28 abril 2015
24 abril 2015
LEIS EM MOVIMENTO
Displicente,
o Senado aprovou o nome de Dias Toffoli, ao qual faltava o “notório saber” para
ocupar uma cadeira no STF. Agora, os senadores enfrentam um desafio distinto: o
nome escolhido por Dilma tem indiscutível “notório saber”, mas sua “opção
política” não expressa um exercício individual de cidadania, mas uma militância
específica na arena do Direito.
Demétrio
Magnoli/O Globo
O Senado sabatinará o jurista Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff para a cadeira vaga no STF desde a renúncia de Joaquim Barbosa. O fato de que Fachin fez campanha para Dilma, em 2010, não o desabona. “Ele manifestou uma posição política, votou na presidente”, disse o senador tucano Álvaro Dias, para explicar: “O que deve prevalecer não é a opção política circunstancial” mas “o notório saber jurídico, a reputação ilibada e a independência de quem vai julgar”. De fato, em 2002, o Senado aprovou a nomeação de Gilmar Mendes por FH e, em 2009, a de Dias Toffoli por Lula, sem impugnar a “opção política circunstancial” de nenhum dos dois. O problema é que, no caso de Fachin, a “opção política” não expressa um exercício individual de cidadania, mas uma militância específica na arena do Direito.
“Tenho
em minhas mãos um manifesto de centenas de juristas brasileiros que tomaram
lado”, discursou Fachin cinco anos atrás. “Apoiamos Dilma para prosseguirmos
juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que
signifique desenvolvimento para todos”. Há algo extraordinário quando juristas
assinam coletivamente um manifesto político. Manifestos de intelectuais,
economistas ou sambistas são só opiniões. Por outro lado, um “partido de
juristas” tem o condão de ameaçar uma ordem jurídica fundada sobre o alicerce
da neutralidade da Justiça. É isso que deveria acender uma luz de alerta no
plenário do Senado.
O
“partido de juristas” que escolheu Fachin como seu porta-voz não é o PT, como
imaginam tantos espíritos simplórios. O “lado” dos juristas “que tomaram lado”
é o da mudança política e social pelo Direito, à margem da vontade majoritária
refletida pelo voto popular. “Se o conselho que se dava aos juízes antigos da
Itália era não use a testa, use o texto, hoje a máxima pode ser reinventada
para use a testa, não esquecendo do texto e seu contexto”, escreveu o indicado
de Dilma em artigo recente. Obviamente, o juiz tem a prerrogativa de
interpretar a lei à luz de princípios gerais e circunstâncias singulares.
Contudo, de acordo com Fachin, os juízes, como coletividade que tem “lado”,
devem abrir as portas para o futuro, guiando a sociedade numa direção virtuosa.
O
STF é o guardião da Constituição. Fachin, porém, atribui poucos méritos ao
texto constitucional. Num ensaio para a “Revista de Direito Brasileira”,
publicado em 2011, ele menciona “a Constituição que não vimos nascer”,
qualificando o processo constituinte da redemocratização como “uma promessa”
que “se converteu em ausência” pois “nela, o que de pouco Marx havia deu lugar
a muito Tocqueville”. O fracasso, teoriza, decorreu de um recuo, “a nostalgia
da primeira modernidade”, que o jurista entende como primado do indivíduo sobre
o coletivo e do mercado sobre os direitos humanos. Não há nada de errado com a
crítica acadêmica à Constituição, mesmo quando exprime impulsos autoritários.
Outra coisa, bem diferente, é introduzi-la na Corte Constitucional.
Segundo
a tese de Fachin, o “leito de Procusto” do Direito é a economia de mercado,
pois “a compra e venda que tudo transforma em mercadoria” interpõe-se “entre os
significados da equidade, democracia e direitos humanos”. Na sua visão, a
prevalência do mercado “afasta o Estado-legislador do centro dos poderes e
intenta limitar o Estado-juiz a retomar-se como bouche de la loi” (isto é, numa
antiga expressão pejorativa, como mero arauto da lei). O ideal do jurista,
camuflado na floresta de uma retórica hermética, é a concentração do poder no
Estado e a autonomia dos juízes para implodir o “leito de Procusto”.
O
ativismo judicial de Fachin não encontra limites. Se, como imagina
abusivamente, nosso arcabouço legal não é muito mais que uma reprodução das
leis do Estado liberal do século XIX, a solução seria fabricar, pela vontade
dos juízes, uma nova Constituição. A Carta de 1988 “proclama erradicar a
pobreza” e “reduzir as desigualdades”, mas “não constrói searas de soberania
popular”, acusa no mesmo ensaio, para indicar o caminho: “É evidente que uma
Constituição se faz Constituição no desenrolar de um processo constituinte
material de índole permanente”, pelo recurso a “ações afirmativas” e pelo
“resgate de dívidas históricas”. Se os senadores aprovarem o nome de Fachin,
estarão dizendo que deve ser atribuído ao STF um poder constituinte.
O
horizonte de um “processo constituinte” de “índole permanente” é um tanto
assustador. A filósofa Hanna Arendt enfatizou que, nas ideologias totalitárias,
o movimento é tudo e “o próprio termo lei mudou de sentido: deixa de expressar
a estrutura de estabilidade dentro da qual podem ocorrer os atos e os
movimentos humanos para ser a expressão do próprio movimento” (“Origens do
totalitarismo”). Seria ridículo apontar em Fachin um cultor do totalitarismo.
