CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NO BRASIL: TENDÊNCIAS E PROJEÇÕES ATÉ O ANO 2030
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Nos
países em desenvolvimento o câncer de colo de útero é a causa mais comum de
câncer incidente em mulheres. No mundo é a terceira causa e representa cerca de
9% dos casos registrados, com estimados 529.000 casos e 275.000 óbitos por ano.
No Brasil, surgem 15 mil novos casos e 5 mil mulheres morrem a cada ano. Embora
a ocorrência desse tipo de câncer varie consideravelmente entre os países, mais
de 85% dos casos ocorrem nos países mais pobres.
A
descoberta de que a ocorrência deste tipo câncer está quase sempre associada à
infecção por uma linhagem oncogênica do vírus HPV resultou no desenvolvimento
de vacinas profiláticas eficazes que se configuram como a principal forma de
prevenção ao aparecimento do vírus. No Brasil essa vacina é aplicada de graça
na rede de saúde pública desde 2014 em meninas com idade entre 9 e 13 anos, que
devem receber três doses da vacina contra o vírus HPV.
A
diferença entre as taxas de incidência observada entre os diferentes países e
as diversas regiões do planeta reflete a maior ou menor prevalência da infecção
pelo vírus HPV e a qualidade e cobertura dos programas de prevenção que
utilizam o exame Papanicolaou como método de rastreamento. Outros fatores de
risco para a ocorrência deste câncer incluem o uso de contraceptivos orais,
doenças sexualmente transmissíveis, multiplicidade de parceiros e a prática de
ato sexual desprotegido, início precoce da atividade sexual e o tabagismo.
Em
razão da importância da doença e seu impacto no sistema de saúde pública,
pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade
de Zaragoza, Espanha, publicaram um artigo na Revista Ciência e Saúde Coletiva
(vol. 21, p.253-262, janeiro de 2016) no qual analisam as tendências temporais
da mortalidade por câncer de colo de útero no Brasil entre 1996 e 2010 e
realizaram projeções de mortalidade pela doença até o ano de 2030.
O
resultado do estudo trás uma boa notícia para o Acre: com um percentual de
-6,5%, nosso estado apresentou, entre 1996 e 2010, a maior tendência de redução
da ocorrência deste tipo de câncer entre todos os estados brasileiros.
Entre
1996 e 2010 foram registrados 89.764 óbitos causados por câncer de colo de
útero no Brasil. Apesar disso, no mesmo período a taxa de mortalidade no país
caiu de 8,04 para 6,36 óbitos/100.000 mulheres. Pesquisa realizada em 2008
revelou que as menores taxas de mortalidade no mundo foram observadas na
Austrália (1,4 por 100.000 mulheres), América do Norte (1,7 por 100.000
mulheres), e Oeste Europeu (2 por 100.000 mulheres). As maiores foram
registradas no Leste da África (24 por 100.000 mulheres), no Sudeste da África
(14,8 por 100.000 mulheres) e na porção Sul-central da Ásia (10,8 por 100.000
mulheres).
No
Brasil, a queda na taxa de mortalidade foi mais acentuada no Sul e Sudeste, com
-3,9 e -3,3%, respectivamente. A região Nordeste apresentou um aumento de +2,9%
e a região Norte +0,6%, ressaltando ainda mais a queda expressiva ocorrida no
Acre. Na região Norte os piores resultados foram registrados em Roraima (+5,7%)
e Tocantins (+3,5%). No Brasil, o Maranhão (+7,1%) apresentou o maior
percentual de aumento no período avaliado. Entretanto, as maiores taxas de
mortalidade foram verificadas no Amazonas em 2010 (18,62 por 100.000 mulheres)
e Amapá em 1996 (17,55 por 100.000 mulheres).
Em
Rio Branco, um estudo publicado em 2011 (Nakashima et al.) já havia demonstrado
uma tendência decrescente nas mortes causadas pelo câncer de colo de útero:
entre 1994 e 2000 a diminuição foi de -10,7%, estabilizando-se depois em cerca
de 11 mortes por 100 mil mulheres.
Embora
a taxa de mortalidade deva cair no país entre 2011 e 2030 (de 6,48 para 5,17
por 100.000 mulheres) o estudo estima que 156.558 mulheres devam ir a óbito em
decorrência da doença. É um número estarrecedor. Na contramão da queda esperada
para o país, as regiões Nordeste (de 11,72 para 12,69 por 100.000 mulheres) e
Norte (de 7,73 para 7,83 por 100.000 mulheres) apresentarão aumento na taxa de
mortalidade. Essa perspectiva deve servir de alerta antecipado para as
autoridades acreanas continuarem a investir pesadamente na prevenção da doença
no Acre.
Para
o período compreendido entre 1996 e 2030, a diminuição no número de casos
deverá ser mais acentuada na região Sul, para onde se espera uma queda de
41,3%. Nesse mesmo período, o maior número de óbitos previsto será registrado
nas faixas etárias de 50 a 69 anos. Para 2030 existe a expectativa de que o
número de óbitos esperado seja explicado, em grande medida, pela redução dos
riscos para a doença, com exceção das regiões Norte e Nordeste, para as quais
as mudanças demográficas – rápido crescimento da população – explicarão o
aumento das taxas de mortalidade.
Nos
países desenvolvidos a redução de aproximadamente 80% no número de novos casos
de câncer de colo de útero decorreu de programas eficientes de detecção e
tratamento das lesões pré-cancerígenas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o
teste Papanicolaou foi implementado em meados da década de 1950. No Brasil, entretanto,
as condições socioeconômicas precárias da população afeta o acesso dos mais
pobres aos serviços de prevenção, rastreamento regular, diagnóstico e
tratamentos oportunos, impedindo as mulheres mais pobres não apenas de serem
diagnosticadas, mas também de receberem tratamento adequado a tempo de se obter
a cura. Pesquisas já demonstraram que essa disparidade também é acentuada em
função do local de moradia (área rural ou urbana) e das regiões do país
(Nordeste, Norte e Centro Oeste mais afetados).
Os
autores do estudo acreditam que a descentralização dos serviços de diagnóstico
e centros de referência para o tratamento do câncer são estratégias eficientes
não apenas para o controle da incidência e da mortalidade causada pela da
doença, mas também para permitir um planejamento mais adequado das ações.
Para
saber mais: “Desigualdades regionais na mortalidade por câncer de colo de úterono Brasil: tendências e projeções até o ano 2030”, de autoria de Isabelle
Ribeiro Barbosa, Dyego Leandro Bezerra de Souza, María Milagros Bernal e Iris
do Céu Clara Costa, publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva vol. 21,
p.253-262, janeiro de 2016.
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