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28 fevereiro 2009

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE LANÇA LIVRO SOBRE PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NA AMAZÔNIA

O Ministério do Meio Ambiente lança no dia 3 de março livro sobre "Pagamentos por serviços ambientais - perspectivas para a Amazônia Legal". O evento será aberto pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, às 8h30, no auditório do edifício Marie Prendi Cruz, na 505 Norte, Lote 2, Bloco B. A iniciativa é do Departamento de Articulação de Ações da Amazônia - DAAM/Secex, com apoio da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ).

Na solenidade, serão realizadas apresentações e debates sobre a temática do livro com a presença dos autores Sven Wunder e Jan Boner. O gerente de projeto do MMA, Shigeo Shiki, do Departamento de Economia e Meio Ambiente (Dema), irá apresentar os principais pontos da proposta do MMA que embasou o substitutivo do deputado federal Jorge Khoury (DEM/BA), que institui a Política Nacional de Serviços Ambientais e cria o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais.

O substitutivo estabelece como serviços ambientais "as funções imprescindíveis exercidas pelos ecossistemas naturais, propiciadas pela atuação humana, para a manutenção, a recuperação ou a melhoria das condições ambientais adequadas à vida, incluindo a humana". Altera vários projetos de lei que dispõem sobre serviços ambientais, dentre os quais o de nº 792/2007, do deputado Anselmo de Jesus (PT/RO), e o de nº 1.190/2007, de autoria de Antonio Palocci (PT/SP).

O livro editado pelo MMA pretende ser mais uma contribuição para o debate do tema, oferecendo subsídios para a instituição e aprimoramento da Política Nacional de Serviços Ambientais. O evento de lançamento se destina aos segmentos sociais envolvidos nessa discussão incluindo parlamentares, assessores, técnicos, gestores, dirigentes de órgãos públicos da administração federal, órgãos estaduais de meio ambiente e representantes de organizações da sociedade civil.

Ascon/MMA

NO BRASIL, O ESTADO DO ACRE MEDE O "BEM-ESTAR SUSTENTÁVEL"

Laurence Caramel
Le Monde

Fazendo uma simples leitura das estatísticas, não parece ser bom viver no Estado do Acre, no Brasil, pequeno território da Amazônia. Ele mostra resultados fracos em matéria de desenvolvimento humano, levando em consideração o indicador da ONU, calculado desde 1990, e que avalia, além da riqueza material (PIB per capita), o acesso da população aos serviços de saúde e educação.

No entanto, os habitantes dessa região florestal não são mais desprivilegiados do que os excluídos das favelas do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Pelo contrário. Mas o essencial de suas atividades foge da contabilidade nacional que, da megalópole à aldeia amazonense, utiliza os mesmos critérios para avaliar o bem-estar de uma sociedade. Matéria de Laurence Caramel, do Le Monde.

“Imagine que a floresta constitui o supermercado onde fazemos nossas compras essenciais, mas isso não aparece em nenhum lugar, pois há poucas trocas monetárias. Resumindo, é fácil concluir que nós somos subnutridos”, explica Carlos Duarte, secretário de Estado do Acre na floresta. É tão simplista acreditar que os cidadãos do Acre não têm cuidados médicos, uma vez que o acesso às infraestruturas modernas de saúde é menos fácil que nas grandes cidades; ou que têm situação precária de moradia, raramente dispondo de um “habitat adequado” que, segundo as estatísticas nacionais, deve ser construído em pedra ou em tijolo, comportar dois cômodos e ser cercado de uma calçada pavimentada. Na verdade, os cuidados são muitas vezes garantidos por uma medicina tradicional que extrai seus remédios das plantas, e os caboclos vivem em casas de madeira construídas sobre palafitas, mais bem adaptadas ao clima do que cubos de concreto.

No início do século 20, graças ao boom da borracha, o Acre era uma região rica, a ponto de fornecer quase um terço do PIB brasileiro. A concorrência asiática pôs um fim a essa epopeia há muito tempo. No entanto, as lideranças da região continuam a pensar que sua floresta merece ser preservada e que ela traz mais benefícios quando está “em pé” do que quando entregue à exploração industrial, ou transformada em pasto ou campos de soja.

Essa ideia, hoje defendida pelo governador Binho Marques, do Partido dos Trabalhadores, retoma o velho combate dos seringueiros. Faltava uma demonstração. O Acre se voltou, então, para os economistas, para que eles elaborassem um novo indicador de riqueza: o indicador de “bem-estar sustentável”.

“Nós elaboramos um indicador de desenvolvimento humano, integrando a ele uma dimensão ambiental”, explica o coordenador do projeto André Abreu, da fundação France Libertés. Foram levadas em conta a qualidade dos solos, reservas de água, preservação da biodiversidade, emissões de CO2 etc., ao lado de critérios mais tradicionais: renda, saúde, educação, moradia. Esse trabalho, realizado pelo economista Jean Gadrey e uma equipe de pesquisadores da universidade de Lille, acaba de ser concluído. Resta fazer com que ele seja validado pela população: “Vamos consultar diferentes grupos sociais para ter certeza de que nosso indicador reflete sua concepção de bem-estar”, diz Abreu.

Paralelamente, o governo procurou valorizar mais a produção ligada à floresta para melhorar a renda da população. “Há alguns anos um hectare valia US$20, quando a mesma superfície plantada com soja poderia render US$ 600. A esse preço, era muito difícil lutar contra o desmatamento”, constata Duarte.

“Hoje, graças aos setores comerciais consolidados em torno do látex, das frutas, das plantas e essências para cosméticos ou farmacologia, um hectare pode render ao pequeno produtor, que vive do extrativismo, quase US$ 300 por ano. E essa renda é perene, pois a exploração respeita a renovação dos recursos”, garante o ex-engenheiro florestal.

Em uma Amazônia cada vez mais corroída pelo avanço das grandes explorações agrícolas, a floresta deve sua sobrevivência à população que a habita. “Abrir nossa região ao agronegócio resultaria em graves conflitos sociais”, reconhece Duarte. Os fracassos de outras regiões brasileiras acabaram convencendo que seria preciso persistir nesse caminho. O Estado da Bahia se lançou às plantações de eucaliptos para alimentar a indústria da polpa de celulose. Quinze anos mais tarde, os solos estão arruinados, os lençóis freáticos, esgotados, e a maior parte das empresas se foi. A ilusão da riqueza teve curta duração. As autoridades aprenderam a lição. Agora elas refletem sobre outra medida de riqueza.

Tradução: Lana Lim

*Republicado a partir do Ecodebate

*Ilustração: site Agência de Notícias do Acre

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27 fevereiro 2009

PEDRO ACEVEDO-RODRIGUEZ NO ACRE!

Maior especialista mundial de Sapindaceae, a família botânica que inclui o nosso conhecido guaraná, está visitando o Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Em 2008 ele descreveu uma nova espécie nativa do Acre.

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Está visitando o Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre o pesquisador Pedro Acevedo-Rodriguez (foto ao lado), o maior especialista taxonômico mundial da família botânica Sapindaceae, que inclui o nosso conhecido 'guaraná'.

Durante sua estada de menos de 15 dias no Acre, Pedro Acevedo teve a oportunidade de fazer uma excursão botânica para a região do rio Jordão, no alto rio Tarauacá, de onde trouxe cerca de 300 amostras de plantas variadas que serão incorporadas ao acervo do Herbário da UFAC.

Em uma rápida conversa sobre a riqueza de Sapindaceae nas florestas acreanas, Pedro Acevedo informou que no Estado são encontrado 14 gêneros e aproximadamente 110 espécies nativas, das quais 50% pertencem ao grupo Paullinia (foto abaixo), no qual o Guaraná (Paullinia cupana Kunth) está classificado.

Os números apresentados por Acevedo indicam que a riqueza de gêneros de Sapindaceae no Acre é relativamente alta, tendo em vista que em toda a América do Sul são encontrados 31 gêneros. O Acre possui quase 50% deles. No tocante a diversidade de espécies, foram encontradas cerca de 12% do total registrado para a América do Sul, que é de 885. Esse baixo número, entretanto, está relacionado à baixa quantidade de amostras botânicas coletadas no Acre.

Possibilidade remota do guaraná ocorrer naturalmente no Acre

Ao ser questionado sobre a possibilidade do Guaraná ocorrer naturalmente no Acre, Acevedo informou que é remota, embora não impossível. Segundo ele, o material a partir do qual o guaraná foi descrito botanicamente foi coletado na Colômbia por Humboldt e Bonpland por volta de 1820 e é quase certo que as amostras foram colhidas em áreas cultivadas pois a cultura do guaraná na Amazônia pré-data a chegada dos portugueses e espanhóis à região.

Considerando que a cultura do Guaraná é amplamente difundida na região e em tempos passados essa difusão foi realizada por grupos indígenas, não se deve descartar a possibilidade de que indígenas acreanos tenham, de alguma forma, introduzido a cultura no Estado. A confirmação da ocorrência natural da espécie nas florestas naturais do Estado, entretanto, depende do aumento da quantidade de coletas botânicas da família.

A visita de Pedro Acevedo ao Acre é parte de um convênio de colaboração que a UFAC mantém com o Jardim Botânico de Nova Iorque e para os próximos meses estão previstas visitas ao Acre de outros taxonomistas renomados mundialmente.