Contudo, sua aversão à “estrutura de estabilidade” da legislação e sua obsessão
por “searas de soberania popular” criadas pelo gesto soberano do juiz não podem
passar em branco numa sabatina digna desse nome.
O
“partido dos juristas” almeja reescrever a Lei, interpretando livremente os
princípios gerais do Direito para dinamitar as heranças constitucionais da
“primeira modernidade”. E eles querem operar acima e além dos limites definidos
pela separação de poderes: “Quando (...) o Judiciário se vê compelido a debater
questões de poder, assacam-lhe de pronto a crítica (...) do ativismo judicial”,
reclama Fachin, sem se dar conta de que o povo elege o presidente e os
legisladores, mas não elege juízes.
Displicente,
o Senado aprovou o nome de Dias Toffoli, ao qual faltava o “notório saber” para
ocupar uma cadeira no STF. Agora, os senadores enfrentam um desafio distinto: o
nome escolhido por Dilma usa um indiscutível “notório saber” para contestar a
ordem constitucional e as prerrogativas do Congresso. É hora de dizer “não”.
23 abril 2015
JOGANDO PARA A GALERA
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano

A
iniciativa de alterar a constituição para limitar o número de ministérios no poder
executivo é um dos melhores exemplos. Inimigo declarado da Presidente Dilma
Rousseff, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por mera
birra, está patrocinando essa causa natimorta apenas para fazer média com a
opinião pública.
A
proposta é inconstitucional na sua gênese e essência porque representa uma
clara violação do princípio de independência dos poderes
vigentes no Brasil desde a Carta Imperial de 1824. Na constituição atual ele
está disposto no artigo 2º e expressa que "são poderes da
União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário".
Se
a proposta de Eduardo Cunha fosse colocada em prática, o próximo passo de
políticos do naipe do parlamentar carioca certamente seria determinar o
fechamento de alguns Tribunais Federais Brasil afora, usando como justificativa
o fato de eles estarem investigando os políticos em demasia.
E como
esses achacadores travestidos de políticos estão ‘jogando para a
torcida’? É simples. Não obstante a sua ilegalidade, o grupo de Cunha, com maioria de votos na Câmara e
no Senado, aprovará a proposta que será enviada,
como toda legislação votada no Congresso, para sanção
presidencial. E o que a presidência da república fará,
considerando a legislação em vigor no país? Vetará a proposta porque ela fere um
princípio constitucional fundamental.
A
repercussão desse veto é que será o 'pulo do gato'. Com o apoio dos integrantes do Partido da Imprensa Golpista (PIG), capitaneados pela Globo, Veja, Folha
de S. Paulo e Estado de S. Paulo, a turma liderada por Eduardo Cunha denunciará que a "presidência trabalha para afundar o país ao vetar uma
medida austera em tempos de crise econômica".
É
claro que esse falso arroubo moralista desses políticos menores monopolizará as
primeiras páginas dos jornais, sites de internet e telejornais. E nas redes
sociais milhares de 'zumbis' - os analfabetos eletrônicos sem senso crítico -
irão compartilhar e espalhar como ilegal, um ato legal da presidência do país.
Os
zumbis a que me refiro são as pessoas que viraram massa de manobra de políticos
golpistas e defensores de interesses escusos e que recentemente foram às ruas
pedir o impossível juridicamente: o impeachment da presidente. Enternecidos com
as manifestações, os políticos que as incentivaram estão aprovando no Congresso um projeto que regulamenta os contratos de terceirização que causará prejuízos econômicos e trabalhistas para a classe operária do país. É um pagamento
e tanto para quem caiu na conversa mole desses políticos. Você leitor não é de
cair nesse tipo de conversa mole não é mesmo?
Os
ataques à nossa constituição movidos por corporativismo de funcionários
públicos, birras e disputas políticas pequenas me causam preocupação. Se essas
tentativas de mudanças prosperarem, ficará faltando pouco para o Brasil virar
uma Republica Dominicana. Explico: na constituição do país caribenho está
escrito que durante as eleições os homens votam pela manhã e as mulheres pela
tarde. É mole? Agora imaginem o que esse pessoal, na ânsia de atender
interesses classistas ou escusos, não será capaz de colocar em nossa
constituição?
Foto:
Editora Abril
22 abril 2015
‘ESTRADAS PARA A DESTRUIÇÃO’ NO INTERIOR DO ACRE
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
[Revisado e corrigido em 22/04/2015]
[Revisado e corrigido em 22/04/2015]

[Foto ICMBIO/RO]
Esses políticos já deveriam ter aprendido que a abertura de estradas na Amazônia nem sempre é sinônimo de progresso econômico porque na maioria das vezes o caos social e ambiental chega junto com as mesmas. Em Rondônia, aqui ao lado, todas as cidades estão integradas por estradas. O custo dessa integração, entretanto, foi a maior taxa de desmatamento entre todos os Estados da Amazônia brasileira e sob o ponto de vista ambiental a situação em nosso vizinho pode ser classificada como um desastre sem precedentes. No Acre temos um desastre ambiental em gestação: uma estrada ‘pirata’ aberta entre a cidade de Jordão, no alto rio Tarauacá, e a comunidades de Novo Porto, no alto rio Muru. Com apenas 40 km de extensão e cortando terras públicas e particulares, a via foi construída com recursos do governo estadual sem licenças ou estudos de impacto ambiental.
