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11 julho 2006

QUEDA NO NÍVEL DOS RIOS PODE LEVAR A UMA NOVA GRANDE SECA NA AMAZÔNIA

Além das queimadas, que já começam a ocorrer na Amazônia, particularmente a partir do Mato Grosso, a preocupação dos cientistas e das autoridades marítimas amazônicas se voltam agora para a perspectiva de que 2006 pode ser outro ano de grande seca na região, onde a população, a fauna e a flora foram muitos castigados durante a seca recorde do ano passado.

Na semana passada, por exemplo, o primeiro alerta sobre seca no rio Madeira, um dos principais afluentes do grande rio Amazonas, foi dado pela Delegacia Fluvial de Rondônia, ao informar que o nível das águas do rio já era de 7,44 metros, pouco superior aos 7,28 metros alcançados na mesma data do ano passado.

O nível alcançado pelo rio, segundo o delegado fluvial Carlos Eduardo Guimarães, já representava perigo para as grandes embarcações que trafegam nos trechos considerados críticos, que passam pelas localidades de Belmont, Tamanduá, Bom Jardim, Capitari, Curicacas, Pombal, Abelhas e Papagaios, onde existem muitas pedras e paliteiros, como são chamados os troncos de árvores mortas.

O delegado informou que, abaixo de quatro metros, o nível das águas já apresenta perigo iminente para as embarcações. Com faixa de tolerância situada entre seis e oito metros, o que já implica em situação de alerta, o rio Madeira apresentou como menor média nos últimos cinco anos a faixa de 3,3 metros. Mas, durante a grande seca do ano passado, despencou para o nível de apenas 1,64 metro.

Nas regiões dos altos rios amazônicos, a preocupação também já é uma constante em relação a uma nova grande seca na região. O pesquisador Evandro Ferreira, da Universidade Federal do Acre, por exemplo, já alertou que a comparação dos dados de precipitação pluviométrica acumulada em 2006 e 2005 indica a possibilidade de ocorrer uma seca severa na região Leste do estado acreano. “Se as chuvas na região não voltarem aos níveis normais nos próximos meses, a seca deverá ser mais grave do que a verificada em 2005, o ano da grande seca amazônica”, dizia o pesquisador em maio passado.

Em outubro do ano passado, no auge da seca no Amazonas, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) detectaram a mortandade de peixes-bois e botos nas regiões de Coari e Tefé. Esses animais tornaram-se presas fáceis nas malhadeiras (redes) dos ribeirinhos porque as águas do rio Amazonas estavam muito baixas. As populações de varias regiões do Amazonas tiveram que ser socorridas com água e comida distribuídas pela Defesa Civil.

Em plena seca do ano passado, ativistas da organização não-governamental Greenpeace visitaram e documentaram algumas das áreas mais afetadas no Amazonas. “A visão é dramática: grandes rios, lagos e várzeas atingiram seu nível mais baixo em muitas décadas e, agora, não passam de pequenos córregos de lama. Lugares onde comunitários costumavam usar barcos e canoas como único meio de transporte, agora podem simplesmente passar andando ou de bicicleta. Grandes barcos estão presos no barro seco, que costumava ser o leito dos rios. Milhares de peixes mortos atraem urubus, transformando a paisagem em um grande cemitério a céu aberto. Cidades e comunidades completamente dependentes dos rios estão totalmente isoladas, padecendo com a falta de remédios, combustível, água potável e comida”, relataram os ativistas.

Em depoimento ao Greenpeace, Paulo Artaxo, cientista da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o desmatamento e as queimadas afetam a formação de nuvens de chuvas, o que diminui a precipitação sobre a Amazônia. Metereologistas do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) argumentaram à organização que as altas temperaturas no Oceano Atlântico, que levaram à formação de fortes furacões como o Katrina e Rita, podem estar mudando a circulação do ar sobre a Amazônia, inibindo a formação de chuvas.

“Estima-se que, em algumas décadas, este efeito perverso do desmatamento pode ser irreversível e a floresta amazônica pode desaparecer. Se a Amazônia perder mais de 40% da sua cobertura florestal, nós atingiremos um ponto onde será impossível reverter o processo de savanização da maior floresta tropical do mundo”, alertou Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e presidente do Programa Internacional Geosfera Biosfera (IGBP).

Fonte: Clima.org.br/24 Horas News 2006-07-07 - 06:07:29