Nova espécie de planta do Acre

Em 2008 ele descreveu Averrhoidium dalyi, uma nova espécie de Sapindaceae nativa da região da Reserva Extrativista do Alto Juruá (ilustração ao lado). Clique aqui para ler o artigo científico onde a nova espécie foi publicada.

Pedro Acevedo é pesquisador do Museu Smithsonian Institution, que tem sua sede na cidade de Washington, capital dos Estados Unidos. Ele é membro da American Society of Plant Taxonomists, da International Association of Plant Taxonomy, da Latin-American Botanical Society, da Organization for Flora Neotropica e da Sociedad Botanica del Ecuador.

Ilustrações: E. Ferreira, P. Acevedo e Alice Tangerini (ilustração originalmente publicada na descrição da espécie).

MAPEAMENTO DA AMAZÔNIA: INVESTIMENTO CORRETO

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Matéria publicada pela A Tribuna (27/02/2009) informa que o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) está repassando R$ 5,9 milhões à Aeronáutica, Exército, Marinha e ao Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para a execução do projeto 'Cartografia da Amazônia'. Segundo a nota, o valor total do projeto é de R$ 350 milhões, dos quais R$ 68,5 milhões já foram liberados.

O projeto 'Cartografia da Amazônia' permitirá ao país conhecer os 1,8 milhão de quilômetros quadrados da Amazônia que não possuem informações cartográficas terrestre, náutica e geológica. Isso representa cerca de 34%, ou pouco mais de 1/3 da área total da região da região amazônica brasileira, que possui 5,2 milhões de quilômetros quadrados. Finalmente o país está tomando alguma atitude para 'tomar as rédeas' dessa imensa área!

Todos sabem que se alguém não conhecer o que possui, não saberá valorizar o seu bem, muito menos ter idéia razoável e prática sobre o que fazer com ele. A destruição de milhares de hectares de florestas virgens na região, das quais pouco se sabe em termos de potencial alimentício, medicinal e de outros, se dá de forma relativamente fácil pelo desconhecimento que temos do potencial e do valor econômico da floresta em pe.

Na conjuntura atual e futura, a floresta Amazônica só será salva se a sociedade brasileira - por meio de seus pesquisadores - conseguir mostrar aos seus algozes - agricultores, madeireiros, garimpeiros - o valor que a mesma tem. De outra forma, vamos continuar a brincar de gato e rato: alguém derruba a floresta, as autoridades multam, não cobram e fica por isso mesmo. É um ciclo vicioso que parece não ter fim.

O mapeamento desta grande área ainda desconhecida da Amazônia é um trunfo em favor da preservação da floresta. O aumento no investimento em pesquisas para conhecer a região - de parte do governo e da iniciativa privada - é outro passo fundamental.

Sem isso, nunca poderemos ter a autoridade de bater no peito e dizer que a Amazônia "é nossa!"

A DITABRANDA

Felipe Mendonça
do blog Picaretas da Távola Redonda

Vejam bem: definitivamente, é tempo de rever conceitos. Acredito que tudo pode receber um determinado olhar a partir de onde e quem está olhando. O tempo é um grande amigo do distanciamento necessário para fazer diversas avaliações sobre episódios históricos e até mesmo pessoais. O calor do momento muitas vezes nos cega e compromete a avaliação no julgamento dos fatos. No entanto, a revisão histórica pode atirar para os dois lados: pro "bem" ou pro "mal".

Um exemplo detestável, ao meu ver, de revisionismo anacrônico está no Editoral da Folha de São Paulo do dia 17 de fevereiro último.

No texto "Limites a Chávez" a Folha, buscando desqualificar de todas as formas a vitória de Hugo Chávez na Venezuela no último referendo, apela ao chamar o período de Ditadura Militar no Brasil de "ditabranda". O trecho do texto é o seguinte:

"Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente."

Ai eu pergunto: num período onde houve um Golpe Militar que derrubou um governo eleito democraticamente, de cassações de representantes eleitos segundo as regras democráticas, fechamento do Congresso, suspensão dos direitos individuais, tortura e morte de centenas de opositores a opressão, exilio e outros desmandos, o que precisa mais pra que uma "ditabranda" configure-se como um ditadura?

E não termina aí... A partir de reações furiosas dos leitores do jornal, a Redação da Folha solta a seguinte justificativa:

Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.

Ou seja, a Folha em toda a sua politica editorial tucana-reaça, chama agora a Ditadura brasileira de Ditabranda e justifica sua posição, como se tivesse instituído um verdadeiro ditadômetro para medir os desmandos de um regime de exceção. Precisa matar quantos pra ser ditadura hein?

Com esse papelzinho revisionista barato, a FOLHA recebe o titulo de Picareta da Semana!

SENSACIONAL! Vai direto pro trono!

26 fevereiro 2009

ACESSO LIVRE A ARTIGOS CIENTÍFICOS

Estudo mostra que artigos científicos publicados sem restrições são mais citados em outros trabalhos

Acesso livre, impacto global

[Logotipo que simboliza 'livre acesso' criado pela Biblioteca Pública de Ciência - PLoS, na sigla em inglês]

O acesso livre a artigos científicos pode favorecer de modo significativo a produção de conhecimento no mundo. Um estudo norte-americano mostra que artigos disponíveis na internet sem qualquer tipo de restrição ou necessidade de pagamento são mais citados em outros trabalhos – principalmente de autores de países em desenvolvimento –, o que evidencia seu maior impacto na comunidade científica.

O estudo foi realizado pelo sociólogo James Evans, do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, e pelo neurobiólogo Jacob Reimer, do Comitê de Estudos Conceituais e Históricos da Ciência, da mesma universidade. Os resultados da pesquisa foram publicados na última edição da revista Science – contraditoriamente, uma publicação restrita apenas a assinantes.

Os pesquisadores trabalharam com uma extensa base de dados, que continha os 8.253 periódicos mais citados desde 1945. Segundo eles, essa é a primeira vez que uma quantidade tão grande de citações é analisada nesse tipo de estudo. “Usamos uma base de dados maior em relação a pesquisas anteriores para mostrar a real influência do acesso livre na atenção que um estudo recebe”, dizem no artigo.

“Pesquisas anteriores afirmavam que artigos com acesso aberto são duas vezes mais citados, mas esses estudos se limitaram a uma única publicação”, comparam. Por outro lado, os autores lembram que outros estudos recentes alegavam que o acesso livre não tem qualquer impacto ou mesmo um efeito negativo sobre a repercussão do artigo.

Entre os artigos científicos analisados no estudo norte-americano, aqueles publicados de forma livre receberam em média 8% mais citações do que os restritos. Em países em desenvolvimento, como Brasil, Argentina, Rússia, Turquia e África do Sul, esse percentual é maior: pode chegar a 25%. Para os autores, esses números revelam que, além de promover maior impacto na comunidade científica, o acesso livre pode resultar em uma maior participação de países periféricos na produção científica mundial.

Iniciativa brasileira

No Brasil, uma iniciativa importante em relação ao acesso livre foi desenvolvida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O Portal de Periódicos atende 194 universidades públicas e privadas, centros de pesquisa e órgãos governamentais e permite acesso gratuito a cerca de 13 mil publicações e 126 bancos de dados, sendo seis deles bases mundiais de patentes.

O portal pode ser acessado a partir de computadores ligados a essas instituições. Hoje a página recebe 165 mil acessos diários. Em 2008 foram quase 21 milhões de textos completos baixados e 38 milhões de acessos a bases de dados.

Segundo o presidente da Capes, Jorge Guimarães, o impacto da liberdade de acesso na produtividade da comunidade científica brasileira é significativo. “Antes do portal, o Brasil já vinha em um bom momento em relação à produção científica, quebrando sempre seu próprio recorde a cada ano”, comenta. “Depois que ele foi lançado, a curva do gráfico que mostra a produção ficou ainda mais acentuada.”

Guimarães acrescenta que, a exemplo do que é feito em outros países, todos os artigos brasileiros presentes no portal da Capes podem ser acessados por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, e não apenas por membros das instituições que fazem parte da rede. “A iniciativa ajudou o país a se destacar no cenário mundial”, avalia.

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
25/02/2009

ATLAS LINGUÍSTICO DO ACRE E O FALAR ACREANO

Pesquisa linguística constata: homens acreanos apresentam maior número de alterações fonológicas em relação às mulheres. Dentre as alterações verificadas durante a pesquisa destacam-se: igarapé-garapé, árvore-árve, unha-zunha, três-trêis, melhorar-amelhorar e degrau-dregau

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Integrantes do Departamento de Letras da UFAC estão construindo um Atlas Lingüístico do Acre que envolve a transcrição da fala de seringueiros acreanos e a observação, durante a transcrição, de aspectos como a pronúncia, a variação lexical e fonética, a escolha vocabular, os mecanismos articulatórios, assim como algumas alterações fonéticas como os metaplasmos e outros fenômenos fonéticos como a despalatalização, o consonantismo, o rotacismo, a realização das africadas e das palatais, entre outros.

O Atlas acreano é uma contribuição aos estudos dialectológicos e geolingüísticos do Brasil e apresenta a descrição fonética da língua portuguesa falada, particularmente, no Estado do Acre.

Uma amostra da riqueza do falar acreano foi levantada pela estudante Jacqueline Goes da Silva e pela professora Márcia Verônica Ramos de Macedo Sousa, do Departamento de Letras da UFAC, no acervo do Centro de Estudos Dialectológicos do Acre - CEDAC.

