22 setembro 2015
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
Antropoceno
é o termo utilizado para batizar uma nova época geológica cuja existência
deriva das transformações que o homem tem promovido no planeta. Embora ainda
não tenha sido incorporado na ‘Escala de Tempo Geológico’ do planeta, cuja manutenção
está sob a responsabilidade da Comissão Internacional de Estratigrafia da União
Internacional de Ciências Geológicas, poucos duvidam que isso seja feito em
breve e raros são os que se opõem ao batismo da 'era geológica do homem' como Antropoceno.
O
que parece não ser consenso é a determinação da data de seu início.
Havíamos
informado em outro artigo que para alguns cientistas
essa data situava-se entre o final do século XIX e os anos 50. A data mais
antiga coincide com o início da revolução industrial, que promoveu um aumento
significativo na quantidade de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa
na atmosfera do planeta. A data mais recente relaciona-se com a intensificação
dos testes nucleares atmosféricos que produziram assinaturas isotópicas e de estruturas
geológicas indiscutíveis.
Algumas
opiniões sugerem que o Antropoceno teve início com a disseminação da
agricultura extensiva, cerca de 8 mil anos atrás, que resultou em desmatamentos
em diferentes regiões do planeta e provocou um aumento de CO2 na atmosfera. Outras acreditam que o Antropoceno teve início em meados do século XX com a
aceleração do crescimento populacional no planeta que elevou a níveis
insustentáveis o consumo de recursos naturais.
Um
artigo publicado em março passado na respeitada revista científica Nature adicionou novos e bem embasados
elementos à discussão. Os autores do estudo, os pesquisadores ingleses Simon
Lewis e Mark Maslin, oferecem duas datas alternativas para o início do
Antropoceno: 1610 ou 1964.
Para
a primeira data o argumento que utilizam é uma queda de 7 ppm (partes por milhão) nos níveis de CO2
atmosférico que, segundo eles, foi
resultado da aniquilação de aproximadamente 50 milhões de habitantes nativos das
Américas por doenças e guerras após a chegada de Colombo. A eliminação desse
grandioso contingente humano esvaziou extensas áreas agrícolas que, desprovidas
dos agricultores, foram ocupadas por florestas que extraíram – na medida em que
cresciam – o CO2 atmosférico até provocar a queda verificada em 1610.
Não
se pode deixar de citar que pelo menos 28 milhões de africanos escravos foram
trazidos para as Américas e o impacto da retirada desse contingente populacional da África também deve ter contribuído para a queda dos níveis de
CO2 atmosférico de modo similar ao que aconteceu nas Américas.
A
queda nos níveis de CO2 foi tão intensa que deu início à chamada ‘Pequena Era
Glacial’ ocorrida entre os anos de 1650 e 1850. Nesse
período não existia mar aberto em torno da Islândia, os Vikings abandonaram a
Groenlândia, a Finlândia perdeu cerca de um terço da sua população e as geleiras
nos Alpes se expandiram, cobrindo aldeias e matando milhares de pessoas. O planeta
só voltou a esquentar depois do início da Revolução Industrial, a partir de
1850.
Ao
propor 1610 como o marco zero do Antropoceno, os autores do estudo argumentam
ainda que foi nessa época que o colonialismo, o comércio global e o desejo de
riqueza e lucros começaram a causar pressão intensiva sobre o meio ambiente e os recursos naturais do planeta. A redistribuição global de plantas e animais ocorrida nesse
mesmo período foi um evento que viabilizou o incremento na produção de
proteína animal, cereais e outros alimentos cultivados, e permitiu uma aceleração no incremento da populacional no planeta.
A
outra data alternativa, 1964, se refere ao pico nas medições de Carbono-14
presente na atmosfera em decorrência das numerosas explosões atômicas
promovidas entre 1945 e 1963, quando foram banidas. As explosões
resultaram no acúmulo de Carbono-14 em depósitos estratigráficos por todo o
planeta e a medição do seu acúmulo permite determinar com a precisão de um ano, o pico da ocorrência
desse elemento na atmosfera.
