HANSENÍASE
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz identificaram um gene indicativo da suscetibilidade humana à hanseníase. A identificação de um marcador genético que sinaliza a maior propensão de uma pessoa ao desenvolvimento da doença pode ser o ponto de partida para a elaboração de estratégias vacinais mais específicas contra a doença, que apesar do tratamento simples e eficiente registrou em 2005 aproximadamente 295 mil novos casos em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os resultados promissores do estudo, publicados na revista Nature Genetics, são fruto do aprofundamento da iniciativa de um grupo de pesquisadores da Universidade McGill, do Canadá, que em 2003 fez análises moleculares de familiares de portadores da hanseníase, que pelo contato com os pacientes poderiam estar sujeitos a adoecer. Foram identificados segmentos de DNA encontrados exclusivamente nas amostras de sangue de parentes infectados – isto é, que desenvolveram a hanseníase. Esta primeira etapa consistiu em uma espécie de “pescaria molecular” que analisou o DNA de familiares de pacientes e identificou regiões do genoma humano que se repetem com freqüência em familiares que desenvolvem a hanseníase.
“A partir disso, fizemos, tanto em nosso laboratório quanto no Canadá, um estudo de refinamento, através de um ‘zoom molecular’ da região do genoma humano destacada pelo estudo canadense, com o objetivo de transformar o que era uma região gênica em um único cromossomo. Focamos e aumentamos a resolução da observação e o resultado final é o apontamento de um gene como marcador da suscetibilidade à hanseníase: a linfotoxina-α (LTα). Como os demais genes do DNA humano, a LTα possui dois alelos – A e G – que podem ser dominantes ou recessivos. É a dominância do alelo A que indica a propensão à hanseníase”, afirma o biólogo Milton Moraes, pesquisador do Laboratório de Hanseníase do IOC e coordenador da pesquisa no Instituto.
A LTα controla a ativação de células de defesa e é responsável pela regulação de resposta imune contra a hanseníase. Entender o funcionamento deste gene nos diferentes padrões imunológicos encontrados em seres humanos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção mais específicas, que levem em consideração as características genéticas de cada indivíduo – como a dominância ou recessividade dos alelos – e sejam portanto mais eficientes.
Para executar o estudo de epidemiologia genética que detectou a relação entre a dominância do alelo A da LTα e a ocorrência da hanseníase, os pesquisadores do IOC utilizaram a metodologia caso-controle para comparar análises de DNA de 400 pessoas saudáveis às de 400 portadores da doença. A leitura estatística dos dados revelou maior resistência à hanseníase por pessoas que apresentam dominância do alelo G da LTα, enquanto indivíduos que possuem dominância do alelo A mostraram-se vulneráveis ao desenvolvimento da infecção. A partir deste conhecimento será possível formular, por exemplo, estratégias diferenciadas de vacinação, de acordo com a dominância apresentada pelo indivíduo.
“A identificação de marcadores genéticos é uma ferramenta importante porque define os principais fatores imunológicos que regulam os processos de proteção do organismo a doenças infecciosas e pode por isso apontar novos alvos para a pesquisa de imunobiológicos e estratégias alternativas de vacinação. Nossa meta é aplicar a mesma técnica utilizada no estudo da hanseníase para investigar a suscetibilidade genética do homem a outras doenças infecciosas, como leishmaniose, dengue e tuberculose”, adianta Milton.
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