EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA QUEM?
É hora de a própria esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. Fora disso, a palavra progressista torna-se um vocábulo vazio.
Gilson Caroni Filho (*)
Agência Carta Maior
No dia 05 de junho, data dedicada ao meio ambiente, petições vazias brotam em discursos e páginas da imprensa. Alguns analistas econômicos tecem comentários genéricos sobre a preservação da natureza e exaltam indústrias que estariam mudando padrões produtivos para se adaptar à uma nova consciência ecológica. Como nosso socialismo não é de extração fabiana, gostaríamos de, no curto espaço desse artigo, relembrar obviedades.
A apresentação dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixou claro que, para atenuar os efeitos do aquecimento global, é preciso repensar com urgência os modelos econômicos das sociedades pós-industriais. Como não acreditamos em conversões éticas do capital, descartamos, desde já, os grandes conglomerados desse processo.
Políticas de desenvolvimento devem ser redefinidas a partir de novas matrizes. Talvez estejamos em momento ímpar. Ou reduzimos as taxas de lucro de um capitalismo predatório ou, em médio prazo, corremos o risco de auto-extinção da espécie humana. Não há meio termo quando lidamos,como destacou Marx, com um modo de produção que só se desenvolve destruindo as forças produtivas.
O Farol de Alexandria das grandes corporações não atentou para uma fina ironia da história. Se o capitalismo neoliberal aumentou a assimetria entre nações ricas e pobres, a dinâmica desencadeada no meio ambiente globalizou nosso destino.
A desertificação, por exemplo, deve ter como resultado imediato, um fluxo migratório sem precedentes na história da humanidade. Como alerta o secretário geral da Convenção para o Combate à Desertificação da ONU, Hama Arba Diallo, o que nos aguarda é um crescimento desordenado das grandes cidades dos países da periferia. Aumento da violência, do desemprego, crescimento de favelas e perda de identidade das vítimas da seca. Um incremento de anomia de conseqüências imprevisíveis. Algo que, não se iludam os senhores de Davos, chegará a seus portos seguros como tsunamis de flagelo e terror.
Quando desastres,como furacôes, processos erosivos e estiagens, deixam de ser fenômenos naturais, é o momento de intervir politicamente na conjugação de ações humanas que os intensificam. Dar à questão ambiental um recorte anticapitalita é o diferencial indispensável para um projeto contra-hegemônico.
É hora de a própria esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. Fora disso, a palavra progressista torna-se um vocábulo vazio. Um atributo discutível para quem luta no campo democrático-popular.
A educação ambiental precisa ir além de pensar o desenvolvimento sustentável como algo que compreende o atendimento das necessidades presentes, sem comprometer as gerações futuras. Requer uma reflexão macropolítica que nega os alicerces do padrão civilizatório contemporâneo. È práxis a ser reinventada. Um processo constituinte permanente que repõe a dimensão ontológica como elemento fundador de uma nova ordem.
É necessário um agir pedagógico que resgate o homem total. Aquele que tem plena consciência de que se sua natureza é histórica, sua história é natural. Não cabe, portanto, nos marcos de uma lógica contábil que nega sua própria humanidade. A ecologia, talvez, seja a última chance de nos construirmos como indivíduos de fato e cidadãos planetários. Uma luta que não contempla contemporizações. Precisa de militância radical e dialética afiada. Envolve relações onde o homem, ao transformar seu objeto, é por ele transformado.
Por isso, mais que nunca, é preciso resgatar a tradição marxista e denunciar a lógica capitalista de produção, a acumulação de capital, das riquezas e das mercadorias como um fim em si.
Resgatar um trecho importantíssimo do Capital, onde Marx destaca o caráter destrutivo da agricultura em uma sociedade regida pela lei do valor:
“Assim, ela destrói não só a saúde física do operário urbano, mas também a vida espiritual do trabalhador rural. Cada passo dado em direção da agricultura capitalista, cada semente de fertilidade a curto prazo, constitui, ao mesmo tempo, um agravamento na ruína das fontes duradouras de tal fertilidade. Quanto mais um país – por exemplo, os Estados Unidos da América do Norte – desenvolve-se na base da grande indústria, tanto mais rapidamente realiza-se esse processo de destruição. Portanto, a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social ao mesmo tempo que esgota as duas fontes de onde brota a riqueza: a terra e o trabalhador”
Não deixar isso claro aos jovens é um pouco mais que tergiversar: é um crime.
