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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

29 maio 2012

O ACRE E A GLOBALIZAÇÃO TARDIA


Alceu Ranzi*

Está enganado quem pensa que a globalização é um fenômeno moderno ou do Século XXI. A globalização é antiga e atingiu o Brasil em 1500, com a chegada dos portugueses. Logo a seguir africanos escravizados foram trazidos para o nosso país para produzir um produto em demanda na Europa. Esse produto era o al-zucar dos muçulmanos. Mão de obra africana para o plantio de cana, de origem asiática. Das terras americanas seguia o açúcar que cruzava o Atlântico, a bordo de navios portugueses, para ser distribuído na Europa.

A pergunta a ser respondida é por quais razões, o Acre, por quase 400 anos, ficou à margem do mundo globalizado?

Afinal, de outras partes do interior da Amazônia, já temos notícias desde a viagem de Orellana e Carvajal (1541-1542). Nessa oportunidade parte da Amazônia foi revelada desde os contrafortes dos Andes Equatorianos até Belém. Foi também quando surgiu a lenda das Amazonas.

Anteriormente, em 1533, o Império Inca já havia capitulado para o bando de aventureiros de Francisco Pizarro. O império Inca se estendia para o Oeste pelas nascentes de vários rios amazônicos. Vale lembrar que a cidade de Cuzco, antiga capital dos Incas, banhada por rios que alimentam o Amazonas, está a menos de 600 km de Rio Branco.

Partindo do Peru, em 1559, Lope de Aguirre com Pedro de Ursúa e Fernando de Guzmán iniciaram a descida dos Andes pelo Rio Huallaga, atingiram o Rio Amazonas e acabaram chegando ao Atlântico. Lope de Aguirre e seus companheiros não passaram pelo Acre. Pedro Teixeira, de 1637 a 1639, navegou pelo Rio Amazonas e Napo, refazendo nos dois sentidos a viagem de Orellana – (Belém-Quito-Belém). Uma das boas fontes desse feito é a descrição do Pe. Cristóbal de Acuña – Novo Descobrimento do Rio Amazonas. Em 1743, Charles Marie de La Condamine foi o primeiro cientista a fazer esse já conhecido caminho (Quito-Belém), relatando na Europa a existência da borracha e do curare.

Para comparar a distância temporal dos acontecimentos, tomemos como exemplo o ensino superior. Data de 1692 a fundação da Universidade em Cuzco. A Universidade do Acre só foi fundada quase 300 anos depois. No Beni, na atual Bolívia, fundaram-se missões religiosas espanholas a partir dos anos de 1690. Na mesma época já havia missionários pregando em Manaus, com a fundação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Só duzentos anos depois os primeiros missionários cristãos passaram a fazer desobrigas ao longo dos rios do Acre. A Prelazia do Acre e Purus data de 1919 e a Prelazia do Juruá, em Cruzeiro do Sul, só veio a ser criada em 1931.

Com o Tratado de Madri (1750), os Portugueses, entre outras ações, para defender seus territórios, mandaram construir o Forte Príncipe da Beira, na margem direita do Rio Guaporé, no atual Estado de Rondônia. Para chegar ao local designado, oficiais, escravos, soldados, religiosos e engenheiros partiam de Lisboa, cruzavam o Atlântico, subiam o Amazonas, o Madeira, o Mamoré e o Guaporé. De Lisboa para o Forte Príncipe da Beira seguiam barcos, material bélico e de construção. Tudo passava bem perto do Acre, na boca do Rio Abunã. E a região do Acre, da margem esquerda do Madeira à margem direita do Javari, um vasto mundo desconhecido, continuava parte das “tierras no descobiertas” pertencentes à Espanha. Entre os anos de 1783 e 1792, Alexandre Rodrigues Ferreira empreendeu sua Viagem Philosophica pela Amazônia, na ocasião passou pelo Madeira e o Guaporé, também esteve bem perto do Acre.

Tanto Orellana, como Aguirre, Pedro Teixeira e La Condamine passaram pelas bocas do Purus e do Juruá. As expedições não adentravam esses rios, nem cruzavam as atuais terras do Acre. O Purus e o Juruá eram as principais vias de acesso às terras acreanas, mas não efetuam a ligação do Atlântico com os Andes. Quem ingressava pelas bocas desses rios, a partir do Solimões/Amazonas, terminava obrigatoriamente voltando ao ponto de partida. Essa pode ser uma das mais fortes razões de que, enquanto em todas as frentes, a globalização avançava patrocinada pelos Portugueses e Espanhóis, o Acre tornou-se refúgio de vastas populações de tribos isoladas.

Até pouco mais de cem anos atrás o Acre, por sua hidrografia, continuava desconhecido e fora do eixo de expedições, de aventureiros, de cientistas e missionários. Tudo mudou com a invenção do automóvel e a necessidade de borracha.

Finalmente o Acre foi envolvido pela teia do mundo globalizado. Os cearenses descobriram que o Acre era repleto de seringueiras, a terra da melhor borracha, cheio de índios, de malária e de febre amarela. Navios carregados de borracha desciam os rios do Acre e de lá para os portos da Europa e America do Norte. Com a borracha o Acre ficou “enredado” no mundo globalizado.


O Acre exportava um único e valioso produto e praticamente tudo o que consumia era importado. A malária doença originada na África, trazida pelos navios negreiros, talvez tenha sido, mesmo antes da busca por borracha, o primeiro sinal da globalização que chegou ao Acre.