Elas usaram inquéritos feitos no Vale do Acre, nas zonas de pesquisa de Rio Branco, Plácido de Castro e Xapuri e o questionário específico transcrito contém 1.235 questões que abordam os campos semânticos natureza, homem e atividade. Os informantes, em número de doze, eram formados por dois homens e duas mulheres em cada localidade, na faixa-etária de 36 a 80 anos.

Entre os fenômenos fonéticos detectados, citam-se: despalatalização, o consonantismo, o rotacismo, a realização das africadas e das palatais, entre outros. Com base nos dados, pôde-se observar, também, que os falantes do sexo masculino apresentam um número maior de alterações fonológicas com 75% dos casos em relação aos informantes do sexo feminino como 50% dos fenômenos.

Detectaram-se ainda alguns fenômenos de Metaplasmos: 1. Supressão com presença de 80% dos casos como: iguarapé > garapé; mosquiteiro > mosquitêro, árvore > árve; trabalhando > trabaiano. 2. Adição com 60% dos fenômenos como em: unha > zunha, três > trêis; gavião >gaivião melhorar > amelhorar. 3. Troca com 30% das ocorrências: turvo > truvu; degrau > dregau; dormir > drumi.

Os responsáveis pelo estudo concluíram que as alterações fonéticas na fala do seringueiro acreano representam não somente a realidade lingüística de um ser isolado nos seringais amazônicos, mas que está presente na fala de muitos brasileiros, sobretudo naqueles que têm um menor grau de escolaridade. A descrição das variações no interior da língua contribuirá para estudos das variantes da fala acreana, bem como com a língua brasileira.

Ilustração: Agência de Notícias do Acre

25 fevereiro 2009

CRISE: 100 MIL VEÍCULOS RETOMADOS DE DEVEDORES

Os bancos brasileiros têm em conjunto um estoque de pelo menos 100 mil carros recuperados de clientes inadimplentes, o equivalente à metade das vendas mensais de veículos novos no país

Inadimplência sobe e bancos retomam 100 mil veículos

Folha Online

Os bancos brasileiros têm em conjunto um estoque de pelo menos 100 mil carros recuperados de clientes inadimplentes, o equivalente à metade das vendas mensais de veículos novos no país, para desovar no mercado de autos usados, revela reportagem de Toni Sciarretta na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal)

Esse estoque é mais um motivo de pressão no segmento de usados, que vive queda sem precedente nos preços e cuja falta de liquidez trava as ações para retomar a venda de carros novos. Se todos esses carros voltassem ao mercado, somariam até R$ 3,506 bilhões.

Os principais bancos que financiam veículos relatam que o volume de recuperação cresceu de 20% a 30% no início do ano em relação ao que acontecia até setembro. O alto número de recuperações de carros é culpa da alta da inadimplência, que atingiu a média de 4,3% em dezembro, o maior nível desde 2002, segundo o Banco Central.

Para a Fenabrave (associação das concessionárias), o volume de carros retomados representa pouco mais de 1% dos 9 milhões de veículos alienados no país. Na conta dos bancos, de cada 4 financiamentos inadimplentes, apenas 1 termina com a retomada.

NOTA DO BLOG: Em Rio Branco o ritmo de retomada deve ser elevado. Nas proximidades da Utilar do Bosque um estacionamento vive cheio de carros semi-novos retomados por bancos e seguradoras. Reconheço que todos são livres para fazer o que quiser com o seu dinheiro, mas tem coisas que não se compreende. Em nossa cidade, que muitos nativos gabam por ter excesso de veículos novos entupindo as ruas, muitas pessoas preferem 'ser proprietárias' de carros financiados a juros extorsivos para desfilar pela cidade e mostrar uma riqueza que não possuem. Na maioria dos casos, se você seguir uma dessas pessoas até sua moradia, verá que o carro em que andam vale mais do que a residência em que vivem - quando possuem esse bem. Na rua que divide a baixada da galinha e a Cohab do Bosque existe um cidadão que mora num quarteirão, desses que ficam em beco onde mal passa uma bicicleta. Apesar de morar mal, seu carro é um 'New Beetle' (novo fusca) importado. Sem espaço para improvisar uma garagem, ele pede a um ou outro conhecido para usar garagem ou espaços em quintais para manter seu 'precioso' longe do olhos e das mãos destruidoras dos frequentadores de uma bocada das proximidades.

24 fevereiro 2009

PUPUNHA SELVAGEM NO 'ARCO DO DESMATAMENTO'

Realizar um projeto de pesquisa nem sempre é a parte mais fácil. Às vezes, publicar os resultados para que a sociedade tome conhecimento do 'investimento' feito se torna um desafio e um jogo de paciência

Evandro Ferreira
Ambiente Acreano

A pupunha (Bactris gasipaes Kunth, Palmae) foi domesticada na Amazônia e distribuída pelos primeiros povos americanos na maioria dos trópicos úmidos baixos entre 17º N e 16º S antes da chegada dos europeus.

Após milênios de domesticação, foi criado uma hierarquia de raças primitivas que têm sido parcialmente caracterizadas e mapeadas e hoje com seu uso estagnado pela falta de demanda nos mercados modernos. Na Amazônia brasileira, falta explorar a bacia do rio Madeira, pois esta bacia parece ser importante para entender a origem da pupunha no sudoeste da Amazônia.

É nessa região que foram descritos os primeiros parentes silvestres da pupunha, originalmente com nomes específicos e até genéricos distintos, e agora reunidos na variedade chichagui, com três tipos. O tipo 1 parece ocupar a zona de mogno, também conhecido como o arco de desmatamento. O tipo 3 parece ocupar o extremo oeste dos estados de Acre e Amazonas, além de partes de Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá e Costa Rica. O tipo 2 parece ocupar o norte do Andes e acompanhar uma parte do escudo das Guianas, possivelmente até Amapá.

Com o apoio do programa PROBIO do Ministério do Meio Ambiente, uma equipe de pesquisadores do INPA e da EMBRAPA desenvolveu durante onze meses o projeto ‘Pupunha - raças primitivas e parentes silvestres’ com o objetivo de:

a) Identificar e mapear a distribuição geográfica dos parentes silvestres e das raças locais/variedades crioulas da pupunha;

b) Avaliar as condições de conservação, tanto ex situ quanto in situ, dos parentes silvestres da pupunha;

c) Propor mecanismos para ampliação do uso, quer diretamente pelo agricultor, quer por meio do melhoramento genético;

d) Propor medidas efetivas para a preservação, a curto, médio e longo prazos, dos parentes silvestres de pupunha, bem como das raças locais/variedades crioulas da espécie.

Os objetivos foram alcançados através de expedições de prospecção e coleta que preencheram lacunas no acervo de conhecimento sobre a pupunha no Brasil. Os resultados foram discutidos e divulgados durante um seminário cuja audiência foi composta pelos principais pesquisadores de pupunha na Amazônia.

[O texto acima foi extraído do projeto base, escrito por Charles Clement. Clique aqui para ler nosso relatório sobre a viagem de 15 dias pelo Arco do Desmatamento no norte de Mato Grosso, Sul do Pará, Tocantins e Maranhão]

O desafio de publicar os resultados em revista científica

Concluídos os trabalhos de campo e realizado o seminário para a apresentação dos resultados do projeto, era preciso escrever um manuscrito para submetê-lo a uma revista científica. Charles Clement, colega da Coordenação de Agronomia do INPA em Manaus assumiu – como sempre – a missão de preparar o manuscrito e enviar para alguma revista científica.

Ficou claro que publicar os resultados de um projeto de pesquisa na revista que a ‘gente pensa’ que é a mais adequada nem sempre é fácil. Pesquisador também leva ‘porta na cara’. No nosso caso levamos algumas, até que finalmente o artigo foi publicado no dia de hoje (24/2) na revista PLoS ONE, uma revista científica de livre acesso que publica artigos científicos avaliados previamente por revisores de alto nível.

[Depois de pronto, o manuscrito foi enviado para o Dr. Scott Zona, do Fairchild Tropical Garden, na Florida, para uma avaliação preliminar]

“The paper is good and documents the extant range of an important wild crop-relative. I wish I had the map to see the range you describe, as my knowledge of Brazilian geography is not very good.

I've made a few suggested changes in Track Changes mode. They are mostly changes to style and flow. I question the need for the section on taxonomy in this paper, which is clearly aimed at tracking the distribution of var. chichagui, not at resolving taxonomic puzzles.
I especially question the placement of names in synonymy, as you do in Table 1. The taxonomy of Bactris is complicated, as you well know. Without more detailed analysis (or at least the presentation of more data), stating the synonymy in such a definitive way seems unadvised. Given that half of the synonymies are questionable, I suggest omitting them and the
table.

Really, the taxonomy questions are not terribly relevant to your paper, except as historical records (under various names) of var. chichagui. I think the manuscript would be clearer if you simply stated that you searched these areas in Amazonia with the knowledge that var. chichagua was present in the past (type localities of these other names). I would follow an authority's synonymy (Henderson's) unless you have good reason to do otherwise (i.e., M. ciliata)”.


Depois dos ajustes sugeridos pelo Dr. Zona – eliminamos todo o capítulo relativo a taxonomia de pupunha, vejam abaixo a série de ‘nãos’ e o aceite final de PLoS One para o nosso artigo:

[Charles inicialmente encaminhou o manuscrito para o editor da revista Conservation Biology, Dr. Meffe]

We feel that this manuscript is suitable for Conservation Biology, but prefer to consult with you before submitting. This manuscript has not been submitted elsewhere. We plan to submit it as a Contributed Paper. Because it is not the report of a single project, it is not in IMRAD format. Although peach palm is a rather specific topic, the analysis presented has implications for numerous other native South American crop wild relatives that are currently threatened by deforestation and poorly or not at all conserved ex situ.