Essa
precisão, que está ausente na maioria das outras propostas colocadas como
início do Antropoceno, é de grande valia tendo em vista que a escala
estratigráfica internacional (ou escala temporal geológica) requer pontos de
separação entre as eras, períodos e épocas geológicas. Esses pontos, também
conhecidos como limites estratigráficos, são indispensáveis para que a Comissão
Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas
possa aceitar a inclusão do Antropoceno na Tabela Cronoestratigráfica
Internacional.
Os
autores do artigo publicado na Nature
encerram seus argumentos com uma proposição interessante: se o Antropoceno for
aceito, que ele seja inserido diretamente após a época do Pleistoceno,
substituindo por completo o Holoceno que, na tabela cronoestratigráfica,
passaria a ser apenas um estágio final do Pleistoceno. Na visão deles o Homo sapiens é uma espécie surgida no
Pleistoceno e a criação do Holoceno pelos geologistas
do século XIV foi justificada, entre outros argumentos, pela ideia de que a distinção entre o Pleistoceno e o Holoceno se
devia em parte à presença e influência dos humanos.
21 setembro 2015
RAÇÃO COM ERVA-MATE MELHORA QUALIDADE DA CARNE BOVINA
Com
informações de Reinaldo José Lopes da Agência FAPESP
Misturar
uma pequena quantidade de extrato de erva-mate à ração do gado de corte pode
ser suficiente para produzir uma carne com mais benefícios à saúde, mais
agradável ao paladar e com maior prazo de validade. Além do efeito positivo do
mate sobre o rebanho bovino, a equipe verificou benefícios semelhantes na
alimentação do frango de corte, descobriu maneiras mais eficientes e saudáveis
de produzir carne curada (como o presunto tipo parma ou a carne-seca).
“Conseguimos
reunir de forma muito interessante uma equipe multidisciplinar que nunca tinha
trabalhado junta, incluindo químicos, microbiologistas, agrônomos, engenheiros de
alimentos e farmacêuticos, fazendo experiências que ainda não tinham sido
tentadas no Brasil”, disse Daniel Rodrigues Cardoso, professor do IQSC-USP. “Hoje,
se alguém quiser saber como determinada ração afeta o perfil metabólico da
carne, conseguimos responder sem dificuldade a essa pergunta graças ao
projeto”, disse.
Macia
e sem estresse
De
acordo com os pesquisadores, há uma série de indícios sobre os benefícios à
saúde humana que podem estar ligados ao consumo do mate. É possível que a erva
facilite o controle do peso e modere processos oxidativos e inflamatórios, por
exemplo.
Os
efeitos do consumo do mate foram estudados em um plantel de cerca de 50 cabeças
de gado, que recebiam um extrato da erva em proporções de 0,25% a 1,5% do total
de sua ração. Não houve mudanças no crescimento e na quantidade de carne obtida
a partir de cada animal. Por outro lado, os pesquisadores verificaram, em
primeiro lugar, que a carne se tornou mais macia e mais elogiada por
consumidores, em teste sensorial cego feito com cem pessoas. “O desempenho foi
melhor inclusive nos testes de força de cisalhamento [feitos por um aparelho
que verifica a textura da carne]”, disse Renata Tieko Nassu, da Embrapa
Pecuária Sudeste.
A
análise das diferentes moléculas presentes na carne mostrou ainda um aumento
significativo do ácido linoleico conjugado (CLA) nos bovinos que receberam o
suplemento de mate. Essa substância, explica Cardoso, tem papel anti-inflamatório
e pode também auxiliar na diminuição do nível de colesterol de quem a consome.
De quebra, atua como antioxidante – ou seja, reduz a formação de moléculas
altamente reativas no organismo, que podem causar danos às células. Isso não só
é bom para a saúde como também contribui significativamente para aumentar o
tempo de prateleira da carne.
Tudo
indica que esse efeito benéfico é mediado pela atuação do consumo de mate sobre
as bactérias do sistema digestivo dos bois, favorecendo a multiplicação de certos
microrganismos e alterando a maneira como o gado absorve nutrientes e,
consequentemente, afeta a qualidade da carne. Além disso, os pesquisadores
também observaram uma aparente redução do estresse e melhora no bem estar
animal, que ajuda a melhorar a qualidade da carne.
