O AUMENTO DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA NO FINAL DE 2007
Erro de cálculo, subestimativa ou simples manipulação de dados. É grande a possibilidade de equívocos na distribuição temporal dos dados de desmatamento apresentados pelo INPE
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
O INPE anunciou, e toda a imprensa brasileira e estrangeira reproduziu com grande destaque, que o desmatamento na Amazônia aumentou de forma considerável no período compreendido entre agosto e dezembro de 2007.
Segundo os dados publicados, foram derrubados 3.233 km² de floresta, dos quais 1.922 km² em novembro e dezembro, meses em que normalmente não há desmate por causa das chuvas (ver tabela ao lado). O desmatamento nestes dois meses representou mais de 59% de todo o desmatamento contabilizado nos últimos cinco meses de 2007!
Para Adalberto Veríssimo, do Imazon, em depoimento ao jornal Folha de São Paulo, "se as projeções do MMA estiverem corretas, nos últimos cinco meses de 2007 cortou-se 62% de tudo o que se cortou no ano passado".
Na estimativa de Dalton de Morrison Valeriano, coordenador do Programa Amazônia do INPE, que opera os sistemas PRODES e DETER, o desmatamento real é bem maior, da ordem de 7 000 km2, com uma variação para mais ou para menos de 1.400 km2. Este valor foi obtido a partir da extrapolação dos dados do DETER (3.235 km2), que, segundo depoimento do Pesquisador ao jornal Folha de São Paulo “representou entre 40% a 60% do que é registrado pelo PRODES, nosso sistema que faz o cálculo anual detalhado da área desmatada".
Com os dados e depoimentos acima, a tendência é que todos aceitem pacificamente as informações e passem a acreditar que, realmente, no final do ano passado, especialmente durante o período mais chuvoso, o desmatamento na Amazônia acelerou como nunca se viu em toda a história da região.
Eu não acredito nos dados fornecidos pelo INPE!
Aceito que o valor global desmatado em 2007, no período de janeiro a dezembro, deva ser acrescido destes 7.000 km² sugeridos pelo INPE, mas não concordo que todo este desmatamento foi realizado entre agosto e dezembro.
As razões?
Se você leitor fosse um fazendeiro na Amazônia e pretendesse desmatar 300 hectares para aumentar sua área de pastagem, iria fazer isso a partir de maio-junho, no início do período seco em nossa região, ou realizaria a derrubada em dezembro, quando a temporada de chuvas está no seu início?
Minha aposta é de que você esperaria para derrubar a partir de maio-junho pois o período seco favorece esta operação e facilita a queimada do material vegetal derrubado, que no Acre acontece em meados de setembro. No Acre todo mundo sabe disso. Do mais leigo dos cidadãos aos mais gabaritados estudiosos das instituições de pesquisas locais.
Quem seria louco de derrubar em dezembro, por exemplo, e deixar o investimento feito na derrubada se transformar rapidamente em uma floresta secundária de rápido crescimento, a conhecida "capoeira" no Acre?
Pois é. É isso que aconteceria considerando que não seria possível queimar a mata derrubada em pleno período de chuvas. Aliás, a chuva e, especialmente, a luz do sol que chegariam de forma mais abundante ao solo da área derrubada favoreceriam o rebrotamento das árvores e a germinação da maior parte das sementes componentes do banco de sementes do solo.
Derrubar em dezembro para quê? Pelo que sei, pouca coisa em nossa região pode ser cultivada economicamente no meio da "traqueira". No vale do Juruá, por exemplo, os agricultores costumam plantar o feijão da variedade "peruano" em lugares onde a mata foi derrubada sem que seja preciso queimar. Mas eles só fazem isso em áreas de capoeiras relativamente novas, nunca plantam em áreas onde a floresta primária foi recentemente derrubada.
Quem vive na Amazônia sabe que derrubar uma área e não limpá-la de imediato com o uso do fogo resulta, depois de 5-6 meses, no surgimento de uma mini-floresta. Para fazer algum uso econômico da mesma (plantio, inclusive de capim), só se for feito um mini-desmate. Em outras palavras: o investimento é dobrado.
Os dados de desmatamento disponibilizados pelo INPE sugerem que nos cinco últimos meses do ano passado a maior parte das derrubadas no Acre (mais de 82%) aconteceram depois do início do período chuvoso (a partir de outubro). Em Dezembro, por exemplo, foram derrubados 28 km² de vegetação no Acre, ante 8 km² em agosto. Um aumento de mais de 300%!
Pelo que li na imprensa local, ninguem morreu em acidentes durante derrubadas que INPE indica terem ocorrido no final do ano passado. As morte que ocorreram foram registradas entre maio e agosto, no período seco. Neste período, em uma emergência, quase sempre dá para correr para escapar das árvores que estão caindo! Agora imaginem no período das chuvas, o solo liso que nem sabão, poças de lama...quem se arrisca a derrubar nestas condições?
