe foi em fazer o Prodes”, disse. “A equipe continuou a fazer o Deter, mas não checou os dados com o detalhe que deveria.” Segundo ele, o aparato disponível para o monitoramento está aquém do necessário. “Para fazer o que a gente faz, com a equipe que a gente tem, é trabalho de herói.”
Após consulta do ‘Estado’, diretor do Inpe reconhece que números divulgados em outubro estavam errados
Herton Escobar
'Estado de São Paulo', 27/01/2007
Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em outubro sobre o desmatamento na Amazônia estavam errados, segundo apurou o Estado. Os dados mostravam que a taxa de derrubada da floresta havia aumentado 8% nos meses de junho a setembro em comparação com o mesmo período de 2006 - incluindo um aumento explosivo de 600% dos índices em Rondônia. A área desmatada de fato, porém, foi bem menor do que o divulgado.
“Erramos”, disse ao Estado o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Segundo ele, houve uma dupla contagem de áreas desmatadas que já tinham sido detectadas pelo sistema Prodes e foram novamente computadas pelo sistema Deter - os dois programas de monitoramento por satélite da floresta. “Erramos e corrigimos. Os números (divulgados em outubro) não têm mais validade.”
Câmara diz que os novos números do Deter, divulgados quarta-feira, estão corretos. O relatório, que traz dados de agosto a dezembro, mostra um crescimento alarmante do desmatamento nos últimos dois meses de 2007. “Os dados foram estritamente checados várias vezes e verificados com todo o cuidado.”
Segundo o novo relatório, o desmatamento em agosto na Amazônia foi de 243 km2, e não 723 km², como divulgado em outubro - uma redução de 66%. Com relação a setembro, a estimativa foi reduzida de 1.383 km² para 611 km² desmatados, queda de 56%. O Maranhão, que aparecia antes com 41 km2 desmatados, zera em setembro com a correção. Os números revisados para junho e julho não foram divulgados pelo Inpe, por isso não foi possível calcular a variação acumulada dos quatro meses.
Em Rondônia, o desmatamento foi bem menor do que o originalmente divulgado. Em agosto, foram derrubados 54 km² de floresta, e não 179 km². Em setembro, o número foi corrigido de 295 km² para 84 km². Todos os outros Estados da Amazônia também tiveram desmatamento menor do que o divulgado em outubro. O novo relatório não faz uma comparação com os meses de 2006. O Estado solicitou ao Inpe os dados históricos de desmatamento, mês a mês, mas foi informado de que a única pessoa autorizada a divulgar as informações era o coordenador do Programa Amazônia do instituto, Dalton Valeriano, que está no Japão.
Os dados do relatório de outubro foram amplamente divulgados na imprensa nacional e internacional, quebrando uma seqüência de dois anos de boas notícias sobre a redução do desmatamento. A notícia caiu como um balde de água fria sobre o Ministério do Meio Ambiente, colocando em xeque a competência do governo em conter a destruição da floresta frente ao reaquecimento dos mercados internacionais de soja e carne.
Segundo Câmara, a revisão dos números não altera o fato de que o desmatamento cresceu de forma alarmante nos últimos meses de 2007 e que medidas urgentes são necessárias para controlar a devastação. Em resposta ao novo relatório, o governo decretou corte de crédito para cidade que desmataram, fiscalização de fazendas, recadastramento de imóveis rurais e reforço da Polícia Federal na região.
Máscara
Segundo Câmara, o erro no relatório anterior foi detectado no final de dezembro, quando a equipe do Inpe fazia a consolidação dos dados do Deter de 2007 e percebeu que os números estavam muito altos. O problema, segundo ele, foi uma falha do software que analisa as imagens dos satélites, seguida de um erro humano por parte dos técnicos, que falharam ao não detectar o erro.
O sistema foi projetado para ignorar clareiras antigas e enxergar apenas novos desmatamentos, de modo que as ações de fiscalização possam ser direcionadas para esses locais. Para isso, a cada novo cálculo, uma “máscara” digital é aplicada automaticamente sobre as áreas já desmatadas. Só que, no relatório anterior, a máscara foi colocada de maneira errada, permitindo que áreas já computadas como desmatadas pelo Prodes ficassem expostas e continuassem a ser contadas como novos desmatamentos pelo Deter. Segundo Câmara, a nota sobre o erro seria divulgada na semana que vem.
A sobrecarga de trabalho no instituto também teria contribuído para o problema, diz Câmara. Até 2005, os dados consolidados do Prodes levavam um ano para serem preparados e divulgados, o que praticamente impedia o governo de reagir às flutuações do desmatamento em tempo hábil. De lá para cá, os dados passaram a ser compilados em poucos meses após o fim do calendário de desmatamento, que vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do seguinte.
O último relatório do Prodes foi divulgado em dezembro, mostrando queda de quase 60% do desmatamento em relação a 2004. “Entre agosto e novembro, a ênfase do Inpe foi em fazer o Prodes”, disse. “A equipe continuou a fazer o Deter, mas não checou os dados com o detalhe que deveria.” Segundo ele, o aparato disponível para o monitoramento está aquém do necessário. “Para fazer o que a gente faz, com a equipe que a gente tem, é trabalho de herói.”
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