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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

31 março 2009

O CUSTO DA VIOLÊNCIA PARA O SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO

Custos da violência para o sistema de saúde brasileiro pode ser quatro vezes maior do que se imaginava, de acordo com nova metodologia proposta por pesquisadores do Ipea e IBGE

Impacto subestimado

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Ao propor uma nova metodologia para estimar os impactos econômicos da violência para o sistema público de saúde, um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que os custos para tratamento de agressões e acidentes de transporte podem ser quatro vezes maior do que se imaginava.

Diferentemente da análise tradicional, que considera apenas os custos com internações, a pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), levou em conta as estimativas sobre a demanda por atendimento ambulatorial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Utilizando informações do Sistema Único de Saúde (SUS), dos orçamentos estaduais e municipais e estimativas do Pnad, os pesquisadores calcularam que o tratamento de vítimas por acidentes de transportes teria custado ao setor público R$ 453 milhões em 2004, de acordo com dados do ano. O custo do tratamento de agressões somaria R$ 119 milhões.

De acordo com uma das autoras, a economista Rute Imanishi, pesquisadora do Ipea, esses valores são cerca de quatro vezes maiores do que aqueles encontrados em trabalhos que computaram apenas os custos com internações.

Ela explica que ainda é um grande desafio para qualquer pesquisador avaliar os custos da violência para o SUS, devido à carência de informações abrangentes e sistemáticas sobre o tema. Os únicos dados disponíveis sobre os custos do sistema público de saúde têm base nas autorizações para internação hospitalar (AIH).

“O problema é que esses dados consideram apenas um componente do custo, pois uma parcela dos atendimentos não se dá com internação, mas sim nos postos de saúde e nas emergências dos hospitais”, disse à Agência FAPESP.

Além de Rute, participaram do estudo Daniel Ricardo de Castro Cerqueira e Alexandre Xavier Ywata de Carvalho, pesquisadores do Ipea, e Waldir Jesus de Araújo Lobão, do IBGE.

Para o conjunto de atendimentos em postos de saúde e setores de emergência, não existem dados que remetam ao tipo de causa, segundo a pesquisadora. “Além disso, uma parcela dos gastos com a saúde vem dos orçamentos estaduais e municipais, que complementam os recursos repassados pelo Ministério da Saúde. Por isso, o custo é subestimado”, afirmou.

O trabalho de pesquisa teve o objetivo de propor um método para estimar os custos do atendimento curativo às vítimas de acidentes e violências – excluindo os gastos com prevenção – que utilizasse as bases de dados disponíveis sobre os gastos públicos com a saúde.

“Como não há informações das emergências e dos pontos de saúde por tipo de causa, que são os atendimentos em nível ‘ambulatorial do sistema’, é preciso utilizar algum tipo de estimativa dos atendimentos desse tipo. Em nosso estudo utilizamos os dados da Pnad sobre a demanda por atendimento ambulatorial”, disse.

Registro ambulatorial

Rute ressalta que a pesquisa se diferencia de outros métodos já utilizados, sobretudo por ter buscado aferir qual seria o montante de recursos, além dos despendidos diretamente com as internações hospitalares e o atendimento ambulatorial, necessário para “fechar” as contas públicas, ou seja, os gastos contabilizados pelos governos federal, estadual e municipal com a saúde.

“Uma parcela importante do atendimento se dá nos postos de saúde e nas emergências dos hospitais. Por outro lado, nosso estudo confirma os resultados de pesquisas anteriores, que o fato de a violência ser um problema de saúde pública é o que tem maior peso na mortalidade do que na morbidade”, destacou.

Devido à gravidade da violência, a maioria das pessoas não chega a ser atendida nos hospitais e, quando chega com vida, é atendida sobretudo nos pronto-socorros e nas emergências. “Então, o ponto mais sensível do sistema público no que diz respeito à violência se concentra mesmo nas emergências e pronto-socorros”, disse Rute.

A economista sugere que, para se contabilizar em números o impacto da violência no SUS, poderia haver um registro do atendimento ambulatorial, sobretudo nos pronto-socorros e emergências. “Isso serviria para avaliar os locais com ‘congestionamentos’ e também os que necessitam de maiores recursos para aprimorar o atendimento”, afirmou.

Para ler o artigo Os custos da violência para o sistema público de saúde no Brasil: informações disponíveis e possibilidades de estimação, de Rute Imanishi e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

A CRISE FINALMENTE SE REVELA NAS CONTAS DO GOVERNO

Déficit não é ocasional, mas sim uma tendência

Blog da Miriam Leitão
Globo.com

O déficit primário do governo em fevereiro foi duas vezes maior do que o consenso do mercado – apurado pela Bloomberg – havia indicado. O mercado apostava na média em R$ 500 milhões e foi de R$ 926 milhões.

Mas em todos os outros dados se vê que o governo está enfrentado a dura realidade da crise: a arrecadação está caindo, as despesas estão subindo, a renúncia fiscal de imposto está ficando mais pesada, o déficit da previdência crescendo.

Depois de anos de superávit primário o governo enfrenta um déficit que não é ocasional e sim uma tendência: daqui para diante a tendência é de que a arrecadação continua se deteriorando e as despesas tendem a aumentar.

O governo neste momento está cortando investimento dos Ministérios como acaba de fazer no Orçamento, mas ao mesmo tempo está numa armadilha: já prometeu aumento para os funcionários e se for cumprir o prometido aumentará mais ainda o gasto de custeio da máquina no meio de corte de investimento e queda de arrecadação.

MARCAS SUPERAM O PREÇO NA PREFERÊNCIA DE CONSUMIDORAS DE BAIXA RENDA

Na hora da compra de alguns produtos, o preço é o que menos importa para algumas donas de casa de famílias de baixa renda

Uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP revela que as mulheres cujas famílias têm ganho mensal de até 5 salários mínimos optam mesmo é pela marca em suas compras. Segundo a administradora de empresas Karen Perrotta Lopes de Almeida Prado, estas consumidoras levam em conta principalmente o “valor” que o produto representa para ela. “Ela adquire um achocolatado de marca para dar ao seu filho. Mas para fazer um bolo, pode ser que ela compre um outro de marca inferior”, descreve.

Entre janeiro e dezembro de 2008, Karen realizou um estudo sobre o consumo de marcas por famílias de baixa renda em dois bairros nas cidades de Santos e Guarujá, no litoral paulista. A pesquisadora define como “valor” desde as representações sociais que possam estar inseridas no produto ou até mesmo nutricionais, como no caso do achocolatado. “Mostrar aos vizinhos uma embalagem de sabão em pó da marca mais conhecida pode até significar uma certa ascensão social”, explica.

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Numa primeira fase a pesquisadora selecionou nove mães residentes numa favela da cidade de Santos que tinham filhos entre 2 e 9 anos. Num segundo momento, o estudo analisou o comportamento de moradoras de uma favela localizada no Guarujá. Em ambas as etapas, as entrevistadas responderam questionários sobre produtos específicos: achocolatado em pó; bebida láctea; biscoito recheado; cereal de milho açucarado; petit suisse e snacks (salgadinho de milho e batatinha frita ondulada). “No Guarujá ouvimos 50 mulheres para cada tipo de produto, ou seja, 350”, descreve. Além dos produtos em si, as mães também opinaram sobre aspectos como marca, preço e nutrição, e também sobre a embalagem, figuras, brindes e ilustrações, em outros.

Marca e risco

Karen observou que as consumidoras têm aversão ao consumo de marcas desconhecidas, principalmente por considerarem “um risco”. “Essas famílias gastam boa parte de sua renda com alimentação. Por isso as marcas chegam a representar segurança de um bom produto”, ressalta.

A opção pelas marcas em detrimento do preço, segundo Karen vem de encontro à teoria de Coimbatore Krishnarao Prahalad, ou C. K. Prahalad, como é conhecido o administrador indiano radicado nos EUA. “De acordo com o especialista, há uma riqueza na base da pirâmide. Para ele, se as empresas querem bons resultados, têm de elaborar estratégias de venda para os mercados emergentes”, descreve Karen.

Outra aversão detectada no estudo pelas consumidoras foi em relação à marca própria dos grandes supermercados em alguns produtos. Karen conta que essa estratégia existe desde a década de 1970. Contudo, boa parte dos consumidores acredita que isso passou a ocorrer somente a partir da década de 1990. “Quando a marca própria chegou ao Brasil havia o apelo do preço mais baixo”, conta. “Atualmente, a qualidade melhorou e vemos as marcas próprias não apenas em alimentos, mas em outras categorias de produtos. Até mesmo em materiais de construção”, lembra. Mesmo assim, as consumidoras ainda optam pelas marcas mais conhecidas, principalmente as que elas atribuem algum tipo de “valor”.

Estudiosa de estratégias de marketing desde seu mestrado realizado na PUC de São Paulo, Karen é co-autora de um livro sobre o tema, “Gestão de marcas no contexto brasileiro”. Em sua tese de doutorado A preferência da marca no processo de decisão de compra: um estudo exploratório no segmento de baixa renda, a pesquisadora foi orientada pelo professor Geraldo Toledo, da FEA/USP.

Mais informações: (11) 9192-4505, com Karen Perrotta Lopes de Almeida Prado; e-mail karen.perrotta{at}uol.com.br

30 março 2009

ESSES SÃO COMUNISTAS DE VERDADE!

Enquanto na Galícia espanhola os comunistas abraçam as causas populares e repelem as imposições do capital, como as mudanças no fuso horário, no Acre eles se colocam ao lado do capital por conveniência política de manda chuvas locais

A luta é o único caminho!

Esse é o lema que norteia o diário Primeira Linha, organização comunista da Galícia espanhola integrante do Movimento de Libertação Nacional Galego que luta pela superação da opressão nacional e social imposta pelo capitalismo espanhol sobre a Galícia, contribuindo para a edificação mundial da sociedade comunista.

E os comunistas do Primeira Linha não se deixam trair por conveniências políticas.