Em diversas regiões do Brasil, onde
mais de 50% das cargas trafegam por rodovias, geralmente a abertura de estradas
resulta em benefícios à região recém-integrada, com destaque para o acesso a outras
cidades com melhores hospitais e escolas, e centros
financeiros estruturados. Na Amazônia, entretanto, abrir estradas ligando
pequenas comunidades isoladas, como as do interior do Acre, geralmente resultam
em problemas ambientais, exploração florestal ilegal, conflitos agrários e
violência. Em 2006, quando a ocupação, a exploração e o desmatamento na Amazônia
estavam no seu auge, o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros mostrava
que cinco das dez cidades mais violentas do país localizavam-se na região.
Uma das primeiras consequências da
abertura de estradas na Amazônia é o desmatamento, visto por muitos como um
passo indispensável para o progresso. Pesquisas científicas, entretanto, mostram
que o desmatamento não é sinônimo de progresso. Um estudo realizado por pesquisadores
brasileiros e ingleses publicado em 2009 na prestigiosa revista científica Science concluiu que pessoas em
municípios da Amazônia brasileira que derrubaram suas florestas não viviam
melhor do que aquelas estabelecidas em lugares onde houve pouco desmatamento.
O estudo, que comparou 286 municípios em diferentes estágios de desmatamento,
demonstrou que a prosperidade gerada pela destruição da floresta é temporária e
caracteriza-se por uma rápida ascensão e queda na economia local. Além disso, regiões
muito desmatadas geralmente apresentavam piores IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano), ou seja, maior analfabetismo e menores expectativas de vida e renda
per capita.
Aos que defendem cegamente a ligação
terrestre das cidades isoladas do interior do Acre é importante esclarecer que
as possíveis vantagens da integração – acesso o ano inteiro, barateamento nos preços
dos produtos de primeira necessidade, entre outros – não tem garantia de
perenidade. Vejam que dificuldades financeiras dos governos Federal e Estadual
deixaram a rodovia BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul sem manutenção. Resultado:
fechamento da estrada – por algumas horas, é verdade – nesse final de período
chuvoso. Como as condições econômicas do país não irão melhorar nos próximos
meses, essas interrupções poderão ser tornar recorrentes. Se você leitor
acredita que em Feijó e Tarauacá o preço dos alimentos de primeira necessidade
e dos combustíveis – agora transportados pela BR-364 a partir de Rio Branco –
são mais acessíveis que no passado, sugiro uma visita in loco para comprovar que, apesar da maior diversidade e oferta de
produtos no mercado, os preços estão na estratosfera e poucos moradores podem adquiri-los de forma regular.

Uma avaliação isenta provavelmente
mostraria que o custo social do progresso proporcionado pela pavimentação da BR-364
no interior do Acre deve ser muito alto e se vantagens e desvantagens fossem
colocadas em uma balança, a primeira não superaria a segunda por larga margem. Ela
também mostraria que os maiores beneficiários da estrada são comerciantes de
produtos alimentícios de primeira necessidade, combustíveis, materiais de
construção, fazendeiros e madeireiros. Em síntese: a minoria que já era rica, ficou mais rica. A maioria da população, especialmente os
trabalhadores não qualificados recém-chegados da zona rural que se instalam em
bairros periféricos, enfrenta duras condições de vida, sem moradias
dignas e sobrevive de subempregos.
Quem paga a construção de estradas em
nossa região é a sociedade como um todo e os recursos utilizados nesses
empreendimentos não caem do céu ou saem de um poço sem fundo: eles derivam do
seu, do meu, dos impostos, taxas e contribuições que pagamos diariamente. É
justo continuar pagando por obras públicas que beneficiam de forma excessiva a minoria da sociedade? Vejam o caso da carne em Tarauacá: enquanto a
população come ‘carne de pescoço’ os fazendeiros, com a pavimentação da BR-364,
‘economizam e embolsam’ o custo extra que tinham antes para enviar seus animais
em estradas precárias aos centros consumidores.
A construção da estrada entre os rio
Tarauacá e Muru foi denunciada pelos indígenas daquela região ao Ministério
Público Federal alertando que a distribuição de lotes de terra ao longo da
mesma beneficia apenas políticos, comerciantes e fazendeiros pressionados pelo
ICMBIO a abandonar ocupações ilegais na ‘Reserva Extrativista Alto Tarauacá’. Eles
citaram ainda a exploração ilegal de madeira ao longo da estrada e a realização de expedições
de caça predatória. Esta situação apenas confirma uma realidade inegável na
Amazônia: estradas abertas na região, especialmente em terras públicas, cedo ou
tarde passam a funcionar como caminhos para a destruição e apropriação indevida
de riquezas naturais.
Mesmo sabendo que as populações das cidades isoladas do Acre são a favor das
estradas – porque ficam anestesiadas com a perspectiva de sua abertura –, temos
que ser firmes na oposição à construção dessas ‘estradas de destruição’ no
interior do Estado. De outra forma, o legado do nosso comodismo para as futuras
gerações vai continuar a ser o pior possível: pobreza, violência e destruição
ambiental.
