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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

06 janeiro 2014

ALTINO, O MACHADO

Isaac Melo*

Um dia, o escritor acreano Océlio de Medeiros, em A Represa, disse: “A oposição, no Acre, é como Deus: – não existisse era preciso inventá-la.” Agora, eu, com minha sabença de filósofo de seringal, afirmo: Se não existisse o Altino Machado, no Acre, era preciso criá-lo.

Quando vejo os webjornais acreanos, tenho a impressão de que o Estado anda a mil maravilhas. E oxalá estivesse assim. Então vou ao blog do Altino para ver como o Acre está de fato. É uma bofetada. Mas é melhor a bofetada que nos faz acordar para a realidade, do que os afagos da ilusão de quem, sendo gato, pinta-se leão.

Ninguém precisa concordar com o Altino. Nem comigo. Mas é preciso ouvi-lo. Ignorá-lo é reconhecer a própria fraqueza. Não é o dono da verdade, mas, sem dúvida, há muita verdade em seu trabalho. E, nisto, o governo deveria prestar atenção, e não taxá-lo como inimigo. Mas quem, seguindo os versos de Cecília Meireles, pode ser verdadeiro sem que desagrade?

É fácil publicar apenas o que agrada, o que é cômodo, o que convém; encher páginas com encômios; alardear-se de seus feitos, parecendo galinha quando bota ovo. Aliás, pinto é que se impressiona com a própria titica que faz. Publicar, no entanto, o que se faz necessário é para poucos. Exige dedicação, esforço, estudo. Nisto, os fraldinhas da boa notícia, que engatinham pelo jornalismo acreano, podem encontrar, se quiserem, uma referência em Altino Machado.

Não exprimo a opinião do povo acreano. Porém, enquanto acreano, tenho orgulho de ter um jornalista à altura do Altino Machado. Sobretudo numa terra, sem grandes opções, em que facilmente se é corrompido ou anestesiado pelos favores governamentais. O que presenciamos no Acre atual é uma falta de caráter daqueles, que tendo a incumbência de ser o mais verdadeiro possível naquilo que fazem, maquiam a verdade com suas ideologias capengas e projetos pessoais aloprados.

A oposição no Acre é faz de conta. Ineficiente. Um bando de pombos arrulhando em torno do milho. O Altino Machado vem fazendo aquilo que a oposição há anos não consegue: uma voz sincera e límpida de contestação, sem amarras e rabo preso. Se há uma oposição, esta chama-se Altino. Uma oposição espontânea, política, certamente, porém, não uma oposição partidária nos moldes tradicionais ou daquela de quem não está participando do banquete e quer entrar. Mas daquela que tem em vista a construção do bem comum, que cada cidadão, independente da sigla a que milite, é chamado a participar.

Não somos ingênuos a tal ponto de tomar como verdade, pronta e acabada, tudo o que o Altino apresenta em seu blog: nem em artigos de seu próprio punho, nem de outros autores. Eu, mesmo, não publicaria jamais aqueles artigos nauseabundos do Márcio Bittar. Mas, pelo menos, nos oferece a possibilidade de um outro olhar, onde cada leitor assume a responsabilidade de mensurar aquilo que se lhe é apresentado.

Dirão, talvez, alguns de meus amigos que exagero. Exagero é gastar um bilhão e duzentos milhões numa estrada que a cada ano é preciso refazê-la. O povo acreano é tolo? Ou é eficiente a equipe de marketing governamental? Os dois não dá para aceitar. Muito menos continuar a assistir a tudo de camarote, ‘com uma boca escancarada de dente esperando a morte chegar’.

Assim, o Altino assemelha-se, por seu trabalho, àquelas pessoas, usando as palavras de Thomas Mann, com as quais não é fácil conviver, mas que jamais se podem abandonar. Pessoas, como ele, fazem um bem enorme às nossas sociedades ditas democráticas, ainda que muitas vezes assuma o papel indigesto de advogado do diabo. É preciso, porém, cada vez mais vozes que se levantem contra os carrapatos de paletó e cia. que devoram o sangue e a riqueza de nosso país e de nosso povo. No entanto, não é qualquer voz que serve. Pois em tudo que é assembleia, câmara ou prefeitura se fala de ética. Mas, é nesses lugares e nessas vozes, que menos a encontramos.

Por isso, presto, aqui, a minha singela homenagem ao jornalista acreano Altino Machado. Não sou neutro! Deixo claro minhas posições e minhas escolhas, ao preço do escárnio ou do erro, à permanecer no silêncio dos covardes, dos medrosos e dos oportunistas.

Como diz a profecia bíblica: “o machado já está posto à raiz das árvores; e toda árvore que não der bom fruto, será cortada”. Então Altino, Machado neles...

*Isaac Melo é editor do Blog Alma Acreana