NEM A PANDEMIA DE CORONAVÍRUS FREIA A DESTRUIÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA
Editor do Blog ambiente Acreano
O advento da pandemia de coronavírus no Brasil trouxe uma crise socioeconômica de
proporções nunca vistas.
O
país praticamente parou em função das medidas sanitárias adotadas para minorar
o alcance do vírus e aliviar uma pressão que, de outra forma, se revelaria
insuportável para o nosso precário sistema de saúde.
Apesar
desse panorama extremamente sombrio, algo peculiar tem me chamado a atenção: a
destruição da floresta amazônica não foi, aparentemente, afetada pela pandemia
de coronavírus.
Os
alertas de desmatamento (DETER) do Instituto Nacional de Estudos Espaciais
(INPE) indicam alta de 64% no corte raso da floresta em abril de 2020 (405,61
km²) frente a abril de 2019 (249,39 km²).
Além
do aumento no desmatamento, os dados do INPE sugerem que a pandemia de
coronavírus não afetou o ímpeto dos destruidores de nossas florestas.
De
janeiro a abril de 2020 verificou-se aumento de 55% das áreas desmatadas
comparado igual período de 2019. Com um agravante: em 2019 a aceleração no
desmatamento aconteceu em maio. Em 2020 foi em abril, um mês antes.
Para
calcular o desmatamento anual, o INPE considera o período de agosto do ano
anterior e julho do ano atual. Comparando os dados de agosto de 2018-abril de
2019 (2.914 km²) e agosto de 2019-abril de 2020 (5.666 km²), verificou-se
aumento de 94% no desmatamento.
Vejam
que para fechar a estimativa anual, ainda faltam os dados dos meses de maio,
junho e julho. São meses secos na parte ocidental da Amazônia, extremamente
favoráveis para quem pretende desmatar a floresta.
Com
base nisso, é fácil prever que 2020 será um ano de desmatamento “escandaloso”
na Amazônia.
Para
adiantar esse contexto, fizemos o seguinte questionamento:
- Qual será a
área estimada de desmatamento pelo sistema DETER/INPE para o período de agosto
de 2019 a julho de 2020?
Obviamente
que para responder a essa pergunta, precisaremos estimar quantos km² de
florestas ainda serão derrubados nos próximos meses de maio, junho e julho
desse ano.
Vamos
fazer isso de forma conservadora a seguir. Mas precisamos aceitar duas
pré-condições:
(a)
A pandemia de coronavírus não está afetando o trabalho dos destruidores da
floresta amazônica, como mostra o incremento de 94% nos alertas de desmatamento
observados até abril de 2020; e
(b)
Devemos admitir que a área de floresta a ser derrubada no período maio-julho de
2020 deverá ser equivalente à que foi derrubada no mesmo período em 2019 (Maio:
1.102,57 km², Junho: 2.072,03 km², e Julho: 2.254,8 km²), ou seja: 5.443,9 km².
Dessa
forma, quando somamos o dado real dos alertas de desmatamento observados entre
agosto de 2019 e abril de 2020 (5.666 km²), com os alertadas de desmatamentos
realizados no trimestre maio-julho de 2019 (5.443,9 km².), teremos um valor de
aproximadamente 11 mil km².
Considerando
que entre 2018-2019 os alertas de desmatamento somaram 6.840 km², se a
estimativa de 11 mil km² para o período 2019-2020 se confirmar, teremos um
incremento anual de cerca de 60%.
Apesar
de elevado, esse incremento ainda é inferior aos 88% de aumento nos alertas de
desmatamento emitidos pelo mesmo sistema DETER/INPE entre 2017-2018 e
2018-2019.
Infelizmente,
essa possível diminuição no percentual de alertas de desmatamento não
significará que o Brasil ficará livre das críticas mundiais no que toca à
crescente destruição da Amazônia.
Ocorre
que os dados do sistema DETER não são os que o INPE usa para fazer a
"estimativa real” de desmatamento anual da Amazônia. Para isso, usam-se
dados do sistema PRODES, mais criterioso e que toma mais tempo para ser
calculado. Tanto que tradicionalmente só é publicado por volta de novembro de
cada ano.
Nos
últimos anos, as comparações entre os resultados anualizados dos alertas de
desmatamento do DETER e de desmatamento do PRODES, tem mostrado que este último
tem sido quase sempre 40% superior ao primeiro.
Assim,
uma matemática simples, acrescentando 40% aos 11 mil km² de desmatamento que
acreditamos será estimada pelo DETER para o período 2019-2020, poderemos prever
que o "desmatamento real" na Amazônia entre 2019 e 2020 será de
aproximadamente 15 mil km².
Se
isso for confirmado, o incremento entre 2018-2019 e 2019-2020 girará em torno
de 54%. Bem superior, portanto, aos 29,5% de aumento verificado entre os
períodos 2017-2018 e 2018-2019.
Assim,
quando da divulgação do desmatamento na Amazônia em meados de novembro de 2020,
é certo que o mundo vai “desabar sobre o Brasil”.
Será
um escândalo internacional de proporções grandiosas, pois a devastação na
Amazônia brasileira terá regredido aos níveis verificados 14 anos atrás: em
2006 o desmatamento na região tinha atingido 14,1 mil km².
Por
conta da pandemia e de sinais equivocados emitidos de forma reiterada por
nossas autoridades ambientais, que parecem querer desestimular as ações de
fiscalização e controle, receio que mesmo faltando mais de 70 dias para o “fechamento”
do ano no que toca ao desmatamento, não teremos tempo para impedir que esse
desastre se concretize.
Para saber
mais:
·
Alertas de
desmatamento na Amazônia crescem 63,75% em abril, mostram dados do Inpe. G1, 8/5/20.
·
DETER registra
na Amazônia em maio 1.102,57 km² de alertas. Notícias INPE, 10/6/19.
·
Alertas do
DETER na Amazônia em junho somam 2.072,03 km². Notícias INPE, 4/7/19.
·
Área da
Amazônia com alerta de desmatamento sobe 278% em julho, comparada ao mesmo mês
de 2018.
G1, 7/8/19.
· Desmatamento na Amazônia cresce quase 30% entre agosto de 2018 e julho de 2019, diz Inpe. G1, 18/11/19.