18 abril 2015
APREENSÃO DE MADEIRA ILEGAL RENDE MULTA DE R$ 17 MILHÕES
Operação do Ibama realizada na divisa entre o Amazonas e
Rondônia já vistoriou mais de 50 áreas com indicativos de desmatamento recente.
Por: Rede Diário de Comunicação/Via Painel Florestal
[Operação Toruk está
sendo realizada desde o dia 16 de março nos municípios de Boca do Acre e Lábrea.
Foto: Ibama]
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), em ação de fiscalização da Operação Toruk,
apreendeu, no início do mês de abril, um caminhão carregado com 18 toras de
madeira (100 m³) e aplicou ao infrator uma multa de R$ 17 milhões. A operação, realizada
na divisa entre os Estados do Amazonas e de Rondônia, já vistoriou mais de 50
áreas com indicativos de desmatamento recente.
De acordo com informações do Instituto, a operação, que está
sendo realizada desde o dia 16 de março nos municípios de Boca do Acre e
Lábrea, tem como objetivo combater o desmatamento ilegal. O caminhão toreiro,
apreendido na Terra Indígena (TI) Kaxarari, também continha cem litros de
combustíveis (gasolina e óleo diesel).
Segundo o Ibama, a TI Kaxarari é alvo constante de invasão
de madeireiros, que exploram ilegalmente madeiras nobres como ipê, angelim,
muiracatiara, entre outras. Ao perceber a chegada da equipe de fiscalização, os
madeireiros fugiram para a floresta. No caminhão, havia plaquetas utilizadas
para identificar tocos e toras de áreas de planos de manejo florestal.
Conforme a assessoria do instituto, as evidências indicam
que há um esquema de “esquentamento” das madeiras provenientes da TI, que eram
encaminhadas às serrarias da região. O caminhão toreiro foi queimado para
impedir a continuação da exploração madeireira ilegal numa área de
aproximadamente 3 mil hectares.
O infrator já foi identificado, foi multado em R$ 17
milhões, mas não teve sua identidade revelada. Ele também responderá
criminalmente à Justiça Federal por invasão de terra indígena e exploração
ilegal de madeira. As toras serão doadas aos indígenas das aldeais Pedreira e
Paxiúba, que as utilizarão para melhoria de suas moradias e construção de
escolas e postos de saúde. A área de exploração ilegal foi embargada e
continuará sob monitoramento do Ibama.
Até o momento, a Operação Toruk, que conta com apoio do
Batalhão Ambiental da Polícia do Amazonas, já vistoriou 53 áreas com
indicativos de desmatamento recente, totalizando 2.980 hectares, o que equivale
a mais de dois mil campos de futebol. Também, foram vistoriadas 27 áreas
embargadas anteriormente e lavrados 12 autos de infração, com aplicação de R$
20 milhões em multas, concluiu a assessoria em nota divulgada no site do
Instituto.
17 abril 2015
METANO DA AMAZÔNIA VEM DE REBANHOS E QUEIMA DE BIOMASSA
Por
Júlio Bernardes - jubern@usp.br
Agência
USP de Notícias

O
estudo, descrito em tese de doutorado apresentada no Ipen, fez parte de um
grande projeto de pesquisa que tem como objetivo entender e determinar as
emissões dos principais gases do efeito estufa da Amazônia. “Foram realizadas
coletas em quatro localidades distribuídas na Amazônia Brasileira, formando um
grande quadrante representando toda a Bacia, próximos às cidades de Santarém
(Pará), Alta Floresta (Mato Grosso), Rio Branco (Acre) e Tabatinga (Amazonas)”,
conta Luana. “Os estudos procuram observar como a amazônia contribui e quais
são os processos que interferem nestas emissões, de modo a compreender como a
região pode responder às futuras alterações climáticas”. O trabalho foi
orientado pela professora Luciana Vanni Gatti, coordenadora do projeto no
Laboratório de Química Atmosférica (LQA) do Ipen.
Na
pesquisa foram realizados perfis verticais para as coletas de ar, utilizando
aviões de pequeno porte, desde aproximadamente 300 metros (m) da superficie até
4,4 quilômetros (km), nos quatro locais de estudo na amazônia. “Foram
realizados quatro anos de medidas continuas em escala regional, quinzenalmente,
totalizando 293 perfis verticais realizados”, conta a pesquisadora. “Os perfis
verticais são realizados tendo como base um plano de voo, preparado
previamente, que indica para o piloto a localização e em quais altitudes devem
ser feitas as coletas”.
A
coleta tem inicio no ponto mais alto e desce em uma trajetória helicoidal de
aproximadamente 5 km de diâmetro. “Os quatro anos de estudo mostraram que a
Amazônia atua como uma importante fonte de metano, com uma emissão de 25,4
Teragramas (Tg) por ano”, aponta Luana. “Isso representa de 4% a 5% da emissão
global, considerando a área da amazônia brasileira, que é de 4,2 milhões de
quilômetros quadrados”.
Origem Antrópica
“Atualmente
existem poucos estudos realizados sobre a emissão de metano na amazônia”, diz a
pesquisadora. Para estimar algumas contribuições de atividades humanas nas
emissões observadas na pesquisa, realizou-se alguns estudos complementares.
“Hoje, cerca de 60% das emissões globais de metano são de origem antrópica, ou
seja, relacionada com atividades humanas, como por exemplo a criação de
rebanhos de animais que emitem metano a partir da fermentação entérica, as
queimadas, o cultivo de arroz, entre outras”.