*Instituto Histórico e Geográfico do Acre

24 maio 2012

O GENERAL DA EDUCAÇÃO

Raimundo Barros Lima*

Hoje a comunidade educacional acreana, está em festa e agradecida a Deus pela passagem de mais um aniversário do general da educação acrea-na, professor Raimundo Gomes de Oliveira; eterno diretor do Colégio Acreano, por votação popular e a maior personalidade da educação acreana no século XX.

Conheci-o por intermédio do meu querido e saudoso amigo, José Chalub Leite, durante suas caminhadas para o cumprimento de sua função mais nobre: ser jornalista.

Ao chegarmos no Colégio Acreano , disse-me: Vamos visitar meu amigo diretor. Lá estava aquele senhor taciturno, compenetrado ao trabalho, naquela mesa companheira por décadas na luta e aprimoramento do ensino acreano, e, em particular, para aquele colégio, seus alunos, mestres, funcionários os quais se confundiam com sua família.

Imagino, que durante quatro décadas dedicadas ao Colégio Acreano, ao sacerdócio do ensino da mais pura qualidade; esse senhor professor, passou mais tempo lá, que em sua residência, pois trabalhava das 7h30 às 20h no mínimo diariamente.

“Boa tarde professor“ . Ao perceber nossa presença, o perfil de general transformou-se em uma pessoa dócil, amiga e atenciosa. Foi-se uma parte da tarde, com papos diversos, sobre educação e questões cotidianas.
Começa uma amizade.

O Naylor Jorge; poeta, jornalista, historiador e anarquista no bom sentido da sua vida, após umas doses disse: “sou contra a Ditadura, mas gosto de um disciplinador no Ensino, e, esse perfil tem o professor Raimundo Gomes de Oliveira (Raimundo Louro), por isso, que o ensino do Colégio Acreano é de alta qualidade“.

Aplaudido pelos presentes: Foch, Barros, Edson Martins , Saul , João Papagaio que concordaram e brindaram pela saúde do ilustre mestre.

O professor Raimundo Gomes de Oliveira tem o seguinte perfil:

Nasceu em 24.05.1924, em Capanema – Pará, porém com dois (2) anos sua família desembarcou em Sena Madureira, onde viveu parte de sua infância. Ele se considera senamadureirense da gema. Seus pais José Vicente de Oliveira e Vandira Gomes de Oliveira, foram seus maiores ídolos e sustentáculo de sua brilhante carreira profissional. Casado com Edite Abreu de Oliveira, musa e dona do seu coração, o qual conquistou em Xapuri , quando o mestre Raimundo prestava seus conhecimentos, no Instituto Divina Providência, de 1955 a 1958.

Aquele professor de olhos azuis embalou e destruiu jovens corações das moças residentes em Brasiléia, Taraua-cá, Rio Brando e Xapuri. Contudo, foi a bela Edite, meiga e educada, que conquistou e prendeu o jovem Raimundo, para um casamento eterno.

Raimundo Gomes, desde criança demonstrava aptidão para os estudos, sua escolaridade foi exemplar: fez o curso primário no Grupo Escolar 7 de Setembro; ginasial no Colégio Acreano; colegial na Escola Normal Lourenço Filho; superior bacharel em Direito, Universidade Federal do Acre. Todos esses cursos em Rio Branco, conduziu-os com dedicação, aproveitamento e suprema inteligência.

O professor Gomes participou de vários cursos de especialização e aperfeiçoamentos na área de ensino, sendo os mais importantes: aperfeiçoamentos de Ensino, promovido pela Universidade Católica de Campinas – São Paulo; Administração da Legislação de Ensino – organizado pelo Centro de Administração Técnicas do Estado; Curso de professores do Ensino Médio, na disciplina de Português - organizado pela Inspetoria Seccional e Ensino Secundário do Amazonas.

A carreira profissional - Filho de famílias que primavam pelo trabalho, Raimundo Gomes de Oliveira sempre almejava trabalhar, já no inicio de sua juventude, para lhes proporcionar condições de vida ainda melhores. Sua primeira oportunidade de emprego aconteceu quando estudava no Colégio Acreano, convidado pelo diretor Pimentel Gomes (Agrônomo, escritor de livros de Matemática e Estatística), então responsável pelo setor Agropecuário, no governo Silvestre Coelho. As famílias Gomes eram amigas, quando Aymoré, filho do Dr. Pimentel, adoeceu, o colega Raimundo, começou a organizar as disciplinas ministradas no Colégio Acreano e repassá-las com firmes orientações. Percebendo sua capacidade para manipular números, designou-o, para o exercício da função de observador meteorológico na antiga Estação Experimental (hoje bairro) Agropecuária do governo. “Foi meu primeiro emprego, ao qual dediquei-me com muito amor, assiduidade e disciplina”.

Com a saída de Jarine, chefe do setor, o mestre assume o cargo de chefia do setor de meteorologia. Começa também sua carreira profissional de funcionário publico; O segundo setor de trabalho foi no Departamento de Viação e Obras Públicas.

Seu Grande sacerdócio, educação, começou em 1950. Com a profunda paixão, competência e amor o mestre Raimundo Gomes exerceu o Magistério desde os governos Guiomard Santos, até Orleir Cameli. Diretor do Colégio Acreano de 1966 a 1999, é uma vida! Passando pelo período negro da revolução até a democracia.

No período de 1950 a 1954 foi professor das disciplinas de Português e Francês, nas escolas Normal Lourenço Filho e Técnica de Comércio Acreano, Ginásio Nossa Senhora das Dores, Colégio Acreano até 1954; Instituto Divina Providência (Xapuri), 1955/1958; diretor da Escola Normal e Grupo Escolar João Ribeiro-Tarauacá, 1959/1963. “‘Fui recebido com um lindo baile e um recital no thea-tro de Tarauacá, por professores, pais, alunos e convidados, foi emocionante”.