‘Ecological adaptation of wild peach palm, its in situ conservation and deforestation-mediated extinction in southern Brazilian Amazonia’, by Charles R. Clement, Ronaldo P. Santos, Sylvain J.M. Desmouliere, Evandro J. L. Ferreira, João Tomé Farias Neto.


[Resposta ‘curta’ e imediata do Dr. Meffe]

Thanks for sending your Abstract. I am sorry, but this paper is not appropriate for Cons. Biol., as it sounds to be mostly a species assessment/status paper and we do not publish such work here. I would try a more specialized journal.

Ronaldo Santo então sugeriu outras revistas:

Que tal fazermos mesma consulta simultaneamente aos Editores-Chefes das seguintes revistas:

1. American Journal of Botany

2. Biological Conservation

3. Conservation Genetics


Charles Clement gostou da sugestão: “Ronaldo, obrigado pelas sugestoes. Ja haviamos pensados em numero 2. Vou fazer a consulta. Ai, vamos tentar numero 1. Acho que numero 3 estah fora de cogitacao porque nao temos nada genetico.”

[Charles Clement envia o manuscrito para o Dr. R.B. Primack, editor da revista Biological Conservation]

Dear Dr. R.B. Primack,

We feel that this manuscript is suitable for Biological Conservation, but prefer to consult with you before submitting. This manuscript has not been submitted elsewhere. We plan to submit it as a Regular Paper. Although peach palm is a
rather specific topic, part of the analysis presented has implications for numerous other native South American crop wild relatives that are currently threatened by deforestation and poorly or not at all conserved ex situ.

[Dr. Primack gostou do que viu preliminarmente e prometeu resposta breve, que não foi favorável]

This manuscript looks like it may be suitable for BC. Please submit it, and we will take a look.
...[vejam a reação desfavorável abaixo]
Based on your initial description it seemed appropriate for Biological Conservation. However, this manuscript is largely a description of an attempt to locate populations of peach palm, and I therefore believe this paper would be better placed in a botanical journal or economic botany journal rather than Biological Conservation. I am returning it to you without refereeing so that you may submit to another journal quickly.

May I wish you every success in getting your paper published in the future should you decide to submit your work for publication elsewhere.

Yours sincerely,
Richard Primack, The Americas (Botanical) Editor
Biological Conservation


[Charles então teve a idéia de submeter a PLoS ONE]

Prezados, apos apanhar um pouco, consegui submeter nosso manuscrito a PLoS One. A revista eh acesso livre e relativamente nova, de forma que nao tem fator de impacto ainda, mas PLoS Biology tem fator 13 e PLoS Genetics tem fator 8. Ano que vem PLoS One terah fator de impacto tambem. Se nao voa estah vez, vou mandar onde temos alta chance, mesmo que o fator de impacto eh baixo: Genetic Resources and Crop Evolution - 0,7 ou Economic Botany - 0,5

Abrazos,

Charles R. Clement
charlesr.clement@yahoo.com.br


[Depois de algumas idas e vindas, finalmente o artigo foi aceito para publicação. Levou 4 meses e meio entre a submissão e o aceite para a publicação]

Dear Dr. Clement,

Thank you for the prompt attention to the revision. I am pleased to inform you that your manuscript has been deemed suitable for publication in PLoS ONE.
...
We are pleased to announce that your article entitled “Ecological Adaptation of Wild Peach Palm, Its In Situ Conservation and Deforestation-Mediated Extinction in Southern Brazilian Amazonia” will be published in PLoS ONE on Tuesday, February 24 with the press embargo ending at 5 p.m. Pacific Time (8 p.m. Eastern) on Monday, February 23. On publication, your paper will be available online at http://www.plosone.org/article/info:doi/10.1371/journal.pone.0004564


Resumo da história: o artigo está, a partir de hoje, disponível para todos os interessados lerem sem ter que pagar. Cliquem na figura inicial deste post. Comentem o mesmo.

Fotos: Evandro Ferreira@2004

23 fevereiro 2009

CÉREBRO HUMANO: NEM MAIOR NEM MENOR DO QUE O ESPERADO

Estudo brasileiro refuta mito de que humanos têm cérebro maior do que o esperado para a espécie

[A imagem mostra cérebros de primatas: de cima para baixo, galago, sagui, macaco-da-noite, macaco-de-cheiro, macaco reso e homem. O tamanho do cérebro humano coincide com o de um primata de seu porte]

Um primata nada especial

Um estudo brasileiro acaba de contestar uma ideia largamente aceita desde o século 19: a de que a maior capacidade cognitiva do ser humano se deve a seu cérebro relativamente avantajado. Os resultados mostram que o tamanho e o número de neurônios do cérebro humano são compatíveis com os de um primata de nosso porte – nem maiores, nem menores do que o esperado.

Os pesquisadores, liderados pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descobriram que o cérebro humano tem 86 bilhões de neurônios – e não 100 bilhões, como se acreditava anteriormente. Esse número – na verdade apenas uma estimativa de ordem de grandeza – era amplamente difundido até então, tanto que batiza um livro e a coluna que Roberto Lent – professor da UFRJ e co-autor do trabalho – mantém na CH On-line.

O novo número de neurônios do cérebro humano – calculado oficialmente pela primeira vez – permanece maior do que o de nossos parentes evolutivos, mas é bem próximo do previsto para um cérebro primata do tamanho do nosso, com cerca de 1,5 kg.

Além disso, o estudo mostrou que a quantidade de células gliais (responsáveis pelo suporte e nutrição dos neurônios e pela manutenção das sinapses) no cérebro é quase a mesma dos neurônios – 84 bilhões. A conclusão derruba outro mito amplamente consolidado: o de que haveria no cérebro humano dez células gliais para cada neurônio.

O cálculo do número total de neurônios no cérebro só foi possível graças a um método – chamado de fracionador isotrópico – desenvolvido no Laboratório de Neuroanatomia Comparada da UFRJ. Até então, era difícil estimar com grande precisão a quantidade dessas células, pois a contagem era feita com base em amostras do cérebro, que tem uma distribuição de neurônios muito heterogênea.

O novo método supera esse obstáculo, pois o cérebro é transformado em uma mistura homogênea. Primeiro, o órgão é picado em pedaços e amassado em detergente até que todas as suas células se desfaçam e seus núcleos sejam liberados e fiquem em suspensão. Em seguida, a mistura é agitada até ficar homogênea.

Uma amostra dessa “sopa” é então colhida e analisada ao microscópio para que o número de núcleos presentes seja contabilizado. Os núcleos de neurônios são marcados com corante para serem identificados. A partir da quantidade de neurônios existente na amostra, os pesquisadores conseguem estimar o número dessas células em todo o cérebro.

Nem maior, nem menor
Os resultados, que serão publicados em breve no Journal of Comparative Neurology, são compatíveis com as regras que orientam o processo de formação do cérebro de primatas. Em estudo anterior, feito em parceria com pesquisadores da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), a equipe mostrou que o cérebro de primatas cresce linearmente à medida que ganha neurônios, uma vez que o tamanho médio dessas células nervosas não se altera.

Com base nessas regras, os pesquisadores concluíram que um primata com 86 bilhões de neurônios deveria ter o cérebro exatamente do tamanho do nosso, com 1,5 kg. Isso significa que “o cérebro humano é apenas um cérebro grande de primata”, como conclui Herculano-Houzel em seu blog, no qual apresentou recentemente os resultados de sua pesquisa.

A ideia amplamente aceita de que o cérebro humano seria maior do que o esperado baseia-se na estrutura física de gorilas, orangotangos e chimpanzés. Esses animais têm o corpo maior do que o nosso, mas seus cérebros são bem menores.

Os pesquisadores brasileiros propõem agora uma hipótese alternativa: todos os primatas – incluindo os humanos – têm cérebros formados do mesmo modo. A diferença é que os corpos de orangotangos, gorilas e chimpanzés cresceram exageradamente em relação ao cérebro que possuem. “Nosso cérebro é feito à semelhança do cérebro dos demais primatas – apenas maior”, enfatiza Herculano-Houzel.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

(foto: Suzana Herculano-Houzel)

A AMAZÔNIA PÓS-CAPITALISMO

Depois do capitalismo

13/2/2009

Por Michelle Portela, de Manaus

Agência FAPESP – “As organizações e governos precisam incorporar as experiências dos diversos movimentos sociais, em especial o indígena e o camponês, protagonistas nas lutas sociais na Amazônia, se quiserem contribuir efetivamente para a construção de um novo modelo de civilização. Isso envolve processar a fusão do pensamento marxista às características particulares dos povos, em uma cultura denominada ecossocialismo.”

A proposta é de Michael Löwy, diretor de pesquisas em ciências sociais do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS). Filho de imigrantes judeus da Áustria, Löwy nasceu em São Paulo em 1938, onde se graduou em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, em 1960. No ano seguinte, mudou-se para Paris.

A obra de Löwy abrange diversas questões, que vão do marxismo ao surrealismo, sendo marcada por um interesse constante pelo pensamento libertário. Seus livros e ensaios voltam-se principalmente para a sociologia do conhecimento.