O
monóxido de carbono (CO), que foi quantificado na mesma amostra de ar coletada
nos locais estudados, foi usado para estimar qual a contribuição da queima de
biomassa nas emissões de metano. “Os resultados mostraram que a queima
representara entre 8% e 10% da emissão total estimada para a amazônia
brasileira”, ressalta Luana. Também foi realizada uma estimativa das emissões
provenientes da fermentação entérica e do manejo dos dejetos dos rebanhos de
animais ruminantes. “Elas representam em média 19% da emissão de metano
estimada para cada local estudado”.
Durante
os quatro anos do estudo, foi possível observar uma variação anual das
emissões, indicando uma relação com as variações climáticas, como por exemplo a
variação da precipitação e de temperatura. “Os resultados obtidos ressaltam a
importância da realização de estudos de longa duração, durante períodos de dez
anos, por exemplo”, afirma a pesquisadora. “A comparação destes resultados com
dados de temperatura, precipitação, número de focos de queimada, dentre outros,
ajudarão a obter um melhor entendimento das fontes de metano e também da
variabilidade em suas emissões ao longo dos anos, que atualmente não é
completamente compreendida”.
Segundo
Luana, os perfis de avião mostram a resultante de todos os processos que
ocorreram desde a costa brasileira até o local da coleta, mostrando a região
Amazônica como um todo, mas não permitem entender exatamente todas as fontes,
sumidouros e os fatores que influenciam nestes processos. “Para isto são
necessários estudos complementares que mostrem mais detalhadamente o
funcionamento de cada compartimento da floresta, por exemplo das áreas
alagáveis, dos rios, etc”, aponta. “Os resultados mostraram variações anuais
nas emissões, porém é necessário mais tempo de estudo, em torno de dez anos,
para poder considerar estas variações e observar uma tendência de aumento ao
longo dos anos”.
16 abril 2015
ESPÉCIES DE MADEIRAS NOBRES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO NO MATO GROSSO
Levantamento
constatou que o Cedro, Cerejeira e Jatobá estão entre as 31 espécies em estado crítico
Por Ciclo
Vivo/M. Barbant, Sema/MT

A
informação consta nas Listas Nacionais de Espécies Ameaçadas de Extinção,
divulgada em dezembro de 2014 pela ministra Izabella Teixeira. Segundo o
documento oficial, 2.113 espécies foram analisadas e constatou-se que 31 delas
estão em níveis que variam de “Em Perigo” até “Vulneráveis”.
Entre as
árvores ameaçadas estão: palmito-juçara, ipê-felpudo, cerejeira, cedro, mogno,
jequitibá, jatobá, entre outras. O desmatamento ilegal é a principal causa para
a perda das espécies, seja para a própria indústria madeireira, para trocar a
floresta por lavoura ou para a construção de empreendimentos.
Com a
descrição feita pelo órgão governamental, as espécies identificadas ficam
protegidas de maneira integral. Assim sendo, é proibida a coleta, corte,
transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercialização. O uso das
sementes, folhas e frutos, no entanto, está permitido, desde que sejam usadas
técnicas de manejo que não coloquem em risco a conservação da espécie.
De acordo
com a analista ambiental Hélida Bruno Nogueira Borges, da Coordenadoria de
Conservação e Restauração de Ecossistemas (CCRE), da Superintendência de
Mudanças Climáticas e Biodiversidade (Subio), da Secretaria de Meio Ambiente do
Mato Grosso (Sema), o estudo selecionou somente as espécies arbóreas porque
apenas para este grupo existem informações para o Estado. “Espécies arbustivas,
herbáceas, cipós e epífitas não foram identificadas na relação do MMA. Isto
significa que o número real de espécies ameaçadas pode ser maior que as 31
espécies relacionadas”, disse a analista ambiental.
“As
espécies encontradas em Mato Grosso, a partir de agora, precisam de cuidados na
autorização de corte em Planos de Exploração Florestal (PEFs) e Planos de
Manejo, já que essas práticas eliminam indivíduos e também a variabilidade
genética necessária para a adaptação de espécies ao ambiente. O desmatamento
ilegal é pior ainda, pois pode eliminar populações inteiras promovendo a
extinção local ou regional de espécies de plantas, além disso, precisamos
discutir a proposição de planos de proteção visando a conservação dessas
espécies”, destacou Hélida Bruno.
ESTRADAS AUMENTARAM DESMATAMENTO EM RONDÔNIA
Por
Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br
Agência
USP de Notícias

[Imagens de satélite da família
Landsat revelam a expansão do desmatamento entre os anos de 1975 e 2011]
As
análises e levantamentos compõem a tese de doutorado do ecólogo Rodrigo Anzolin
Begotti. “Ao todo foram cerca de quatro anos e meio de estudos e análises de
uma área de aproximadamente 55 mil quilômetros quadrados, por meio de imagens
de satélite da família Landsat referentes ao período de 1975 a 2011”, conta. A
área estudada, segundo o cientista, representa cerca de 23% de todo o estado de
Rondônia. Ali existem mais de 12 mil quilômetros de estradas de terra e
pavimentadas. “Vale lembrar que o desmatamento de florestas tropicais é uma das
principais fontes de emissão de gases do efeito estufa”, ressalta.
