O QUE VEM DO CÉU NEM SEMPRE É SAGRADO
As críticas ao INPE por parte dos "pró-derrubada" são parcialmente justificadas. Pelo menos desta vez.
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Pode parecer contraditório e dá a impressão que apoiamos as idéias e ações do Governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que se pudesse já teria 'extirpado' seu estado da Amazônia apenas para não ter que cumprir a lei que impõe, na parte amazônica do Mato Grosso, a manutenção de 80% das propriedades em sua forma natural.
Mas sua entrevista sobre o aumento de desmatamento em Mato Grosso no final de 2007, concedida ao Estadão deste domingo (27/01), tem pontos com os quais a gente tem que concordar (veja post abaixo).
Por exemplo. O Governador afirma que dos dados do DETER registrados para o Mato Grosso entre abril e setembro de 2007, foram verificados mais ou menos 300 pontos e emitidos laudos para 113 deles. Em 91 pontos avaliados no campo (80,53%), o desmatamento não existiu ou é antigo e deve ter entrado em algum outro momento estatístico.
Este trabalho do Governo do Mato Grosso indica que o INPE pode cometer equívocos e sugere que aceitar seus números como corretos pode levar a situações irreais, como a ocorrida na semana passada, em que o INPE afirma que no Acre houve aumento de mais de 300% nas derrubadas entre agosto e dezembro de 2007. Segundo o INPE, as derrubadas no Acre passaram de 8 km² em agosto para 28 km² em dezembro! Alguem acredita que isto está correto?
Embora a ordem dos fatores não altere o produto (ou seja, não importa quando a derrubada ocorreu, o importante é que ela ocorreu), a honestidade de quem as divulga em assumir que o sistema de monitoramento de desmatamento no Brasil ainda tem muito o que melhorar não custa nada a ninguem, especialmente aos pesquisadores.
Por outro lado, fica claro que este erro pode custar muito caro ao MMA e a ministra Marina Silva. Afinal, assumir que houve erro nos dados de desmatamento divulgados anteriormente tem um custo político elevadíssimo pois compromete, por exemplo, o relatório anual que o MMA publica em meados de setembro-outubro. A imprensa mundial repercute os números oficiais sem contestação alguma. Portanto, o custo de um erro nestes números, por menor que seja, é inestimável.
Poderia haver situação mais constrangedora do que a Ministra ter que vir a público para informar que o relatório de desmatamento que ela divulgou tinha erros graves?? E como ficaria a credibilidade de sua política anti-desmatamento? Especialmente quando os novos números indicam que o desmatamento é bem maior do que se pensava?
Esperamos que este 'escândalo' incentive uma reavaliação dos métodos de estimativa de desmatamento adotados pelo INPE. Esperamos, por exemplo, que a imprensa nacional - antes que a internacional o faça - saia de seu comodismo e deixe de agir roboticamente ao produzir matérias (de baixo custo) baseadas exclusivamente nos dados do INPE. Existem problemas e eles merecem ser divulgados.
Será tão complicado e caro algum repórter mais ousado tentar acompanhar os técnicos que validam os pontos de derrubadas no campo para descobrir os problemas das estimativas de desmatamento publicadas pelo INPE? Se ele (o repórter) for perspicaz, ele vai voltar com mais dúvidas do que certezas.
Entre outras coisas, por exemplo, ele poderá se questionar se todos os focos de calor detectados pelos satélites a serviço do INPE correspondem mesmo à realidade. Vai ter uma grande surpresa se procurar o Dr. Foster Brown (UFAC/PZ) e ouvir dele que a subestimativa na quantidade de focos de calor pode chegar a 50%.
Vai ouvir também que os satélites têm muita dificuldade para distinguir se uma derrubada foi feita em área de floresta primária ou secundária. E que havendo a dúvida, o que os técnicos do INPE decidirem vale como verdade pois eles não vão no campo para validar tudo que fazem.
Vai descobrir ainda que a estimativa de desmatamento depende muito da qualidade e limpeza das imagens de satélites usadas. Nuvens e fumaça, por exemplo, levam o programa de computador e os técnicos envolvidos nos cálculos, a estimar parte dos dados apresentados. E esta parte estimada nem sempre é validada no campo ou é reavaliada em escritório algum tempo depois, quando imagens de melhor qualidade da mesma área são disponibilizadas. Por isso, a estatística de desmatamento não é precisa na indicação do período em que o mesmo é realizado.
São estes tipos de dificuldades e problemas na detecção física e temporal das derrubadas que levam pessoas como Blairo Maggi a questionar a validade dos dados do INPE.
Como a imprensa, de uma maneira geral, não questiona os métodos do INPE, fica a impressão que Blairo Maggi e outros políticos e empresários simpáticos à derrubada da floresta estão apenas fazendo a sua parte e tentando justificar o injustificável.
Desta vez eles têm (parcialmente) a razão. Acreditem. Azar do INPE que não foi competente para detectar desmatamentos que já tinham ocorrido antes e que foram incluídos 'por tabela' na tabela de desmatamento de novembro e dezembro de 2007.