Entre seus livros estão Romantismo e Messianismo: ensaios sobre Lukács e Benjamin (publicado no Brasil em 1990), Revolta e Melancolia: o Romantismo na contramão da modernidade (1995), A Guerra dos Deuses: religião e política na América Latina (2000), Nacionalismo e Internacionalismos: da época de Marx até nossos dias (2000), A Estrela da Manhã: Surrealismo e Marxismo (2002) e Walter Benjamin: Aviso de Incêndio - Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história" (2005).

Löwy concedeu entrevista à Agência FAPESP, em Manaus, pouco antes do Fórum Social Mundial, cuja nona edição foi realizada em Belém, de 27 de janeiro a 1° de fevereiro.

Para o sociólogo, a esquerda precisa encontrar um ponto de convergência entre as mobilizações camponesas, indígenas e o movimento urbano. Se, porém, até agora, o socialismo fracassou nessa meta, tampouco o ambientalismo alcançou algo parecido, segundo afirma.

Agência FAPESP – Como o senhor vê a conjugação dos movimentos sociais com as iniciativas ambientais para a construção política, particularmente na Amazônia brasileira?

Michael Löwy – A experiência de Chico Mendes [1944-1988, líder seringueiro] e da Aliança dos Povos da Floresta [articulação entre índios, seringueiros e ribeirinhos] é apaixonante. São exemplos de como partir de uma questão concreta até conseguir articular uma aliança para defender a floresta contra a destruição promovida pelos interesses econômicos. Chico e seus companheiros tinham uma visão claramente socialista. Por isso, é importante compreender que o ecossocialismo não é uma visão de futuro, mas algo que reúne os desafios e iniciativas atuais, como a defesa da floresta a partir da união entre os povos indígenas e camponeses. Há uma relação entre a utopia socialista e as lutas concretas que se dão no campo e na cidade.

Agência FAPESP – A Amazônia seria o terreno mais fértil para a construção dessa nova experiência?

Löwy – Nós, ecossocialistas, estamos entusiasmados com o Fórum Social Mundial. Viemos trazer nossa mensagem: as soluções capitalistas para o meio ambiente fracassaram. As respostas dos governos e das empresas são ineficazes para as questões ambientais mais dramáticas, como o aquecimento global. Nosso primeiro objetivo é elevar a consciência anticapitalista, fazer entender que o capitalismo é um sistema que leva à destruição do meio ambiente, promovendo catástrofes ambientais. Outro objetivo é mostrar que existem alternativas.

Agência FAPESP – Mas essa é uma questão que não pode ser abstrata.

Löwy – Sim, ela tem que partir de movimentos e reivindicações concretas. Queremos dialogar com movimentos indígenas, campesinos e outros, para, de um lado, trazer a nossa visão, e, de outro, aprender com eles. Sobretudo, queremos escutar para aprender. A questão amazônica é fundamental para o Brasil e para a humanidade. É o que chamamos de poço de carbono. Se não fosse por ela, já teríamos entrado em um processo de aquecimento global catastrófico. A destruição da Amazônia coloca em perigo o conjunto da humanidade. É de interesse direto das populações que vivem na Amazônia, o problema é conjugar o interesse concreto com o universal.

Agência FAPESP – Como o senhor avalia a situação atual na região?

Löwy – O inimigo na Amazônia são os interesses do agronegócio, das multinacionais, para os quais a floresta é fonte de mercadoria ou, simplesmente, sinônimo de pasto para o gado ou terra para soja, o que seja. Há um enfrentamento fundamental e, infelizmente, o progresso destrutivo do capitalismo está ganhando. A destruição da floresta não apenas não se reduz como avança, e a avidez destruidora é muito mais agressiva e eficaz do que as tentativas limitadas de proteger e defender a região. Se continuar desse jeito, daqui a alguns anos, boa parte da floresta vai acabar e vamos ter de tirar o verde da bandeira e colocar cinzento, que é a cor da fumaça.

Agência FAPESP – Na Europa, os países tendem a parecer mais sensíveis à questão ecológica.

Löwy – De certa maneira, os países europeus são mais sensíveis até que seus interesses sejam prejudicados. Isso mostra os limites da consciência ecológica das classes dominantes. No último encontro do G8 [os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia], discutiu-se a questão ambiental. A Europa se propôs a colocar cifras concretas na redução de gás carbônico enquanto outros países, como os Estados Unidos, aceitaram apenas discutir a questão. O presidente da França incluiu a palavra “seriamente” e ficou por isso. A visão deles é determinada pela lógica do sistema.

(Foto: Wilson Nogueira)

CHARGE DO JORNAL "A CRÍTICA"

21 fevereiro 2009

MAIS COCAINA PRODUZIDA E EXPORTADA DA AMÉRICA DO SUL

Cultivo de folha de coca, A matéria-prima para a cocaína, aumentou 16% na Bolívia, Peru e Colômbia. Venezuela continua sendo usada como um dos principais pontos de partida das remessas de drogas ilícitas da região

ONU: cultivos de coca aumentaram 16% em Bolívia, Peru e Colômbia

BOGOTÁ, Colômbia (AFP) - Os cultivos de folha de coca, matéria-prima para a cocaína, aumentaram 16% na Bolívia, no Peru e na Colômbia, os três principais países produtores do vegetal, segundo relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) da ONU.

Segundo o relatório, a Venezuela continua sendo usada "como um dos principais pontos de partida das remessas de drogas ilícitas da região da América do Sul" e "o contrabando de cocaína aumentou espetacularmente" para a Europa através dos países do oeste da África.

A Europa, e em particular a Espanha, se tornou o principal destino da droga que passa pela Venezuela, segundo o documento.

O aumento dos cultivos foi mais importante na Colômbia, o principal produtor mundial da folha, onde, segundo os dados recolhidos pela Jife em 2008, a área semeada aumentou 27%.

Na Bolívia e no Peru foi observado um aumento moderado de 5%, destacou o relatório, que será oficialmente apresentado nesta quinta-feira em Genebra.

"A superfície de cultivo ilícito de folha de coca aumentou nos três países com maior cultivo (Bolívia, Colômbia e Peru), chegando a 181.600 hectares, o que equivale a um aumento de 16%" em média, precisou o texto.

O aumento destes cultivos, no entanto, não se refletiu na mesma proporção no crescimento da produção mundial de cocaína, que segundo a Jife chegou a 994 toneladas, somente 10 toneladas acima da medição anual anterior.

No que se refere às drogas apreendidas, a Jife destacou que a interdição de carregamentos de cocaína aumento no Brasil (18,2 toneladas), Bolívia (17,8) e Colômbia (181), mas diminuiu no Equador (25) e no Peru (8,1).

Foto: Wikipedia

MS: HORÁRIO DE VERÃO AUMENTOU REJEIÇÃO PELA MUDANÇA DO FUSO HORÁRIO

A Crítica, Mato Grosso do Sul

Adiantar o fuso de MS em uma hora, igualando o fuso horário do Estado ao de Brasília, é prejudicial à saúde, alertam especialistas, que integram o Comitê criado pelo deputado Paulo Duarte, que é contra a mudança do fuso.

Luiz Ovando informa que para cada hora de sono perdida, a pessoa diminui um ponto no QI (Quociente de Inteligência), o índice que mede a inteligência do ser humano. O psiquiatra tem um exemplo irrefutável: Albert Einstein, gênio autor da teoria da relatividade, dormia 11 horas por dia. E nesse quesito o brasileiro está em larga desvantagem.

Segundo Ovando, a defasagem de sono do cidadão comum é de 500 horas por ano. O ideal - diz ele - seria dormir no mínimo oito horas por dia. Com o horário de verão a situação se agrava, pois as pessoas não conseguem dormir mais cedo, e no entanto são obrigadas a acordar uma hora antes do habitual. “É ao dormir que o cérebro consome oxigênio e glicose. O sono também faz o organismo liberar o hormônio do crescimento, por isso a criança precisa dormir mais que o adulto”, diz o psiquiatra Rosa Pires. O resultado de uma noite mal dormida não carece de citação especializada: estresse, indisposição, até falta de concentração, o que pode ser um risco para motoristas.

Adiantar o fuso de Mato Grosso do Sul em uma hora, igualando o fuso horário do Estado ao de Brasília, é prejudicial à saúde, alertam especialistas, que integram o Comitê criado pelo deputado Paulo Duarte (foto) que é contra a mudança do fuso. Uma cartilha elaborada pelo comitê alerta as pessoas para os riscos da mudança. Para o médico cardiologista Luiz Ovandro, as mudanças bruscas na rotina transformam as pessoas em zumbis. É o caso do horário de verão, que terminou a zero hora deste domingo. Essa simples mexida no relógio é responsável pelo aumento das ocorrências cardiovasculares (infarto, por exemplo) em 5%, provoca entre 7 e 8% mais acidentes de trânsito e pior: afeta até o intelecto das pessoas, assegura o psiquiatra José Carlos Rosa Pires, especialista em sono.

19 fevereiro 2009

CONDÔMINO DEVEDOR NÃO PODE USAR ÁREA DE LAZER COMUM, DIZ TJ-SP

Márcio Pinho
da Folha de S.Paulo

Em acórdão, o desembargador Donegá Morandini relata que "não é justo que aquele que não cumpre as suas obrigações usufrua dos equipamentos de lazer do edifico à custa dos demais condôminos que pagam em dia as cotas condominiais". A decisão, de 21 de outubro, divide especialistas em direito imobiliário.