Vejam na matéria 'Estado espanhol impom-nos o seu fuso horário', que eles não ficam em cima do muro nem na questão do fuso horário. Deixam claro que são contra a imposição anual da mudança do fuso horário na Galícia - quiça o que fariam se a mudança fosse permanente como no Acre? -, imposta pelo interesse econômico do grande capital e que provoca uma desfasagem do horário solar que é próprio da região que inclui ainda a Irlanda, Portugal e as Ilhas Canárias.

Os comunistas espanhóis estão mesmo do lado das causas populares e não compactuam com as causas individuais de um ou outro político de grande expressão como ocorre na terra de Galvez na questão do fuso horário. Os 'vermelhos' espanhóis criticam abertamente a postura da classe dominante local, que se diz contra a imposições lingüísticas e a favor do reconhecimento de direitos coletivos, mas impõem a ditadura do horário em nome da unidade jurídico-política, em flagrante contraste com o critério objetivo que marca a hora solar própria da Galícia.

E um leitor e admirador local, comunista autêntico obviamente, comenta sobre a matéria do primeira linha:

"La medida del tiempo es necesaria para la planificación de todas las actividades sociales humanas, incluso para aquellas de carácter solidario y alternativo. Pero se trata de una realidad objetiva, científica, que debe de ser analizada como tal, objetivamente... para impedir que pueda ser manipulada por aquellos que desean imponer su visión subjetiva de la realidad, como una realidad objetiva y necesaria.
...
El Tiempo vá ligado en el hombre a los ciclos de los días y a las estaciones, sincronizado con el reloj biológico de nuestros ciclos de sueño.
...
El sufrimiento físico o moral, una presión insoportable, aísla a la víctima e impide que ésta pueda controlar su sensación del tiempo; entonces el tiempo se detiene y la mente se derrumba. La única posibilidad reside en llegar hasta las víctimas, hacerles ver que nosotros estamos a su lado, y romper el muro, físico o mental, que las aísla de la realidad y del tiempo..."

Quem dera tivéssemos comunistas assim no Acre!

No lugar disso, o texto inspirador acima deve deixar 'vermelho' de vergonha alguns comunistas acreanos que se dizem ao lado do povo e de suas causas. Oprimidos que são pela classe econômica e política dominante, não nos resta outra opção, mas tentar chegar até os comunistas acreanos e fazê-los ver que estamos ao lado deles. Precisamos ajudá-los a romper o muro físico e mental que os mantém isolados da realidade e do tempo acreanos.

CHARGE DO JORNAL 'A CRÍTICA'

29 março 2009

TIÃO, FLAVIANO, FUSO HORÁRIO E A ELEIÇÃO PARA GOVERNADOR EM 2010

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A mudança do fuso horário acreano patrocinada pelo Senador Tião Viana (PT), candidato certo da Frente Popular ao cargo de governador do Estado em 2010, é um tema que não vai lhe deixar em paz e poderá representar um desafio eleitoral significativo caso sua candidatura seja confirmada.

Conforme a entrevista do Deputado Federal Flaviano Melo (PMDB) ao jornalista Altino Machado, tudo indica que o referendo sobre o fuso horário vai mesmo acontecer simultaneamente com o pleito de 2010. Flaviano está confiante que o PMDB nacional dará todo o apoio na Câmara e no Senado para que o mesmo seja aprovado a tempo. Tião e o PT não parecem, no momento, fortes e influentes o suficiente para bloquear legislativamente o projeto do pemedebista acreano.

Caso o referendo venha a acontecer simultaneamente com a eleição de 2010, os eleitores acreanos julgarão Tião Viana duplamente e, em muitos casos, de forma contraditória. Por um lado terão de dizer se ele é a melhor opção para assumir o comando do governo local. De outro, terão de dizer se concordam ou não com o novo fuso horário imposto pelo Senador.

Como o tema não é 'favas contadas' e 'caso encerrado' para o Senador, causando sempre um debate acirrado quando é posto em discussão, existe um risco real da eleição de Tião ser comprometida pela dubiedade que representa o votar 'sim' para ele governar o Estado, e 'não' para que voltemos ao velho fuso horário.

Não sabemos qual percentual de eleitores votarão 'com raiva' a favor do retorno do fuso horário anterior, mas entre esses, mesmo que sejam eleitores da Frente Popular, poderá ser grande o número dos que se recusarão a escolher Tião para Governador. E isso faz sentido?

Claro que faz! Se ele foi até o fim com a mudança do fuso horário, dando ouvidos basicamente à sua assessoria e alguns políticos do seu círculo de apoio e deixando de lado o principal interessado - a população, o que pensar dele como governador?

Afirmamos isso com base nas recorrentes manifestações públicas de desgosto com a medida. Vejam que várias figuras históricas da Frente Popular e do PT já deixaram claro que a mudança não foi democrática e que causou transtornos desnecessários para a população.

Quero ver como a equipe de marketing contratada para fazer a sua campanha vai tratar o tema. Imagino chavões do tipo:

- Vote em Tião, e fique livre para decidir sobre o fuso horário!

- 100% Tião. O Acre em um novo tempo (digo horário)!


Vai ser complicado contemplar os dois temas contraditórios no 'mote' de sua campanha publicitária. E não vai dar para simplesmente ignorar o referendo caso ele aconteça simultaneamente com as eleições.

Se a oposição souber capitalizar o tema, vai colher muitos dividendos e colocar o Senador na defensiva explorando a dubiedade que é dizer sim e não simultaneamente para uma mesma pessoa. No campo político, os acreanos já deixaram claro que tudo se resolve na base do 'ou é oito ou oitenta'.

Se o comando da campanha de Tião tentar 'despolitizar' ou 'despartidarizar' o tema, corre o risco de soltar as rédeas da imprensa local, que já deu mostras, especialmente o jornal mais influente do Estado, A Gazeta, de que não concorda com o novo fuso horário. Isso sem citar um grande número de jornalistas que já deixaram, publicamente ou em off, sua desaprovação. Amordaçada, a imprensa é um cordeiro. Solta é um leão. O quarto poder.

Não sei não, mas acho que mesmo tendo apoiado publicamente a realização do referendo, Tião Viana não parece muito entusiasmado com o mesmo. Ele ainda não se pronunciou publicamente se apóia a iniciativa de Flaviano Melo. Para manter a palavra e mostrar que honra compromisso, acho que deveria fazer isso logo.

Posso estar cometendo injustiça, mas a lógica do jogo político diz que parte do grupo que apóia Tião Viana para governar o Acre a partir de 2011 deve estar articulando para que o projeto de referendo não aconteça simultaneamente com a eleição para governador. Vamos esperar para ver o desenrolar do tema, e, mais importante, a tramitação do projeto que vai permitir o referendo.

Se depender do Blog Ambiente Acreano, Flaviano Melo terá todo o espaço que necessitar para que os acreanos decidam de forma democrática se querem ou não o novo fuso horário.

De minha parte, já tomei a decisão e sempre que posso, falo alto e claro:

- Abaixo o novo fuso horário! Pela volta do 'velho' horário acreano. O velho, o autêntico, o original, o mais ajustado com a tradição e a natureza acreana!

28 março 2009

DANOS CEREBRAIS E O ABUSO DE ANABOLIZANTES

Danos cerebrais em roedores servem de alerta contra o abuso de anabolizantes

Por Flavia Natércia, ComCiência

Mais fortes, sem dúvida, mas também mais ansiosos, impulsivos e até agressivos, camundongos submetidos ao abuso de nandrolona (um anabolizante) produziram menos receptores de serotonina em diversas áreas do cérebro, sobretudo na amígdala e no córtex pré-frontal. Foi o que constatou o biólogo Guilherme Âmbar em sua dissertação de mestrado, recentemente defendida no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A serotonina é um dos neurotransmissores responsáveis pela comunicação entre os neurônios das áreas cerebrais ligadas às emoções. Nos animais, como em seres humanos, baixos níveis dessa substância se traduzem em depressão ou agressividade. E os receptores são moléculas nas quais mensageiros químicos como hormônios e neurotransmissores se ligam, transmitindo um sinal (estímulo ou inibição) para as células. No caso da serotonina, tudo indica que ela iniba neurônios de áreas associadas ao comportamento agressivo. Uma redução nos níveis de receptores produz efeito semelhante ao de baixos níveis do neurotransmissor: uma desinibição da agressividade.

Âmbar não mediu diretamente a quantidade de serotonina, e sim os níveis de RNA – intermediário na transformação da receita genética do DNA em proteína – ligados a esse neurotransmissor nos neurônios dos roedores. Assim como ocorre com os indivíduos que tomam anabolizantes (popularmente conhecidos como “bombas”), os animais mostraram ganho de massa magra do 16º ao 28º dia do experimento, no qual receberam injeções dessa substância,. O trabalho durou cerca de 2 anos e foi orientado pela pesquisadora Silvana Chiavegatto.

Segundo Chiavegatto, cessado o abuso do esteróide sintético, é muito provável que a transcrição de serotonina volte aos níveis normais devido à plasticidade (capacidade de se adaptar a diversas circunstâncias) do cérebro. “Pelo menos seria essa a minha hipótese para um indivíduo adulto; porém, em jovens adolescentes, não descartaria a hipótese de que essas alterações possam se tornar permanentes de alguma maneira. Precisamos testar, pondera Chiavegatto. “Nesse primeiro estudo fizemos a associação do que está ocorrendo no cérebro durante o uso de esteróides anabolizantes. Precisamos agora entender como ou através de quais mecanismos os esteróides induzem essas alterações”.

A possibilidade de reversão dos níveis do receptor de serotonina não torna menos graves os efeitos potenciais do abuso dos anabolizantes por seres humanos, sobretudo jovens. “Essas substâncias podem causar diversos males – efeitos que muitos conhecem, o que não os impede de recorrer às bombas”, afirma Solange Nappo, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além disso, pesquisadores norte-americanos encontraram indícios de danos duradouros em um estudo com hamsters sírios. Nesses roedores os hormônios sintéticos parecem ativar constitutivamente (permanentemente) neurônios de áreas cerebrais críticas para o controle da agressão. As pesquisas em roedores também sugerem que os hormônios esteróides sintéticos afetam os níveis de receptores dos neurotransmissores GABA e glutamato, e não somente da serotonina.