Então cabe a pergunta: como explicar e justificar o aumento da derrubada de floresta no Acre no período chuvoso? Eu não vejo lógica nenhuma nesta informação e é impossível explicar estes números sob o ponto de vista do comportamento social e econômico de nossos produtores. O INPE nos deve uma explicação mais convincente do que os frios números que apresentou.
Deveria informar, por exemplo, que as estimativas de desmatamento dependem, para ser precisas, que as imagens de satélite sejam "livres" de nuvens, por exemplo. Teria sido este o caso? Talvez.
Outra hipótese, mais polêmica, seria a manipulação de dados. Proposital ou não. Funcionaria assim. Os dados anuais de desmatamento na região são calculados entre 01/08 de um dado ano e 31/07 do ano subsequente. Sua divulgação ocorre em meados de setembro-outubro.
Se, numa hipótese que creio pouco provável, houvesse a intenção de se desinflar os números de desmatamento para o período 2006/2007, bastaria usar imagens que levassem a uma subestimativa no cálculo da área desmatada entre 01/08/2006 e 31/07/2007.
Felizmente, cedo ou tarde as áreas derrubadas serão inexoravelmente encontradas por imagens de satélites de boa qualidade e obrigatoriamente incluídas na estatística anual de desmatamento.
Talvez essa seja a explicação mais plausível para o "excesso" de desmatamento verificado na Amazônia como um todo no período de agosto a dezembro de 2007.
Dirão os técnicos do INPE que trabalham com a estatística de desmatamento: "Se o desmatamento realizado entre maio e julho foi detectado apenas em dezembro, paciência, mas eles farão parte dos dados de dezembro. A direção do INPE se quiser que convença a sociedade que na Amazônia as pessoas passaram, de uma hora para outra, e sem nenhuma razão social e econômica, a desmatar em pleno período de chuvas!"
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
O INPE anunciou, e toda a imprensa brasileira e estrangeira reproduziu com grande destaque, que o desmatamento na Amazônia aumentou de forma considerável no período compreendido entre agosto e dezembro de 2007.
Segundo os dados publicados, foram derrubados 3.233 km² de floresta, dos quais 1.922 km² em novembro e dezembro, meses em que normalmente não há desmate por causa das chuvas (ver tabela ao lado). O desmatamento nestes dois meses representou mais de 59% de todo o desmatamento contabilizado nos últimos cinco meses de 2007!
Para Adalberto Veríssimo, do Imazon, em depoimento ao jornal Folha de São Paulo, "se as projeções do MMA estiverem corretas, nos últimos cinco meses de 2007 cortou-se 62% de tudo o que se cortou no ano passado".
Na estimativa de Dalton de Morrison Valeriano, coordenador do Programa Amazônia do INPE, que opera os sistemas PRODES e DETER, o desmatamento real é bem maior, da ordem de 7 000 km2, com uma variação para mais ou para menos de 1.400 km2. Este valor foi obtido a partir da extrapolação dos dados do DETER (3.235 km2), que, segundo depoimento do Pesquisador ao jornal Folha de São Paulo “representou entre 40% a 60% do que é registrado pelo PRODES, nosso sistema que faz o cálculo anual detalhado da área desmatada".
Com os dados e depoimentos acima, a tendência é que todos aceitem pacificamente as informações e passem a acreditar que, realmente, no final do ano passado, especialmente durante o período mais chuvoso, o desmatamento na Amazônia acelerou como nunca se viu em toda a história da região.
Eu não acredito nos dados fornecidos pelo INPE!
Aceito que o valor global desmatado em 2007, no período de janeiro a dezembro, deva ser acrescido destes 7.000 km² sugeridos pelo INPE, mas não concordo que todo este desmatamento foi realizado entre agosto e dezembro.
As razões?
Se você leitor fosse um fazendeiro na Amazônia e pretendesse desmatar 300 hectares para aumentar sua área de pastagem, iria fazer isso a partir de maio-junho, no início do período seco em nossa região, ou realizaria a derrubada em dezembro, quando a temporada de chuvas está no seu início?
Minha aposta é de que você esperaria para derrubar a partir de maio-junho pois o período seco favorece esta operação e facilita a queimada do material vegetal derrubado, que no Acre acontece em meados de setembro. No Acre todo mundo sabe disso. Do mais leigo dos cidadãos aos mais gabaritados estudiosos das instituições de pesquisas locais.
Quem seria louco de derrubar em dezembro, por exemplo, e deixar o investimento feito na derrubada se transformar rapidamente em uma floresta secundária de rápido crescimento, a conhecida "capoeira" no Acre?
Pois é. É isso que aconteceria considerando que não seria possível queimar a mata derrubada em pleno período de chuvas. Aliás, a chuva e, especialmente, a luz do sol que chegariam de forma mais abundante ao solo da área derrubada favoreceriam o rebrotamento das árvores e a germinação da maior parte das sementes componentes do banco de sementes do solo.