O entendimento se deu no julgamento de um apelo de um morador do edifício Morumbi Heights, na zona sul de São Paulo. O engenheiro, que pediu que o nome não fosse revelado, havia sido proibido em assembleia de moradores de usar áreas de lazer do edifício em razão de atrasos no condomínio.

Segundo o síndico Francisco Raymundo Neto, os moradores decidiram que o inadimplente por três meses ou mais ficará sujeito a sanção.

A restrição se refere a áreas de lazer que possam gerar consumo de energia ou outros custos em razão do uso do morador, como sauna, salão de festas, equipamentos da quadra esportiva e churrasqueira. A piscina não está incluída no veto, disse ele, bem como serviços essenciais, como elevadores.

"É injusto com quem paga em dia o inadimplente poder usar. Em um prédio de só 28 apartamentos, um que não paga cria uma dificuldade a ser coberta pelos outros."
O condômino que teve seus direitos restringidos conta que seu filho chegou a ser impedido de realizar um churrasco com amigos. "Foi um constrangimento grande, já que tinha convidado vários amigos."

O engenheiro diz que não pretende recorrer, mas que poderá entrar com uma ação de danos morais. Ele conta ainda que nunca deveu mais de dois meses seguidos de condomínio e que, antes da sanção, não pagou uma multa por mau uso de equipamento, "indevida". "É absurda essa decisão. Continuarei usando os serviços normalmente", diz o morador.

Brecha

A decisão do TJ encontra apoio e críticas em advogados do setor imobiliário que disseram desconhecer entendimento semelhante em favor do condomínio. Ela foi possível em razão do novo Código Civil, que traz em seu artigo 1.335 a determinação de que o condômino inadimplente é impedido de votar em assembleias.

"Daí, interpreta-se que ele pode sofrer outras sanções", diz Rubens Carmo Elias Filho, diretor-jurídico da Aabic -associação de administradoras de condomínios de São Paulo.

Ele diz considerar razoável que seja suprimido o uso de áreas "não essenciais" como forma de impor sanção ao inadimplente e que essas medidas devem estar bem explicadas na convenção do prédio.

No passado, em disputas semelhantes, o morador que buscava a Justiça para derrubar a decisão do condomínio costumava ganhar em razão de erros na assembleia que o sancionou, como falta de quórum (dois terços dos moradores).

Já o secretário da comissão de direito imobiliário da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Edwin Britto, afirmou que não se pode vetar o direito de uso porque restringe o direito de propriedade.

"Não existe nada na lei que dê esses poderes. Há meios legais de cobrar o inadimplente. Essa decisão é uma exceção. A esmagadora maioria aponta que essa restrição não pode ser feita", disse.

OS PERIGOS DA PICANHA

Para quem aprecia picanha malpassada e a camada de gordura que a envolve: os ácidos graxos saturados presentes nesta gordura acionam uma inflamação no hipotálamo, na base do cérebro, que leva à destruição dos neurônios que controlam o apetite e a queima de calorias. A fome fica incontrolável

Gordura atrai gordura

19/2/2009

Por Carlos Fioravanti

Revista Pesquisa FAPESP – Quem aprecia uma picanha malpassada e principalmente a camada branca de gordura que a envolve talvez se inquiete. Um tipo de gordura – os ácidos graxos saturados de cadeia longa, encontrados principalmente em carnes vermelhas – pode ser uma das causas da obesidade.

De acordo com experimentos realizados em camundongos, essas moléculas acionam uma inflamação no hipotálamo, na base do cérebro, que leva à destruição dos neurônios que controlam o apetite e a queima de calorias.

“Talvez tenhamos encontrado uma explicação para a dificuldade de as pessoas obesas controlarem a fome e perderem peso, mesmo que adotem dietas severas para emagrecer”, diz Lício Velloso, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que coordenou esse estudo, publicado em janeiro no Journal of Neuroscience.

Os estudos anteriores da equipe de Velloso e de outros grupos já haviam mostrado que a obesidade era uma doença que começava no cérebro ou nos músculos, induzida por dietas com excesso de açúcares ou de gorduras. Esse excesso gerava resistência ao hormônio insulina, que carrega a glicose para as células, onde é transformada em energia, e induz ao consumo contínuo de alimentos.

Testes com animais já haviam mostrado que dietas ricas em gordura em geral danificavam o hipotálamo mais intensamente que as ricas em açúcares. Para ver qual tipo de gordura era mais danoso, os pesquisadores da Unicamp injetaram diferentes tipos de ácidos graxos de origem animal ou vegetal no hipotálamo de camundongos.

Os encontrados no óleo de soja mostraram um efeito tênue sobre o cérebro, enquanto os encontrados em gorduras animais e em proporção menor no óleo de amendoim apresentaram ação mais danosa.

Clique aqui para ler o texto completo na edição 156 de Pesquisa FAPESP.

Assinatura, renovação e mudança de endereço: (11) 3038-1434, (11) 3038-1418 (fax) ou fapesp@teletarget.com.br

(Imagem: Wikipedia)

OBRIGATORIEDADE DE AIR BAG EM TODOS OS VEÍCULOS NOVOS É APROVADA NA CÂMARA

Regra começa a valer cinco anos após regulamentação do Contran. Poderá haver um acréscimo de até 10% no preço de carros populares. Projeto segue agora para a sanção presidencial.

Eduardo Bresciani
Do G1, em Brasília

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (18), em votação simbólica, um projeto tornando item obrigatório para carros novos o airbag para o motorista e o passageiro do banco dianteiro.

Caberá ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentar as especificações técnicas e o cronograma de implantação, mas cinco anos após a resolução do Contran todos os automóveis novos deverão ter o airbag como item de série. Como já foi aprovado no Senado, o projeto segue agora para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pelo texto aprovado, será dado um prazo de cinco anos, após a regulamentação do Contran, para que todas os carros novos fabricados no Brasil, exceto os destinados à exportação, tenham o air bag como item obrigatório.

No primeiro ano da regulamentação, no entanto, já poderá ser exigido que projetos novos de veículos tenham o airbag como item de série e não mais como opcional. Não há na lei prazo para o Contran realizar a regulamentação.

Questionamentos

O projeto provocou discussões em plenário. Representantes da bancada do trânsito, como Hugo Leal (PSC-RJ), queriam prazos mais curtos e mais rigidez também no prazo para o Contran regulamentar. “O prazo é muito longo e estamos abrindo mão de determinarmos regras mais específicas para a regulamentação”.

Houve questionamentos também relativos ao preço dos automóveis. Para o deputado Marcelo Almeida (PMDB-PR), poderá haver um acréscimo de até 10% no preço de carros populares. “O carro mais simples não vai mais custar R$ 20 mil, vai custar R$ 22 mil, além de o seguro para o carro com airbag ser mais caro”.

Além da questão da segurança, o deputado Jorginho Maluhy (DEM-SP) acredita que o preço do air bag cairá. “Se incentivarmos o uso do airbag estaremos incentivando a industria brasileira e desenvolver pesquisa para que possamos fabricar este equipamento integralmente no Brasil. Estaremos preservando a vida e gerando empregos”.

18 fevereiro 2009

MS: FUNAI E AGU NÃO PODERÃO REPRESENTAR INDÍGENAS COM PROBLEMAS NA JUSTIÇA

No MS, com a maior população carcerária indígena do país, juiz da cidade de Dourados (MS) proíbe indígenas de receber assistência jurídica da Funai e da Advocacia-Geral da União (AGU) nos processos em que respondem por crimes

Cimi e índios condenam restrição de defesa imposta por juiz

Vinicius Konchinski
Agência Brasil

Dourados (MS) - O assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Rogério Rocha, e a liderança guarani-kaiowá Anastácio Peralta condenaram a decisão do juiz Celso Antonio Schuch Santos que proíbe que índios de Dourados (MS) recebam assistência jurídica da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Advocacia-Geral da União (AGU) nos processos em que respondem por crimes.

Para Peralta, que também é membro da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), a decisão de Santos mostra que “ele não conhece nem um pouco a realidade dos indígenas”. A liderança lamentou o fato de as posições do juiz não serem isoladas no Judiciário brasileiro. “A Justiça do Brasil inteiro está desta forma: é condenar índio”, afirmou ele, em entrevista à Agência Brasil.

Rogério Rocha afirmou que a decisão é inconstitucional e, com certeza, será derrubada pela Funai. Lembrou, contudo, que muitos índios podem ser prejudicados enquanto isso não ocorre.

Rocha disse que Mato Grosso do Sul tem a maior população carcerária indígena do país. Segundo ele, pesquisas apontavam que, em 2006, 116 índios encontravam-se presos no estado, 68 só em Dourados - estes possivelmente atingidos pela decisão.

“Se o juiz não aceita a defesa da Funai, o procurador da Funai não pode entrar no presídio para falar com o índio que está preso”, afirmou Rocha, ressaltando que muitos dos indígenas presos já são punidos por crimes discutíveis.

Um dos casos mais comuns, segundo o assessor do Cimi, é a prisão por estupro presumido, quando um homem é preso por manter relações sexuais como uma garota de até 14 anos. Ele explicou que como os índios costumam casar cedo, muitos maridos acabam sendo presos acusados de estuprar a própria esposa, que ainda não completou 15 anos de idade.