Para
aplicar a suplementação em larga escala nos rebanhos do país é preciso é achar
uma maneira econômica de oferecê-la aos animais, segundo explicou Rymer Ramiz
Tullio, da Embrapa Pecuária Sudeste. Nos experimentos, foi usado um extrato seguindo
padrões da indústria farmacêutica, o que encarece o produto. “É preciso
verificar se a administração direta das folhas de erva-mate tem o mesmo efeito
ou então usar o resíduo descartado na produção do extrato, o que também seria
bem mais barato”, disse Cardoso.
Os
resultados desse projeto derivam de uma colaboração entre pesquisadores
brasileiros e dinamarqueses que durou três anos e contou com o apoio da FAPESP
e do Innovation Fundation Denmark. Além da USP e da Universidade de Copenhague,
participaram do projeto a Embrapa e duas empresas, a Centroflora (fornecedora
dos extratos de erva-mate) e a Novozymes (que forneceu enzimas usadas em
diversos experimentos), além de pesquisadores de outras instituições. O
investimento nacional na pesquisa ficou em cerca R$ 1,4 milhão, com
contrapartida idêntica dos financiadores dinamarqueses.
20 setembro 2015
QUEDA NO DESMATAMENTO BENEFICIA SAÚDE NAS CIDADES
Estudo
publicado na revista Nature Geosciences mostra que a forte redução na taxa de
desmatamento na amazônia entre 2003 e 2014 diminuiu a emissão de poluentes
decorrente das queimadas e melhorou a qualidade do ar em grandes áreas da
América do Sul. O trabalho mostra que a queda no desmatamento beneficia a saúde
da população em vastas áreas, inclusive em regiões distantes da floresta, pois
correntes de ar levam os poluentes emitidos nas queimadas para áreas como o
Sudeste brasileiro.
Por
meio do cruzamento de dados sobre redução do desmatamento e emissões de
poluentes, estima-se que até 1.700 mortes foram evitadas por ano na América do
Sul. A pesquisa teve a participação do físico Paulo Artaxo, do Instituto de
Física (IF) da USP e de pesquisadores do MIT (Estados Unidos), e das
Universidades de Leeds e Manchester (Reino Unido).
A
cada ano, milhares de quilômetros quadrados de florestas são derrubados para
preparação de novas terras para a agricultura e pecuária na Amazônia. A fumaça
emitida a partir de grandes incêndios causa altos níveis de poluentes atmosféricos
tais como material particulado, ozônio, monóxido de carbono, óxidos de
nitrogênio e outros. Esses poluentes têm importantes efeitos negativos na saúde
humana. A fumaça é tão forte e tão extensa por grandes áreas da América do Sul
que é facilmente detectada por satélites. Na pesquisa, a equipe de
pesquisadores usou dados de satélites e medidas em solo para examinar a
quantidade de fumaça na atmosfera.
A
área total da floresta amazônica é de aproximadamente 5 milhões de quilômetros
quadrados (km2). De acordo com as informações fornecidas pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Brasil em 2003-2004 desmatou 27.000
km2 de florestas. Em 2013-2014, a área desmatada foi de cerca de 5.000 km2.
“Esta forte redução na taxa de desmatamento fez com que as emissões de gases de
efeito estufa diminuíssem cerca de 70% no período”, aponta Artaxo. “A emissão
de poluentes tais como material particulado, monóxido de carbono, óxidos de
nitrogênio e outros também foi muito expressiva, o que fez com que a redução da
exposição a poluentes atmosféricos tenha reduzido a mortalidade na América do
Sul”.
De
acordo com o físico, os poluentes são transportados na atmosfera por longas
distâncias. “As correntes de ar que trazem umidade da amazônia para a região
Sudeste também trazem os poluentes emitidos pelas queimadas”, relata. “Isso faz
com que uma pessoa que está longe da região amazônica, mas na região onde este
transporte atmosférico ocorre sofra com aumento da carga atmosférica de
poluentes. Estes poluentes tem forte efeito na mortalidade pelos efeitos na
saúde”.