O professor “Raimundo Louro” retoma sua brilhante carreira administrativa no ensino acreano em 1965, como vice-diretor do Colégio Acreano: diretor em 16 de maio de 1966, desde aquela data o Colégio Acreano obteve destaque no cenário educacional acreano e na Região Norte, onde formavam-se brilhantes acreanos, cujo capital intelectual foram demonstrados por governadores, desembargadores, funcionários públicos , professores, políticos. “Sou muito bem recebido e amado por meus ex-alunos”, diz Raimundo Gomes.

O cotidiano: Missões, alegrias e tristezas.

O professor Raimundo Gomes de Oliveira recebeu durante sua dedicação ao ensino acreano, em especial no Colégio Acreano, séries de homenagens, placas comemorativas, versos, cartões, poemas, festas surpresas, troféus, comendas as quais o emocionaram muito, felizmente, todas em vida, como reconhecimento aos seus serviços prestados ao desenvolvimento de ensino, como sejam: Honra ao Mérito - Universidade Federal do Acre; Educador do Ano – Imprensa escrita do Acre; Ordem da Estrela do Acre no grau “CAVALHEIRO“ - Governo do Estado do Acre, Medalha de Mérito Funcional – Governo do Estado do Acre; Cidadão Rio-branquense – Câmara Municipal de Rio Branco; Medalha de Honra ao Mérito Educacional – Conselho Educacio-nal de Educação; Certidão de Relevantes Serviços Prestados – Poder Judiciário; Medalha Cel. Manoel Fontinnelle de Castro – Polícia Militar do Estado do Acre; pelo decreto nº 57, de 13 de março de 1987, foi denominada de “Prof. Raimundo Gomes de Oliveira“ , a escola de primeiro grau construída no Conjunto Tucumã em 12 de outubro de 1988, uma bela homenagem, que o emocionou bastante e cunhou o nome de um educador apaixonado por sua missão no planeta Terra.

No carnaval de 1990, a Escola de Samba Cadeia Velha o escolheu para homenagear, como tema central do samba enredo. Foi a glória. Os amigos, alunos, professores e funcionários que puderam participar do desfile o fizeram com muita garra e agradecida alegria. O homenageado adentrou a avenida em um carro alegórico com a réplica do Colégio Acreano, aplausos, êxtase na avenida, gritos de campeão da educação e a escola campeã do carnaval.

Nos 70 (setenta) anos do Colégio Acre 1973 a 2003 recebeu uma placa comemorativa; em dezembro de 2010 recebeu a honrosa comenda Volta da Empresa – Poder executivo municipal de Rio Branco.

Raimundo Gomes de Oliveira teve nas páginas de sua vida uma missão importante, que o satisfaz e alegra seu coração até hoje: Participou como um dos principais articuladores da fundação da Casa do Estudante Acreano, uma peça importante no teatro da resistência política, desenvolvimento da educação acreana; fonte de propostas para criação do ensino universitário acreano.

Em uma das campanhas memoráveis, na qual houve envolvimento de toda a classe estudantil, Raimundo Louro é eleito primeiro presidente da Casa, de 1951 a 1954. Naquele período o presidente procurou dar uma independência total àquela representação estudantil, em relação aos demais segmentos políticos. “Fomos independentes e corajosos”.

Sua administração foi marcada por valorização da classe estudantil, intercâmbio com os estudantes da região Norte, na área de esporte, música, teatro, coordenou os primeiros jogos interestaduais. Acontecimentos marcantes para a inter-relação de amizade, lazer e conhecimentos regionais.

O mestre Raimundo é um exímio pianista clássico, e um apreciador da música popular brasileira, ele detém em seu acervo dezenas de cd’s clássicos, musicas regionais e MPB. Em função desse dom divino, no governo Edgar Cerqueira, em 1963, ele recebe uma missão especial: dirigir a Rádio Difusora Acreana “O senhor tem a missão de melhorar a programação da Rádio , incluindo músicas clássicas , brasileiras e regionais, avisos e informações educativas , com um porém; quebre todos os discos de Waldic Soriano. Não permito que nenhuma música toque nas rádios da Capital e interior“.

A missão foi cumprida, mas os discos foram solicitados, em doação, por um jovem, que iniciava sua carreira artística na rádio, em Cruzeiro do Sul, com nome de família tradicional dos nauás Osmir de Albuquerque Lima. Raimundo antes recomendou: “Não deixe tocar nenhuma música, senão somos exilados”“.

Um detalhe especial. Em palácio o governador Cerqueira, por ocasião da audiência, doou todos os discos clássicos à Rádio Difusora, pertencentes à sua coleção particular e o mestre Raimundo realizou um concerto de musica clássica a família e convidados do governador.

No teatro da vida, Raimundo Gomes teve algumas tristezas em função de ações administrativas e pessoais, contudo as que mais o emocionam até hoje são: a viagem de 1943, em plena II Guerra Mundial, com destino a Manaus para regularização junto ao Exército, e, possível ida para frente de batalha.

O ilustre futuro pracinha, com amigos, entre os quais o “Barrinho“, o guru eterno Zé Leite (como você faz falta, meu amigo), zarparam para Manaus. “Barrinho” de avião da FAB, Raimundo Louro de lancha, saída em julho/43, chegada setembro/43. Essa epopeia teve momentos de alegria e tristeza.