Expansão alarmante

Para conhecer a extensão do problema, Nappo incluiu perguntas sobre anabolizantes em 2 estudos quantitativos feitos por meio de pesquisa domiciliar para avaliar o uso de drogas pela população brasileira. Em 2001, Nappo encontrou 540 mil usuários das “bombas”; em 2005 eram 1,2 milhão. Segundo a pesquisadora, não são números comparáveis com os de outras drogas, mas não deixam de ser alarmantes, afirma Nappo. Isso porque, apesar de os hormônios não atuarem sobre o sistema nervoso, os usuários de anabolizantes desenvolvem dependência psicológica.

À última pesquisa quantitativa seguiu-se uma pesquisa qualitativa que proporcionou um conhecimento da cultura de uso: por que e como se tomam anabolizantes? Onde conseguem? Sabem que faz mal? “Aplicamos a eles os critérios usados para determinar se indivíduos abusam de drogas e os usuários se encaixam”, explica Nappo. Sabem que a bomba traz prejuízos físicos e continuam tomando; aumentam a quantidade a cada ciclo de uso; quando param, perdem massa, então voltam a usar; restringem o repertório de vida e abrem mão de outros prazeres em função do ganho de músculos; dizem ter controle sobre a situação. “Alguns disseram conhecer os efeitos, mas os minimizavam”, conta Nappo. E muitos desenvolveram agressividade. “O corpo forte dá confiança e poder tanto para gerar brigas quanto entrar em brigas. A companheira ou namorada tende a ser a primeira a sofrer com a mudança”, completa.

A pesquisadora observa que entre os usuários, as mulheres são menos frequentes – e muito menos propensas a falar. Para Nappo, isso se deve em grande medida ao fato de que os efeitos são mais complicadores: desenvolvem pêlos, voz grossa, os traços se modificam. Nas mulheres, a maioria desses efeitos não desaparece com a cessação do uso. Nos homens, pode se desenvolver ginecomastia e os “seios” têm de ser removidos por cirurgia. Para evitar tumores, muitos tomam junto com as bombas tamoxifeno, remédio usado para bloquear o estrógeno em mulheres. A pesquisa identificou três perfis de usuários: os jovens que querem ficar mais fortes; atletas que desejam incrementar suas performances e homens com 50 anos ou mais procurando reagir à perda de massa muscular. “O risco é maior para os jovens entre 18 e 25 anos, porque os atletas e os homens mais velhos tendem a ter limites”, alerta Nappo.

Síndrome de Adônis

Para esses jovens, vale a pena correr riscos se for para conseguir um corpo além daquele que o exercício pode proporcionar. Eles sofrem da síndrome de Adônis (deus da beleza): vêem defeitos onde não existem, tomam anabolizantes, suplementos alimentares, malham diversas vezes por dia. “Mas há um limite genético para o desenvolvimento de cada corpo. Usando o anabolizante, o jovem estimula o desenvolvimento de forma não-natural e acelerada”, explica Nappo. A pesquisadora do Cebrid lembra ainda que só há uma forma segura de usar esses hormônios: é a que consta na bula do medicamento e é prescrita pelo médico.

No entanto, os usuários que abusam costumam tomar doses de 10 a 100 vezes maiores que a indicação terapêutica. Resultado: param de crescer, porque o cérebro entende que atingiram a maturidade; ficam com as costas repletas de acne – muitos nunca tiram a camisa; a libido diminui e podem ficar impotentes ainda durante a juventude; desenvolvem ginecomastia e/ou tumores no fígado; manifestam uma doença chamada dismorfia corporal, vendo-se sempre franzinos mesmo quando já estão fortes.

Nas farmácias, há controle de venda dessas substâncias: uma cópia da receita fica retida com o farmacêutico. “Mas os meninos se abastacem num mercado negro que se estabelece nas academias”, diz Nappo com base nos depoimentos que coletou. Na opinião de Chiavegatto, não se pode confundir a prática de esportes como jiu-jitsu e vale tudo com os efeitos do uso de anabolizantes verificados na pesquisa de Âmbar. “Imagino que a grande maioria dos esportistas não utiliza esteróides anabolizantes, do mesmo modo como muitos indivíduos que abusam dos anabolizantes não praticam tais esportes”, diz.

SERÁ MESMO O LIXO O VILÃO DAS ENCHENTES?

Álvaro Rodrigues dos Santos*

[EcoDebate] Nestas últimas semanas, trazida por manifestações de autoridades públicas e privadas, e com intensa repercussão nas mídias todas, vem recrudescendo na sociedade paulista a tese que aponta o lixo urbano irregularmente lançado como o fator responsável maior por nossas enchentes.

É uma tese perigosa e errada que, ao espertamente jogar à população, por conseqüência de uma sua eventual falta de educação, a culpa pelas enchentes, desvia o foco das atenções, subtrai a importância das verdadeiras maiores causas e alivia a responsabilidade dos seguidos governos que não as atacaram devidamente.

Fundamentalmente as enchentes são explicadas pelo afluxo de um enorme volume de água em um tempo cada vez menor para as drenagens construídas (bueiros, galerias, canais…) e naturais (córregos, rios) que progressivamente já não são mais capazes de lhes dar a devida vazão.

Esse aumento do volume de água e a redução do tempo em que chega às drenagens são promovidos essencialmente pela impermeabilização do solo urbano e pela cultura de canalização e retificação de drenagens. Ou se ataca essa questão, através de medidas que recuperem ao máximo a capacidade de retenção e infiltração das águas de chuva (pequenos reservatórios domésticos e empresariais, calçadas, valetas e pátios drenantes, bosques florestados e arborização intensa, etc,), ou nunca nos livraremos do flagelo das enchentes. As obras de alargamento e aprofundamento das calhas de nossos rios principais são necessárias, mas a realidade mostra que são insuficientes e já se aproximam de seu limite de benefícios.

O lixo? Claro que o lixo é um fator complicante. Mas seus efeitos principais são para um tipo de enchente muito localizado, junto às proximidades de um bueiro ou em uma situação que exija o funcionamento de bombas de sucção, por exemplo. Vejam que nas cenas televisadas de enchentes é muito mais comum ver-se água jorrando dos bueiros e bocas de lobo do que sendo impedida de entrar. Essas águas que jorram são o retorno das águas para as quais as galerias e córregos não conseguem dar a devida vazão.

Por outro lado, é sabido que o intenso assoreamento (entulhamento) do sistema de drenagem (que impõe a necessidade das milionárias operações de desassoreamento) constitui hoje um importantíssimo fator de redução da capacidade de vazão dessas drenagens. Pois bem, do volume total do material de assoreamento 95% são constituídos por sedimentos provenientes dos processos erosivos nas frentes de expansão das cidades, e apenas 5% são constituídos por lixo urbano e entulho de construção civil.

Por outro lado, nem todo o lixo disperso nas drenagens da cidade é proveniente do ato deseducado de se lançá-lo irregularmente, há problemas ainda bem sérios de deficiências de recolhimento do lixo doméstico, especialmente em áreas habitacionais irregulares de baixíssima renda situadas em fundos de vale e áreas de risco.

Enfim, o sucesso de um programa de combate às enchentes exige, antes de mais nada, a compreensão exata de toda a dinâmica do fenômeno, assim como a corajosa decisão das autoridades públicas e privadas em assumir suas intrínsecas responsabilidades. O que não condiz com a comodidade de se jogar às costas da população a culpa pelos problemas.

* Geólogo, ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia, pesquisador IPT e autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Cubatão” e “Diálogos Geológicos”
[EcoDebate, 28/03/2009]

CÂNCER DE INTESTINO

Câncer de intestino é o terceiro mais frequente no mundo, mas população desconhece riscos

Lisiane Wandscheer
Agência Brasil

Brasília - O câncer de intestino é o terceiro mais frequente no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2008, aproximadamente 2,4 milhões de pessoas no mundo foram diagnosticadas com a doença. No Brasil, foram 27 mil.

Para o proctologista da Associação Brasileira de Prevenção ao Câncer de Intestino (Abrapreci), Guilherme Julião, apesar da grande incidência, a necessidade de prevenção ainda é pouco falada.

“Vemos campanhas anuais sobre o câncer de próstata e de mama, mas pouco falam sobre o câncer de intestino”, destacou o médico.

Com o objetivo de divulgar a necessidade de prevenção deste tipo de câncer, a Abrapreci realiza hoje (27), em diversas capitais nacionais, a campanha Laços de Esperança. A intenção é mobilizar a população contra a doença por meio da distribuição de materiais educativos.

De acordo com Julião, a prevenção é simples. Todas as pessoas acima dos 50 anos devem procurar um posto de saúde para fazer a pesquisa de sangue oculto nas fezes. O exame detecta quantidades mínimas de sangue presente nas amostras e que podem ser sintoma da doença, também conhecida como tumor de cólon ou reto.

O sangue pode ser proveniente de diversas doenças, uma delas é o pólipo, um tumor benigno no intestino que, se não for tratado, se transforma em câncer com o tempo. “A doença é assintomática, e pode levar dez anos para se manifestar. Não queremos descobrir o câncer, mas evitar que as pessoas adquiram”, afirma o médico.

O proctologista também orienta que pessoas jovens com predisposição genética, ou seja, que tiveram casos de câncer de intestino na família, devem procurar orientação médica para começar a prevenção mais cedo. “A preocupação varia conforme a idade com que o parente teve a doença. Se foi com 40 anos, a pessoa deve começar a prevenção por volta dos 30”, exemplifica.

Ana Alice de Carvalho, 42 anos, descobriu o câncer em 2000, mas como já estava em grau avançado, foi preciso recorrer, imediatamente, à cirurgia e depois à quimioterapia. Ela conta que alguns parentes ficaram preocupados, fizeram o exame e também tiveram que recorrer ao procedimento cirúrgico.