Foto: Foster Bronw
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Pode parecer contraditório e dá a impressão que apoiamos as idéias e ações do Governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que se pudesse já teria 'extirpado' seu estado da Amazônia apenas para não ter que cumprir a lei que impõe, na parte amazônica do Mato Grosso, a manutenção de 80% das propriedades em sua forma natural.
Mas sua entrevista sobre o aumento de desmatamento em Mato Grosso no final de 2007, concedida ao Estadão deste domingo (27/01), tem pontos com os quais a gente tem que concordar (veja post abaixo).
Por exemplo. O Governador afirma que dos dados do DETER registrados para o Mato Grosso entre abril e setembro de 2007, foram verificados mais ou menos 300 pontos e emitidos laudos para 113 deles. Em 91 pontos avaliados no campo (80,53%), o desmatamento não existiu ou é antigo e deve ter entrado em algum outro momento estatístico.
Este trabalho do Governo do Mato Grosso indica que o INPE pode cometer equívocos e sugere que aceitar seus números como corretos pode levar a situações irreais, como a ocorrida na semana passada, em que o INPE afirma que no Acre houve aumento de mais de 300% nas derrubadas entre agosto e dezembro de 2007. Segundo o INPE, as derrubadas no Acre passaram de 8 km² em agosto para 28 km² em dezembro! Alguem acredita que isto está correto?
Embora a ordem dos fatores não altere o produto (ou seja, não importa quando a derrubada ocorreu, o importante é que ela ocorreu), a honestidade de quem as divulga em assumir que o sistema de monitoramento de desmatamento no Brasil ainda tem muito o que melhorar não custa nada a ninguem, especialmente aos pesquisadores.
Por outro lado, fica claro que este erro pode custar muito caro ao MMA e a ministra Marina Silva. Afinal, assumir que houve erro nos dados de desmatamento divulgados anteriormente tem um custo político elevadíssimo pois compromete, por exemplo, o relatório anual que o MMA publica em meados de setembro-outubro. A imprensa mundial repercute os números oficiais sem contestação alguma. Portanto, o custo de um erro nestes números, por menor que seja, é inestimável.
Poderia haver situação mais constrangedora do que a Ministra ter que vir a público para informar que o relatório de desmatamento que ela divulgou tinha erros graves?? E como ficaria a credibilidade de sua política anti-desmatamento? Especialmente quando os novos números indicam que o desmatamento é bem maior do que se pensava?
Esperamos que este 'escândalo' incentive uma reavaliação dos métodos de estimativa de desmatamento adotados pelo INPE. Esperamos, por exemplo, que a imprensa nacional - antes que a internacional o faça - saia de seu comodismo e deixe de agir roboticamente ao produzir matérias (de baixo custo) baseadas exclusivamente nos dados do INPE. Existem problemas e eles merecem ser divulgados.
Será tão complicado e caro algum repórter mais ousado tentar acompanhar os técnicos que validam os pontos de derrubadas no campo para descobrir os problemas das estimativas de desmatamento publicadas pelo INPE? Se ele (o repórter) for perspicaz, ele vai voltar com mais dúvidas do que certezas.
Entre outras coisas, por exemplo, ele poderá se questionar se todos os focos de calor detectados pelos satélites a serviço do INPE correspondem mesmo à realidade. Vai ter uma grande surpresa se procurar o Dr. Foster Brown (UFAC/PZ) e ouvir dele que a subestimativa na quantidade de focos de calor pode chegar a 50%.
Vai ouvir também que os satélites têm muita dificuldade para distinguir se uma derrubada foi feita em área de floresta primária ou secundária. E que havendo a dúvida, o que os técnicos do INPE decidirem vale como verdade pois eles não vão no campo para validar tudo que fazem.
Vai descobrir ainda que a estimativa de desmatamento depende muito da qualidade e limpeza das imagens de satélites usadas. Nuvens e fumaça, por exemplo, levam o programa de computador e os técnicos envolvidos nos cálculos, a estimar parte dos dados apresentados. E esta parte estimada nem sempre é validada no campo ou é reavaliada em escritório algum tempo depois, quando imagens de melhor qualidade da mesma área são disponibilizadas. Por isso, a estatística de desmatamento não é precisa na indicação do período em que o mesmo é realizado.
São estes tipos de dificuldades e problemas na detecção física e temporal das derrubadas que levam pessoas como Blairo Maggi a questionar a validade dos dados do INPE.
Como a imprensa, de uma maneira geral, não questiona os métodos do INPE, fica a impressão que Blairo Maggi e outros políticos e empresários simpáticos à derrubada da floresta estão apenas fazendo a sua parte e tentando justificar o injustificável.
Desta vez eles têm (parcialmente) a razão. Acreditem. Azar do INPE que não foi competente para detectar desmatamentos que já tinham ocorrido antes e que foram incluídos 'por tabela' na tabela de desmatamento de novembro e dezembro de 2007.
Foto: Foster Bronw
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