Momentos de profunda tristeza sair de Rio Branco, deixar os amigos, família. Sua irmã Nazira estava adoentada e ele tomou uma decisão: “não me despedi de ninguém, chorei muito”, falecimento de uma amiga, fome no Seringal Paunin , temporal no Solimões “Não morreram todos os passageiros, por milagres divino”, já em Manaus, a notícia do falecimento de sua querida irmã Nazira. Alegrias: encontro com amigos acreanos em Manaus, lá estava “Barrinho”, todos sob a tutela do representante do Acre, a embaixada acreana, a maior alegria: encontro com um coronel amigo: “Vocês estão liberados da frente de batalha. Os alemães estão sob controle dos aliados”. Fogos, carnaval e alegria, bebemoraram a liberdade.

Os quase pracinhas retornaram ao Acre, com sua situação no Exército regularizada. Foram e são felizes, curtindo as belezas do cotidiano acreano e trabalhando em prol do bem estar da população acreana.

Analisando a vida do professor Raimundo Gomes de Oliveira, vislumbro a honra daqueles guerreiros do século passado e início do presente, em participarem da luta pelo desenvolvimento do ex-território e do Estado do Acre. E, constato quanto é triste envelhecer fisicamente neste país. Quando estamos no auge de nossa capacidade intelectual, somos humilhados, jogados nos profundos porões da depressão, onde nossa companheira é a solidão, alguns têm a família como sustentáculo das nossas deficiências físicas, amenizando nossas dores, dando nos carinho e conforto.

Felizmente temos hoje no Acre uma equipe de anjos comandada pela senhora Mariazinha Leitão, compostas por médicos, nutricionistas, enfermeiros, voluntários, todos capacitados para lidar com as doenças da terceira idade, cujas orientações têm amenizado a vida de centenas de pessoas acometidas por doenças comuns da terceira idade. Que Deus lhes proteja e permita que tenham vida longa, para continuarem amenizando as dores, confortando e orientando as famílias das pessoas necessitadas.

Que excelente se existisse como na Inglaterra, uma Câmara dos Lordes, onde os assuntos importantes são filtrados e analisados. Sonhos! Sonhos!

Mas, se os governantes percebessem como seria oportuna uma reunião, mesmo que trimestral com os Lordes Acreanos receberiam alguns conselhos importantes, alguns puxões de orelha. Fica a sugestão.

Alô! Fundações (Elias Mansour, Garibaldi Brasil), essas pessoas que fizeram e fazem história acreana precisam ter suas vidas documentadas em vídeos, livros. Muitos deles já estão no Oriente eterno. Seremos um Estado sem memórias. Grande parte do material fotográfico, jornalístico, documentos, comendas, medalhas do professor Raimundo, necessita ser preservada, exposta, é fonte de história da educação acreana. Dá para escrever um livro.

Ao prestar essa homenagem de nascimento do professor Raimundo Gomes de Oliveira, externo aos demais colegas professores, que a cada minuto retiram da escuridão centenas de jovens e adultos, quer do meio rural e urbano, encaminhando-os para os portais da luz, do saber e da cidadania.

Parabéns querido mestre. Que permaneçamos por muito tempo neste planeta Terra, no Acre, abençoado por Deus. Felicitações a sua esposa Edite, ao seu filho Carlinho e demais familiares.

* Raimundo Barros Lima (Barrinho) - Eng.º Agrônomo e professor.

23 maio 2012

PORQUE A FUNAI DO ACRE É INOPERANTE

Lindomar Padilha
Editor do Blog do Padilha

Semana passada, dia 18, sexta-feira, por volta das 17:00 hs. os indígenas que estão acampados na sede da Funai reivindicando seus direitos, especialmente a demarcaçaão das terras, a garantia de vida aos ameaçados de morte, a atenção à saúde e à educação, receberam das mãos de um oficial de justiça um mandado de citação e intimação para desocupação do prédio da Funai. Não foram surpreendidos na verdade porque vindo da coordenação regional do órgão, tudo se espera de contrário aos interesses dos povos indígenas, inclusive o uso da força.

O que mais chamou a atenção na justificativa do pedido de reitegração de posse, oriundo de um ofício encaminhado à procuradoria pela coordenação regional, foi a cínica afirmação de que:

"a ocupação do prédio da Funai causa obstáculo à implementação das políticas de proteção e concretização de direitos fundamentais garantidos aos próprios indígenas responsáveis pela invasão ilícita."

Ora, se os indígenas ocuparam o prédio justamente porque a Funai não cumpre com suas obrigações, é inoperante. O ofício vai ainda mais longe e diz, nas palavras repetidas pela coordeção regional, assumidas pelo Sr. Juan Scalia, apontando dez atividades que supostamente deixaram de ocorrer por causa da ocupação da Funai. Todos os dez pontos apresentados, ao contrário do que querem fazer crer, nada tem a ver com a manifestação dos indígenas. Vou transcrever um desses pontos, o de número cinco (05) que diz textualmente:

"5. Hoje também foi cancelada nossa participação no âmbito da reunião conjunta do Conselho Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia (CEMACT), Conselho Estadual Florestal (CEF) e Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) que tratariam sobre a participação do Governo do Acre na Conferência da ONU Rio + 20 no próximo mês de junho."

Supôr a estupidez indígena a este ponto chega a ser crime de preconceito. É acreditar que os indígenas são tão estúpidos ao ponto de não notarem que este tipo de atividade, longe de favorecer os povos indígenas, visa favorecer unica e exclusivamente o Governo do Acre, ao qual a coordenação regional da Funai parece estar visivelmente submetida. Porque esses senhores, tão preocupados com o meio ambiente, não foram a tal reunião? será que ela aconteceria e só poderia acontecer nas dependências da Funai? Nessas reuniões a Funai costuma comperecer levando todos os funcionários? não há setorização na Funai? será que todas as reuniões nas quais a Funai participa só podem acontecer nas dependências da sede regional? e, será que a tal reunião aconteceria mesmo e será que, se acontecendo, seria mesmo na sede da Funai?