“A defesa de um índio deve levar em conta aspectos culturais e antropológicos. Nem sempre um advogado de defesa consegue levar isso em consideração.”

O juiz Celso Santos reiterou, em entrevista à Agência Brasil, que os índios de Dourados não devem ser defendidos pela Funai pois já estão adaptados ao convívio social. Ele negou qualquer tipo de perseguição contra os indígenas e afirmou ponderar questões culturais em seus julgamentos.

DESAFIOS PARA A EFETIVIDADE DAS AÇÕES DE CONTROLE DA HANSENÍASE

A implantação dos esquemas poliquimioterápicos e a motivação pela eliminação na década de 1990 impulsionaram a precocidade do diagnóstico e resultaram em uma desaceleração de novos casos nas áreas com melhores índices de desenvolvimento humano e infraestrutura de serviços de saúde na região Sul e no estado de São Paulo

Maria Leide W. de Oliveira
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro

A hanseníase é uma doença de longo período de incubação e evolução clínica insidiosa. O Mycobacterium leprae não leva seu hospedeiro à morte e parece ser uma bactéria atenuada, por exibir perda de sua carga genética, menor que a do Mycobacterium tuberculosis (Cole, 2001). Entretanto, preserva sua virulência ao penetrar na célula nervosa e tem alto potencial incapacitante. A adaptação ao homem e os mecanismos de persistência e tolerância permitem o acúmulo de milhões de bactérias, com sinais e sintomas inexpressivos nos indivíduos anérgicos.

Determinantes históricos e socioeconômicos, relacionados à ocupação de novos espaços geográficos no Brasil, podem explicar o grande contingente de pessoas infectadas, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste (Magalhães, 2007).

Da mesma forma, tem-se a manutenção das iniqüidades sociais na região Nordeste e periferias de algumas metrópoles, áreas conhecidamente mais endêmicas no país. Assim, pessoas infectadas e infectantes sem tratamento se movem mantendo os elos da cadeia de transmissão. Um número significativo de infectados poderá adoecer em qualquer momento de suas vidas. Portanto, mesmo já se observando redução na intensidade de produção de novos casos no Brasil a queda do coeficiente de detecção geral será lenta (Penna, 2008).

A captação precoce desses casos, antes que haja evolução para as formas multibacilares, propiciaria a redução da prevalência oculta (que mantêm fontes de infecção), de pessoas com seqüelas físicas e sociais da doença e da geração de novos casos.

A prevalência oculta é um tema de interesse da vigilância epidemiológica da hanseníase. O diagnóstico tardio está relacionado à presença de deformidades na detecção, o que tem sido utilizado para estimá-la (Ferreira et al., 2000; Gil & Lombardi, 2000) com alguns possíveis vieses relacionados à qualidade dessa avaliação.

Com a mesma finalidade, alguns autores propunham a forma Indeterminada no passado e, mais recentemente, o percentual de casos diagnosticados com lesão única, ambos também passíveis de problemas operacionais, embora envolvendo procedimentos mais simples que os anteriores, na esfera local (Ignotti et al., 2004).

Um dos exemplos de observação do comportamento endêmico da hanseníase tem sido a Noruega, onde o esgotamento do reservatório humano de infectados ocorreu lentamente, finalizando com o adoecimento apenas de idosos, infectados remotamente (Irgens & Skjaerven, 1985).

O deslocamento da idade (de crianças e jovens para adultos e idosos) indica infecção remota e esgotamento de indivíduos infectados. Quanto mais precoce o aparecimento da hanseníase, mais próximo deve estar esse doente da sua fonte de transmissão. Portanto, o fato de 8% dos casos novos detectados no período de 2000 a 2007 terem ocorrido em menores de 15 anos de idade no Brasil indica a existência de focos ativos de transmissão da doença em algumas regiões do país (www.saude.gov.br/svs).

O Programa Nacional de Controle da Hanseníase (Departamento de Vigilância Epidemiológica/Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde) elege o indicador coeficiente de detecção em menores de 15 anos de idade para monitorar a endemia no país em 2007, ousando inseri-lo no Plano de Aceleração do Crescimento (Brasil, 2008), com meta de redução de 10% ao final do plano.

Essa iniciativa, somente possível após 20 anos de implantação da poliquimioterapia e municipalização das ações de controle, impõe a focalização da doença e agilidade no desempenho de medidas de vigilância epidemiológica.

Estas incluem, dentre outras, a completitude e crítica dos dados de notificação de caso e o exame dos respectivos contatos, visando a interrupção das fontes de infecção. Uma questão observada em relação ao exame de contatos refere-se ao rendimento de um único exame, especialmente em se tratando de diagnóstico precoce do caso índice, quando ainda não houve tempo suficiente para a ocorrência ou não da doença entre os infectados. A vacinação BCG de reforço poderia, então, atuar na potencialização da resposta desse contato infectado, especialmente naqueles com background para as formas multibacilares, assim, novas fontes de infecção, em que pesem as controvérsias a respeito dessa proteção (Barreto, 2006).

Seguindo essa perspectiva, a manutenção do Brasil, único país a adotar a dose BCG de reforço entre os países mais endêmicos, poderia talvez ser explicada pela baixa cobertura do exame de contatos e, conseqüentemente, dessa dose de reforço. Merece ressalva a vacinação escolar de BCG, por quase uma década, pelo Programa de Controle da Tuberculose, e a alta cobertura de BCG, no primeiro mês de vida.

Uma intrigante discussão atual diz respeito às evidências de que em indivíduos infectados, com resposta imune-celular competente, a vacinação pode encurtar o período de incubação da doença e até induzir a produção de novos casos, numa fase inicial (Düppre, 2008).

Recentemente, outros fatores têm sido relacionados a esse efeito como a utilização da geração de drogas estimuladoras de fator de necrose tumoral (TNF), citocina conhecida como indutora de resposta efetiva contra o M. leprae (Scollard, 2006), assim, como, de forma similar, a terapêutica anti-retroviral para Aidas e o interferon peguilato para hepatites, além do efeito desencadeador de quadros clínicos reacionais por co-morbidades como hepatites (Pignataro, 2004; Rego et al., 2007).

Uma das peculiaridades da hanseníase está na abrangência dos cuidados exigidos ao seu portador, cujas demandas assistenciais vão da atenção básica à média e à alta complexidades. Além disso, demandas diversas podem persistir no período de pós-alta terapêutica, em cerca de 30% dos casos, como pode ser visto no artigo de Minas Gerais a seguir.

Tangenciando todas essas questões mais relacionadas à doença, há o componente da gestão desses cuidados, nas três instâncias administrativas do Sistema Único de Saúde (SUS), e que foram a motivação para a maioria dos estudos apresentados nesse número dos Cadernos Saúde Coletiva.

Realmente, os esforços das políticas pós-implantação dos esquemas poliquimioterápicos, na década de 1980 e até a motivação pela eliminação na década de 1990, impulsionaram a precocidade do diagnóstico. Um aspecto importante tem sido a difusão da cura da doença e desmistificação associada à terminologia lepra. No Brasil, embora ainda longe do ideal, já é possível observar aproximação da real incidência da doença em algumas áreas onde há um bom desempenho da captação de casos e tratamento da doença. Com isso já pode ser observada uma desaceleração na produção de casos novos nas áreas de endemia mais antiga, com melhores índices de desenvolvimento humano e melhor infraestrutura de serviços de saúde (regiões Sul e estado de São Paulo). Da mesma forma, mas em menor escala, a desaceleração pode ser vista como resultante de um esforço contínuo das ações estaduais de controle nos últimos 20 anos em estados como Acre e Amazonas. Porém, o impacto alcançado na incidência da hanseníase, em todo o mundo é aquém do esperado (Meima, 2004).

Trata-se, portanto, de um desafio hercúleo para técnicos, gestores e sociedade organizada no enfrentamento de problemas estruturais e processos que garantam a efetividade das medidas de controle, especialmente considerando a situação das regiões mais endêmicas e o comportamento da doença.

*Artigo originalmente publicado na revista 'Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 16(2): 141-146, 2008.

ACRE: PARLAMENTARES EVANGÉLICOS SÃO MAIS ATUANTES

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Um projeto de pesquisa da estudante Eliana Maia de Lima e do professor Enock da Silva Pessôa, do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da UFAC, junto aos parlamentares da Assembléia Legislativa do Acre concluiu que, embora em minoria, os deputados evangélicos são mais atuantes na quantidade de projetos apresentados.

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, os deputados Católicos e evangélicos 'praticantes' concordam que a melhoria na condição de vida da população depende de melhor distribuição de renda, do fortalecimento dos setores estratégicos, e da união de todos, atores políticos e sociais em prol do bem comum para a sociedade

A pesquisa, realizada como parte do Programa de Iniciação Científica da UFAC, na qual um professor orienta um aluno de graduação nos passos iniciais da carreira de pesquisador, procurou analisar as crenças, atitudes e comportamentos políticos dos parlamentares ligados a entidades religiosas no Acre, através da análise de seus discursos e de outras atividades ligadas ao parlamento.

Ela enfatizou uma face da Psicologia Social e Política voltada para a análise do fenômeno político-religioso que tem demonstrado grande repercussão no comportamento dos indivíduos e grupos de hoje no Brasil: o fenômeno da religião e seu campo de visibilidade política e social em geral.

Outro aspecto abordado pela pesquisa foi verificar quais as diferenças de crenças, atitude e atuação política dos distintos parlamentares com motivação religiosa, quais os vínculos que os unem e os diferencia dos demais parlamentares de prática não religiosa.