“As pessoas não devem deixar para depois o exame e dar tempo para que o pior aconteça. Meu sobrinho de 15 anos já faz o acompanhamento”, alerta.

Além de um rastreamento periódico do tumor, uma alimentação saudável e a prática de atividade física são fatores que contribuem para sua prevenção. A dieta deve conter frutas, verduras e cereais e evitar a ingestão de gorduras animais, o consumo de álcool e tabaco. Mais informações podem ser obtidas no site www.lacosdeesperanca.com.br.

27 março 2009

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS

Pesquisa adverte população para doenças transmitidas por alimentos

Informe Ensp

A carência de informações sobre higiene e segurança alimentar, destinadas aos segmentos populacionais mais vulneráveis às doenças transmitidas por alimentos (DTA), motivou o desenvolvimento de uma pesquisa coordenada pelo pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) William Waissmann. O estudo foi submetido a um edital do CNPq e teve como produtos a construção de uma página eletrônica e três vídeos educativos, a fim de despertar a população para a prevenção das DTA, particularmente no ambiente doméstico. As doenças transmitidas por alimentos (DTA) representam importante problema de Saúde Pública no mundo. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) indicam que metade dos casos de DTA no país ocorre no ambiente doméstico, resultante de falhas higiênicas na manipulação dos alimentos.

Dessa forma, a partir de um estudo epidemiológico feito com os portadores de HIV/Aids que estavam em tratamento nos 14 centros de saúde da rede pública do Rio de Janeiro, verificou-se que possuíam conhecimentos insuficientes na área de higiene e segurança alimentar. Os resultados apontaram que a maioria dos entrevistados (82,1%) não confere etiquetas, composição, data de validade e origem dos alimentos; metade dos participantes desconhece que alimentos sem alterações nas suas características sensoriais podem causar doenças e que produtos refrigerados devem ser selecionados ao final das compras; um terço não confere as condições dos ovos e 10% compram ou consomem carnes oriundas do comércio ambulante. Além disso, 71% dos entrevistados nunca foram orientados sobre o assunto em consultas com diferentes profissionais de saúde.

O site Cuidar dos Alimentos já está disponível no Portal Fiocruz e conta com um perfil de navegação diferenciado para os públicos infantil e adulto, abordando questões relacionadas a compra, preparo, armazenamento e conservação de alimentos no ambiente doméstico, com especificações para grupos especiais. Dois vídeos são direcionados aos públicos adolescente e adulto. No primeiro, apresenta-se a compra de alimentos em um supermercado, orientando o público de maneira correta à verificação das informações dos rótulos dos alimentos, aparência e métodos de conservação, além de critérios adequados para aquisição de alimentos. O segundo vídeo mostra os principais cuidados que devem ser adotados no preparo e conservação de alimentos e utensílios. O terceiro é voltado para o público infanto-juvenil e procura sensibilizar esse grupo por meio de um rap que trata da importância da higiene dos alimentos na prevenção das doenças.

De acordo com o coordenador da pesquisa, "a expectativa é de que os recursos educativos produzidos possam ser aplicados em diferentes ambientes, tais como: bibliotecas públicas, unidades de saúde, universidades, entidades e órgãos públicos, grupos da terceira idade e escolas, para a disseminação de conhecimentos básicos sobre práticas higiênico-sanitárias para promoção da saúde da população brasileira", informou Waissmann.

A pesquisa e seus produtos serão apresentados em 30 de março, às 14 horas, no auditório térreo da Ensp, e a equipe técnica do projeto é formada pelas pesquisadoras Alessandra Veggi, Cristiane Miranda da Silva, Ivone Costa Soares e Tatiana Pastorello. Ainda segundo o coordenador, "os avanços desse projeto representam uma importante contribuição para a saúde pública, possibilitando, assim, um aumento dos conhecimentos necessários à população, em especial aos grupos sob maior risco, sobre práticas de segurança alimentar na prevenção das doenças transmitidas por alimentos, já que essas se constituem num grave problema, inclusive no Brasil", finalizou. A pesquisa que deu origem aos produtos se chama Desenvolvimento de recursos educativos para um programa de educação e promoção da higiene e segurança alimentar para "populações especiais": crianças, idosos, gestantes e indivíduos imunocomprometidos.

PESQUISA COMPROVA O EFEITOS NOCIVOS DA FUMAÇA DAS QUEIMADAS

Resultados de pesquisas comprovam efeitos nocivos das queimadas à saúde humana

Informe Ensp

Avaliação dos efeitos das queimadas para a saúde humana na área do arco do desmatamento: a construção de indicadores para a gestão integrada de saúde e ambiente é o título do estudo que associa os efeitos nocivos da fumaça das queimadas à saúde humana. A população mato-grossense sofre todos os anos com a fumaça das queimadas durante o período de seca. Não é novidade para qualquer cidadão que, nessa época do ano, a saúde, principalmente de crianças e idosos, sofre com a má qualidade do ar. No entanto, conhecer a magnitude dos efeitos da poluição atmosférica dependia de um estudo interdisciplinar com metodologia apropriada. Segundo a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Sandra Hacon, coordenadora da componente Saúde no projeto da Rede Milênio/LBA, somente agora, com os resultados do estudo iniciado em 2006, é possível afirmar que as queimadas causam prejuízos à saúde, reduzindo a capacidade pulmonar de crianças e aumentando o número de consultas ambulatoriais e de internações hospitalares por doenças respiratórias.

Quando começou o trabalho e como foi feito o monitoramento?

Sandra: O projeto teve início em 2006. Durante o período de estudos foram monitorados poluentes atmosféricos liberados pelas queimadas, especialmente o material particulado fino (PM2,5) e o grosso (PM10). O material particulado fino emitido pelas queimadas é constituído por micropartículas menores que 2,5 micrômetros (milésima parte do milímetro), capazes de penetrar profundamente nos pulmões e atingir a corrente sanguínea.

A exposição humana às queimadas não necessariamente ocorre no local onde o foco da queima esta presente, normalmente afastada da área urbana. As altas temperaturas envolvidas na fase de chamas da combustão e a ocorrência de circulações de ar associadas às nuvens favorecem o movimento convectivo ascendente da massa de ar e podem ser responsáveis pela elevação dos poluentes gerados na queima de biomassa até a troposfera, onde podem ser transportados para regiões distantes das fontes emissoras.

Este transporte resulta em uma distribuição espacial de fumaça sobre uma extensa área, que vai influenciar a exposição humana através dos produtos de queima de biomassa, da quantidade de poluentes emitidos, da distância da população em relação à intensidade da queimada, das condições climáticas da região, da frequência da queima. Essas são algumas das razões que justificam a necessidade do monitoramento nos locais com maior aglomerado humano.

Quais os locais em que o estudo foi feito?

Sandra: Foram definidos como áreas iniciais do estudo os municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, em Mato Grosso, em razão do estado ter sido o campeão em números de focos de queimadas na Amazônia nos últimos anos,conforme dados de monitoramento do Inpe, além desses municípios apresentarem as maiores taxas de internação e de mortalidade por doenças respiratórias em crianças menores de 5 anos de idade.

As queimadas na Amazônia ocorrem essencialmente numa área definida como arco do desmatamento, que vai do oeste do Maranhão ao leste e sul do Pará, norte do Tocantins, e em quase todos os estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, além do sul do Amazonas. Os níveis de poluição durante o período de seca, em que os focos de queimadas são mais frequentes e intensos, variam de ano para ano e de estado para estado. Ainda que os níveis de poluentes variem de um município para outro nesta região, sem dúvida esses costumam ser muito mais elevados que em áreas de grandes regiões metropolitanas do Brasil.

Quais os resultados encontrados?

Sandra: Em primeiro lugar, é necessário chamar a atenção que nossa pesquisa teve inicio em 2006. Logo, necessitamos de um período para aprofundar os resultados pesquisando outras faixas etárias, outras agravos à saúde, como as doenças cardiovasculares. O estudo de partos prematuros e absenteísmo escolar fazem parte de estudos de alunos de mestrado e doutorado das universidades integrantes do estudo. Ou seja, não podemos generalizar a situação de saúde verificada nos municípios estudados para toda a Amazônia.

Os principais resultados da pesquisa mostram uma redução da capacidade pulmonar de crianças e adolescentes em cerca de até 0,34 litros por minuto de ar expirado para cada aumento de 10 ?g/m3 de material particulado fino. O grupo de pesquisa verificou também um incremento percentual médio nas internações hospitalares e nas consultas em unidades básicas de saúde por doenças respiratórias de crianças e idosos de até 7% para incrementos de 10 ?g/m3 de material particulado fino.

Foram realizados inquéritos de asma em todos os escolares e adolescentes de 6 e 7 anos e 13 a 14 anos de idade do município de Alta Floresta e Tangará da Serra. Verificou-se prevalência de asma acima da média dos municípios brasileiros entre os escolares 21% em Alta Floresta e 26% em Tangará da Serra. Esses percentuais são também mais elevados do que os verificados em Cuiabá, Manaus e Belém em estudos prévios.

Foi muito difícil fazer o estudo numa região como a Amazônia?

Sandra: A região amazônica abriga um dos ecossistemas mais ricos e complexo do planeta, e estudar efeitos da poluição atmosférica na Amazônia implica em lidar com esta complexidade na área ambiental, social e cultural. A sazonalidade da região, como períodos de seca e chuvas intensas, dificulta o monitoramento continuo da qualidade do ar e consequentemente influencia na obtenção de dados dos poluentes. O mesmo acontece com os dados meteorológicos contínuos necessários para as análises. Outra dificuldade está no porte do município; as populações residentes em municípios de pequeno ou médio porte e a agregação dos habitantes de vários municípios nem sempre é adequada, porque os níveis de poluição são distintos de uma localidade para outra. Esta é uma das razões pela qual ainda não foram analisados os efeitos da exposição em relação à mortalidade. Mas, o grupo vem trabalhando para lidar com esta dificuldade.