(*) Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia.
Gilson Caroni Filho (*)
Agência Carta Maior
No dia 05 de junho, data dedicada ao meio ambiente, petições vazias brotam em discursos e páginas da imprensa. Alguns analistas econômicos tecem comentários genéricos sobre a preservação da natureza e exaltam indústrias que estariam mudando padrões produtivos para se adaptar à uma nova consciência ecológica. Como nosso socialismo não é de extração fabiana, gostaríamos de, no curto espaço desse artigo, relembrar obviedades.
A apresentação dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixou claro que, para atenuar os efeitos do aquecimento global, é preciso repensar com urgência os modelos econômicos das sociedades pós-industriais. Como não acreditamos em conversões éticas do capital, descartamos, desde já, os grandes conglomerados desse processo.
Políticas de desenvolvimento devem ser redefinidas a partir de novas matrizes. Talvez estejamos em momento ímpar. Ou reduzimos as taxas de lucro de um capitalismo predatório ou, em médio prazo, corremos o risco de auto-extinção da espécie humana. Não há meio termo quando lidamos,como destacou Marx, com um modo de produção que só se desenvolve destruindo as forças produtivas.
O Farol de Alexandria das grandes corporações não atentou para uma fina ironia da história. Se o capitalismo neoliberal aumentou a assimetria entre nações ricas e pobres, a dinâmica desencadeada no meio ambiente globalizou nosso destino.
A desertificação, por exemplo, deve ter como resultado imediato, um fluxo migratório sem precedentes na história da humanidade. Como alerta o secretário geral da Convenção para o Combate à Desertificação da ONU, Hama Arba Diallo, o que nos aguarda é um crescimento desordenado das grandes cidades dos países da periferia. Aumento da violência, do desemprego, crescimento de favelas e perda de identidade das vítimas da seca. Um incremento de anomia de conseqüências imprevisíveis. Algo que, não se iludam os senhores de Davos, chegará a seus portos seguros como tsunamis de flagelo e terror.
Quando desastres,como furacôes, processos erosivos e estiagens, deixam de ser fenômenos naturais, é o momento de intervir politicamente na conjugação de ações humanas que os intensificam. Dar à questão ambiental um recorte anticapitalita é o diferencial indispensável para um projeto contra-hegemônico.
É hora de a própria esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. Fora disso, a palavra progressista torna-se um vocábulo vazio. Um atributo discutível para quem luta no campo democrático-popular.
A educação ambiental precisa ir além de pensar o desenvolvimento sustentável como algo que compreende o atendimento das necessidades presentes, sem comprometer as gerações futuras. Requer uma reflexão macropolítica que nega os alicerces do padrão civilizatório contemporâneo. È práxis a ser reinventada. Um processo constituinte permanente que repõe a dimensão ontológica como elemento fundador de uma nova ordem.
É necessário um agir pedagógico que resgate o homem total. Aquele que tem plena consciência de que se sua natureza é histórica, sua história é natural. Não cabe, portanto, nos marcos de uma lógica contábil que nega sua própria humanidade. A ecologia, talvez, seja a última chance de nos construirmos como indivíduos de fato e cidadãos planetários. Uma luta que não contempla contemporizações. Precisa de militância radical e dialética afiada. Envolve relações onde o homem, ao transformar seu objeto, é por ele transformado.
Por isso, mais que nunca, é preciso resgatar a tradição marxista e denunciar a lógica capitalista de produção, a acumulação de capital, das riquezas e das mercadorias como um fim em si.
Resgatar um trecho importantíssimo do Capital, onde Marx destaca o caráter destrutivo da agricultura em uma sociedade regida pela lei do valor:
“Assim, ela destrói não só a saúde física do operário urbano, mas também a vida espiritual do trabalhador rural. Cada passo dado em direção da agricultura capitalista, cada semente de fertilidade a curto prazo, constitui, ao mesmo tempo, um agravamento na ruína das fontes duradouras de tal fertilidade. Quanto mais um país – por exemplo, os Estados Unidos da América do Norte – desenvolve-se na base da grande indústria, tanto mais rapidamente realiza-se esse processo de destruição. Portanto, a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social ao mesmo tempo que esgota as duas fontes de onde brota a riqueza: a terra e o trabalhador”
Não deixar isso claro aos jovens é um pouco mais que tergiversar: é um crime.
(*) Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia.
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