Nete ponto de justificativa, fica claro que o que está por trás da intransigência e inoperância da Funai, a necessidade de silenciar os povos indígenas para que não venham, com suas reivindicações, manchar a imagem do Governo do Acre durante a Rio + 20. O grave nisso tudo é que a Funai é o órgão (I) responsável pela defesa dos povos indígenas e, neste caso, está atuando no sentido contrário aos seus objetivos. No momento em que uma coordenação regional de um órgão indigenista deixa de cumprir com seu papel, está na hora dessa coordenação ser desfeita. É por isso que os povos indígenas estão pedindo a exoneração da Srª Maria Evanizia.

Por fim, o que se espera é que um rompante de sensatez ilumine a mente dos senhores juizes para que não permitam que mais essa barbaridade aconteça contra os já sofridos povos indígenas do Acre. Lá no acampamento estão senhores idosos, senhoras, crianças, pessoas que só querem uma coisa: que seus direitos sejam respeitados e que o poder público cumpra com suas obrigações.

Em nenhum momento os indígenas acampados ameaçaram ninguém. Ao contrário tentaram estabelecer diálogo com a coordenação Regional, que se negou veemente. O índios afirmam que querem que os funcionários, proibidos de trabalhar por órdem da coordenação regional, voltem ao trabalho. Até os vigias foram impedidos de trabalhar por órdem da coordenação. Mais uma ironia: ao mesmo tempo que a Funai reivindica a posse justificando a defesa do patrimônio, a mesma Funai retira os vigias, cuja função é justamente garantir o patrimônio.

O índios não querem impedir a Funai de trabalha, ao contrário, estão exigindo que trabalhe e cumpra com suas obrigações.

Deixo aqui o meu apelo ao poder judiciário, pessoas sensíveis e que buscam a equidade na justiça, para que intercedam e evitem mais um ato desnecessário e altamente agressivo a estes povos que ao longo da história perderam quase tudo. O que desejam é muito pouco e é justo.

22 maio 2012

PESQUISA DESVENDA PONTO FRACO DA VASSOURA-DE-BRUXA

Descoberta abre caminho para o desenvolvimento de drogas capazes de matar a principal praga que afeta a produção de cacau no país. Doença derrubou produção de cacau no Brasil

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – A estratégia usada pela praga vassoura-de-bruxa – principal doença que afeta a produção de cacau no país – para resistir ao ataque da planta hospedeira e aos mais potentes fungicidas do mercado foi desvendada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A descoberta, publicada na revista New Phytologist, abre caminho para o desenvolvimento de novas drogas capazes de combater a doença de forma efetiva.

Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a vassoura-de-bruxa tem esse nome porque deixa os ramos do cacaueiro secos como uma vassoura velha. As áreas afetadas não conseguem realizar fotossíntese e, para piorar, liberam substâncias tóxicas que diminuem a produção de frutos. Os poucos frutos produzidos se tornam inviáveis para a fabricação de chocolate.

“Na fase inicial da infecção, a planta tenta deter a ação do invasor liberando grandes quantidades de óxido nítrico (NO), substância capaz de bloquear a cadeia respiratória do fungo. Mas descobrimos que a vassoura-de-bruxa possui um mecanismo alternativo de respiração que lhe permite resistir a esse ataque”, explicou Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão da Unicamp, onde a pesquisa foi conduzida.

Ironicamente, a própria planta acaba sofrendo os efeitos tóxicos do NO. Os galhos infectados morrem e viram banquete para a M. perniciosa. “O fungo tem uma fase biotrófica, na qual vive dentro da planta ainda viva, e outra necrotrófica, em que se alimenta do tecido morto”, disse Pereira.

A equipe coordenada pelo pesquisador descobriu que, durante a fase biotrófica, quando está sob o ataque da planta, a vassoura-de-bruxa produz uma enzima chamada oxidase alternativa. Essa proteína lhe permite gerar uma quantidade mínima de energia e garante sua sobrevivência.

“Nesse período o fungo praticamente não cresce, pois a energia disponível é pequena, mas ele consegue resistir ao ataque”, disse Pereira.

Quando a planta finalmente dá a batalha por vencida, envia sinais para as células do galho infectado se suicidarem – processo conhecido como apoptose. Como o óxido nítrico deixa de ser liberado, o fungo desliga o mecanismo alternativo de respiração e entra na fase necrotrófica, passando a devorar vorazmente o tecido morto.

Em duas frentes

Os cientistas tiveram então a ideia de testar uma combinação de princípios ativos – azoxistrobina e ácido salicil-hidroxâmico – capazes de inibir simultaneamente os dois mecanismos respiratórios da praga.

“Observamos que quando a respiração principal é bloqueada pela azoxistrobina e a respiração alternativa se mantém, o fungo permanece na fase biotrófica. Mas, quando combinamos essa droga com um inibidor da oxidase alternativa, o fungo cessa completamente seu crescimento”, contou Pereira.

Embora tenha se mostrado promissora nos testes de laboratório, essa combinação de moléculas não pode ser usada como um fungicida comercial. “A fórmula é altamente instável e se degrada com facilidade. E isso inviabiliza o uso no campo”, disse.

A equipe agora trabalha, em parceria com a fabricante de defensivos agrícolas Ihara, para achar uma molécula com ação semelhante e capaz de se manter estável por longos períodos de prateleira.

“Temos a oportunidade de criar um produto realmente eficaz para fungos tropicais. Hoje não existe fungicida assim em nenhum lugar do mundo. É algo de grande importância tecnológica”, avaliou Pereira.

