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25 maio 2007

COMO A BOLÍVIA SE TORNOU COMPETITIVA E O BRASIL FICOU PARA TRÁS NO MERCADO MUNDIAL DE CASTANHA?

Evandro Ferreira

Esse é o criativo título de um paper escrito por Salo Vinocur Coslovsky, estudante do programa de Doutorado do Department of Urban Studies and Planning do Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos Estados Unidos.

O autor inicia o resumo do trabalho com uma pergunta difícil de ser respondida: "Como um lugar que não dispõe de capital físico, humano e social, e que não tem qualquer chance de obter apoio governamental, desenvolve um indústria de processamento com capacidade de concorrer no mercado global?"

Para responder esta questão o autor viajou por três meses no Brasil e na Bolívia e comparou o setor de castanha de ambos os paises para tentar entender como, nos últimos 20 anos, firmas da "miserável" Bolívia conseguiram superar suas congêneres brasileiras não apenas em volume de exportação, mas também em qualidade e valor agregado.

Segundo o autor, as cinco explicações clássicas usadas pela maioria dos autores para explicar esta mudança (acesso privilegiado à matéria-prima, baixos custos de financiamento, baixo custo da mão-de-obra, estabilidade macroeconômica e saída voluntária do Brasil de alguns mercados) são inacuradas ou insuficientes para explicar todas as variações encontradas.

Em lugar disso, ele sugere que a chave para o sucesso da indústria boliviana foi uma entidade criada por estas empresas em resposta à crise do mercado mundial da castanha causada pela proibição de importações, especialmente nos EUA e Europa, de lotes contaminados por aflatoxinas. Graças a esta instituição, que agrega as empresas exportadoras de castanha, incentiva a cooperação, evita a concorrência predatória e cuida para que todos os carregamento exportados tenham o mínimo de qualidade (incluindo os testes de aflatoxina), cerca de 20 empresas bolivianas superaram as desconfianças mútuas e juntas suprem o mercado com o produto que ele está querendo.

Na outra extremidade, as poucas empresas brasileiras, todas pertencentes a uma mesma família, não conseguiram se convencer sobre as vantagens da cooperação e foram obrigadas a se retirar dos mercados mais exigentes, sendo obrigadas a vender apenas para aqueles nichos de mercado que se encontram em declínio. Estes dois padrões opostos de cooperação entre as empresas explica como as firmas bolivianas tomaram o lugar das empresas brasileiras no mercado mundial de castanha.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra (em inglês).

NOTA DO BLOG: Com a ajuda de Raimundo Cláudio, cuja dissertação também abordou o tema, oferecemos aos leitores uma versão mais completa e em português do artigo apresentado neste post. Observem que o mesmo está em sua versão preliminar.

Clique aqui para acessar o mesmo.

4 Comments:

Blogger Marcos Pontes said...

Não duvido nem critico a pesquisa, mas a madeira, principalmente no Pará, tem dado muito mais adinheiro que a castanha. Com os madeireiros capixabas que migraram do sul da Bahia, depois de acabarem com a Mata Atlântica, nem as castanheiras, protegidas por lei, escapam de suas motosserras. E quem compra essa madeira em grande escala, são justamente os países que antes compravam a castanha.

25/05/2007, 20:06  
Blogger Evandro Ferreira said...

Marcos,
Em 2005 fiz uma longa viagem pelo interior do Pará, incluindo a região de Marabá, Redenção, algumas cidades menores (Conceição do Araguia e outras) e pude ver com os proprios olhos a devastação que esse pessoal causou nos castanhais nativos. Comentei em meu relatorio de viagem que "fiquei realmente impressionado com o cuidado que eles tiveram em desmatar tudo, sem deixar nada em pé".
Quanto ao fato do Brasil ter ficado para trás, talvez tenha mais a ver com a contaminação da aflatoxina do que qualquer outra coisa. Cada teste custa cerca de U$300. Um teste por lote exportado. Não estou acusando, mas acho que os Mutran devem ser os brasileiros típicos: "achavam que iam levar vantagem enganando o comprador com testes mal feitos ou falta de testes". Foram obrigados a se retirar do mercado, abrindo as portas para os Bolivianos.
Evandro Ferreira

26/05/2007, 16:46  
Anonymous Anônimo said...

Marcos,
Não custa lembrar que, ao contrário da exploração da castanha, o dinheiro oriundo da venda da madeira só é obtido apenas uma vez, ou seja, mais floresta tem que ser devastada para se obter mais dinheiro. Obviamente insustentável.

04/06/2007, 20:39  
Anonymous Anônimo said...

Caro Evandro,
Num texto para discussão, publicado em 2005, em português - 01 (um) ano antes desse working paper (2006) que vc menciona -, o autor faz inferências muito mais significativas do que no texto mais recente. Acho que as explicações no working paper ficaram muito reducionistas. Podemos conversar mais sobre o assunto, pois tratei (rapidamente) no estudo de caso de minha tese de doutoramento.
Segue a referência do primeiro texto para discussão:

COSLOVSKY, Salo Vinocur. Determinantes de Sucesso na Indústria da Castanha - como a Bolívia desenvolveu uma indústria competitiva enquanto o Brasil ficou para trás. 01 Jun 2005. (Texto para Discussão)
Obs.: coloquei o endereço para download do trabalho, mas não foi aceito nos comentários. Posso passar por e-mail para vc.

04/06/2007, 20:51  

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