SE CUMPRIDO, CÓDIGO FLORESTAL AJUDARÁ PAÍS A ZERAR EMISSÕES POR DESMATAMENTO EM 2030
Elton
Alisson | Agência FAPESP
São
Paulo, 09/10/2015 – Essa é a conclusão do projeto REDD-PAC, financiado pelo Ministério
do Ambiente da Alemanha e apoiado pela FAPESP, que contou com a participação de
pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dos
Institutos de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Internacional para Análises
de Sistemas Aplicados (IIASA, na sigla em inglês), da Áustria, além do Centro
para Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (UNEP-WCMC).
“O
Código Florestal poderá ajudar a zerar as emissões de gases de efeito estufa
pelo desmatamento da Amazônia se for cumprido. O Brasil não precisa mais de
legislação ambiental para conter o desmatamento da Amazônia. Só precisa cumprir
a que já tem”, disse Gilberto Câmara, pesquisador do Inpe e coordenador do
projeto, durante o encontro.
Os
pesquisadores fizeram projeções sobre como o novo Código Florestal poderá
influenciar o uso futuro da terra no país, levando em contas políticas internas
e a demanda mundial e nacional por produtos agropecuários brasileiros, além do
potencial produtivo de cada região e as restrições ambientais. Para isso, eles
adaptaram um modelo econômico global, chamado GLOBIOM – desenvolvido pela IIASA
para fazer projeções de mudanças de uso da terra no mundo causadas pela
competição entre agricultura, pecuária e bioenergia –, para construir um mapa
de uso da terra no Brasil no ano 2000.
O
mapa combina informações sobre vegetação do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) com dados fornecidos pela Fundação SOS Mata Atlântica, além
de mapas de cobertura de terra fornecidos pelo sensor MODIS, do Inpe, e
estatísticas de produção agropecuária e de florestas plantadas do IBGE. Com
base nessa combinação de dados, o modelo fez projeções do uso da terra no
Brasil até 2050.
Para
validar o modelo, foram comparadas as projeções de taxas de desmatamento e de
produção agrícola no Brasil entre 2000 a 2010 com dados oficiais do IBGE. As
diferenças entre os dados do IBGE e as projeções feitas por meio do modelo
foram menores do que 10%, afirmou Câmara. “O Prodes [projeto do Inpe que monitora
o desmatamento na Amazônia Legal] calculou que 16,5 milhões de hectares haviam
sido desmatados em 2010, enquanto o modelo estimou que foram 16,9 milhões de
hectares”, comparou.
Projeções até 2050
Para
estimar como o novo Código Florestal influenciará o uso da terra no Brasil
entre 2020 e 2050, foram projetados diferentes cenários. Um deles não
considerou a aplicação do Código Florestal. Outro levou em
conta a aplicação do Código, que prevê o fim do desmatamento ilegal e a recuperação de áreas de reserva legal, assim como o repasse de quotas
de reserva ambiental por quem tem mais quotas de florestas do que reserva
legal, além da anistia de pequenas fazendas e a obrigatoriedade do cadastro
rural ambiental. Um
terceiro cenário considerou que somente produtores agrícolas poderiam
comprar quotas de reserva ambiental. O quarto considerou que somente os pequenos produtores agrícolas teriam que
recuperar suas reservas legais e o quinto cenário excluiu as quotas de
reserva ambiental.
As
projeções indicaram que em um cenário de plena aplicação do Código Florestal, o
reflorestamento no Brasil poderá chegar a 11 milhões de hectares até 2050. “O
número mais conservador seria da ordem de 10 a 12 milhões de hectares
recuperados. Não por acaso, foi esse último número que o Brasil apresentou em
sua INDC”, disse Câmara.
Em
relação à produção agropecuária, em todos os cenários projetados a área
cultivada crescerá, saltando de 56 milhões de hectares em 2010 para 92 milhões em
2030, podendo chegar a 114 milhões em 2050. Em contrapartida, as terras
destinadas à pastagem poderão diminuir significativamente nas próximas décadas,
reduzindo 10 milhões de hectares até 2030 e mais 20 milhões até 2050. O modelo
considerou dados do Ministério da Agricultura que estimam uma redução anual de
cerca de 1 milhão de hectares destinados à pecuária como consequência da
melhoria das práticas e aumento da produtividade.
“O
Código Florestal e a legislação ambiental não são fatores limitantes ao
crescimento da agropecuária brasileira”, avaliou Câmara. De acordo com as
projeções, a aplicação plena do Código Florestal também poderá contribuir para
uma maior redução das emissões totais de gases de efeito estufa pelo Brasil.
Com o novo Código Florestal, a combinação de reflorestamento com redução do desmatamento poderá fazer com que as emissões por desmatamento no Brasil cheguem
a 110 milhões de toneladas de CO2 em 2030 – uma queda de 92% em relação a 2000
quando dois terços das emissões de CO2 do país eram provenientes,
principalmente, do desmatamento da Amazônia. Com isso, o país passaria a zerar
suas emissões por desmatamento a partir de 2030, apontou Câmara.
“A
redução do desmatamento está comprando o tempo para o Brasil tornar sua matriz
energética mais limpa e conseguir descarbonizar sua economia. A diminuição das
emissões de gases de efeito estufa pelo país depende, agora, do uso de
combustíveis renováveis, e não mais da Amazônia”, avaliou Câmara.
Foto: Foster Brown
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