Os pesquisadores estão testando a mesma combinação de moléculas capaz de bloquear a enzima oxidase alternativa contra outras espécies de fungos tropicais, como a ferrujem da soja e do café. “Os resultados em laboratório indicam que estamos na direção certa”, disse.

Realizada com financiamento da FAPESP, a pesquisa faz parte do projeto de doutorado de Daniela Thomazella e Paulo Teixeira , e está sendo realizada no âmbito do Projeto Temático "Estudo integrado e comparativo de três doenças fúngicas do cacau – vassoura-de-bruxa, monilíase e mal do facão – visando à compreensão de mecanismos de patogenicidade para o desenvolvimento de estratégias de controle", coordenado por Pereira..

Os esforços brasileiros para elucidar o mecanismo de ação da doença que há mais de duas décadas afeta drasticamente a produção de cacau no Brasil começaram por volta do ano 2000, com o mapeamento do genoma da M. perniciosa.

Quando chegou ao sul da Bahia, em 1989, provavelmente vinda da região amazônica, a vassoura-de-bruxa fez com que a produção nacional caísse de aproximadamente 400 mil toneladas ao ano para pouco mais de 120 mil. O Brasil, antes um dos maiores exportadores de cacau, passou a importar sementes de países como a Indonésia, com qualidade inferior.

Atualmente, a doença está presente em todos os países produtores de cacau da América Central e do Sul.

15 maio 2012

A IMPORTÂNCIA DO HERBÁRIO DO PARQUE ZOOBOTÂNICO DA UFAC PARA CONHECER A DIVERSIDADE E O POTENCIAL DE USO DAS PLANTAS ACREANAS

Evandro José Linhares Ferreira* e José Jairo Lino da Silva**

Herbário é uma coleção de amostras de plantas prensadas e secas, geralmente montadas em cartolinas com uma pequena etiqueta contendo dados sobre a localização e as características das plantas amostradas. As coleções depositadas nos herbários representam uma importante fonte de informações sobre a distribuição, abundância e diversidade vegetal, com aplicações nas áreas de conservação e recuperação da vegetação, ecologia, melhoramento de plantas alimentares, uso farmacêutico das plantas, entre outras.

O maior herbário do mundo é o do Museu Nacional de História Natural, localizado em Paris, que com um acervo de 7,5 milhões de exemplares, contém mais amostras que as estimadas 4,5 milhões de coleções de plantas colhidas até hoje no Brasil. O maior herbário brasileiro está localizado no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e conta com um acervo estimado em 500 mil amostras.

No Acre, estima-se que cerca de 30 mil amostras botânicas já tenham sido coletadas desde a excursão pioneira do botânico alemão Ernst Ule aos rios Juruá e rio Juruá Mirim em 1902. Pouco mais de 18 mil dessas amostras estão incorporadas à coleção do Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC. Outras 7,5 mil estão sendo processadas para futura incorporação e 4,5 mil amostras encontram-se depositadas em herbários fora do Acre, tendo sido coletadas antes da criação do herbário na UFAC por várias instituições brasileiras e estrangeiras, com destaque para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, Museu Goeldi e Instituto Agronômico do Norte (atual Embrapa), em Belém, e o Jardim Botânico de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Dados de 2009 indicam que pouco mais de 4 mil espécies de plantas com flores (angiospermas) já foram identificadas para a flora acreana. No mundo, o Royal Botanic Garden e o Missouri Botanical Garden estimam em 352 mil as espécies de angiospermas.

Apesar do avanço no conhecimento da diversidade de espécies de plantas nativas acreanas, os aspectos relacionados com a etnobotânica da flora acreana, ou seja, os conhecimentos derivados das interações entre o homem e as plantas, ainda são muito limitados e apenas três estudos abrangentes foram realizados no Estado: o da estudante americana Karen Kainer, da Universidade da Flórida (1989-1991), na Reserva Extrativista Cachoeira, da estudante alemã Christiane Ehringhaus, da Florida International University (1996-1997), com os índios Kaxinawá do rio Tarauacá, e de Marina Campos e Christiane Ehringhaus, da Yale University (2002-2003), com seringueiros, ribeirinhos e índios Yawanawá e Kaxinawá, no vale do Juruá.

Tendo como ponto de partida esta situação, e considerando que o Herbário do Parque Zoobotânico é o único do Acre e que abriga uma coleção onde aproximadamente 90% das amostras são oriundas de plantas nativas do Estado, decidiu-se realizar um levantamento para identificar o potencial de uso de espécies nativas depositadas no seu acervo. Como a coleção ainda não está informatizada, foi necessário consultar cada uma das 18.383 amostras registradas para segregar aquelas cujas etiquetas de identificação contivessem informações sobre o uso das plantas.

O resultado do levantamento mostrou que há registro de utilidade de plantas em 808 amostras depositadas no herbário do Parque Zoobotânico, o que corresponde a 4,39% do acervo. Essas amostras representam 95 famílias botânicas e 654 espécies diferentes de plantas, indicando que 16,35% das espécies identificadas como nativas do Acre tem alguma indicação de uso pelos habitantes locais.

Foram catalogadas 54 categorias de uso, sendo que as mais reportadas estão relacionadas ao uso alimentar, medicinal, para construção civil, movelaria e utensílios domésticos. Dentre as categorias de uso pouco comum vale destacar a existência de plantas utilizadas como 'espera' para caça, como a ucuúba (Otoba parvifolia), para fins mitológico-culturais, o corimbó (Tanaecium nocturnum), como perfume, a palmeirinha (Chamaedorea angustisecta), coagulante, a seringuinha (Mabea anadema) e para a higiene bucal, o café-bravo (Casearia sp.). As famílias botânicas com a maior quantidade de citações de usos foram Annonaceae, com 107, Apocynaceae, com 61, e Anacardiaceae com 55. Os municípios com maior número de amostras com indicação de uso foram Xapuri, com 169, Tarauacá, com 151, e Rio Branco, com 89 citações.

