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12 março 2019

TAXA DE SOBREVIVÊNCIA AO CÂNCER DE MAMA NO ACRE É SIMILAR A DE PAÍSES DESENVOLVIDOS


Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O câncer de mama é o mais frequente tipo de câncer entre as mulheres e atualmente se constitui em um grave problema de saúde pública no mundo, com taxas médias de incidência e mortalidade estimadas em 43,3 e 12,9 casos a cada 100 mil mulheres, respectivamente.

Ele não é uma doença associada com a pobreza e dentre os 25 países com maiores taxas de ocorrência da doença no mundo, 18 estão localizados na Europa. Bélgica, Luxemburgo, Holanda e França apresentaram em 2018 taxas de incidência que variaram entre 99,1 e 113,2 casos a cada 100 mil mulheres.

Embora sua taxa de mortalidade seja maior em países desenvolvidos do que nos em desenvolvimento (74,1/100 mil x 31,3/100 mil), a taxa de mortalidade é quase similar nestes dois grupos de países: 14,9/100 mil x 11,5/100 mil.

 Desde os anos 90 a taxa de mortalidade desta doença tem caído nos Estados Unidos, Australásia e em vários países europeus. Essa queda tem sido associada aos efeitos combinados da realização frequente de exames preventivos (mamografias) e melhorias no tratamento e na eficiência dos sistemas de saúde. O percentual de sobrevida de 5 anos após o diagnóstico em países desenvolvidos como a Espanha é superior a 80%, enquanto em países em desenvolvimento como a Índia ele é de 77%. Nas regiões sul e sudeste do Brasil, consideradas as mais desenvolvidas do país, ele varia de 75% no Rio de Janeiro a 87,7% em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

No Acre, estudo de pesquisadores da UNBe da Fundação Osvaldo Cruz publicado em 2012 (com dados referentes aos anos de 2007 e 2009) indicou uma taxa de incidência de 41,5 casos de câncer de mama a cada 100 mil mulheres com idade entre 25 e 69 anos. Em 2011 os mesmos pesquisadores tinham publicado um artigo no qual abordaram a tendência demortalidade por câncer no Acre entre os anos de 1980 e 2006 e mostraram que a taxa de mortalidade do câncer de mama tinha aumentado de 2,9 óbitos/100 mil mulheres em 1993 para 6,4/100 mil em 2004.

Em 2007 o Instituto Nacional do Câncer, ligado ao Ministério da Saúde, criou no Acre uma Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), cujo objetivo principal é oferecer assistência geral, especializada e integral aos pacientes com câncer, atuando no diagnóstico, estadiamento e tratamento dos pacientes. A expectativa era de que com a instalação da Unacon, o diagnóstico e o tratamento de pessoas afetadas pelo câncer no Acre pudesse ser aperfeiçoado, resultando na diminuição das taxas de mortalidade da doença e aumento da sobrevida dos afetados. 

Foi nesse contexto que a docente da Uninorte-Acre, Ruth Helena Pimenta Fujimoto, desenvolveu sua dissertação de mestrado no programa de Saúde Coletiva da UFAC entre 2012 e 2014: estimar a sobrevida hospitalar e os fatores preditivos envolvidos em mulheres afetadas pelo câncer de mama que foram tratadas na unidade da Unacon em Rio Branco, Acre, entre os dias 1º. de junho de 2007 e 31 de maio de 2012. Os resultados de seu estudo foram publicados neste mês de janeiro (Ciênc. Saúde Colet. v.24, n.1, p.261-273, 2019) e indicam que a instalação da Unacon no Acre está dando resultados positivos.

O estudo revelou que a taxa de sobrevida de 5 anos após o diagnóstico da doença nas pacientes tratados na Unacon foi de 87,3%, um valor superior ao observado em países europeus como a Espanha (≥ 80%) e mais alto do que aqueles observados em países em desenvolvimento como a Índia (77%) e Porto Rico (71,2%). O percentual de sobrevivência das pacientes tratadas na Unacon foi similar ao observado em Santa Maria-RS (87,7%) e mais elevado do que os registrados em Belo Horizonte-MG (78,5%), Florianópolis-SC (76,2%) e Barretos-SP (74,8%).

Um dado que surpreendeu os autores do estudo foi o fato de que 58,4% dos casos diagnosticados durante o período pesquisado ter sido classificado nos estádios iniciais da doença (0, I e II). Este alto percentual de diagnósticos nos estádios iniciais da doença é similar ao observado em países desenvolvidos e nas regiões mais desenvolvidas do Brasil. Vale ressaltar que o diagnóstico do câncer de mama em seu estádio inicial é crucial para a sobrevivência das mulheres afetadas. Um estudo realizado com 252 pacientes em Santa Maria-RS verificou que as taxas de sobrevida de 5 anos após a sua detecção foram de 97% para os casos classificados no estádio I, 87% no estádio II, 73% no estádio III e 57% para aqueles classificados no estágio IV.

Um resultado surpreendeu os autores do estudo. A alta incidência da doença em mulheres com menos de 40 anos: 14,3%. Alta incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos é incomum e geralmente representa entre 5 e 7% dos casos diagnosticados. Eles também observaram que mulheres com menos de 40 anos diagnosticadas na Unacon apresentaram um baixa taxa de sobrevida nas faixas de 2 e 5 anos após a detecção da doença. As que foram diagnosticadas no estádio III da doença apresentaram baixa taxa de sobrevida depois de 2 anos de detecção da doença. Uma das possíveis razões para esse resultado é o fato de que mulheres com menos de 40 anos geralmente apresentam tumores mais difíceis de serem diagnosticados com precisão porque suas glândulas mamárias são mais adensadas, o que pode levar a um diagnóstico tardio e, consequentemente, maiores taxas de mortalidade. Além disso, é comum que programas gratuitos de mamografia preventiva não incluam mulheres com menos de 40 anos.

Atualmente a cirurgia é aceita como um tratamento padrão para pacientes em estádios iniciais do câncer de mama, sendo geralmente seguida por quimioterapia e/ou radioterapia para controlar sua reincidência. Dentre as pacientes tratadas na Unacon, a combinação de cirurgia + radioterapia resultou em melhores taxas de sobrevida nas faixas de 1, 2 e 5 anos após o diagnóstico da doença, quando comparado com casos em que a cirurgia foi seguida ou não por quimioterapia ou outra combinação de tratamento.

Na conclusão do estudo, os autores afirmam que o diagnóstico de um estádio tardio do câncer de mama aumentou em mais de 3 vezes o risco de morte após 2 anos de sua detecção. Da mesma forma, o diagnóstico de tumores maiores que 2,5 cm, mesmo com margem positiva para a realização da cirurgia para a sua remoção, receptor de progesterona negativo e qualquer outro tratamento que não fosse cirurgia combinada com radioterapia, afetaram a sobrevida específica de 5 anos das portadoras das doença e aumentaram o risco de morte em dois anos.

Para saber mais: “Survival rates ofbreast cancer and predictive factors: a hospital-based study from westernAmazon area in Brazil”, de autoria de Ruth Helena Pimenta Fujimoto (Uninorte-Ac), Rosalina Jorge Koifman (Friocruz-RJ) e Ilce Ferreira da Silva (Friocruz-RJ), publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva, v.24, n.1, p.261-273, janeiro de 2019.