Derrubar em dezembro para quê? Pelo que sei, pouca coisa em nossa região pode ser cultivada economicamente no meio da "traqueira". No vale do Juruá, por exemplo, os agricultores costumam plantar o feijão da variedade "peruano" em lugares onde a mata foi derrubada sem que seja preciso queimar. Mas eles só fazem isso em áreas de capoeiras relativamente novas, nunca plantam em áreas onde a floresta primária foi recentemente derrubada.
Quem vive na Amazônia sabe que derrubar uma área e não limpá-la de imediato com o uso do fogo resulta, depois de 5-6 meses, no surgimento de uma mini-floresta. Para fazer algum uso econômico da mesma (plantio, inclusive de capim), só se for feito um mini-desmate. Em outras palavras: o investimento é dobrado.
Os dados de desmatamento disponibilizados pelo INPE sugerem que nos cinco últimos meses do ano passado a maior parte das derrubadas no Acre (mais de 82%) aconteceram depois do início do período chuvoso (a partir de outubro). Em Dezembro, por exemplo, foram derrubados 28 km² de vegetação no Acre, ante 8 km² em agosto. Um aumento de mais de 300%!
Pelo que li na imprensa local, ninguem morreu em acidentes durante derrubadas que INPE indica terem ocorrido no final do ano passado. As morte que ocorreram foram registradas entre maio e agosto, no período seco. Neste período, em uma emergência, quase sempre dá para correr para escapar das árvores que estão caindo! Agora imaginem no período das chuvas, o solo liso que nem sabão, poças de lama...quem se arrisca a derrubar nestas condições?
Então cabe a pergunta: como explicar e justificar o aumento da derrubada de floresta no Acre no período chuvoso? Eu não vejo lógica nenhuma nesta informação e é impossível explicar estes números sob o ponto de vista do comportamento social e econômico de nossos produtores. O INPE nos deve uma explicação mais convincente do que os frios números que apresentou.
Deveria informar, por exemplo, que as estimativas de desmatamento dependem, para ser precisas, que as imagens de satélite sejam "livres" de nuvens, por exemplo. Teria sido este o caso? Talvez.
Outra hipótese, mais polêmica, seria a manipulação de dados. Proposital ou não. Funcionaria assim. Os dados anuais de desmatamento na região são calculados entre 01/08 de um dado ano e 31/07 do ano subsequente. Sua divulgação ocorre em meados de setembro-outubro.
Se, numa hipótese que creio pouco provável, houvesse a intenção de se desinflar os números de desmatamento para o período 2006/2007, bastaria usar imagens que levassem a uma subestimativa no cálculo da área desmatada entre 01/08/2006 e 31/07/2007.
Felizmente, cedo ou tarde as áreas derrubadas serão inexoravelmente encontradas por imagens de satélites de boa qualidade e obrigatoriamente incluídas na estatística anual de desmatamento.
Talvez essa seja a explicação mais plausível para o "excesso" de desmatamento verificado na Amazônia como um todo no período de agosto a dezembro de 2007.
Dirão os técnicos do INPE que trabalham com a estatística de desmatamento: "Se o desmatamento realizado entre maio e julho foi detectado apenas em dezembro, paciência, mas eles farão parte dos dados de dezembro. A direção do INPE se quiser que convença a sociedade que na Amazônia as pessoas passaram, de uma hora para outra, e sem nenhuma razão social e econômica, a desmatar em pleno período de chuvas!"
1 Comments:
O desmatamento é real mas o período é falso.
Quanta celeuma em vão!
Stephanes diz que a área de soja vem diminuindo desde 2003/04. É verdade.
Marina Silva rebate dizendo que em contrapartida a área de milho vem aumentando. É uma verdade falsa porquanto o milho cultivado na região norte bem como a partir do Mato Grosso do Sul e principalmente no Mato Grosso é do tipo denominado "safrinha" ou seja, caracteriza-se por ser um plantio logo após um cultivo anterior, justamente da soja. Realmente houve aumento na área plantada. Mas geeeente, o hectare físico é o meeeesmo!
Infelizmente para os jornalistas, números são sempre uma "Má Temática"
O mais espantoso nestas ocasiões é que não aparece nenhum jornalista para questionar corretamente os depoentes. Exemplo, a área cultivada com grãos não atinge 40 milhoes de hectares no Brasil mas ficam noticiando 47, 48 até 62 milhoes....
Um exemplo gritante para entender é por exemplo o plantio de Trigo no Sul e depois Soja ou Milho no mesmo local. A área física é a mesma...
O blogueiro acima tem razão. O desmatamento é real mas o período atribuido é falso!
Att, Telmo Heinen - Formosa (GO)
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