É importante ressaltar que a baixa proporção de amostras com indicação de usos no acervo do herbário do Parque Zoobotânico reflete a baixa quantidade de estudos etnobotânicos realizados no Acre. A escassez de nomes populares nas amostras pesquisadas, por sua vez, pode ser conseqüência da falta de interesse dos coletores em incluir essa informação ou da ausência de guias locais por ocasião das coletas no campo.

Apesar dessas deficiências, a elaboração de um banco de dados de plantas úteis do Acre, derivado do estudo realizado, é um resultado extremamente positivo, pois auxiliará o público usuário do herbário a identificar de forma rápida a utilidade e a localização das plantas nativas de interesse. Por outro lado, a necessidade de consultar individualmente cada uma das 18 mil amostras da coleção para investigar o potencial de uso das plantas do acervo indica a urgente necessidade de se investir na informatização da mesma.

*Evandro José Linhares Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico

**José Jairo Lino da Silva é Técnico Agroflorestal, Bacharel em Direito e Assessor da Procuradoria da República no Acre.

11 maio 2012

PRIORIDADE À PUNIÇÃO AOS CRIMES VIOLENTOS

A punição rápida aos crimes violentos no Acre é uma prioridade e uma demanda social que eclipsa e confere um tom vaidoso ao argumento de que o laboratório de combate à lavagem de dinheiro e corrupção a ser instalado no MP acreano será o “primeiro da Amazônia”. Qual a vantagem disso se ainda temos um acúmulo de pelo menos três anos de inquéritos policiais não concluídos?

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O Ministério Público acreano informou que poderá ganhar um laboratório de tecnologia contra a lavagem de dinheiro ainda este ano. O custo para a instalação do mesmo será de mais de R$ 1,5 milhão e deverá ser bancado, conforme declaração do Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso, pelo programa de Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron) do próprio Ministério da Justiça.

O laboratório pleiteado pelo MP acreano é resultante da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), do Ministério da Justiça, e cerca de duas dezenas deles já foram instalados pelo país, alguns subordinados às polícias civis e outros aos MPs estaduais. O Ministério da Justiça fornece os equipamentos, software e capacitação, enquanto os recipientes disponibilizam pessoal e espaço físico. O laboratório é indicado para ações investigativas que lidam com um grande volume de dados para análise, originários de quebras de sigilo fiscal, bancário ou tributário, ou ainda, em razão da atuação de bando, quadrilha ou organização criminosa.

Segundo a nota publicada pelo MP acreano, o laboratório será decisivo para melhorar a atuação do órgão contra a corrupção e o tráfico na região de fronteira do Brasil com a Bolívia e Peru. E para demonstrar que o MP acreano merece receber o apoio do Ministério da Justiça para a instalação do laboratório no Acre, a direção do órgão convidou o Ministro para visitar o estado ainda neste mês de maio para mostrar a ele as ações mais exitosas do MP acreano, entre elas a que resultou na conclusão de todos os inquéritos policiais, de 2007 para trás, relacionados a homicídios e tentativas de homicídio.

Não se sabe se a chefia do MP acreano repassou essa informação pessoalmente ao Ministro quando reivindicou os recursos para a instalação do laboratório para combater a lavagem de dinheiro no Acre. Se o fez, seguramente causou constrangimento, pois a informação citada demonstra claramente que diante da situação atual, o MP acreano precisa urgentemente é de recursos para resolver as pendências relativas aos inquéritos policiais instaurados a partir de 2008.

E no contexto atual de restrição orçamentária que tem afetado gravemente a administração pública, é quase certo que a contrapartida do MP via disponibilização de servidores com dedicação exclusiva e espaço físico para abrigar os equipamentos e softwares a serem incorporados com a aquisição do laboratório irá fazer muita falta às promotorias criminais que trabalham para dar seguimento aos inquéritos policiais não concluídos.

Essa é claramente uma prioridade de ordem administrativa e uma demanda social que eclipsa e dá um tom vaidoso ao argumento que o laboratório a ser instalado no MP acreano será o “primeiro da Amazônia”. Qual a vantagem disso se ainda temos um acúmulo de pelo menos três anos de inquéritos policiais não concluídos?

E se a culpa pela morosidade na resolução dos tais inquéritos reside parcialmente nas deficiências da polícia acreana, porque não ir ao Ministro da Justiça para fortalecer a polícia técnica e científica do Estado?

A união faz a força, mas nesse caso parece ser exagerada a presença de dois senadores para reforçar o pedido por um laboratório cujos resultados terão alcance e impactos limitados, se compararmos à satisfação social causada pela rápida elucidação de atos criminosos violentos que atingem diariamente dezenas de acreanos.

Quando isso acontece, a população percebe que o estado está efetivamente ao seu lado, que vale a pena acreditar na polícia e no sistema judiciário. E para quem sempre enxerga a atuação estatal como uma contrapartida aos impostos pagos pela sociedade, a satisfação é maior porque nessas situações se percebe que os recursos públicos estão sendo utilizados da forma mais eficiente possível.