Begotti
também avaliou como o que restou da floresta influenciou na qualidade da água
dos riachos. “Neste caso, analisamos 21 parâmetros físico-químicos da água
relacionando-os com a dinâmica do desmatamento, o arranjo espacial e a
quantidade de floresta remanescente, além de características físicas das áreas
drenadas por esses corpos d’água”, descreve. As análises laboratoriais foram
realizadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), em Piracicaba.
Com esses dados, o pesquisador conseguiu constatar, por exemplo, que a
proporção de floresta até a distância de 100 metros dos riachos contribuiu para
reduzir as concentrações de alumínio, fosfato, nitrogênio e sedimentos em
suspensão, principalmente na estação chuvosa. Esse resultado tem implicações
importantes com relação às modificações realizadas recentemente no Código
Florestal no que diz respeito à manutenção de vegetação na beira de rios, lagos
e nascentes.
Desmatamento
histórico

Anos
mais tarde, já nas décadas de 1990 e 2000, os agentes do desmatamento mudaram,
com a abertura de estradas e de grandes áreas para criação de gado. “Os lucros
da produção da carne motivam a abertura de novas áreas e novos desmatamentos”,
enfatiza o pesquisador. Begotti conta que o estado de Rondônia possui o sétimo
maior rebanho do País com cerca de 12 milhões de cabeças de gado, segundo dados
do IBGE. Com a situação incerta no que diz respeito à questão fundiária em
algumas localidades, existem até hoje focos de conflito com posseiros e
invasores de terras públicas que desmataram uma quantidade de floresta
considerável dentro e nas imediações da Floresta Nacional do Bom Futuro, por
exemplo.
Ele
descreve que, ao longo de 36 anos de monitoramento houve uma perda de floresta
da ordem de 24.826 quilômetros quadrados (km²) relacionada, dentre outros
fatores, à expansão da malha viária de 3.158 km para 12.863 km de extensão.
“Embora a extensão da malha viária não tenha variado de modo significativo
quando comparamos as áreas desmatadas recentemente com aquelas do início da
colonização de Rondônia, o processo de fragmentação da floresta desmatada nos
últimos anos tem sido mais intenso”, lembra o ecólogo.
Entrevistas

[Ainda há as
espécies que persistem e resistem, mesmo em áreas cujo habitat florestal foi
reduzido]
De
acordo com o levantamento, as espécies que estão em maior risco de extinção
local nos fragmentos são o tatu-canastra, a onça-pintada, a anta e o
tamanduá-bandeira, entre outros, corroborando resultados de outros estudos na
Mata Atlântica e na própria Amazônia. “Mas há as espécies de hábitos
generalistas que persistem e resistem mesmo em áreas cujo habitat florestal foi
extremamente reduzido, como o macaco prego, a paca, a irara e o tatu-galinha”,
lembra o pesquisador, ressaltando que “algumas dessas espécies como a paca e o
tatu-galinha ainda são caçadas, mesmo nos fragmentos”.
A
pesquisa de doutorado O papel dos remanescentes florestais na retenção da
biodiversidade e conservação da água em uma paisagem fragmentada na região
central de Rondônia foi financiada pela FAPESP por meio de auxílio-pesquisa e
bolsa regular. O estudo teve início em 2009 e foi concluído em 2014, no
Departamento de Ciências Florestais da Esalq, sob orientação do professor
Sílvio Frosini de Barros Ferraz.
Fotos:
Rodrigo Anzolin Begotti
15 abril 2015
PLANTAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA SÃO MATÉRIA PRIMA DE PRODUTOS PARA CABELOS
Liana John
Blog Biodiversa - Planeta Sustentável

O
crajiru é uma trepadeira de folhas estreitas e longas, fácil de “plantar de
galho” como se diz popularmente. É bastante cultivado em jardins e roças. Tanto
o corante alimentício como o extrato dos cosméticos são obtidos das folhas,
embora os produtos para cabelos não sirvam para tingir, pois o protocolo de
extração é diferente.
O
mulateiro-da-várzea é uma bela árvore de trinta metros de altura, com tronco
liso e reto, de cuja casca se extraem compostos fenólicos antioxidantes e
clareadores, usados contra rugas e manchas da pele (leia o post do blog
Biodiversa Para rejuvenescer use o escorrega-macaco). Sua área de ocorrência
natural se estende pelas várzeas do Acre, Amapá e Amazonas, em concentrações de
até 30 árvores por hectare (só para efeito de comparação, as espécies
madeireiras devem ter um mínimo de três árvores por hectare para serem
exploradas legalmente e o mulateiro tem 10 vezes mais). A madeira é densa e tem
bom poder calorífico, por isso é bastante usada como lenha para cozinhar, pelas
populações tradicionais.
“Minha
família veio da França e Amsterdã nos anos 1890 e se instalou no Acre, antes do
Acre ser do Brasil”, conta o químico e empresário Paulo Tasso, justificando, em
tom de brincadeira, como nasceu ‘índio de olhos azuis’. Desde criança, ele
sempre viu a mulherada tomando chá de mulateiro e passando na pele para não
envelhecer. E pode comprovar o efeito nos rostos lisos e sem rugas delas, com
destaque para uma tia, Terezinha, hoje com 91-anos-que-ninguém-diz.