Na conclusão do trabalho, os autores afirmam que embora existam algumas diferenças entre os parlamentares, do ponto de vista religioso, o comportamento dos parlamentares em relação ao conhecimento da crença dos outros colegas é claramente tolerante e compreensivo. Segundo os autores, os parlamentares religiosos são pessoas possuidoras de uma conscientização a respeito de si próprias e reconhecem suas próprias limitações reais, lógicas e psicológicas como políticos e como pessoas.

Para saber mais:

Para obter cópia integral do relatório da pesquisa "Estudo Comparativo dos Parlamentares Ligados a Entidades Religiosas no Acre", de autoria de Eliana Maia de Lima e Enock da Silva Pessôa os interessados devem contactar o Dr. Enock Pessôa no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura, Política e Religião (NEPCPR) do Departamento de de Filosofia e Ciências Sociais da UFAC (nepcpr@ufac.br) ou pelo telefone 3901-2500.

Foto: Assecom ALEAC

O JUDICIÁRIO E O GRAU DE CONFIANÇA DA SOCIEDADE

Blog do Frederico Vasconcelos

O site "Consultor Jurídico" divulga resultados de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas --com 1.200 entrevistados-- apresentada no 2º Encontro Nacional do Judiciário, em Belo Horizonte, revelando que o Judiciário está em 9º lugar entre 17 instituições no índice de confiança.

Em relação à confiança em profissionais, os juízes ficam em quinto lugar. A pesquisa revela que em primeiro estão os professores, em segundo, os policiais federais, em terceiro, promotores de Justiça, em quarto, o presidente da República.

A pesquisa foi apresentada pelo conselheiro Joaquim Falcão, do CNJ. Segundo Falcão, apesar de 80% dos entrevistados acharem que vale a pena procurar o Judiciário, o principal problema apontado é a falta de agilidade.

“O Judiciário é pouco conhecido”, afirmou o conselheiro. Segundo a pesquisa da FGV, 36% conhecem o Judiciário de “ouvir falar” ou não conhecem. Os que conhecem o Judiciário citaram a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral e os Juizados. 76% não conhecem o CNJ. A maioria que conhece considera o conselho ótimo --revela o texto da jornalista Marina Ito.

Uma leitura paralela, que não foi feita no texto citado: aparentemente, o estrago provocado pelos episódios da Operação Satiagraha e a grita contra a chamada pirotecnica das operações da Polícia Federal não abalaram a confiança da sociedade na instituição.

17 fevereiro 2009

AMAZÔNIA: MENOS CHUVAS RESULTAM EM MENOS ÁRVORES E ABSORÇÃO DE CARBONO

Redução de chuvas elimina árvores de grande porte e diminui capacidade de absorção de carbono na Amazônia

A floresta no limite


Por Ricardo Zorzetto

Revista Pesquisa FAPESP – A paisagem que Paulo Brando encontrou em outubro passado na Floresta Nacional do Tapajós em Belterra, município no oeste do Pará, é bem distinta da que o encantou em sua primeira viagem à região seis anos atrás.

As árvores mais altas e imponentes tinham muito menos folhas que o normal e já não se abraçavam no topo da floresta como antes. Várias estavam secas e mortas e por entre os vãos da copa deixavam espiar o céu. Quase sempre inacessíveis a quem caminha pela mata, os raios de sol chegavam à camada de folhas no solo, deixando-a mais seca e propensa a pegar fogo.

Felizmente a transformação observada pelo engenheiro florestal paulista se restringe – ao menos por enquanto – a uma pequena área da Amazônia que na última década vem servindo de laboratório natural para pesquisadores brasileiros e norte-americanos interessados em descobrir o que pode acontecer com a mais vasta floresta tropical do mundo caso, como previsto, a temperatura do planeta continue aumentando e as chuvas diminuam na região.

No interior dessa reserva ambiental às margens do rio Tapajós, a 67 quilômetros ao sul de Santarém, Daniel Nepstad, ecólogo do Centro de Pesquisas Woods Hole, nos Estados Unidos, e fundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), criou no final dos anos 1990 um elaborado experimento a céu aberto.

Selecionou um hectare de vegetação nativa – o correspondente a um quarteirão com 100 metros de lado – no qual simulou secas intensas semelhantes às causadas de tempos em tempos no leste da Amazônia pelo El Niño, o aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico.

Durante cinco estações chuvosas seguidas, cerca de 30 pesquisadores e auxiliares da equipe de Nepstad instalaram um pouco acima do solo 5.660 painéis plásticos de 3 metros de comprimento por 0,5 metro de largura, recolhidos ao final de cada período de chuvas. Como uma espécie de guarda-chuva sobre a floresta, os painéis desviavam as águas vindas do céu para um sistema de calhas que as conduziam para longe dali.

Os efeitos desse experimento complexo e dispendioso – foram medidos gases emitidos para a atmosfera, umidade do solo, crescimento das plantas, entre outros fatores – começaram a se tornar mais claros recentemente com a publicação de artigos científicos detalhando os danos causados por cinco anos de uma seca experimental severa que reduziu de 35% a 40% o volume de água que chegava ao solo (o índice médio de chuvas na região de Santarém é de 2 mil milímetros por ano, concentrados de dezembro a junho).

Clique aqui para ler o texto completo na edição 155 de Pesquisa FAPESP.

(foto: Jennifer-Balch/NCEAS)

BACURI: ESPERANÇA DE PRESERVAÇÃO DA ESPÉCIE PODE SER MANEJO DE FRUTOS PRATICADO NO MARANHÃO

Os bacurizais vêm sendo substituídos de maneira acelerada por áreas de eucalipto, monocultura da cana-de-açúcar e soja. Entretanto, sistema de manejo do fruto no Maranhão reduz desmatamento e preserva a bacia amazônica

Bacuri universal

Com sabor e aroma agradáveis, além de muito nutritivo, o bacuri pode se tornar uma fruta de consumo generalizado no país, a exemplo do guaraná e do açaí (foto: José Silva).

Depois do guaraná, do cacau, do açaí e do cupuaçu, hoje consumidos em todo o país, uma nova fruta pode seguir o mesmo caminho: o bacuri. Encontrado sobretudo na bacia amazônica (Pará, Maranhão, Mato Grosso e Piauí), o bacurizeiro é uma espécie arbórea da família Clusiaceae, com potenciais ainda pouco explorados.

Além de saboroso, o fruto, de casca amarela, é tão rico em potássio quanto a banana, contendo ainda muitos outros sais minerais e vitaminas, principalmente do complexo B. O caule também pode ser utilizado na construção de caibros, canoas, cercas etc.

Para que o bacuri se torne uma fruta universal, no entanto, segundo a agrônoma Maria da Cruz Moura, da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp/Seagro/Fapema), é preciso ampliar sua capacidade de oferta, totalmente dependente do extrativismo. Ela acredita no potencial da fruta por causa da boa aceitação comercial, apesar do preço elevado da polpa (R$ 26 o quilo).

“O bacuri conquista os nossos sentidos com seu aroma agradável, cor atraente, acidez moderada e alto teor nutritivo. Ainda são necessárias muitas pesquisas para conhecer melhor suas propriedades, mas é, sem dúvida, um mercado em ascensão.”

O bacurizeiro é uma das poucas espécies que têm polinização ornitófila (realizada por aves) e, no cerrado maranhense, os principais polinizadores são as pipiras e os periquitos. Para aumentar a densidade de bacurizeiros nativos, que varia de 0,5 a 1,5 por hectare, para 100 plantas por hectare, vem sendo empregado um sistema de manejo das rebrotas (filhotes) dos bacurizais nativos (SMRBN), criado pelos produtores do Pará e aperfeiçoado pela Embrapa Amazônia Oriental. “O bacuri tem uma característica ímpar, o rebrotamento é feito por suas raízes”, explica a pesquisadora.

O sistema de manejo consiste basicamente em aumentar a densidade da espécie, intercalando, enquanto não frutifica, com outras culturas alimentares, como feijão, mandioca, melancia etc. “Assim, não é preciso queimar novas roças para plantio e evita-se a agricultura itinerante. O sistema promove assim geração de renda e emprego”, observa a agrônoma. O SMRBN está sendo testado na Chapada Limpa, no Maranhão.

Risco de extinção

Se medidas preservativas não forem tomadas rapidamente, no entanto, o bacuri poderá ser extinto. A paisagem de bacurizais, como conta Moura, vem sendo substituída de maneira acelerada por áreas de eucalipto, monocultura da cana-de-açúcar e soja.

A agrônoma enumera diversas ações para a preservação dos bacurizais, como a criação de leis de incentivo de uso, manejo e conservação. “Deve ser criada uma multa para quem cortar árvores com mais de 100 anos”, defende a pesquisadora, acrescentando que seria importante, ainda, a proposição de editais de financiamento para pesquisa da espécie e confecção de mudas.

Outra sugestão é a arborização de áreas urbanas com bacurizais. “As flores são lindas e, enxertadas, elas lembram uma árvore de Natal”, diz. A divulgação da importância socioambiental e nutricional da espécie é também uma medida importante para a sua preservação, fazendo com que a planta “deixe de ser invisível para tornar-se universal”.

Fred Furtado e Isabela Fraga
Ciência Hoje/RJ

(foto: Urano Carvalho).

CHARGE DO JORNAL "A CRÍTICA"