Existe algo que possa ser feito para evitar um aumento do problema nessas populações?

Sandra: Considero que estamos caminhando, ainda que atrasados no percurso, para o gerenciamento socioambiental das queimadas, com estudos que já mostram os efeitos das queimadas no ecossistema amazônico e em alguns grupos da população, um reforço na fiscalização por parte do governo federal e políticas públicas voltadas para a preservação da floresta com alternativas socioambientais.

Com relação à legislação vigente, não há distinção pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) quanto ao tamanho da partícula ou considerações a respeito das características da exposição por queima de biomassa na Amazônia. Praticamente durante toda estação seca, nos municípios localizados na área do arco do desmatamento, os níveis de PM2,5 permanecem acima do limite estabelecido como níveis médios diários aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde, de 35g/m3.

Por outro lado, durante as chuvas os níveis de poluição atmosférica (PM2,5) não excedem 15g/m3 de média diária, e a composição do material particulado passa a ser exclusivamente biogênica, ou seja, formada por partículas emitidas pela própria floresta que incluem, grãos de pólen, fungos entre outros elementos. Em outras palavras, a população residente na área do arco do desmatamento tem sido exposta desde o nascimento a níveis elevados de material particulado, durante cerca de três a quatro meses a cada ano.

Quais os próximos passos do grupo?

Sandra: Nós tentaremos organizar um seminário na região Centro-Oeste ainda no primeiro semestre de 2009, com gestores, pesquisadores, estudantes, comunidades e o Ministério da Saúde, Meio ambiente e educação para apresentar e discutir os primeiros resultados dos estudos realizados no período de 2006 a 2008.

Temos que ressaltar que os resultados desta primeira etapa contribuíram para que a Fiocruz passasse a integrar a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede Clima), e liderasse a sub-rede temática Mudanças Climáticas e Saúde, sob a coordenação de Christovam Barcellos e minha. A rede reúne pesquisas sobre os diversos aspectos das mudanças climáticas e pretende oferecer subsídios aos gestores para a tomada de decisão. Além disso, a Fiocruz está representada no Instituto Nacional de Mudanças Climáticas, récem-aprovado como um dos Institutos Nacionais financiados pelo MCT, CNPq, FNDCT, Capeas, Fapemig, Faperj e Fapesp e coordenado pelo professor e pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e está previsto para iniciar em abril de 2009. O instituto tem como objetivo articular e incentivar pesquisas de inovação e desenvolvimento sobre as mudanças climáticas.

Qual a equipe integrante dessa pesquisa?

Sandra Hacon: O subprojeto Avaliação dos efeitos da queima de biomassa na região do arco do desmatamento à saúde humana tem sua coordenação na Escola Ensp, sendo um dos subprojetos integrantes da Rede do Instituto do Milênio (Milênio/LBA), coordenado pelo professor Paulo Artaxo, que também é o coordenador do Grupo de Estudos de Poluição do Ar (Gepa), do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). O subprojeto tem como principal fonte de financiamento o CNPq. Participam dessa rede de pesquisa várias instituições nacionais e internacionais num trabalho composto de dez subprojetos. A componente Saúde é um subprojeto interinstitucional e interdisciplinar coordenado por mim e integra varias instituições com pesquisadores da USP, Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Inpe/Cptec, da Fundação Ecológica Cristalino (FEC) e da Fiocruz.

Como componente de uma rede de pesquisa, o estudo integra dados produzidos por outros subprojetos da mesma rede, especialmente o monitoramento da qualidade do ar, com medidas de PM 2,5, ozônio, carbono grafítico, monóxido de carbono. Esses dados são gerados pela USP sob a coordenação do Artaxo. Os dados meteorológicos, os registros de focos de queimadas por meio de satélites e do produto de modelagem de poluentes atmosféricos são produzidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), sob a coordenação de Karla Longo e Alberto Setzer. Toda a infraestrutura de campo e a supervisão da pesquisa no Mato Grosso esta sob a coordenação da Unemat, por intermédio de Eliane Ignotti, e da Fundação Ecológica Cristalino, por Renato de Farias. Os dados gerados na pesquisa são analisados por vários integrantes do grupo, supervisionados pelos estatísticos Antonio Ponce de Leon e o Washington Junger. A componente Saúde também reúne um grande numero de bolsistas Pibic e TEC-TEC da Ensp e da Unemat.

Na Fiocruz, a pesquisa conta com a participação dos pesquisadores do Departamento de Endemias e do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Ensp, do Icict, por intermédio do Christovam Barcellos, além de alunos de mestrado e doutorado do Programa de Saúde Publica e Meio Ambiente da Escola. O chefe do Cesteh, Hermano Castro, e o técnico Eduardo Pinheiro, também do Cesteh, são os responsáveis pelos estudos de avaliação da capacidade pulmonar em crianças e adolescentes, com a supervisão de campo da pesquisadora Eliane Ignotti (Unemat). Nos municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, o projeto conta com os professores da Unemat, Rivanildo Dallacort, Dionei José da Silva e Antônia Maria Rosa, Beatriz Fátima Oliveira através de um trabalho interinstitucional. O projeto também conta com o apoio das secretarias de Saúde, Educação e Meio Ambiente.

A partir de 2008, o projeto passou a ter o apoio financeiro do FNS/MS, por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde da CGVAM. Em 2008, o mesmo grupo de pesquisa passou a integrar a projeto CET 18 da USP, sob a coordenação do prof. Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP. Porém, ainda não temos resultados dos estudos em desenvolvimento. Vale ressaltar que todos os resultados das pesquisas serão discutidos com a SVS por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde, para que políticas públicas voltadas para a questão dos efeitos das queimadas para a saúde humana possam ser implementadas a médio e longo prazos.

(Foto: Virginia Damas/Ensp)

26 março 2009

FORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL

“Pragas da universidade velha: conteudismo, curriculismo, primarismo, fragmentação, profissionalização”

Radis Comunicação em Saúde no 7º Congresso Brasileiro De Epidemiologia

Não ficou esquecido o papel do profissional de saúde nesse contexto de mudanças radicais. “A epidemiologia e a formação em saúde no Brasil: uma universidade nova para um mundo em transformação” foi o tema da palestra do reitor da UFBA, o epidemiologista Naomar de Almeida Filho, que iniciou sua fala analisando os quatro modelos de universidade vigentes no mundo: o americano, o europeu unificado, o europeu mediterrâneo (e de Argentina e Uruguai) e o brasileiro. Sua apresentação mostrou os três primeiros esquematizados de forma organizada e clara; somente o brasileiro apareceu representado por uma profusão de setas que se cruzavam. “Parece e é muito mais confuso”, afirmou.

Nosso modelo é caracterizado por filtro externo (vestibular), entrada nas profissões, acesso restrito, estrutura fixa e sem mobilidade, com pós-graduação dissociada da graduação, enumerou; o americano tem entrada geral, acesso regulado, estrutura flexível, boa mobilidade e pós-graduação integrada à graduação. O europeu unificado: entrada geral, acesso direto, estrutura semi-flexível, alta mobilidade e doutorado como terceiro ciclo de formação; o argentino: filtro interno, entrada nas profissões, acesso livre, estrutura fixa, imobilidade, pós não-articulada.

Paulo Henrique Martins, da UFPE: “O que mobiliza as pessoas? A política, não. A militância também não. As festas, sim. É preciso repensar os critérios de avaliação a partir da ótica do usuário e descobrir como ele está construindo a sua saúde”

O reitor apontou como problemas do modelo brasileiro a precocidade da escolha da carreira, a seleção limitada e traumática, a submissão ao mercado de trabalho e o fosso entre graduação e pós. Também criticou a monodisciplinaridade — “com currículos estreitos e bitolados” — e o foco na técnica — “que leva à formação de sujeitos culturalmente empobrecidos”. Para ele, são “pragas da universidade velha” o conteudismo, o curriculismo, o primarismo (ensino simplificado), a aditividade (pré-requisitos), a linearização, a fragmentação e a profissionalização.

A essas distorções se opõe o projeto “Universidade Nova”, baseado na transdisciplinaridade e no pensamento complexo. Em termos práticos, eis a proposta do epidemiologista: na rede pública, um regime curricular de três ciclos (integrado por bacharelados, cursos profissionalizantes, mestrados acadêmico e profissional e doutorados); novas modalidades de curso superior capazes de evitar a profissionalização e a especialização precoce; graduação alinhada à pós-graduação, em novas formas de processo seletivo.

Chamou atenção a enorme bandeira do estado do Rio Grande do Sul que tremulava aos fortes ventos no prédio da Fiergs. O visual foi escolhido para cenário de fundo de nove entre 10 fotos de recordação

O bacharelado interdisciplinar duraria três anos, seguido de licenciatura de mais um ou dois anos que habilitaria o interessado a lecionar no ensino básico, ou de cursos profissionais de mais dois a quatro anos, dependendo da carreira. No lugar do vestibular, a seleção para o bacharelado seria em teste de capacidade nos moldes do Enem. A passagem do bacharelado aos cursos profissionais dependeria do desempenho nos módulos anteriores, em seminários de aptidão e em teste de conhecimento da carreira escolhida.

Na cerimônia de encerramento, no começo da noite de quarta-feira, coube ao médico-sanitarista Moises Goldbaum, professor da Faculdade de Medicina da USP, a leitura da “Carta de Porto Alegre” — documento que sintetiza as reivindicações dos participantes do evento. O texto destaca o amadurecimento da epidemiologia no Brasil, “ao demonstrar presença segura e consequente no estudo de todas as questões relevantes e atuais que demarcam a saúde no país, seja do ponto de vista analítico e metodológico, seja da formulação de propostas de atuação”. Mas ressalva que, para que essa atuação seja efetiva, é necessária a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 e a provisão de condições dignas e justas de trabalho aos profissionais de saúde.