Por
isso, Tasso investiu numa fábrica de creme facial antirrugas, chamada Casa de
Mulateiro. Depois, tomou conhecimento de pesquisas realizadas com as duas
espécies – mais de 40 teses de doutorado, só sobre o mulateiro – e criou também
uma linha para cabelos, utilizando os extratos e a mucilagem de mulateiro e
crajiru, com reforço de amor-crescido (Portulaca pilosa).
O
mulateiro é fungicida, o crajiru é bactericida e o amor crescido fecha a
cutícula do cabelo e dá brilho. Todos juntos garantem a limpeza e fortificam o
couro cabeludo e os cabelos, sobretudo após tinturas à base de formol, amônia,
guanidinas, peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e hidróxidos.
“Como
sou um pouco careca, comecei a desenvolver um tônico capilar para mim, à base
de mulateiro e outro ativo vegetal. Deu muito certo – fez nascerem novos fios!
– então agora estou preparando o lançamento desse tônico no mercado”, comemora
o químico-empresário. Isso deve ocorrer assim que a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) apreciar a documentação, talvez até meados deste ano.
“Todos
os nossos produtos são orgânicos, sem parabenos e sem petrolatos”, acrescenta.
“O crajiru e o amor-crescido são cultivados e, no caso do mulateiro, que vem da
floresta, de árvores nativas, temos o cuidado de acompanhar toda a coleta da
casca, feita de modo sustentável por cooperativas do Sul do Amazonas. Queremos
ter a certeza de só usar o mulateiro mesmo (sem misturas com outras espécies,
como acontece quando não se controla a origem) e em condições ideais, sem
fungos, sem resíduos”.
Pelo
jeito, a aposta na dupla da biodiversidade amazônica compensa, sobretudo para
quem tem problemas cabeludos. Ou melhor, capilares!
14 abril 2015
ANTROPOCENO: A ÉPOCA GEOLÓGICA DO HOMEM (I)
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Se a história geológica de 4,57 bilhões de anos do nosso planeta fosse condensada em 24 horas de um dia, o homem moderno iria surgir apenas quando faltassem três segundos para a meia noite. Essa breve presença passa a impressão enganosa de que o papel do homem na história do planeta é a de um mero coadjuvante sem maior importância. Entretanto, a verdade é que o homem, nesses poucos segundos de sua existência geológica, tem influenciado de tal forma as condições naturais do nosso planeta que uma nova época geológica foi proposta para acomodar as mudanças patrocinadas por ele: o Antropoceno ou ‘época da humanidade’.
Blog Ambiente Acreano
Se a história geológica de 4,57 bilhões de anos do nosso planeta fosse condensada em 24 horas de um dia, o homem moderno iria surgir apenas quando faltassem três segundos para a meia noite. Essa breve presença passa a impressão enganosa de que o papel do homem na história do planeta é a de um mero coadjuvante sem maior importância. Entretanto, a verdade é que o homem, nesses poucos segundos de sua existência geológica, tem influenciado de tal forma as condições naturais do nosso planeta que uma nova época geológica foi proposta para acomodar as mudanças patrocinadas por ele: o Antropoceno ou ‘época da humanidade’.
O
termo Antropoceno, uma junção das palavras gregas anthropo-, que significa humano e –ceno, que significa novo, foi originalmente proposto pelo
pesquisador americano Eugene Stoermer no início da década de 1980 para se
referir aos impactos causados pelas atividades humanas sobre o planeta. Entretanto, a popularização do termo ocorreu
graças ao ganhador do prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen. Durante uma
conferência científica realizada no México em 2000, depois de ouvir repetidas
vezes o presidente do evento se referir à época geológica atual como sendo o
Holoceno, iniciada 11 mil anos atrás com o fim da última era glacial ou idade
do gelo, Crutzen pediu a palavra e, no calor do momento, afirmou “Precisamos
parar com essa história. O Holoceno já ficou para trás. Agora estamos no
Antropoceno!”
Para
Crutzen era evidente que as mudanças em curso no planeta estavam sendo
promovidas pelo homem e não por forças naturais, como as que caracterizam as
demais eras, períodos e épocas da história geológica do planeta. Em síntese, a
influência das atividades humanas na atmosfera terrestre nos últimos séculos
tem sido tão significativa que poderia se constituir em uma nova época
geológica. A formalização e o desenvolvimento do conceito de Antropoceno foram
explicados por Crutzen e Stoermer no artigo “O Antropoceno”, publicado no ano
de 2000 na revista Global Change Newsletter, e por Crutzen, em 2002, no artigo
“Geologia da Humanidade” publicado na conceituada revista científica Nature.
É
importante considerar, entretanto, que antes de Stoermer e Crutzen, outros
autores já haviam abordado os efeitos das atividades humanas sobre a história
geológica do planeta. Em 1873 o geólogo italiano Antonio Stoppani cunhou o
termo ‘Era Antropozóica’ como sucessora da Era Cenozóica, usando como argumento
o aparecimento do homem e as mudanças que ele estava promovendo no
planeta. Em 1879 o geólogo
norte-americano Joseph Le Conte sugeriu o nome ‘Psicozoico’. Em 1926 o
antropólogo Francês Teilhard de Chardin e o geoquímico russo Vladimir Vernadsky
propuseram o termo ‘Noosfera’, por considerar que o poder intelectual humano
gerou efeitos que poderiam ser considerados uma força geológica. Mais
recentemente, em 1992, o americano Andrew Revkin utilizou o termo ‘Antroceno’
para justificar o fato de a era geológica atual estar sendo moldada pelo homem.