03 maio 2012

ARTESANATO E A EXPLORAÇÃO DE SEMENTES FLORESTAIS NO ACRE: É PRECISO TER CAUTELA

Evandro José Linhares Ferreira (1), Luzia Barbosa de Assis (2) e Christiane Ehringhaus (3)

O uso de sementes florestais nativas para a elaboração de artesanatos é uma atividade típica das populações tradicionais da Amazônia. No Acre, que possui cerca de 85% de suas florestas preservadas e uma economia fortemente ligada ao extrativismo vegetal, tem-se observado nestes últimos anos um processo gradual de 'urbanização' da elaboração desses artesanatos. Esta mudança do meio rural para o meio urbano reflete o processo de profissionalização da atividade, que tem adotado técnicas modernas de design e marketing que resultam em produtos de maior qualidade, melhores preços e, principalmente, a abertura de novos mercados. O SEBRAE tem desempenhado um papel fundamental nesta profissionalização e amadurecimento comercial dos nossos artesãos.

Apesar da dinâmica e do franco crescimento da atividade, alguns aspectos de sua cadeia produtiva continuam pouco conhecidos e podem impactar negativamente a sustentabilidade da mesma no longo prazo. Estes são os casos do desconhecimento sobre a diversidade das espécies exploradas, a intensidade da extração e coleta, bem como as práticas de armazenamento e beneficiamento preliminar das sementes praticadas pelos extrativistas e artesãos envolvidos na atividade.

Por estas razões, um levantamento sobre a cadeia produtiva de artesanatos elaborados com sementes florestais nativas foi realizado em Rio Branco, o maior e mais dinâmico do Acre. A diversidade de espécies utilizadas foi determinada durante visitas a 5 lojas e 3 oficinas de produção de artesanatos. A identificação das sementes utilizadas nos artesanatos foi feita pelos lojistas, artesãos e pela equipe de pesquisa. As informações sobre os métodos e intensidade de extração das sementes, beneficiamento preliminar e transporte das mesmas da floresta até as oficinas de artesanatos na zona urbana foram obtidas em entrevistas e monitoramento in loco do trabalho realizado por 4 extratores residentes às margens do rio Acre, no município de Porto Acre. As informações sobre a forma de armazenamento e as técnicas de beneficiamento das sementes praticadas pelos artesãos foram obtidas durante o acompanhamento in loco do trabalho em 3 oficinas de artesanato.

Os resultados obtidos indicaram que sementes de 24 espécies de plantas nativas são usadas na confecção de artesanatos em Rio Branco. A maioria (58,3%) é oriunda de palmeiras nativas encontradas em áreas de florestas e capoeiras ou em pastagens existentes nas cercanias da cidade. Sementes de açaí (Euterpe precatoria) são obtidas livremente na cidade em pontos comerciais que preparam o 'vinho de açaí'. Sementes de sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), cultivada como ornamental por toda a cidade, são colhidas livremente em praças e jardins.

Um aspecto preocupante do estudo foi a constatação de que a extração e a coleta de sementes das espécies que crescem na floresta, capoeira ou pastagem são realizadas sem a observação de regras mínimas de manejo sustentado. Geralmente todas as sementes com potencial comercial, que varia entre 70 e 90% dos frutos de um cacho, ramo ou das sementes encontradas sobre o solo ao pé das árvores, são colhidas, deixando-se no local um excedente de sementes insuficiente para garantir a regeneração das plantas e a alimentação da fauna nativa.

Foi observado que o beneficiamento no campo consiste em uma limpeza superficial e na eliminação do excesso de umidade das sementes. O armazenamento das mesmas é evitado porque sua venda é feita por peso, que diminui com o passar do tempo. Isso explica o fato de muitas vendas de sementes serem feitas por encomenda de quantia certa para entrega em data pré-determinada. Ao chegar às oficinas as sementes são novamente secas, selecionadas, lixadas, furadas e, se for o caso, tingidas.

Uma das conclusões da pesquisa é de que a manutenção ou mesmo eventual intensificação da prática do extrativismo de sementes nativas para a confecção de artesanatos em Rio Branco poderá causar o desaparecimento da maioria das populações das espécies florestais atualmente exploradas em zonas rurais adjacentes à cidade. Esta possibilidade pode ser parcialmente creditada às práticas não sustentáveis adotadas pelos extrativistas e à crescente demanda de sementes para uso local e para a exportação para outros estados e países. Uma rápida busca na internet revela que o mercado de sementes para a confecção de artesanatos – especialmente as biojóias – literalmente explodiu no Brasil nestes últimos anos.

A valorização comercial de muitas espécies facilmente acessíveis, como são os casos das palmeiras jarina (Phytelephas macrocarpa), paxiubinha (Socratea exhorriza) e tucumã (Astrocaryum aculeatum), tem incentivado excursões crescentes de trabalhadores urbanos à zona rural com o objetivo primordial de coletar a maior quantidade possível de sementes. Coincidentemente, estas espécies são também as mais prejudicadas dentre todas as que foram estudadas porque apresentam uma produção anual de sementes naturalmente muito baixa.

Uma possível solução para minorar a pressão sobre as espécies mais vulneráveis é a realização de estudos ecológicos para subsidiar a determinação das práticas extrativistas sustentáveis mais adequadas para cada uma delas. Espera-se também que os órgãos de fiscalização – IMAC e IBAMA – apertem o cerco aos excessos cometidos por alguns comerciantes de sementes gananciosos que, na busca pelo lucro fácil e rápido, colocam em risco a sustentabilidade da produção acreana de artesanatos com sementes florestais, uma atividade que tem efetivamente gerado emprego e renda para muitas pessoas, como se observa nas oficinas e lojas dedicadas ao comércio de artesanatos existentes em nossa cidade.

(1) Evandro Ferreira é Engenheiro Agrônomo e pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico
(2) Luzia Barbosa de Assis é Bióloga e mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais
(3) Christiane Ehringhaus é Doutora em Ciências Florestais e Técnica da GTZ.