Queda
dos níveis de poluentes
A
pesquisa demonstra que em anos com altas taxas de desmatamento, a atmosfera é
muito mais poluída se comparada a anos com baixo desmatamento. Com a forte
queda, os níveis de poluentes associados também diminuíram. De acordo com
Artaxo, as observações de satélites foram combinadas com modelos atmosféricos
de circulação global, mostrando que a concentração do particulado fino na
região Sudeste do Brasil decresceu em cerca de 30% durante a estação seca
(entre os meses de agosto e outubro), como resultado da redução do desmatamento
entre 2003 e 2014.
A
queda dos níveis de poluentes, por sua vez, foi então combinada com índices de
mortalidade associadas à exposição de material particulado fino. “O estudo
levou em conta doenças cardiovasculares e respiratórias, que respondem por mais
de 90% dos efeitos da exposição à poluição”, explica Artaxo. “A população
estudada refere-se a adultos de mais de 30 anos, pois os valores de exposição
de crianças são diferentes dos adultos e os dados de exposição para
particulados em crianças são mais esparsos”. Os resultados apontam que cerca de
400 a 1.700 mortes por ano foram evitadas na América do Sul como decorrência da
queda do desmatamento na Amazônia.
A
pesquisa revela um novo benefício na redução do desmatamento, pois a qualidade
do ar em regiões distantes da amazônia melhorou significativamente e grande
número de mortes adicionais foram evitadas pela redução da exposição a
poluentes atmosféricos. “A forte redução do desmatamento, até chegarmos ao
desmatamento zero traz benefícios extras que vão favorecer em muito não só o
meio ambiente amazônico e global, mas também a saúde da população”, ressalta o
físico. “Precisamos continuar o esforço de proteção da floresta amazônica, pois
isso também salva vidas de brasileiros e auxilia na redução das mudanças
climáticas globais”.
O
artigo Air quality and human health improvements from reductions indeforestation-related fires in Brazil foi publicado na edição online da revista
Nature Geosciences em 16 de setembro. A pesquisa foi realizada pelo Programa de
Grande Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia (LBA), do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (INPA), e financiada pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
Fonte:
Agência USP de Notícias
Foto:
Cecília Bastos
14 setembro 2015
A VERGONHOSA “BOLSA TOGA”
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
O
jornal Folha de S. Paulo de domingo (13/09) informou que o Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) iniciou no dia 08/09 o pagamento do auxílio-educação
para magistrados e servidores. O auxílio, aprovado pela
Assembleia Legislativa em maio passado e batizado de Bolsa Toga pelos críticos, será distribuído entre os filhos de magistrados e servidores
do TJ-RJ com idade entre 8 e 24 anos. Os agraciados receberão mensalmente R$ 2.860,41 para pagar despesas escolares.
Segundo
balanço preliminar divulgado na imprensa, dos 16 mil funcionários do
TJ-RJ, 7.696 terão direito ao benefício. Entre os magistrados, estima-se em cerca de 860 o
número de beneficiários. O impacto no orçamento em 2016 foi estimado em R$ 142,5 milhões. Em 2015 ele será menor porque abrange apenas alguns
meses do ano.
O
projeto de criação da Bolsa Toga, idealizado pelo TJ-RJ em 2014, foi criticado até
por membros do judiciário carioca. Ciro Darlan, respeitado magistrado daquela
corte, contestou a concessão do benefício antes de sua aprovação,
alegando, entre outras razões, o fato de o mesmo ser custeado integralmente pela
população usuária dos serviços do judiciário.
Para
Darlan, a população, que já suporta uma elevada carga tributária, não tem
nenhuma obrigação de custear a educação dos filhos dos magistrados e dos
servidores do Tribunal. Ele também alegou que os beneficiários são
filhos de servidores públicos muito bem remunerados e que as taxas e custas
judiciais não se destinam a custear benefícios pessoais de magistrados e
servidores.
Como
represália, Darlan foi exonerado do cargo de coordenador da Comissão Judiciária
de Articulação das Varas da Infância e Juventude e Idoso e da Comissão Estadual
Judiciária de Adoção Internacional pelo presidente do TJ-RJ, Luiz Fernando de
Carvalho, que alegou “incompatibilidade com a orientação, pensamento e
filosofia de trabalho da administração”.
