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18 outubro 2008

SENSORIAMENTO REMOTO APLICADO AOS GEOGLIFOS DO ACRE

Alceu Ranzi
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Acre

Nos chegou às mãos a obra intitulada “Contribuições Interdisciplinares em Arqueologia – Sensoriamento Remoto em Arqueologia” tendo como editores James Wiseman e Farouk El-Baz. O livro, editado pela Springer de Nova York, foi publicado em 2007 (1).

Os autores do livro dizem que durante as últimas décadas aconteceu uma revolução em nossa habilidade de observar e “explorar” nosso planeta. Devemos isso ao uso de instrumentos de sensoriamento remoto instalados em satélites ou em aviões.

Essa revolução resultou das novas capacidades de observar a superfície terrestre tanto em escala global como regional, pelo uso de instrumentos que observam “assinaturas” não visíveis ao olho humano e ainda capazes de penetrar abaixo da superfície do solo (Ground Penetrating Radar). Segundo os editores, a novidade é que essas tecnologias passaram a ser aplicadas aos estudos arqueológicos.

Um livro bem escrito, com dezenas de colaboradores, entre os quais Anna Roosevelt sobre a Amazônia, os quais afirmam que as várias técnicas de sensoriamento remoto oferecem aos arqueólogos novas ferramentas para suas explorações e descobertas. Os autores dizem ainda que esse campo de aplicação está apenas no início e os diversos artigos do livro nos dão uma amostra do que virá e do grande potencial do sensoriamento remoto para os estudos arqueológicos.

Alguns artigos nos mostram as novidades com o uso do radar de penetração do solo, cujos sistemas permitem diferenciar certos padrões associados com estruturas
elaboradas pelo homem, diferentes dos sinais deixados pela ação da natureza.

A obra nos dá uma visão geral excelente das diversas capacidades do sensoriamento remoto para a arqueologia. É também um importante texto para os arqueólogos em sua busca de uso de avançadas tecnologias que possam ajudar em seus estudos. Para os técnicos em sensoriamento remoto o livro oferece aos mesmos um bom entendimento das necessidades dos arqueólogos em suas explorações.

As técnicas relatadas no livro foram aplicadas, com sucesso, em várias condições de meio ambiente: Em regiões áridas do Egito e Península Aarábica; no semi-árido da Grécia, Itália e Etiópia; em regiões tropicais da Guatemala, Costa Rica, Cambodja e Ilha de Marajó no Brasil e ainda em explorações arqueológicas submarinas.

Devemos mencionar e é digno de registro, que os pesquisadores envolvidos nos diversos projetos em andamento sobre os geoglifos do Acre já aplicavam e aplicam, mesmo antes do lançamento do livro, algumas dessas novidades:

-Utilização, desde 1986, de aviões para sobrevôos e obtenção de fotos aéreas em regiões potenciais para a ocorrência de geoglifos;

-Uso pioneiro das imagens disponibilizadas pelo GoogleEarth para a localização de geoglifos na Amazônia. Sobre esse tema foi publicado um artigo de nossa autoria com Roberto Feres e Foster Brown, publicado em 2007 no periódico EOS da American Geophysical Union (2);

-Com o apoio do Governo do Estado (IMAC e FUNTAC), fazem uso das imagens do satélite Formosat, com excelente resolução e cobertura do leste do Acre, permitindo a localização de geoglifos em áreas não cobertas pelo GoogleEarth e

-Utilização de Radar de Penetração do Solo (Ground Penetrating Radar), sistema em uso pelo doutorando Lucio Zancanela da Universidade Federal de Viçosa em seus estudos de solo em áreas de ocorrência de geoglifos.

É importante notar que essas novas tecnologias permitem obter preciosos conhecimentos sem perturbar os sítios com grande valor pré-histórico – essa capacidade é particularmente significante em nossa era de valorização da conservação.

Assim todas as áreas hoje reservadas no Acre para as Comunidades Indígenas, Parques Nacionais, Reservas Extrativistas e outras estariam acessíveis aos estudos arqueológicos sem a necessidade de escavações e da presença física do pesquisador.

Desejamos que, com o uso dessas novas ferramentas, possamos responder ao questionamento do Governador Binho Marques, que na apresentação do livro sobre os Geoglifos do Acre (3), coloca o seguinte: Teremos, quem sabe algum avanço tecnológico que nos permita descobrir outros sítios sem ter que destruir a floresta?
Como resposta desejamos um sim.

Almejamos que o futuro que nos espera seja aquele que do conforto de nossos laboratórios ou mesmo de escritórios com ar-condicionado e com o uso de equipamentos de radar, instalados em satélites geo-estacionários ou aviões, possamos esquadrinhar o Acre, localizar os sítios arqueológicos tipo geoglifos, sem antes que a região tenha obrigatoriamente que passar pelo “ferro e fogo” (4).

Para saber mais:

(1) Interdisciplinary Contributions to Archaeology - Remote Sensing in Archaeology. Edited by James Wiseman and Farouk El-Baz, Springer, New York, 2007.

(2) Internet Software Programs aid in search for Amazonian Geoglyphs. Alceu Ranzi, Roberto Feres & Foster Brown. American Geophysical Union - Eos 88(21-22):226,229.

(3) Arqueologia da Amazônia Ocidental:Os Geoglifos do Acre. Organizado por Denise Schaan, Alceu Ranzi & Martti Pärssinen. EDUPA/Biblioteca da Floresta – Belém/Rio Branco, 2008

(4) A Ferro e Fogo. Warren Dean. Companhia das Letras, 1996

(Foto: Ségio Vale)

1 Comments:

Blogger Mowrek said...

Olá.
Eu sei o que são esses geoglifos. Tenho um livro interessante sobre. mauriciofdsilva@gmail.com

25/02/2011, 01:28  

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