Em 1999 o termo ‘Homogenoceno’ foi usado pelo biólogo sul-africano Michael
Samways, que argumentou que na atualidade a biodiversidade está diminuindo e os
ecossistemas no planeta estão se tornando mais similares.
Embora
a adoção do termo Antropoceno pela comunidade científica, considerado
tecnicamente mais apropriado, seja quase consensual, a sua inserção na ‘Escala
de Tempo Geológico’ oficial pela Comissão Internacional de Estratigrafia da
União Internacional de Ciências Geológicas ainda não se concretizou.
Esperava-se que isso tivesse acontecido durante 34°. Congresso Internacional de
Geologia realizado em 2012 na Austrália, mas não se concretizou. A esperança é
que isso aconteça em 2016, durante o 35º Congresso Internacional de Geologia a
ser realizado na África do Sul. Sobre essa situação, Paul Crutzen e Christian
Schwägerl, um jornalista especializado em assuntos ambientais, afirmam
textualmente, em artigo publicado em 2011, que “É uma pena que ainda estejamos vivendo oficialmente em uma época
chamado Holoceno. O Antropoceno – marcada pela dominação humana dos processos
geológicos, biológicos e químicos na Terra - já é uma realidade inegável. Há
evidências de que a mudança de nome sugerida há mais de dez anos está atrasada.
Talvez ainda demore um tempo até que o corpo científico responsável pela
nominação de grandes períodos de tempo na história da terra - Comissão
Internacional de Estratigrafia – se convença da necessidade da mudança. Mas isso
não deve nos impedir de ver e aprender o que significa viver nesta nova época
do Antropoceno em um planeta que está sendo antropizado em alta velocidade”.
Outro aspecto inconcluso sobre o Antropoceno é
a data de seu início. A opinião de alguns estudiosos situa o início dessa nova
época geológica entre o final do século 18 e os anos de 1950. O limite temporal
mais antigo coincidente com o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James
Watt, e é considerando como o marco inicial da revolução industrial que promoveu
um aumento significativo na quantidade de CO2 e outros gases
causadores do efeito estufa na atmosfera do planeta. No século 20 a queima de
combustíveis fósseis para a geração de energia para abastecer o parque
industrial crescente no planeta só intensificou esse processo. O segundo limite
temporal está relacionado com a intensificação dos testes nucleares
atmosféricos a partir da década de 50. Testes nucleares, como ressalta David
Grinspoon, curador de astrobiologia do Denver Museum of Nature & Science,
produzem assinaturas isotópicas e de estruturas geológicas que não podem ser
interpretadas de outra forma. Outras opiniões situam o início do Antropoceno no
início do Holoceno, há cerca de 8 mil anos, por ocasião da disseminação da
agricultura. Essa disseminação resultou no desmatamento em várias regiões do
planeta e causou um aumento de CO2 na atmosfera que evitou a
ocorrência de uma nova era do gelo. Alguns cientistas sugerem o início em
meados do século 20, a partir da aceleração do crescimento populacional no
planeta e o consequente aumento do consumo predatório de recursos naturais.
Independente
das discussões acadêmicas que tentam determinar a data exata do início dessa
nova época geológica, o certo que poucos argumentos podem negar que o ser humano
se tornou um agente geológico capaz de causar mudanças marcantes no planeta, da
mesma forma que vulcões e asteroides o fizeram no passado. Aceitar esse fato é
fundamental porque poderá fazer com que nós possamos refletir e reformular o
real papel que desempenhamos no planeta. Um editorial da revista Nature de
março de 2015 coloca números preocupantes: desde o final da segunda guerra a
população mundial aumentou 180%, o uso de água 215% e o consumo de energia
375%. A revista advoga para que a Comissão Internacional de Estratigrafia
insira o Antropoceno na escala geológica oficial porque isso encorajaria uma
atitude mental da população importante não apenas para compreender as
transformações que estão em curso no momento, mas também para saber como agir para
manejar a situação.
Para saber mais:
Araia,
E. 2011. ‘Bem vindo ao Antropoceno’. Revista Planeta, 470. Disponível em:
revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/bem-vindo-ao-antropoceno
Crutzen, P. J. e
Stoermer, E. F. 2000. ‘The ‘Anthropocene’. Global Change Newsletter, v.41, p.
17.
Crutzen, P. J. 2002.
‘Geology of mankind’. Nature,
v.415 (6.867), p. 23.
Martini,
B. 2013. ‘The Anthropocene: Humankind as a Turning Point for
Earth’. Astrobiology
Magagzine. Disponível em: www.astrobio.net/interview/the-anthropocene-humankind-as-a-turning-point-for-earth
Martini,
B. e Ribeiro, C. G. 2011. ‘Antropoceno: a época da humanidade?’ Ciência Hoje, v.48, n.283, p.38-43.
Nature Magazine. 2015.
‘Editorial: All in good time’. Nature, v.519, p.129–130. Disponível em:
http://www.nature.com/news/all-in-good-time-1.17074
Zalasiewicz, J. et al.
2008. ‘Are we living in the Anthropocene?’ GSA Today, v. 18 (2), p. 4.
Zalasiewicz, J. et al.
2010. ‘The new world of the Anthropocene’. Environment Science & Technology, v.44 (7),
p.2.228.