Todos
conhecem a morosidade de nossa justiça e com certeza ouviram mais de uma vez presidentes
de Tribunais de Justiça anunciar que pouco podem fazer para melhorar
a prestação jurisdicional por que falta verba para contratar novos juízes,
servidores e melhorar a estrutura do judiciário.
Com a aprovação de benefícios como a Bolsa Toga, conhecidos como penduricalhos criados para driblar o teto salarial dos magistrados que, em teoria, não pode ultrapassar o percebido pelos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), é fácil deduzir porque as verbas para o judiciário nunca são suficientes. Recentemente foi aprovado o ‘auxílio-moradia’, pago indistintamente aos magistrados, inclusive aqueles que possuem casa própria. Além de indecoroso, esse benefício é claramente desnecessário considerando o nível salarial dos magistrados brasileiros.
Com a aprovação de benefícios como a Bolsa Toga, conhecidos como penduricalhos criados para driblar o teto salarial dos magistrados que, em teoria, não pode ultrapassar o percebido pelos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), é fácil deduzir porque as verbas para o judiciário nunca são suficientes. Recentemente foi aprovado o ‘auxílio-moradia’, pago indistintamente aos magistrados, inclusive aqueles que possuem casa própria. Além de indecoroso, esse benefício é claramente desnecessário considerando o nível salarial dos magistrados brasileiros.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, foi instado a contestar a concessão do auxílio-educação aos magistrados do TJ-RJ porque os salário e demais vantagens da magistratura são regidos pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman),
que não prevê este tipo de benefício. A concessão do auxílio-educação também fere os artigos 37 e 93 da
Constituição Federal, que estabelecem que a administração pública deve obedecer,
entre outros, ao princípio da legalidade e que apenas uma lei complementar de
iniciativa do STF pode dispor sobre a Loman.
Dentre
as justificativas elencadas pelo TJ-RJ para criar a Bolsa Toga, foi citado o artigo 227 da Constituição que afirma ser “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação...” Este artigo, entretanto, se aplica a todas as classes sociais indistintamente. Se você
leitor não tem como pagar escola particular para o seu filho, a alternativa
oferecida pelo Estado é a escola pública e não um auxílio-educação para
garantir que seu filho frequente escolas particulares.
E
para nós, contribuintes, que tipo de auxílio os legisladores poderiam oferecer
frente a essa vergonhosa apropriação dos recursos que contribuímos para termos
em troca serviços públicos eficientes e céleres?
A
melhor sugestão foi dada pela jornalista brasileira radicada em
Estocolmo, Claudia Wallin, que diante “de mais um ato estrambólico de auto-ajuda
praticado pelo guardiões da Justiça” sugeriu que faria sentido “conceder um
auxílio-fígado aos contribuintes, que, além de pagar a conta dos caudalosos
privilégios políticos, ainda bancam a fatura dos benefícios e mordomias
oferecidos aos representantes do poder que têm a responsabilidade de proteger
os direitos do cidadão”.
03 setembro 2015
PERDEU BRASILEIRO, PERDEU!
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
A
intensa campanha da chamada 'grande imprensa' e de alguns políticos para encerrar precocemente o mandato da presidente Dilma Roussef só conseguiu, até
o momento, difundir a notícia de que isso acontecerá brevemente.
Embora tenham anunciado repetidas vezes que a queda era iminente,
como uma miragem no deserto a ilusão não se concretiza porque é
insustentável juridicamente frente aos argumentos apresentados.
Entretanto,
no script imperfeito seguido pela banda podre da grande imprensa e pelos políticos que não aceitaram a derrota imposta pelas urnas, tudo foi e continua a
ser feito para que o 'enterro' do atual governo se concretize o mais rapidamente possível.
A
imprensa engajada nessa operação, apelidada jocosamente de PIG, que em inglês
significa porco (e lembra lama...) e em português ‘partido da imprensa
golpista’, fez a sua parte conquistando os corações e mentes da maioria da
população, manipulando-a e levando-a as ruas para defender seu ponto de vista.
Fez
isso desencadeando, imediatamente após a eleição, uma campanha de desconstrução
moral e política de um partido e de alguns de seus dirigentes nunca
vista na história da democracia brasileira.