“Os epidemiologistas reconhecem que o enfrentamento dos desafios postos pelo processo saúde-doença implica a organização de um novo pacto, demarcado pela solidariedade entre povos deste e de outros continentes, para que se possa dar consequência ao lema de que a saúde, menos do que gasto, é condição essencial para o digno e pleno desenvolvimento das sociedades”, encerra a carta.

UMA LINHA DE ALTA TENSÃO SOBRE A SUA CABEÇA

Jean Remy Davée Guimarães
Universidade Federal do Rio de Janeiro/Ciencia Online

Hoje aprendemos a temer as radiações ionizantes emitidas por radionuclídeos naturais e artificiais, aparelhos de raios-X e outras fontes. Essas radiações estão entre as mais energéticas do espectro eletromagnético e são assim chamadas por possuírem energia suficiente para provocar ionização, o que afeta a ligação entre átomos e resulta em uma série de efeitos físicos, químicos e biológicos, como quebra de moléculas. Pensou no seu precioso DNA? Acertou.

Essas radiações podem atuar como uma espécie de kryptonita verde (mas infelizmente incolor e invisível) que pode enfraquecer o homem comum. É complicado, tecnológico, meio secreto. Está associado tanto a pesquisa e saúde quanto a destruição em massa. É traiçoeiro por não ter cor ou odor e por não manifestar seus efeitos no momento da exposição. E ainda produz Godzillas e outros monstros de filme B! Hiroshima, Chernobyl, Goiânia... Brrrr! Eis aí todos os ingredientes para uma forte percepção de risco.

[Vista geral das usinas de Angra 1 e Angra 2 (no primeiro plano), no litoral sul do estado do Rio de Janeiro (foto: Wikimedia Commons)]

Assim, ao contemplarmos uma central eletronuclear como as usinas de Angra 1 ou 2, pensamos nos apagões que não tivemos graças a elas, no problema dos rejeitos radioativos, no risco de acidente com vazamento radioativo. Mas nem nos passa pela cabeça temer a linha de alta tensão sob a qual paramos o carro para tirar a foto de nossas únicas centrais nucleares.

Afinal, linhas de transmissão fazem parte da paisagem, assim como as antenas de rádio, televisão e celular. A paisagem domestica é também repleta de emissores de radiações não ionizantes, como os eletrodomésticos em geral, incluindo o computador e o monitor no qual você esta lendo esta coluna, sem falar em nosso inseparável amigo e algoz, o celular.

Exposição constante

Todos os seres vivos evoluíram em um mundo com campos elétricos e magnéticos naturais de baixa intensidade e frequência, mas o tecnoambiente que criamos multiplicou as fontes emissoras, bem como sua potência. Hoje estamos todos expostos a uma mistura complexa de campos elétricos e magnéticos em muitas frequências diferentes em casa, no trabalho, no trajeto entre um e outro e na viagem de férias também.

Se é fato que essas radiações eletromagnéticas – produzidas em todos os aparelhos em que há passagem de corrente elétrica – não são ionizantes, o campo eletromagnético criado por elas gera um fluxo de corrente elétrica no corpo que pode interferir nas correntes elétricas que existem naturalmente no organismo e que são parte essencial das funções corporais normais. Todos os nervos, por exemplo, enviam sinais por meio da transmissão de impulsos elétricos. A maioria das reações bioquímicas também envolve processos elétricos.

[Publicação da OMS que avalia os riscos à saúde humana associados aos campos eletromagnéticos. Clique aqui para baixá-la]

Não é absurdo, portanto, imaginarmos a possibilidade de efeitos biológicos indesejáveis decorrentes da exposição às radiações. Porém, como não houve um Chernobyl eletromagnetico não ionizante, esse fantasma não tirou o sono de quase ninguém. Estávamos todos ocupados demais usufruindo dos inegáveis confortos trazidos por toda a eletroparafernália em constante evolução.

Os eventuais riscos só começaram a ser levados a sério cerca de 30 anos atrás, quando passaram a ser objeto de estudos, inclusive sob patrocínio da Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa entidade publicou em 2002 o livro Estabelecendo um diálogo sobre riscos de campos eletromagnéticos, originalmente publicado em Inglês e traduzido para o português pelo Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel).

Campos eletromagnéticos e leucemia

Nesse documento, podemos ler o seguinte:

“Em 2001, um grupo de trabalho integrado por peritos, constituído pela Iarc (International Agency for Research on Cancer) da OMS, reviu estudos relacionados com a carcinogenicidade de campos elétricos e magnéticos estáticos e de frequências extremamente baixas (ELF) Nota: isto inclui as linhas de transmissão.
Usando a classificação padrão da Iarc que pondera as evidências humanas, animais e de laboratório, campos magnéticos ELF foram classificados como possivelmente carcinogênicos para humanos com base em estudos epidemiológicos de leucemia infantil.
Evidências para todos os outros tipos de câncer em crianças e adultos [...] foram consideradas inadequadas para a mesma classificação devido a informações científicas insuficientes ou inconsistentes.”


E em relação ao popular celular, emissor móvel de campos de altas frequências? “Diversos estudos epidemiológicos recentes com usuários de telefones móveis não encontraram evidência convincente de um aumento no risco de câncer do cérebro. No entanto, a tecnologia ainda é muito recente para que seja possível desconsiderar efeitos de longo prazo.”

Bem-vindo ao complexo mundo da epidemiologia e da comunicação de risco! E agora, atendo ou não atendo?

Linhas de alta tensão

[Enterrar as linhas de alta tensão seria uma solução possível para minimizar o risco associado à exposição a campos eletromagnéticos (foto: Occupational Safety & Health Administration)]

No caso das linhas de alta tensão, seus opositores argumentam que, face às incertezas, deveríamos usar o principio de precaução. Mas não é necessário optar entre banho frio e leucemia infantil. Há soluções que reduzem drasticamente a exposição aos campos eletromagnéticos, tal como enterrar as linhas de transmissão. De quebra, melhoraríamos a paisagem, que se veria livre dessas estruturas de alto valor pratico e de valor estético... hum, como dizer? ... deixa pra lá.

Naturalmente, essa solução custa mais caro, mas é exatamente a opção que está sendo reivindicada à Eletropaulo por um bairro paulistano de classe média alta cruzado por uma importante linha de transmissão.

Uma pesquisa realizada em 2003 na França pelo Observatoire de l’Énergie concluiu que 62% da população estaria disposta a aceitar um ligeiro aumento do custo da energia elétrica para financiar a instalação de linhas subterrâneas, em substituição às familiares torres de metal que os temporais e os aviões fora de rumo teimam em derrubar, deixando milhões de pessoas sem energia, inclusive as vítimas da “possível carcinogenicidade”. Como num filme B.

Mas o tema foi objeto de debate público no senado francês em 2003 e, em 27 de junho de 2008, durante a Cúpula de Zaragoza, os governos de Espanha e França decidiram realizar uma conexão elétrica subterrânea em corrente contínua entre os dois países. Segundo as autoridades locais, a negociação relativa ao projeto “dará amplo espaço à expressão da população” e “se deterá sobre as opções de traçado e os aspectos ambientais e de saúde”.

No Brasil, o Projeto Internacional de Campos Eletromagnéticos, da OMS, tem como atores principais a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Pode apostar: você ainda vai ouvir sobre esse assunto. No celular, na TV, no rádio.

BABAÇU NO GOOGLE EARTH!

Sudoeste da cidade de São Luis
3°21’05”S 44°04’32”W

O DDT EM SORO SANGUÍNEO DE SERVIDORES DA FUNASA NO MATO GROSSO

O alto nível de contaminação é, provavelmente, resultado do fato dos trabalhadores expostos não usarem equipamentos de proteção individual, conforme havia sido observado por S. R. S. Souza na monografia de especialização 'Caracterização do Uso, Manejo e Condições de Armazenamento de Inseticidas pela Fundação Nacional de Saúde em Mato Grosso'

Eliana F. G. C. Dores, Leandro Carbo e Adley B. G. de Abreu
Universidade Federal de Mato Grosso

'O uso de DDT em campanhas de saúde pública foi intenso em Mato Grosso, tendo sido suspenso em 1997. Este estudo objetivou determinar os níveis de DDT em amostras de sangue de funcionários da Fundação Nacional de Saúde de Mato Grosso. Foram analisadas 41 amostras de soro sangüíneo de agentes de saúde, 20 de motoristas e 14 de trabalhadores não expostos coletadas em julho de 1999 e outubro de 2000 em duas regiões do Estado (Sinop e Cáceres). Os agentes de saúde e os motoristas estiveram ocupacionalmente expostos, não havendo diferença significativa entre os resultados destes dois grupos nas duas regiões. Não foram encontradas diferenças significativas nos teores de p,p'DDE e DDT total entre os resultados das duas regiões, entretanto, os níveis de p,p´DDT foram significativamente maiores no Distrito de Sinop devido ao fato do DDT ter sido mais intensamente usado neste distrito em anos mais recentes. Os níveis de DDT total variaram de 7,50µg/L a 875,5µg/L (mediana = 135,5µg/L) para os agentes de saúde; de 34,5µg/L a 562,3µg/L (mediana = 147,7µg/L) para os motoristas e de não detectado a 94,8µg/L (mediana = 22,5µg/L) para os trabalhadores não expostos'.

Os autores concluem o seguinte: o grupo de servidores exposto ao DDT, ou seja, os que aplicavam o veneno e os motoristas que os acompanhavam, apresentaram níveis significativamente mais alto de DDT do que os trabalhadores da Funasa que não foram expostos. O alto nível de contaminação é, provavelmente, resultado do fato dos trabalhadores expostos não usarem equipamentos de proteção individual, conforme já havia sido observado por S. R. S. Souza, em sua Monografia de Especialização 'Caracterização do Uso, Manejo e Condições de Armazenamento de Inseticidas pela Fundação Nacional de Saúde em Mato Grosso', concluída em 1998 no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá.

*O texto acima é o resumo do artigo 'DDT em soro sangüíneo de agentes de saúde da Fundação Nacional de Saúde no Estado de Mato Grosso, Brasil', originalmente publicado na revista Cadernos de Saúde Pública v.19 n.2 mar./abr. 2003.

Clique aqui para ler a integra do artigo (em inglês) no Blog Biodiversidade Acreana.

O DDT E O CONTROLE DA MALÁRIA

Conferência das Nações Unidas realizada em dezembro de 2000 propôs que o DDT fosse banido para uso agrícole e continuasse a ser utilizado no controle de malária somente dentro do interior de residências

Claudio D'Amato, João P. M. Torres e Olaf Malm
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Um dos mais importantes usos do DDT é o controle de mosquitos vetores da malária, cuja principal espécie transmissora, Anopheles darlingi, já foi encontrada do México até o norte da Argentina. No Brasil, antes das campanhas de erradicação, somente os estados de Paraíba, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estavam livres. Ocorre em locais com grandes volumes de água, como represas, lagos e grandes rios, límpidos e pobres de matéria orgânica ou sais.

O principal recurso disponível para interromper a transmissão da malária consiste na aplicação de inseticidas de ação residual, com aplicação intradomiciliária. O êxito desta operação está no fato de agirem no local onde se dará a transmissão mosquito - ser humano. Recomendam-se concentrações que assegurem mortalidade de 65 a 85% dos insetos.

Os inseticidas usados são, na ordem de preferência, hidrocarbonetos clorados, organofosforados, carbamatos e piretróides sintéticos (Tabela 1).

Em pesquisa para controle global de malária, um grupo de estudo da Organização Mundial de Saúde promoveu debate sobre a proibição ou não de DDT, com base na possível associação entre DDT e câncer humano, bem como de DDT no leite materno.

O comitê chegou às seguintes conclusões:

1. Que não há provas suficientes de efeitos nocivos à saúde humana pela exposição ao DDT, após aplicação em interiores domiciliares;

2. Não haveria, portanto, justificativa de ordem toxicológica ou epidemiológica para modificar a política atual de aspersão de DDT em interiores de residências;

3. Foram especificadas as condições a serem aplicadas em campanhas de saúde contra a malária;

4. Ao planejar um programa de controle de malária em um país ou região, serão levados em conta os seguintes fatores:

- O custo de cada inseticida;

- A disponibilidade de outros métodos de luta antivetorial, onde se incluem os inseticidas alternativos, levando-se em conta os custos e riscos à saúde humana de cada um;

- O surgimento de insetos resistentes, em especial a resistência cruzada, que não é impossível e pode surgir quando se utilizam os inseticidas alternativos;

- A aceitação da população ante o emprego de novos, sobretudo em relação à saúde pública.

Tendo em conta a escassez de dados que indiquem os efeitos nocivos causados pela aplicação no interior das residências, devem ser feitas investigações epidemiológicas que comprovem os fatos, mediante procedimentos científicos rigorosos.

Também devem ser executados estudos adicionais para:

a) Examinar as consequências à saúde dos lactentes que seriam causadas pela ingestão de DDT pelo leite materno;

b) Investigar a fundo qualquer associação presumida entre o emprego de DDT, em metas de controle antipalúdicas, e o aumento da incidência de câncer.

Os anofelinos adquiriram resistência aos pesticidas, entre eles, os organoclorados. Isso explicaria porque os casos de malária voltaram a crescer durante os anos 70.

O controle sistemático de combate aos vetores da doença iniciou-se na Amazônia, em 1945, nas localidades de Breves e Santa Mônica, Pará. Em setembro de 1947 já havia sido utilizado em outras localidades do estado, no estado do Amazonas e em Guaporé (atual Rondônia) e Amapá, territórios federais na época. Segundo Roberts5, o reaparecimento da malária na América do Sul deve-se ao fato de os países terem deixados de utilizar DDT nos programas de controle. Os dois únicos países onde a malária não reapareceu foram Venezuela e Equador, devido ao fato de o DDT não ter sido proibido.

Alguns malariologistas argumentam que a aplicação dentro de residências, que seria prejudicial à saúde humana, não é convincente. E que em vários países, o uso de inseticidas organoclorados é o único meio economicamente viável de controle, assim como para a leishmaniose. Seus escassos orçamentos para as campanhas de saúde não possibilitariam substituir satisfatoriamente os inseticidas organoclorados, tendo em vista os preços mais elevados de possíveis alternativas69.

Os custos mais elevados de controle por meio de outros pesticidas superariam os eventuais riscos à saúde, se houver. Os autores argumentam que são inconsistentes os indícios de malefícios à saúde causados por DDT e organoclorados, bem como que a aplicação dentro das casas não causa riscos ao meio ambiente69.

Durante a Conferência das Nações Unidas, realizada entre 4 e 10 de dezembro de 2000, ficou declarado que oito pesticidas considerados nocivos ao ambiente e à saúde serão proscritos pelos países signatários, a saber: hexaclorobenzeno, endrin, dodecacloro, toxafeno, clordano, heptaclor, aldrin e dieldrin. Mas propôs-se que o DDT ainda seja utilizado no controle de malária, pois países que o utilizam para este propósito, ainda necessitam de recursos e tempo para definir e implementar alternativas. O DDT será utilizado somente dentro do interior de residências, e não mais para a agricultura.

*Texto extraído do artigo 'DDT (DICLORO DIFENIL TRICLOROETANO): TOXICIDADE E CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO', originalmente publicado na revista Química Nova v.25 n.6 São Paulo nov/dez 2002.

25 março 2009

ADOLESCENTES ACIMA DO PESO E PRESSÃO ALTA

Pesquisa revela que pressão alta também atinge os adolescentes, sobretudo os acima do peso

Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias

Ser do sexo masculino, apresentar obesidade ou sobrepeso e não praticar atividades físicas: estes três fatores estão associados à ocorrência de hipertensão arterial sistêmica, mais conhecida como pressão alta, entre adolescentes e jovens. É o que revela uma pesquisa que envolveu alunos de 14 a 20 anos matriculados em escolas públicas de ensino médio da Região Metropolitana do Recife. Dos mais de 1,8 mil alunos pesquisados, 17,3% apresentaram pressão arterial elevada, um percentual maior do que os encontrados em estudos nacionais e internacionais, nos quais a prevalência variou de 1% a 13%. Assinado pelos pesquisadores Betânia da Mata Ribeiro Gomes, da Universidade de Pernambuco, e João Guilherme Bezerra Alves, do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira, ambos no Recife, o trabalho acaba de ser publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz.

Nas Américas, estima-se que 140 milhões de pessoas tenham hipertensão, mas metade delas não sabe que apresenta a doença, pois não exibe sintomas nem utiliza serviços de saúde. Entre as que se descobrem hipertensas, 30% não fazem tratamento por falta de motivação ou de recursos. “Embora a maior parte dos diagnósticos de hipertensão arterial sistêmica seja firmada em pacientes com idade avançada, a síndrome pode ter seu início na infância”, destacam os autores no artigo. “É importante o rastreamento de crianças e adolescentes com risco aumentado de se tornarem adultos hipertensos, para que sejam adotadas medidas preventivas em idade precoce, reduzindo os riscos de doenças cardiovasculares e acidente vascular encefálico”, completam.

De acordo com os resultados do trabalho, estudantes com sobrepeso tinham duas vezes mais risco de apresentar pressão alta do que aqueles com peso normal. Já para alunos obesos, o risco chegava a ser quatro vezes maior. “Esses dados comprovaram que, desde a adolescência, o sobrepeso e a obesidade desempenham um papel deletério para o sistema cardiovascular”, dizem os autores. Os pesquisadores também observaram que a prevalência de hipertensão era maior entre os alunos que não comiam frutas, mas a diferença não foi estatisticamente significativa.

Betânia e João Guilherme esperam que, com a divulgação de seus resultados junto aos professores, estes se tornem mais engajados e coloquem a promoção da saúde dos alunos dentro das rotinas escolares. “Dessa forma, a grande campanha de recuperação e manutenção da saúde dos adolescentes será feita naturalmente, sem programas pontuais, cujos efeitos são efêmeros”, argumentam. Os dois autores também acreditam que a pesquisa poderá subsidiar mudanças como a oferta de merenda escolar mais balanceada, o incentivo a práticas esportivas como atividades extracurriculares e a inclusão da hipertensão entre os temas debatidos em sala de aula.

(Foto: Felipe Gomes)

PACIENTES INTERNAUTAS, MÉDICOS SOB PRESSÃO

Estudo aponta como busca de informações na web vem modificando a relação pacientes-médicos, que precisam se atualizar para lidar com pessoas cada vez mais bem informadas sobre doenças

[Os médicos precisam se atualizar para lidar com os pacientes que, cada vez mais, usam a internet para se informar sobre doenças. Foto: Isabela Fraga]

Você já procurou na internet a solução para algum problema de saúde? Se a resposta for “sim”, você pode fazer parte do grupo dos “pacientes experts”, que usam a rede para se informar sobre doenças. Para descobrir como o acesso a tanta informação está influenciando as relações entre médicos e pacientes, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisaram diversos artigos estrangeiros que tratam do tema e concluíram que, para os profissionais de medicina, é hora de se atualizar.

O estudo, desenvolvido por Helena Beatriz da Rocha Garbin, Maria Cristina Rodrigues Guilam e André de Faria Pereira Neto, comparou 15 artigos publicados entre 1997 e 2006 nos periódicos britânicos Social Science and Medicine e Sociology of Health & Illness . O período de publicação dos artigos foi definido pelo início da democratização da internet, motivo pelo qual teria surgido esse fenômeno, ainda muito recente e pouco estudado no Brasil. O tema foi encontrado tanto em trabalhos da área de saúde, como de ciências sociais.