Embora
eficaz, a campanha na imprensa e as mobilizações populares de apoio nas ruas não
impactaram ou obtiveram os resultados esperados pelos integrantes do PIG e os
políticos que as patrocinam, que, como em uma luta de MMA, pretendem ‘finalizar’ o atual governo.
Mais
eficaz do que manobras políticas e campanhas midiáticas para ganhar ‘no grito’
disputas que em democracias saudáveis se decidem no voto, tem sido a ação da
justiça para corrigir desvios morais de políticos e empresários que, em
conluiou e desde sempre, assaltam cofres públicos administrados por todos os
partidos, incluindo os que abrigam políticos ao estilo ‘Chapolin Colorado’ que agora posam de salvadores da pátria.
Reconforta-me hoje testemunhar que políticos importantes, outrora líderes morais e
históricos, foram e continuam a ser varridos da cena cotidiana pela justiça.
Parafraseando um ex-presidente digo sem equívoco que ‘nunca na história do nosso país’ se investigou, julgou, puniu e se mandou para a cadeia tantos
malfeitores da administração pública.
Mais recentemente, o foco tem sido a punição a empresários rapineiros dos orçamentos públicos. E não são
pequenos ou médios empresários, muito menos funcionários subalternos que no
passado eram condenados no lugar dos reais criminosos. São presidentes e diretores de grandes empresas, algumas das maiores do país.
Para
isso acontecer não foram necessários protestos nas ruas para cobrar que a justiça faça o que
deve por obrigação. Isso mostra que o Brasil mudou para melhor nesses últimos
dez anos. Apesar de ainda imperfeita, a justiça tem cumprido o papel que se
espera dela.
Não
pretendo discutir aqui as razões de essa mesma justiça ter sido tão inerte no
passado porque chegarei à inevitável conclusão de que ela não era justa, livre
e, baseado em fatos históricos, agia por interesse de alguns donos do poder
político e financeiro.
Felizmente o momento atual está demonstrando que uma justiça isenta, célere e implacável no
cumprimento de sua função é importante para a resolução dos problemas do país.
Se
os ‘Chapolin Colorado’ da política brasileira e os integrantes do PIG tivessem,
desde o início de sua campanha, apelado para a justiça, talvez tivessem hoje a
legitimidade e os resultados que buscam.
Cegos e frustrados como se encontram, continuarão a apostar no ‘quanto pior melhor’, em detrimento da sociedade que dizem representar e prestar serviços.
Parece exagero, mas se alguns deles pudessem – arrogantes e movidos unicamente por interesses particulares, econômicos e partidários – diriam em alto e bom som, como só os bandidos tem a coragem de dizer: “perdeu brasileiro, perdeu!”
Cegos e frustrados como se encontram, continuarão a apostar no ‘quanto pior melhor’, em detrimento da sociedade que dizem representar e prestar serviços.
Parece exagero, mas se alguns deles pudessem – arrogantes e movidos unicamente por interesses particulares, econômicos e partidários – diriam em alto e bom som, como só os bandidos tem a coragem de dizer: “perdeu brasileiro, perdeu!”
01 setembro 2015
ABELHAS AFRICANIZADAS ‘NÃO INVADIRAM’ A FLORESTA AMAZÔNICA
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Muitos de vocês já assistiram filmes sensacionalistas
de Hollywood no qual abelhas ‘assassinas’ matam os humanos com quem contracenam.
As tais abelhas são invariavelmente de origem africana e tem uma característica
em particular que despertou o interesse da indústria do cinema: o comportamento
extremamente agressivo.
Introduzidas acidentalmente no Brasil
em 1957, as abelhas africanas (Apis
mellifera scutellata) cruzaram livremente com espécies europeias (Apis mellifera ligustica, Apis mellifera mellifera e Apis mellifera carniça) produzindo
populações poli híbridas denominadas africanizadas, com predominância de
características das abelhas africanas: alta capacidade de adaptação a ambientes
inóspitos, maior resistência a doenças e patógenos, ciclo de vida mais curto e alta
capacidade de formar novos enxames, alta produtividade, maior capacidade de
defesa e agressividade.
A agressividade dessas abelhas, em
contraste com a mansidão das espécies europeias, se traduz em ataques a pessoas
e animais que se aproximam de suas colmeias e podem, dependendo da intensidade
do ataque, resultar em mortes. Isso aconteceu com muita frequência nos
primeiros anos após a introdução das abelhas africanas em razão do
desconhecimento, por parte da população e dos apicultores, dos riscos
representados pelas abelhas africanizadas.
A fama de assassinas vem desse período
e o pavor que se estabeleceu na época derivou de notícias sensacionalistas
difundidas nas redes de TV, jornais e revistas do Brasil e do exterior. O
interesse dos estúdios de Hollywood por essas abelhas, no entanto, só se deu na
década de 70 quando ficou claro que as ‘abelhas assassinas’ estavam migrando em
direção à América do Norte e sua chegada ao território americano era apenas
questão de tempo, tendo se concretizado no ano de 1990. Este fato passou a impressão de que as
abelhas africanizadas estão tomando de conta das Américas. A velocidade de sua
migração em direção ao continente norte americano foi de 400-500 km/ano
corrobora essa impressão, pois equivale à distância entre Rio Branco e
Tarauacá, por exemplo.
Apesar dos problemas relacionados com a
agressividade excessiva, a introdução das abelhas africanas foi benéfica para a
apicultura brasileira que antes da introdução produzia entre 3 e 5 mil
toneladas de mel/ano e algumas décadas depois passou a produzir mais de 40 mil
toneladas/ano.
Entretanto, apesar da reconhecida rusticidade e capacidade
adaptativa, uma situação tem intrigado os pesquisadores: as abelhas
africanizadas dificilmente são encontradas no interior das extensas áreas
florestais primárias da região Amazônica.
Para entender o ‘fracasso’ da
colonização dessas abelhas nas florestas primárias da região, os pesquisadores Marcio
Luiz de Oliveira e Jorge Alcântara Cunha, do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA), testaram a capacidade dessas abelhas de penetrar florestas contínuas
ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, medir a distância que adentravam
no interior da floresta. Para isso foram espalhadas iscas no interior da
floresta na Amazônia central e em áreas desmatadas das proximidades. O
resultado mostrou que nenhuma abelha africanizada visitou as iscas no interior
da floresta, somente nas áreas desmatadas.
Os motivos de as abelhas africanizadas
não terem visitado o interior da floresta ainda não estão claros, mas algumas
hipóteses são sugeridas: (a) Parece existir uma baixa densidade populacional de
abelhas africanizadas na Amazônia; (b) Em regiões de trópico úmido colônias dessas
abelhas são muito debilitadas por fungos, doenças, ataques de formigas e vespas
ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos; (c) O excesso de chuvas faz
com que o aporte de néctar seja menor que o consumo, pois as operárias não forrageiam
durante a chuva e após a mesma só encontram flores lavadas, resultando na diminuição
do alimento disponível para as crias, que ficam mal nutridas e sujeitas a
doenças; (d) É mais fácil obter recursos em ambientes abertos, onde o forrageio
pode ser feito nos estratos mais baixos (±15 m), ante os 30 m das copas das
árvores no interior da floresta.
Os autores concluíram o seguinte: (a) Apesar
da floresta exuberante e rica em floradas, a apicultura em grande escala na Amazônia
parece ser inviável nas áreas mais densamente vegetadas, que, conforme mostrou
o estudo, não são visitadas pelas abelhas africanizadas; (b) Se o
desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas, uma alternativa
seria a utilização das áreas degradadas existentes; (c) A ausência de abelhas africanas
visitando as iscas na floresta indica a inexistência de competição por recursos
com as abelhas nativas (melíponas) no interior da floresta.
Para saber mais: Marcio Luiz de
Oliveira e Jorge Alcântra Cunha. 2005. Abelhas
africanizadas Apis mellifera scutellata
Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta
amazônica? Acta Amazonica, 35(3): 389-394.
Imagem: abelha africana (Apis mellifera scutellata).
Fonte: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2012/04/principais-racas-de-abelhas.html
Fonte: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2012/04/principais-racas-de-abelhas.html