Os pesquisadores se depararam com três interpretações bastante distintas do fenômeno dos “pacientes experts”: enquanto alguns artigos defendem que pacientes mais informados valorizam o papel do médico, outros dizem que o livre acesso à informação leva a uma “desprofissionalização” do médico. Já um terceiro ponto de vista sustenta que, mesmo questionando certas posições dos médicos, pacientes mais interessados possibilitariam um diálogo mais profundo sobre os temas.

Para a equipe, o novo panorama exige que os profissionais da saúde se mantenham atualizados, elaborando pesquisas e conhecendo melhor esse universo em que se insere o paciente. “Tradicionalmente existe uma relação patriarcal entre médicos e pacientes. É preciso compreender que ess poder está se equilibrando: os profissionais devem trabalhar com o paciente, em vez de para ele”, afirma a médica Helena Garbin, coautora do estudo, publicado no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação .

Postura ativa
Garbin, que é doutoranda pela Escola Nacional de Saúde Pública, vê a internet como uma ótima ferramenta para a busca por informação e troca de experiências. “A internet leva a uma postura ativa do paciente, que conta com ela para compreender seu adoecimento”, afirma. “Alguns médicos ficam ofendidos, se sentem ameaçados pela perda do monopólio do conhecimento. Já outros relatam que o doente segue melhor o tratamento, justamente por saber o que ocorre com seu organismo”.

Mas é preciso tomar cuidado com o que se encontra na rede. “Muitas páginas podem ser escritas sem nenhum embasamento, ou serem simplesmente veículos de empresas comerciais, interessadas na divulgação de medicamentos”, afirma Garbin, que alerta para possíveis más interpretações da linguagem médica por leigos e a questão da automedicação, hoje considerada um problema de saúde pública.

“É recomendável que o doente procure páginas não comerciais, ligadas a universidades e associações médicas”, diz a médica, lembrando que a visita a um especialista não deve ser descartada. “O paciente sempre deve conferir com o seu médico as informações obtidas. Nada substitui o olhar profissional.”

Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line

NOVO TRATAMENTO DO MAL DE PARKINSON

Tratamento alternativo para o mal de Parkinson: estimulação elétrica da medula espinhal restaura movimentos em roedores com sintomas da doença

[O ator canadense Michael J. Fox, famoso por seu papel na trilogia De volta para o futuro, é portador da doença de Parkinson, que causa diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez e lentidão nos movimentos (foto: Alan Light)]

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, pode dar origem a um novo método para tratar o mal de Parkinson. A estimulação elétrica da medula espinhal foi capaz de restabelecer quase instantaneamente a habilidade motora de roedores com sintomas semelhantes aos dessa doença. A técnica poderá se tornar uma alternativa menos invasiva à estimulação do cérebro dos pacientes, adotada como complemento ao uso de medicação.

A doença de Parkinson caracteriza-se pela degeneração e morte dos neurônios produtores de dopamina (neurotransmissor que estimula o sistema nervoso central), o que provoca diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez, lentidão de movimentos e imobilidade.

Embora não haja cura para a doença, seus sintomas podem ser continuamente tratados com o uso de drogas que repõem a dopamina. Mas essa terapia é menos efetiva em longo prazo. Em alguns casos, o tratamento pode ser complementado com a estimulação elétrica do cérebro, feita por meio da inserção de eletrodos em regiões específicas do órgão.

A ideia de aplicar estímulos elétricos à medula espinhal para tratar os sintomas da doença surgiu a partir de pesquisas anteriores sobre epilepsia feitas pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, líder da equipe da Universidade Duke e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Os resultados mostraram que a estimulação do sistema nervoso periférico facilita a comunicação entre o corpo e a medula espinhal e reduz os ataques epiléticos, cujas oscilações neurais se assemelham à atividade cerebral de portadores de Parkinson.

Para avaliar a eficácia do novo tratamento, pequenos eletrodos – conectados a um gerador portátil capaz de produzir uma corrente elétrica suave – foram implantados sobre a superfície da medula espinhal de ratos e camundongos. Os roedores usados no estudo tinham deficiência de dopamina, de forma a simular as características biológicas e os prejuízos na habilidade motora observados em pacientes com doença de Parkinson em estágios avançados. Os pesquisadores usaram vários níveis de estimulação elétrica combinados com diferentes doses de terapia de reposição de dopamina.

Recuperação imediata

“Vemos uma mudança quase imediata na habilidade funcional dos animais quando o dispositivo estimula a medula espinhal”, diz Nicolelis em comunicado à imprensa. Cerca de 3 segundos após a estimulação, os movimentos difíceis e vagarosos dos animais com deficiência de dopamina foram substituídos por comportamentos ativos típicos de animais saudáveis.

Os resultados do estudo, publicados com destaque na Science desta semana, mostram que a atividade locomotora dos animais durante o período de estimulação foi, em média, mais de 26 vezes maior do que durante os cinco minutos anteriores ao estímulo. Quando combinada com o uso de medicação, a estimulação elétrica reduziu a quantidade necessária da droga: os movimentos se restabeleceram com apenas um quinto da dose empregada no tratamento farmacológico isolado.

O primeiro autor do estudo, Romulo Fuentes, explica que a atividade cerebral de pacientes com doença de Parkinson é sincronizada em uma frequência muito baixa. “Isso significa que os neurônios são impostos a um ritmo vagaroso aparentemente incompatível com a iniciação do movimento”, diz à CH On-line.

Segundo Fuentes, em um cérebro saudável, os neurônios apresentam uma atividade rítmica de alta frequência antes e durante o movimento. “Observamos que a estimulação da coluna dorsal é capaz de induzir no cérebro tal atividade de alta frequência, criando, assim, o estado cerebral apropriado para iniciar o movimento”, completa.

A equipe agora pretende avaliar os efeitos colaterais do uso de longa duração do novo método e testar seu desempenho em primatas com doença de Parkinson. “Se pudermos demonstrar que o dispositivo é seguro e eficaz em longo prazo em primatas e, depois, em humanos, virtualmente todos os pacientes poderiam ser elegíveis para esse tratamento em um futuro próximo”, prevê Nicolelis.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

24 março 2009

O ESCANDALOSO PREÇO DO CIMENTO NO ACRE

"Ele lembra que no início do segundo semestre do ano passado o preço do cimento chegou a R$ 25 nas lojas e, a R$ 20 na fábrica, tirando o sono dos empreiteiros. Hoje, o valor baixou e está em torno de R$ 15 na fábrica e R$ 20 nas lojas. O cimento é um grande indicador da construção civil. Com preços baixos as pessoas aproveitam para reformar ou construir, ao mesmo tempo em que fomenta a compra de outros materiais".

Luiz Carlos Richter Fernandes, Ppresidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Mato Grosso (Sinduscon/MT), em entrevista ao Diário de Cuiabá, Edição nº 12372 de 22/03/2009.

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Enquanto isso em Rio Branco...nossa capital, o preço da saca custa no mínimo R$ 31!

Isso significa que entre a fábrica de cimento mais próxima, localizada em Nobres, cercanias de Cuiabá, e nossa cidade, o preço dobra, duplica, aumenta 100%, ou qualquer outro adjetivo do gênero.

E qual a justificativa para isso? É apenas o frete? Duvido muito.

Vamos fazer uma conta 'por cima' para mostrar o absurdo.

Uma carreta com 40 toneladas transporta 800 sacas de cimento. Se ele for comprado na porta da fábrica, custa, segundo o empresário cuiabano R$ 15. Portanto, sem imposto, a carreta carregada custará R$ 12 mil. Se o ICMS sobre o cimento for o mais alto, por volta de 25% (não tenho certeza), deve-se acrescentar mais R$ 3 mil à carga, fazendo um total, antes da inclusão do frete e do lucro do revendedor no Acre, de R$ R$ 15 mil.

Considerando que o menor preço da saca em Rio Branco é R$ 31, a vista, em dinheiro (porque se for no cartão de débito ou parcelado, passa para R$ 36!), o valor final da venda da carreta em Rio Branco chega a R$ 24,8 mil. Ou seja, 'sobra' R$ 9,8 mil para o empresário pagar o frete e incluir o seu lucro. Dá cerca de R$ 12 por saca.

Ontem fui comprar o 'pó precioso' na loja que vende cimento mais barato em nossa cidade, que fica na Vila Ivonete, e questionei a razão do cimento não ter caído de preço no Acre, já que baixou em Cuiabá, conforme lí na matéria do Diário de Cuiabá. Sabem o que o vendedor disse? Que o 'problema' é que quando o caminhão chega no posto da Tucandeira, o ICMS 'cai em cima do preço', fazendo ele aumentar (?!?!)'. Todo mundo sabe que se o imposto não fosse cobrado na divisa do Acre, o preço seria o mesmo e o 'extra' iria para o bolso dos empresários.

Não adiantou barganhar, chorar. O menor preço para as 40 sacas que eu precisava era R$ 31,50, se eu falasse com o gerente e ele concordasse. Para obter desconto, é uma questão de simpatia e amizade. E se você vai comprar 5-10 sacas, esqueça o desconto.

Cimento e combustível no Acre são produtos que enriqueceram muitas pessoas, com ou sem sonegação de impostos. E faz tempo que isso acontece e nenhum governante ataca o problema para acabar com essa pouca vergonha.

Binho, reduz o ICMS do cimento! Faz alguma coisa para aumentar a concorrência no ramo da comercialização de cimento no Acre!

Que tal permitir que particulares, donos ou não de caminhões, possam ir a Porto Velho trazer cimento barato para vender no mercado local?

Você pode até cobrar imposto dessas pessoas lá na Tucandeira, mas vai ver que o preço de venda vai ser menor ou igual ao cobrado pelos 'barões do cimento' locais. Mais oferta significa mais concorrência e menor preço. Mais venda significa também mais imposto arrecadado. O cofre do governo só tem a ganhar! Mais empregos serão gerados. Todo mundo ganha!

E a tal integração com o Peru, onde sobra cimento. Porque não incentivar a importação do nosso vizinho?

Veja que no Acre nem loja de fábrica vende cimento barato. Os preços são cartelizados, igualados - com diferenças de centavos. Então a solução é concorrência.